Contratem um estilista para fazer uniformes, já!

Hoje estou um pouco mais contente com a nossa administração pública. Sinto-me revigorado. Quando estamos tristes e desanimados com os órgãos do Estado, uma notícia como a que o Correio da Manhã hoje apresenta deixa-nos um travo de esperança. Sabemos que há, na nossa administração, quem pense primeiro nos humildes clientes das lojas desta entidade detentora de monopólio.

Um os mais zelosos serviçais do Estado, mas com poder decisório, proibiu o uso, em serviço, “de blusas decotadas, saias muito curtas, gangas, perfumes com cheiro agressivo, roupa interior escura, saltos altos e sapatilhas” às funcionárias da Loja do Cidadão de 2ª geração de Faro. Finalmente alguém no seu perfeito juízo.

Não venham, por favor, falar em atentado à liberdade individual ou coisa do género. As senhoras funcionárias fazem atendimento ao público e devem, pois, apresentar-se de forma digna, cuidada e cumpridora dos bons costumes. Além do mais, em Faro há muitos estrangeiros e temos de transmitir uma imagem positiva a quem nos visita ou queira tratar da papelada para ser mais um neste nosso belo rectângulo.

Se se apresentassem de forma atrevida num balcão de uma loja de 2ª geração, e isto faz toda a diferença em relação a outras, dariam uma imagem negativa e prejudicariam o ritmo dos trabalhos. Se fossem em preparado menos decentes, das duas uma. Se a senhora for feia e mal jeitosa arrisca-se a repelir ou deixar mal impressionado o cliente, e todos sabemos como a primeira impressão é importante. Se for bonita e jeitosa, vai atrair a clientela e perder mais tempo que o desejável.

Deve ser por isto que o balcão da segurança social nas lojas do cidadão está sempre com filas enormes. Mesmo quem já tratou os seus assuntos, arranja sempre forma de ficar mais uns minutos a apreciar. Quem não tratou, não se importa de esperar porque o cenário é agradável. E assim, a fila vai crescendo.

As funcionárias destes balcões devem ser agradáveis, bonitas, com um decote generoso e os seios apenas meio escondidos por um soutien preto e debruado com renda. O perfume, esse, é forte mas cativante e insinuante. A saia, curta, uns dedos acima dos joelhos, mostrando mais que o permitido pela moral e bons costumes mas, essencial, tapando as áreas mais significativas, deixando espaço para a imaginação.

É bom, pois, que haja dirigentes na administração pública capazes de investir muito do seu tempo a criar regulamentos e normas deste género. É preciso ainda alguém tomar medidas impopulares mas correctas para o bom funcionamento das estruturas de atendimento. Melhor, ainda seria contratar, por um valor adequado e justo, um estilista de renome para desenhar e fabricar um uniforme bonito e de qualidade. Sempre dentro do chamado bom gosto. E toda a gente sabe o que isso é.

Comments

  1. Pelos vistos começa a ser prática comum nos “serviços”. Já na TAP se faz a mesma coisa. E aposto que devem haver mais “recomendações” neste sentido.

  2. Snail says:

    Caro José de Freitas, presumo que você só escreveu aquilo porque nunca esteve numa empresa onde um seu colaborador (com funções de atendimento ao público) se apresentou ao trabalho de chinelas havaianas, bermudas e t-shirt de alças. E mais, ao ser repreendido, esclareceu-me que não era proibido vir assim trabalhar, pois andava cheio de calor. E ainda ficou à espera que eu lhe pedisse desculpa. Não o fiz, mas temi que no dia seguinte se apresentasse de fato de banho, bronzeador e toalha debaixo do braço…

  3. Luis Moreira says:

    Caro Snail, tambem já estive nessa situação, mas não podemos deixar passar sem crítica esta sanha controleira do governo.Se não reagimos ainda andamos todos de cinzento que é a côr do “sem nome”. E eu que andei toda a vida de fato e gravata…

  4. Com efeito, Snail, nunca estive numa empresa do género. Admito que seja ingénuo mas ainda acredito numa coisa chamada “bom senso”, algo que terá faltado ao senhor das havaianas (espero, pelo menos, que fossem de marca). Não sou e não gosto de controleiros. Na empresa onde trabalho não há “code dress” e ainda bem. Não uso fato nem gravata. Mas, para estabelecer algumas regras, não é necessária uma portaria específica. Ou, arranjem um estilista para fazer as fardas. Assim, não há riscos.

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