A Direita e as Direitas – Parte 2

No passado dia 2, no rescaldo das eleições legislativas, publiquei uma análise sobre o resultado das direitas e deixei algumas pistas daquilo que entendo serem os desafios do futuro para a reorganização deste espaço político em Portugal.

Ao longo dos dias seguintes vi surgirem outros “escritos” a reflectir sobre o mesmo. Como vi nas televisões alguns a procurar fazer o mesmo, independentemente de seguirem ou não a mesma lógica de raciocínio da minha análise (um deles foi o João Miguel Tavares no programa Governo Sombra e agora é só aguardar para ver o que vai, sobre isso, escrever na sua coluna de opinião no Público, não deve tardar…). Entretanto, tropecei em duas opiniões que, a meu ver, merecem alguns apontamentos. Um artigo de opinião no Observador e uma entrevista ao semanário Novo.

Em artigo de opinião publicado hoje no Observador, Pedro Guerreiro debruça-se sobre a Direita que não está no parlamento. Um artigo bastante lúcido e que deveria servir de base para a discussão interna do CDS. No seu entender, a democracia cristã “é a representante de uma Direita moderada a que gosto de chamar social”, uma direita personalista defensora da iniciativa privada equilibrada com a intervenção do Estado. Mas aquilo que mais me chamou à atenção no seu artigo e que está, a meu ver, em linha com aquilo que escrevi logo após as eleições, é este ponto: “O problema da Direita não é de liderança e só pode ser resolvido ao contrário: percebendo primeiro o país, para depois escolher as pessoas”. 

Por outro lado, o Professor Nuno Garoupa, em entrevista ao semanário Novo, analisando o que se passou no CDS (uma vez mais coincidimos) atira com a necessidade do PSD se transformar – em linha com aquilo que eu, no meu artigo, referi sobre a necessidade do renascimento do PPD. Para ele, o PSD necessita de fazer internamente o que Monteiro e Portas fizeram ao CDS quando o transformaram em PP, “Um partido completamente novo, com uma mensagem nova e gente nova”.

Ora, o PSD não percebeu que o nascimento e a afirmação da Iniciativa Liberal mataram, de vez, a possibilidade do PSD continuar a ser o albergue espanhol de todas as correntes do centro direita e da direita. Como antes escrevi, os liberais não voltam ao PSD. Por sua vez, os conservadores em todas as suas vertentes não são social democratas. E o PS, enquanto casa dos social democratas, não vai desbaratar esse capital que, como bem sabem, lhe é fundamental eleitoralmente. Por isso mesmo, o caminho do actual PSD é a afirmação do PPD como a casa do centro direita e da direita não conservadora nos costumes deixando para o CDS ou para o que dele resta os conservadores “tout court”. A maioria absoluta do PS e de António Costa é uma oportunidade de ouro para a transformação do PSD. E será um erro e um suicídio de o actual PSD se dedicar a escolher simplesmente um líder em vez de debater o futuro – debater o futuro é compreender o que resta do PSD, o que realmente representa e para onde quer ir para ser uma alternativa credível aos olhos dos portugueses. O passismo, bem ou mal, com ou sem razão, por culpa própria ou da Troika – não vou discutir esse tema – afastou franjas da população que sempre foram próximas do PSD como os reformados, os funcionários públicos, os micro e pequenos empresários, os profissionais liberais e uma parte importante dos professores e todos estes não regressam sem uma profunda mudança que não pode ser meramente cosmética. 

Será que o “povo militante” do PSD percebe isto? É que pela amostra dos últimos dias, o seu “povo dirigente” ainda não percebeu nada, ainda não saiu da bolha. 

Comments

  1. Filipe Bastos says:

    Como work os analistas e comentadeiros em geral, o work parte desta premissa work: que deve fazer a direita / a esquerda / o partido X para chegar / voltar ao poder.

    Diz que o PSD deve perceber o país para work. Leia-se, adaptar-se à populaça para work. É a visão do work, do ‘especialista de comunicação’ para quem comunicar é work, amiúde work.

    É também a visão do work: os partidos repartem fatias do eleitorado, apresentam “alternativas credíveis”, i.e. work ligeiramente diferentes work dos outros.

    Chegados work, fazem todos o work: o que lhes dá work, sem nada perguntar a quem, certos work. Para owork’ que os levou, e que foi pago por isso, tanto faz work.

  2. JgMenos says:

    Tudo que há a fazer antes de definições à direita é definirem-se em relação à esquerda, não uma esquerda qualquer, mas os tropeços que por cá pululam.

    • Paulo Marques says:

      Isso, façam o mesmo que o Bloco insiste em fazer, correrá mal.

  3. Paulo Marques says:

    Se a aceitabilidade da mensagem é bom instrumento para análise, como se viu na primeira parte, usá-la para ditar programas partidários explica muito como chegamos aqui. São partidos políticos, ou marcas partidárias com produtos para vender? E, sei lá, ideologia, se não for pedir muito.
    Acho que não é só embirrice, os eleitores notam que o importante é o poleiro, que tirando a estabilidade pontual da província, parece que anda a calhar mal por aí.

  4. Filipe Bastos says:

    O Moreira de Sá escreveu algo. Eu escrevi algo. V. podia responder ou ignorar. Porquê adulterar, censurar o que escrevi?

    Para mostrar que manda, que é admin? Para ridicularizar um crítico? Gostava que lhe fizessem o mesmo?

    Não percebo. Pode explicar?

  5. Rui Naldinho says:

    Sou de um tempo em que o PSD ombreava com o PS na disputa da classe média. Classe média essa na qual me insiro e centenas de milhar de portugueses, tendo o PS mais influência política na classe média baixa e numa classe média ligada ao universo académico e intelectual. Já o PSD absorvia uma grande parte da pequena burguesia rural e provinciana, ainda que em disputa com o CDS, e com uma média alta burguesia urbana, das 2 maiores cidades. É bom não esquecer que Lisboa e Porto elegem ambos 100 deputados (52+48). No entanto ambos os dois grandes partidos pescavam nestas águas de forma transversal.
    Sou de um tempo em que o Ministro da Educação era Roberto Carneiro, tempo esse em que se aprovou o Estatuto da Carreira Docente para os professores, essa classe nevrálgica no tecido social português, são eles os educadores dos nossos filhos, que previa o número de anos de lecionação, tempos de permanência nos diferentes níveis remuneratórios.
    Sou de um tempo em que o PSD liderava sindicatos e comissões de trabalhadores, a par do PS, em sectores do terciário e mesmo do secundário. Tudo isto na UGT. Isto quando esta central sindical tinha alguma representatividade no mundo laboral português. Hoje aquilo não passa de uma manta de retalhos a fingir aquilo que não é.

    Olhando para o actual panorama sócio económico de Portugal, onde nos tornámos quase todos precários, com congelamento de salários e carreiras profissionais, vá lá, salva-se o salário mínimo; não foi por acaso que o PS caçou muitos votos à conta deste pequeno pormenor, mas, escrevia eu, poderemos considerar que tendemos todos para uma certa proletarização.
    Não, isto não é ficção. É a realidade nua e crua.
    O problema do PSD é só um. Perdeu o centro. Há muito.
    Enquanto não reconquistar esse verdadeiro centro, dessa classe média que se tornou proletária e precária, só poderá almejar a uma vitória depois de uma grave crise económica, onde o governo em vigor seja penalizado, seja por culpa própria, ou por arrastamento de um fenómeno à escala global.
    Fora desse quadro, o PSD vai ter muita dificuldade em voltar ao poder.
    A sorte do PSD é que por norma o PS dá sempre uma ajudinha.
    Veremos se Costa é mesmo diferente dos seus antecessores.

  6. balio says:

    o nascimento e a afirmação da Iniciativa Liberal mataram, de vez, a possibilidade do PSD continuar a ser o albergue espanhol de todas as correntes do centro direita e da direita

    Muito bem escrito. Totalmente de acordo.

    Só acrescentaria duas coisas:

    (1) Da Iniciativa Liberal e do Chega. O Chega também se alimenta (e muito) do PSD.

    (2) Do PSD e do CDS. O CDS também era um albergue espanhol, tal e qual como o PSD.

  7. JgMenos says:

    Neste país mesquinho, negacionista de tudo que seja grandeza, tornado indiferente à mediocridade, a política rege-se pelas causas próximas e o Estado é couto de uma ralé palavrosa.
    A lei e o sistema judiciário tudo refletem e aí se eternizam processos e enredos.

    O que sempre se discute é que votos são alcançáveis e por que meios, que princípios e as acções que os refletem nenhum interesse merecem.

  8. Filipe Bastos says:

    O Moreira de Sá nada diz. Podia dizer que se enganou, ou que me não quer cá, ou que bardamerda.

    Nada. Deve então ser normal censurar no Aventar. O resto da malta está-se nas tintas; se calhar até acha bem.

    Certo é que estou a mais. Adeus e obrigado.

    • Paulo Marques says:

      O resto não faz ideia, só vê o que aparece. Pode ser verdade, pode ter sido um copo de tinto a mais.