Memórias da Revolução: 4 de Abril de 1974

No «JN» de 4 de Abril de 1974, o tema forte é ainda a morte do presidente francês Georges Pompidou, que será enterrado num pequeno cemitério de província. As cerimónias fúnebres oficiais decorrerão depois de amanhã na Catedral de Notre Dame. «Pompidou: Uma lousa e um cemitério singelo», é a manchete.
Em Portugal, um avião «afocinhou na Base de S. Jacinto». Na Luz, Portugal empatou a zero no particular com a Inglaterra.
Na corrida aos Óscares, o filme «The Sting» foi o grande vencedor, com sete estatuetas, entre as quais a de Melhor Realizador (Roy Hill), Melhor Actriz (Glenda Jackson) e Melhor Actor (Jack Lemmon).
Faltam 21 dias para a Revolução.

Itália, 4 de Abril de 2009

Lembrem-se, antes de mais, de que se completaram já 54 anos desde esse 1 de Dezembro em que Rosa Parks recusou ceder o seu lugar a um passageiro branco num autocarro de Montgomery, no Alabama. Em Foggia, uma cidade agrícola na província de Puglia, em Itália, as autoridades locais anunciaram a criação de duas linhas de autocarros distintas: uma apenas para imigrantes e outra apenas para cidadãos locais. Na verdade, a linha é a mesma: a número 24, que une o centro da cidade ao bairro periférico de Borgo Mezzanone. A cerca de dois quilómetros deste bairro está um centro de acolhimento para imigrantes. De forma a evitar as fricções que se poderiam fazer sentir entre residentes e indesejáveis, nada melhor do que separar os veículos, ampliando o percurso do autocarro dos imigrantes até ao centro de acolhimento, e assim poupando-os à caminhada de dois quilómetros, e libertando os locais da presença dos não-europeus. O racismo mascara-se muitas vezes com a capa da falsa piedade, das hipócritas boas-intenções, da segurança que se impõe pela violência. E também esta medida vem com o rótulo de higiénica e bem-intencionada. Para quê forçar a convivência de pessoas que, não fosse a vaga de imigração africana que assola a Europa, nunca se teriam cruzado? Naturalmente será mais prudente isolar estes imigrantes para que a sua frustração, o seu sentimento de impotência e de injustiça não venham a encontrar expressão numa espiral de violência que se acenda com um olhar, um insulto, o encontro súbito de dois seres humanos assustados. Deparei-me com a notícia hoje e a coincidência deixou-me um sabor amargo na boca. É que hoje cumpre-se mais um aniversário, o 41º, do assassinato de Martin Luther King.

Voki

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Pressões fatais -2

Para quem tinha dúvidas sobre a existência de pressões no sentido do arquivamento do processo Freeport, tem aí a resposta. Há mais testemunhas da conversa entre os magistrados. O Conselho Superior da Magistratura mandou instaurar um inquérito.

E o Presidente da república não recebe o Presidente do Sindicato dos Magistrados?
E a Drª Cândida vai continuar as suas parlas radiofónicas?
E o PGR vai continuar a emitir comunicados que são desmentidos ao virar da esquina?
E o caso Freeport vai enterrar a Democracia num lamaçal?

Este caso das pressões tem uma gravidade extrema. Afinal a quem serviria o arquivamento do processo?
Ao estado a que chegaram as coisas julgo que nem a Sócrates o arquivamento serviria, tal a gravidade das suspeitas, a credibilidade zero, que a prazo são incompatíveis com o exercício da governação.

Mas, no imediato, e com as eleições no horizonte próximo, não há outra saída para Sócrates e o PS que não o arquivamento!
Com todas as fatais consequências que tal decisão acarreteria para o próprio!

Vamos ver o lado belo da vida

Os Monty Python vão juntar-se, de novo, para preparar “Monty Python: Almost The Truth (The Lawyers`Cut)”, um documentário autobiográfico destinado a celebrar os 40 anos de estreia na televisão.

O documentário será dividido em seis capítulos e vai incluir entrevistas com John Cleese, Terry Gilliam, Eric Idle, Terry Jones e Michael Palin, incluindo várias declarações de Graham Chapman, que morreu em 1989. Para além do documentário, será também lançado em DVD o programa de estreia do grupo na BBC, em 1969, “Monty Python’s Flying Circus”.

Fiéis depositários de um rude e tradicional humor britânico, o grupo fez história na televisão e no cinema. Não é humor para todos. Não há rábulas simples ou piadas físicas, como quedas despropositadas em jeito dos brilhantes programas de apanhados em que algumas pessoas encontram piada nas desgraças alheias.

Monty Python usavam o sarcasmo, a ironia pura e dura, a roçar o cinismo. Detentores de um apurado sentido negro da sociedade, mostraram nas suas histórias as contradições dos mais significativos agentes sociais, desde os políticos até à igreja, passando pelo simples e comum cidadão, também ele um imenso mar de contradições, apesar de, no dia-a-dia, refilar contra tudo e contra todos.

Em “A vida de Bryan”, um homem confundido pelo povo como sendo “o Messias”, Brian, claro, acaba crucificado ao lado de outros criminosos. Nem percebeu como está ali mas, ao lado, os seus companheiros de infortúnio não lhe dão descanso e incitam-no a ver “o lado belo da vida”. Nunca percebi porque é que as televisões não o exibem na quadra pascal.

Ninguém escapou aos Monty Python, nem os próprios Monty Python. Hoje têm uma legião de seguidores em todo o mundo e grande parte do humor dos nossos dias vai beber às fórmulas e ao estilo do grupo.

Pergunto-me como seriam se os Monty Python fizessem humor no Portugal dos nossos dias…

A demagogia

Por causa do Aventar, dediquei-me novamente à consulta regular e aleatória dos dicionários. À sorte abri no “D”. E sem querer olhei para Demagogia. Diz o meu fiel Dicionário Koogan Larousse Selecções que demagogia é: s.f. Política que favorece as paixões populares. / Dominação das facções populares. Mais abaixo diz que um demagogo é: s.m. Aquele que lisonjeia a multidão para tirar proveito pessoal. / Agitador que excita as paixões populares. No Dicionário On-line Priberam demagogia é: s. f. Preponderância do povo na forma do governo. / Abuso da democracia. / Dominação tirânica das facções populares. No entanto, a Wikipédia diz outra coisa, o que tem toda a lógica. Independentemente da questão etimológica, tudo me leva a a concluir que praticamente todos (ou todos) os políticos modernos são na realidade, demagogos. Raramente um deles escapa a acusações de corrupção ou favorecimento alheio. É só estar atento às notícias e à blogosfera. Se quisermos ser mais incisivos podemos até assistir ao Jornal de Sexta da TVI. Se na Assembleia da República estão sempre a insultar-se mutuamente de demagogos é porque se facto ser demagogo é uma má atitude e condenável em sociedade.
Não é que não goste de políticos. Eu não tenho que gostar ou não gostar de nada. Mas tenho todo o direito de me sentir incomodado e principalmente irritado (muito irritado mesmo) perante as contínuas notícias de falsidade, corrupção, roubo, fraude, suborno, favorecimento e conluio em que os políticos estão envolvidos. Infelizmente, no mesmo saco, estão como se sabe, muitos dirigentes, gestores e administradores que têm o mesmo tipo de poder sobre as massas. E usam da mesma demagogia. Aliás, quem paga as campanhas políticas? Porque vêm os grandes gestores de empresas comentar a vida política? Quem ganha com os investimentos públicos? Para onde saem os políticos para a vida pública?

Obviamente, e como está visto ao longo da História, a demagogia é um autêntico sub-produto inerente das grandes massas e do próprio Povo. Onde quer que haja um povo, sobressairá um líder apoiado por seguidores. E mais cedo ou mais tarde, o sistema entrará em declínio e a demagogia imperará novamente. É normal. E nada mudará. Aqui e agora, só mudará pelo uso da empatia generalizada de políticos e dirigentes – o que eu pessoalmente não acredito -, ou porque mais cedo ou mais tarde, alguém neste país pegará novamente em armas como em Abril de 1974 , para mostrar verdadeiramente a face do descontentamento.

A centralisação, na cópia portuguesa, como hoje existe e como a soffremos, é o fidei-commisso legado pelo absolutismo aos governos representativos, mas enriquecido, exaggerado; é, desculpae-me a phrase, o absolutismo liberal. A differença está nisto: d’antes os fructos que dá o predominio da centralisação suppunha-se colhê-los um homem chamado rei: hoje colhem-nos seis ou sete homens chamados ministros. D’antes os cortezãos repartiam entre si esses fructos, e diziam ao rei que tudo era
d’elle e para elle: hoje os ministros reservam-nos para si ou distribuem-nos pelos que lhes servem de voz, de braços, de mãos; pelo
partido que os defende, e dizem depois que tudo é do paiz, pelo paiz, e para o paiz. E não mentem. O paiz de que falam é o seu paiz nominal; é a sua clientella, o seu funccionalismo; é o proprio governo; é a traducção moderna da phrase de Luiz XIV  “l’état c’est moi”, menos a sinceridade.

Alexandre Herculano – Carta aos Eleitores do Círculo Eleitoral de Sintra, 1858 (www.gutenberg.org)

Sim, eu quero!

Alguns jornais deste sábado, como o Sol e o Correio da Manhã, abordam a alegada existência de pressões do ministro da Justiça e do primeiro-ministro, por via indirecta e através do presidente do Eurojust, sobre os magistrados do caso Freeport.

Lopes da Mota, garante o Sol, terá manifestado “apreensões do primeiro-ministro em relação a esta investigação” e falado de “represálias”, no tal encontro que manteve com os dois magistrados, no mesmo dia em que terá mantido uma conversa com Alberto Costa. O ministro reagiu. À Lusa disse que o Governo não faz pressões sobre magistrados.

Que o caso é preocupante acho que ninguém tem dúvidas. Que o panorama tem tendência a piorar também não.

Posso estar a ser inocente (até parece que já ouço alguém a apelidar-me, com sorriso trocista, de otário) mas ainda quero acreditar que tudo isto terá uma explicação razoável. Que tudo não passou de uma série de circunstâncias desagradáveis e que, não tarda nada, os esclarecimentos serão transmitidos e inabaláveis de tão evidentes. Que a “campanha negra” foi apenas um momento mau. Que o Freeport é só um centro comercial. Que não há ou houve pressões e que o debate político em Portugal se faz de forma séria. Quero acreditar que o chefe do Governo não apresentou processos judiciais a jornalistas por textos de opinião. Por fim, espero até que o que é ou não uma pressão seja esclarecido.

O Conselho Superior do Ministério Público vai abrir um inquérito às alegadas pressões. Quero acreditar que os seus resultados serão claros na sua não existência.