A longa espera

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A fotografia é uma arte fascinante. Para quem a faz e para quem gosta de ver. Como noutras artes, as interpretações são pessoais e sujeitas a grandes doses de subjectividade. Dentro da fotografia há diversos géneros e sub-géneros. Há as imagens puras, as retocadas digitalmente e aquelas que são apenas base de uma criação artística moldada no monitor do computador.

Hoje apeteceu-me partilhar (os blogues servem para partilhar) uma série de imagens reais, umas, alteradas, outras, mas com uma característica comum: um certo toque de humor.

A foto aqui apresentada mereceu o nome de “A longa espera”.

Para ver aqui 21 excelentes imagens.

Memórias da Revolução: 9 de Abril de 1974

Diz o «Jornal de Notícias» de 9 de Abril de 1974 que já são 17 os candidatos ao Palácio do Eliseu. A Esquerda unida apoia François Miterrand. Ao que parece, Giscard d’Estaign também vai concorrer.
Entretanto, em Inglaterra, Harold Wilson deu explicações na Câmara dos Comuns. «Negada qualquer ligação com negócios obscros». Heat & Cª. ouviram e calaram.
Iniciou-se finalmente a construção da nova ponte de Vila do Conde.
No Porto, foi realizada uma sessão de Satsang (uma palavra Hindu que significa associação com o Sábio ou mais popularmente, encontro com a Verdade).
Faltam 16 dias para a Revolução.

A sombra de Caxias (I-A Fuga de 1961)

«Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém que diz não.»
(Manuel Alegre)

Pelo meio da evolução económica e social que se ia registando em Oeiras, deram-se importantes acontecimentos de ordem política em Portugal e no concelho.
Estávamos em plena Ditadura salazarista, e ao mesmo tempo que as pessoas começavam a ter acesso a outro tipo de informação, passavam também a receber de braços abertos todos aqueles que de alguma forma traziam uma solução para os problemas nacionais e mais ainda para aqueles que prometiam acabar com o regime.
Em 1958, a candidatura de Humberto Delgado à presidência da República, que abalou os alicerces do regime ditatorial, representou um momento alto na contestação a Salazar. Apesar das batotas e das fraudes eleitorais, passadas a escrito pela PIDE, o «General sem Medo» conseguiu vitórias em alguns concelhos.
Em 1974, o 25 de Abril culmina um processo marcado por longos anos de esperanças sem efeito. Tudo aquilo que se esboçara em 1958, mas sem sucesso, tinha agora efectiva concretização. De Santarém partiu a revolução, no dia em que o capitão Salgueiro Maia liderou os seus homens em direcção a Lisboa.
Quanto ao concelho de Oeiras, sobressaiu durante toda a Ditadura devido à existência de uma prisão política, a de Caxias, que por muitos anos significou o terror dos opositores ao regime e a destruição de muitas vidas. Uma sombra em Caxias, freguesia tão recente, marcada por uma luminosidade muito especial. Na prisão de Caxias, no entanto, foi sempre tudo muito escuro, apesar daquilo que o Estado Novo queria fazer crer.

A fuga de 1961

Decorria a manhã do dia 4 de Dezembro de 1961 quando oito militantes comunistas, que se encontravam detidos, protagonizaram uma fuga que se tornou mítica pela forma como decorreu. Eram eles José Magro, Francisco Miguel Duarte, Domingos Abrantes, António Gervásio, Guilherme de Carvalho, Ilídio Esteves, Rolando Verdial (todos funcionários do Partido Comunista) e António Tereso.
Ao longo de um ano, aqueles haviam preparado meticulosamente todo o plano que iria conduzir à sua libertação. O impacto nacional desta fuga foi muito grande, já que Caxias era vista como praticamente inexpugnável. Em plena luz do dia, num pátio interior do forte, rodeado de taludes, GNR’s, carcereiros armados e sempre atentos e vigilantes, como fora possível que oito presos escapassem sem que os guardas tivessem tempo sequer de reagir?
Nos meses anteriores, a PIDE distribuíra aqueles presos por várias salas, para impedir a comunicação entre eles, mas, ao contrário, o que se assistiu foi ao reforço das ligações entre salas e pisos. Assim, a PIDE decidiu voltar a juntá-los todos outra vez numa sala do rés-do-chão. Dessa forma, se estivessem todos juntos, seriam melhor vigiados. No entanto, acabou por acontecer novamente o contrário do desejado, pois ficou facilitada a preparação da fuga.
Quando se soube que na garagem da cadeia se encontrava um Mercedes à prova de bala, logo ficou escolhido o meio de transporte a utilizar. Um antigo motorista da Carris, com conhecimentos de mecânica, António Teresa, foi encarregado de ganhar a confiança dos guardas, fingindo-se colaboracionista («rachado», como lhes chamavam) e oferecendo-se para arranjar os carros do director da prisão e dos guardas.

O objectivo era chegar perto do Mercedes, averiguar o seu estado e compreender até que ponto o portão da prisão aguentaria depois de um embate do carro. Depois de se chegar à conclusão que o portão seria facilmente derrubado, foi escolhido o dia e a hora – antes das dez da manhã, que era quando chegavam os familiares dos presos para as visitas. Ao mesmo tempo, todos os outros carros do interior do forte tinham de estar avariados, para não impedirem a fuga.
Quando os deixaram sair para o recreio, pouco depois das nove da manhã, os oito presos que se preparavam para fugir foram jogar voleibol como habitualmente. Pouco depois, aproxima-se deles o Mercedes, conduzido por António Tereso e com as portas apenas encostadas.
«Começámos a «protestar», os guardas muito atentos, aproximámo-nos do carro cujas portas só estavam encostadas – tudo aparentemente sereno mas muito rápido. Ouve-se o grito da senha: GOLO! E num gesto super rápido os oito fugitivos estavam no interior do «Mercedes» que, em grande velocidade, avança pelo túnel em direcção à liberdade. A sentinela não teve sequer tempo de fechar o gradão. O «Mercedes» vai direito ao portão exterior, arranca em primeira, dá uma pancada no portão que salta em pedaços! Ouvem-se tiros de metralhadora. O «Mercedes» arranca encostado ao talude do forte. Chovem tiros e ouvem-se as balas a fazerem ricochete no carro.» (António Gervásio, O Militante)
Os guardas correm então para os carros do forte, com o objectivo de perseguir os fugitivos, mas conforme fora planeado, António Tereso encarregara-se de os avariar a todos. Dez minutos depois, o Mercedes já chegara a Lisboa. Estacionaram-no no Arco do Carvalhão e desapareceram isoladamente, passando à clandestinidade, muitos deles até 1974.

Visita papal ao Rodrigues de Freitas

Estive hoje na Escola Secundária Rodrigues de Freitas, no Porto, por motivos relacionados com os concursos de colocação de professores que hoje terminam.
Ao que parece, a ministra da Educação vai estar na segunda-feira na escola, a inaugurar não sei o quê. Realmente, a azáfama era grande. Os funcionários não sabiam para onde se virar, porque havia muito para fazer e ao fm do dia tudo tinha de estar pronto. A grande preocuapação era a localização das plantas e das flores recém-chegadas.
– Quero isso tudo daqui para fora! – gritava uma superior, apontando para os vasos antigos. – Deitem fora, levem para casa, façam o que quiserem, mas isso não pode ficar nada à vista. Nenhum vaso pode ficar no parapeito das janelas. Nenhum! Já nos avisaram!
E outros funcionários chegavam para tratar do chão, dar os últimos retoques às paredes, «deixar tudo um brinco» na expressão da tal superiora.
– Parece uma visita papal! – aventei.
– Quase, quase! – respondeu-me outra funcionária. – Só em plantas e flores, gastaram-se aqui centenas de contos.
Sorri de forma desengraçada enquanto esperava que o problema que me levara ali estivesse resolvido.
– Mas na segunda-feira as escolas não estão fechadas? – lembrei-me de repente.
– A maior parte vai estar fechada, mas aqui vamos abrir para a ministra. Sabe o que é que ela mandou dizer? Que nas aldeias está tudo fechado mas que em Lisboa trabalha-se. Por isso tínhamos de abrir.
Educação esmerada, a da senhora ministra! Falta de chá em pequenina, é o que é! O que também não admira.
– Aldeias? Olha que p…! – confesso que foi o meu primeiro pensamento.
Voltei a exibir o meu sorriso amarelo. Aliás, todo este episódio só me deu mesmo para rir. Por ver que a Ministra da Educação vai a uma das principais escolas do Porto, convenientemente, num dia em que não há aulas – nem alunos, nem professores, nem ovos. E por ver tanto desvelo na recepção a um cadáver político. Noutra casa, já tive oportunidade de escrever que Maria de Jesus Rodrigues não passa hoje em dia de uma simbólica «carcaça». Inexistente, fantasmagórica, envergonhada, escondida. Uma ministra de nada, apenas à espera da estocada final.
Parece que não me enganei.

Aventar à bruta

“A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo.” – Peter Druker

Inicio com uma citação, porque acho que no futuro uma empresa chinesa irá registar os direitos de autor de todas as citações. Isso fará com que eu tenha de pagar uma pequena contribuição sempre que as escrever. Vou aproveitar agora, que ainda decorrem as negociações. Já recebi duas contas da Warner para pagar, por ter cantado o “Parabéns a você” este ano. Falei com um advogado para ver se não pagava nada, porque eu não sabia que a canção tinha direitos de autor, mas ele disse-me logo: 250 euros! Depois disse-me então que era uma questão complexa e ainda estava a ler todos os apêndices num site que encontrou.
Passando à frente. Como os Monty Python vão juntar-se, de novo, aproveitei e revi o “Brazil” do Terry Gilliam. É curioso perceber que uma utopia imaginada em 1985 seja uma realidade hoje em dia! Eu sempre achei que os Monty Python tinham “ligações superiores”. Até para prever o futuro.
Portanto, aventando à bruta para a frente. Para o Futuro, que é onde todos nós iremos viver.
Sem especificar datas certas, mas certamente acontecimentos para “breve”.
Cientistas neo-zelandeses inventam a primeira batata totalmente sintética. É feita do ADN decomposto do feijão. Técnicos da Sony desenvolvem a “nova” cassete “Beta”. Cientistas americanos, chineses, russos e alemães mostram, com recurso a estudos em Powerpoint, que afinal o Planeta está bem de saúde e não há razões para preocupações alarmistas. A indústria automóvel revoluciona os meios de transportes ao lançar um veículo com 2 entradas USB e suporte para 2 (dois!) I-Phones. Está em preparação o carro que não consome energia. O Estado pretende criar o ISM, Imposto sobre o Movimento.
A Inglaterra invoca o recentemente aprovado “Tratado de Lisboa” e abandona a UE, com o pretexto de não estar “ligada” fisicamente à Europa. Os Estados Unidos aprovam. Portugal também. O EU invadem o Tadjiquistão involuntariamente. Portugal envia involuntariamente 2 GNRs para o Uzbequistão. A China compra a Coreia do Norte. África torna-se o continente mais rico do mundo. O FMI e o Banco Mundial decidem intervir para não desestabilizar o plano financeiro internacional.
Depois da “crise” ter sido dada como terminada numa reunião do G2, os créditos para compra de habitação estarão com as melhores condições de sempre e será possível comprar uma casa T0-1 em “apenas” 120 anos (casa-de-banho não incluída). No plano dos créditos, uma subsidiária da “Corporación Dermoestética” lança um crédito especificamente para operações estéticas que consistem em ficar cirurgicamente igual ao Cristiano Ronaldo. As Farmácias Portuguesas oferecem uma operação “Cristiano Ronaldo” ao primeiro utente a acumular 1.000.000 de pontos em medicamentos genéricos. O sexo já não é um tabu e é legalmente permitido na Assembleia da República. O Bloco de Esquerda aplaude. O CDS insurge-se e abandona o Parlamento.
A Quimonda é reconvertida num pólo de robótica e patrocina a abertura na Maia, do primeiro Zoo totalmente robotizado. Funcionários, plantas e animais, tudo é robotizado, sinal do grande poder de inovação e avanço tecnológico do Estado e da Câmara da Maia. Ecologistas protestam em cartaz: “Pandas robóticos não se reproduzem”. Vanessa Fernandes tiro o curso de Genética Quântica Avançada pelas Novas Oportunidades. Pela terceira vez.
É criado o ISTOI, Imposto Sobre Todos os Impostos. O governo aplaude, a oposição critica e o povo protesta. É criada a lei 37.852/2019 de 3 de Fevereiro que institui e determina, definitiva e legalmente, o termo “ponto percentual”. O FC Porto festejará finalmente o Hepta, numa altura em que se pondera a criação do “Sporting, Lisboa e Benfica”, para “moralizar o futebol português”.
Um jornalista independente descobre que o caso Casa Pia ainda não terminou. Mantêm-se recursos em tribunal. É lançado o 17.º livro sobre o caso. O caso Freeport ainda se encontra em Segredo de Justiça, e para já o único interveniente julgado e levado a tribunal, é o de um empregado de pastelaria que trabalha em frente ao Ministério Público que sentiu uma “pressão” e não disse nada a ninguém! Foi condenado a 2 meses de pena suspensa. Apresentou recurso.
O actual PM, Francisco Louçã demite-se porque, e cito: “Eu nem a brincar pensei que pudesse ser eleito. O que é que faço agora?”. Manuela Ferreira Leite, presidente da recém nacionalizada Sonae, SGPS responde: “O imobilismo é uma arma poderosa”. É movida mais uma acção em tribunal contra José Sócrates (ex-Ministro do Ambiente, ex-Primeiro Ministro, ex-Engenheiro) que se encontra em paradeiro desconhecido, apesar de ter sido recentemente nomeado para administrador geral da EAEP – Empresa de Água e Energias de Portugal (ex-Galp, EDP e Águas de Portugal), cargo deixado vago pela saída de Dias Loureiro para a presidência da UE.
O processo (conhecido como a disputa sobre a etimologia do “decesso do esparadrapo“) foi movido pela apresentadora do Jornal de Sexta da TVI, Fernanda Câncio.
E eu? Provavelmente, ainda andarei a tentar safar-me disto tudo…

Medicamentos. O cordeiro e o lobo

Vou dar um exemplo que se passa comigo. Por ser hipertenso tomo um comprimido diário. Quando exerci funções no Ministério da Saúde estas questões já se colocavam o que me levou a fazer um pequeno estudo. Que medicamentos existiam no mercado com o mesmo principio activo e qual o seu preço? O que eu tomava custava-me cerca de 70 euros(14 contos na moeda de então) e eu sabia que era o mais caro. O médico tinha-me avisado que os outros não tinham o mesmo efeito e que por isso eram mais baratos. O preço do mais barato era cerca de metade (7 contos)!  A questão óbvia que se colocava era: um deles estava a enganar-me. Ou o mais caro não devia ser tão caro ou o mais barato não teria o efeito desejado. Mas se não tinha o mesmo efeito que o mais caro como poderia ser comercializado?
Claro que os genéricos vieram tornar os medicamentos mais baratos.N ão é só a patente que caíu no domínio público mas é também o processo de produção que é mais barato.
Tudo isto que já era óbvio naquela altura, até porque nos países com capacidade de negociação já haviam imposto os genéricos há muito, em Portugal demorou este tempo todo. O que mudou? Antes de mais a impossibilidade do país suportar estes aumentos anuais com medicamentos. Depois porque os médicos andavam em roda livre e prescreviam conforme o interesse das farmacêuticas. E, ainda (e não menos importante) porque a comercialização nas farmácias era e ainda é, altamente protegida não permitindo a sã concorrência.
Acresce que a ANF (do sr Cordeiro cuja família por concurso tem quatro farmácias,segundo o próprio) consolidou o seu monopólio, enquanto único interlocutor com o Estado, e investiu na distribuição dos genéricos!
Foi quanto bastou para que o interesse do preço do medicamento se tornasse uma preocupação social!
E num mercado onde só havia lobos querem agora convercer-nos que só há cordeiros!
A bem do doente como não se cansam todos de dizer!

Bem-vindos ao “Berlusconi Camping”

O Parque de Campismo de Berlusconi, o famoso animador das reuniões da União Europeia e do G-20 (que monótonas seriam os debates e os bastidores sem a sua presença) pode ser apreciado em todo o seu esplendor no “The Big Picure”, do jornal Boston Globe .

Por lá podem ser ainda apreciadas imagens das causas da abertura do ‘camping’.

A memória do Forte de Peniche

Sabemos todos que a maioria dos grandes monumentos nacionais estão em perigo de se degradarem definitivamente por falta de manutenção (o Estado não tem dinheiro para estes “bizantices”). Isto não impede que o Tuga sempre que tem uma ideia não coloque o Estado a pagar.

A associação Não Apaguem a Memória, que já tinha lutado contra os edifícios que nasceram ali no Chiado, no local da antiga sede da PIDE, luta agora para que o Forte de Peniche não se transforme numa pousada. Quer um museu, um centro que agrupe num mesmo local a documentação referente ao Estado Novo, preservando assim os locais onde tantos anti-fascistas estiveram presos.

O problema é que se este centro não for viável economicamente, vai ser o Estado e possívelmente a Câmara local a ter que pagar o seu funcionamento. O que é meio caminho para a sua morte lenta e para que poucas visitas tenha.

Se for possível (e basta bom senso) juntar no local uma Pousada, explorada por empresário do sector e um centro de documentação, junta-se o útil ao agradável. Não se apaga a memória e desenvolve-se uma actividade económica que sustenta a manutenção e a dinâmica do interesse do público.

O Forte e o belo local merecem e a memória antifascista também!