Para a direita, as pessoas são números de circo

Na segunda-feira, um homem morreu à porta do Centro de Saúde de Castanheira de Pêra. Pode ler-se aqui um resumo da notícia do Público. Num país governado por gente responsável, mortes como esta seriam, no mínimo, menos prováveis. Em Portugal, os contabilistóides que querem criar uma nação sem Estado limitam-se a “reduzir custos”, a “racionalizar recursos”, contribuindo para uma economia florescente e para a diminuição da qualidade de vida das pessoas, que é outro nome para números. Percentualmente, que significado terá a morte de Albertino Pires Henriques? Se se tiver em conta que não chegou a ser atendido por um médico, o país terá poupado em mão-de-obra, o que será, com certeza, a alegria de um burocrata.

Este texto de Carlos Guimarães Pinto já foi comentado pelo João José Cardoso. O cónego insurgente, pastor da igreja Milton Friedman, aplaude a aprovação do novo código laboral, porque, com a diminuição do valor do trabalho, com o empobrecimento dos trabalhadores e com a facilidade de despedir, vai haver mais emprego, o que até pode ser verdade: no dia em que um empregador deixar de ser obrigado a pagar ordenados e puder manter os empregados fechados à noite num estábulo a zurrar baixinho, o desemprego poderá desaparecer.

Prevê, então, o conhecedor de burros que, graças a esta medida do governo, daqui por um ano, milhares de pessoas que poderiam estar desempregadas poderão voltar a ter emprego, o que até poderia ser um sinal de generosidade, de preocupação. Mais abaixo, no entanto, na caixa de comentários, deixa escapar esta pérola do humor negro: “A taxa de desemprego até poderá chegar aos 20% ou 30%, mas isso só quererá dizer que seriam 21% ou 31% sem estas alterações, o que não faz grande diferença estatística, mas fará toda a diferenças para os 1% que terão um emprego que de outra forma não teriam.”

Perceberam? É tudo uma questão de estatística, de números. O analista de asnos não enjeita a hipótese de que a taxa de desemprego continue a subir, o que quer dizer, afinal, que as alterações do código laboral não servem para combater o desemprego, o que já se sabia. De qualquer modo, sem as alterações, segundo o especialista em quadrúpedes asininos, a diferença seria irrelevante, o que poderia levar a pensar que, afinal, as ditas alterações não eram necessárias.

Paulo Macedo e Carlos Guimarães Pinto sonham com um país rico cheio de pobres. Com tanto coice, estamos, com certeza, no bom caminho.

Comments

  1. Esta será uma situação muito comum, a procissão ainda nem da igreja saiu. Isto é algo muito comum na Colômbia, por exemplo, que não tem SNS, Portugal teve-o, mas por má gestão de dinheiros, deixará de o ter antes do meio deste século (e na leva também irão as pensões de reforma, não é futurologia, é matemática). boa semana

  2. Amadeu says:

    Alguém disse que, para quem está desempregado, o dito número de desemprego é de 100%.
    Assim como para o homem que morreu, Albertino Pires Henriques, o SNS foi 100% merda.

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