«Temos que nos livrar do acordo ortográfico»

Will you bite the hand that feeds?
— Trent Reznor (cf. “Will you chew until it bleeds?“)

Adulteri, nescitis quia amicitia huius mundi inimica est Dei?Quicumque ergo voluerit amicus esse saeculi huius, inimicus Dei constituitur.Iac 4,4

Nós resolvemos reunir um grupo bem pequeno.
— Lígia Prado Fragonard

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Foto: Francisco Miguel Valada (Bruxelas, 4/4/2019)

Ao ler as seguintes palavras de Filipe G. Martins, assessor especial de Jair Bolsonaro (via João Roque Dias, no Acordo Ortogrãfico Não!, e via Tradutores Contra o Acordo Ortográfico) (negritos meus):

Depois de nos livrarmos do horário de verão, temos que nos livrar da tomada de três pinos, das urnas eletrônicas inauditávris [‘sic’, i.e., ‘inauditáveis’] e do acordo ortográfico,

lembrei-me imediatamente das palavras de Pedro Santana Lopes, secretário de Estado da Cultura no XI Governo Constitucional de Portugal, no famoso artigo do “agora facto é igual a fato (de roupa)“, em que é dada muita importância aos 21 anos e pouca às 21 bases :

Para os que não sabem, quando há 21 anos, no início de Janeiro de 1990, Cavaco Silva me convidou para secretário de Estado da Cultura, foram essas, precisamente, as duas principais tarefas de que me encarregou: assegurar que o CCB [Centro Cultural de Belém] estivesse pronto a tempo de receber a 1.ª presidência portuguesa das Comunidades Europeias, a 1 de Janeiro de 1992, e negociar e assinar o Acordo Ortográfico.

Há uns meses, em entrevista ao Portal Luso, tive a oportunidade de dizer que

não me interessa por aí além aquilo que outros [“a maioria dos países da CPLP”] fazem em termos de adopção do AO90. Aquilo que me preocupa é Portugal querer à força toda adoptar o AO90, independentemente da realidade. Preocupar-me-ia imenso que Portugal deixasse de adoptar o AO90 porque outros não adoptam, em vez de deixar de adoptar o AO90 pelo motivo mais natural de todos: porque é inadequado para a norma portuguesa europeia. Preocupar-me-ia, repito. Todavia, considerando um certo historial, não me admiraria nada que fosse esse o caminho.

A seguir cenas dos próximos capítulos (e não “a seguir, cenas dos próximos capítulos”).

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Endogamia social-democrata

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Se julgava que o FamilyGate socialista era uma novidade no panorama político português, caro leitor, lamento informá-lo que estava enganado. A prática parece remontar (pelo menos) aos anos do cavaquismo, durante os quais inúmeros ministros e secretários de estado, como o spin master Marques Mendes ou o incorruptível Dias Loureiro, nomeavam entre si as suas esposas, para cargos nos gabinetes dos seus companheiros de partido. Exactamente o que está a acontecer agora com o governo socialista.

Se hoje temos o casal Eduardo Cabrita e Ana Paula Vitorino no conselho de ministros de António Costa, no passado tivemos os irmãos Leonor e Miguel Beleza no conselho de ministros de Cavaco Silva. Se hoje temos Vieira da Silva e a sua filha, Mariana, no executivo governamental, na era cavaquista tínhamos Diamantino Durão e o seu filho, Durão Barroso. [Read more…]

A Coreia do Norte é uma democracia, Bolsonaro dixit

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A designação oficial da Coreia do Norte é República Popular Democrática da Coreia. Lamentavelmente, tal nomenclatura nunca garantiu grande popularidade, fora ou dentro de portas, com a excepção da pequena cúpula do poder que dirige o regime com mão de ferro. Muito menos se trata de uma democracia. É, aliás, a sua antítese. [Read more…]