Novo Banco brinca às avaliações

A avaliação do trabalho seja de quem for deve basear-se em critérios bem definidos aplicáveis a cada indivíduo. A partir do momento em que uma avaliação esteja dependente de quotas, deixa de ser avaliação e passa a ser um processo de afunilamento de subidas de carreiras. Uma frase como “as avaliações têm de ser baixas” só faz sentido num mundo em que o sentido deixou de existir. Imagino o que (me) aconteceria, se dissesse aos meus alunos “Ó meus ricos meninos, 80% das notas têm de ser baixas!”

Podemos, até, aceitar que uma instituição, por variadíssimas razões, não queira permitir que a maioria dos trabalhadores tenha direito a aumentos salariais. Nesse caso, um mínimo de honestidade obriga a que se declare que, na realidade, não há avaliação. Não é difícil.

Quando o inaceitável se torna normal e ninguém se escandaliza, temos a prova de que a sociedade está doente e, de caminho, confirma-se que um dos grandes objectivos dos poderosos continua a ser o mesmo se sempre: desvalorizar o preço do trabalho, sempre em direcção à escravatura.

Muitos desses mandantes enchem o espaço público de discursos acerca da meritocracia ou fingem defender que os aumentos salariais devem depender da produtividade (como se, de qualquer modo, a produtividade dependesse apenas dos trabalhadores). São os mesmos que defendem um simulacro de avaliação, arroto com cheiro a pescada estragada.

O Novo Banco é um banco e só é novo no nome. No resto, é muito velho: é gerido por gente que não quer saber de gente e a treta das quotas já vem dos anos oitenta, tendo-se estendido a outros campos profissionais. Ainda por cima, é uma das muitas instituições privadas sustentadas pelos dinheiros públicos. Se houvesse verdadeiramente avaliação meritocrática (uma redundância, portanto), não haveria nenhum banco aberto em Portugal e, provavelmente, no mundo, mas os bancos são demasiado poderosos para falirem. Não demasiado grandes: demasiado poderosos.

 

Comments

  1. José Carvalho says:

    Muito bem. josé carvalho

  2. Rui Naldinho says:

    O que me preocupa já nem é o facto de eles não progredirem na carreira durante anos, o que de facto não acontecerá enquanto o Novo Banco se mantiver no fio da navalha.
    Isto para mim é bem pior do que isso. Talvez seja apenas um expediente para selecionar os condenados à saída. A bem ou a mal. Porque no resto da banca, também não há promoções há muito tempo, fruto do descalabro a que chegaram as instituições financeiras. É sabido que pelo menos o BCP e BPI, fizeram cortes nas remunerações do seu pessoal, as quais estão a ser respostas agora.
    Com esta medida, o que se pretende é criar um mecanismo de terror, com fins inconfessáveis.
    Mas eu imagino. Levá-los ao desespero e a sair pelo seu próprio pé.

  3. Mas este é o modelo que foi imposto na Função Pública!??!!

  4. Imposto na função pública, com as quotas, por um governo PS.

  5. JgMenos says:

    O Nabais escandaliza-se com uma evidência: definido um padrão de aferição de 100% swfuramente 80% estará 20% abaixo desse nível.
    A alternativa é considerar 120% como uma possibilidade padrão para a norma.
    Sensibilidades?

    • António Fernando Nabais says:

      Ó Menos, isto é simples: não se avalia com base em probabilidades.

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading