No próximo ano celebra-se o bicentenário de uma parte das nações latino-americanas. Essa luta de libertação foi particularmente empolgante pela grande solidariedade que existia entre os diversos povos e forças envolvidas na luta pelas independências nacionais. Por exemplo, os generais argentinos O’Higgins e San Martín atravessando a cordilheira dos Andes para libertar o Chile ou Simón Bolívar, nascido em Caracas, actual capital da Venezuela, avançando desde o norte do subcontintente, indo pela Venezuela e Colômbia, passando ao Equador para atingir o coração da América Latina e ali implantar uma nova nação – a Bolívia. Solidariedade que actualmente não se verifica, como se vê na posição que cada país da região toma face à grave crise hondurenha.
Neste momento, dois séculos depois dessa épica fraternidade, existe uma profunda divisão entre os países latino-americanos. Ilustrando bem essa divisão, no rescaldo da XIX Cimeira Ibero-Americana realizada no Estoril, e que terminou na passada terça-feira, salienta-se o facto de a crise nas Honduras, ter dividido os delegados das 22 nações representadas. A presidência portuguesa obteve uma declaração que condenando o golpe nas Honduras conseguiu reunir consenso. Porque os estados americanos de língua espanhola e portuguesa não se entendem quanto a este recente episódio da queda do presidente Manuel Zelaya, em 28 de Junho, e da não-legitimação das eleições .
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essa comunidade entende que no século XXI temos um futuro para construir em conjunto. O bicentenário constitui uma oportunidade para renovar os laços de uma história que tem mais de 500 anos.»
Magnífico texto Carlos Loures. Obrigado pela parte que me cabe. Um abraço
É bem verdade, as coisas aos tropeções vão melhorando. O Brazil despertou o gigante que pode ser a América do Sul. Vem aí o Mercosul.
Ainda não percebi, por culposo desinteresse, a situação nas Honduras. pelo que parece, o tal Zelaya preparava-se para uma emenda constitucional que lhe proporcionaria manter-se indefinidamente no poder. Era assim?
Sim, na realidade, em 23 de Março deste ano, Zelaya decretou que se realizasse um plebiscito onde se iria saber se a maioria do eleitorado hondurenho concordava em que se convocasse uma Assembleia Constituinte destinada a aprovar uma nova Constituição Política. Não conheço também o teor do projecto de nova Constituição e se ele previa o prolongamento do mandato presidencial para lá dos limites definidos no actual quadro constitucional. Admito que sim, O Congresso e o poder judicial recusaram essa consulta popular e, à revelia da opinião destes órgãos de poder, Zelaya decidiu realizá-la. Em 28 de Junho deste ano, Manuel Zelaya foi preso e substituído na presidência por Roberto Micheletti. Nenhum país reconheceu o governo liderado por Micheletti. Forçado a exilar-se, em 21 de Setembro Zelaya, voltou clandestinamente ao país e refugiou-se na embaixada brasileira em Tegucicalpa. A embaixada foi cercada pela polícia e pelo exército e atacada. Isto, uma síntese dos factos. A minha interpretação a partir do que fui lendo é aue Manuel Zelaya é um políitico populista, tão ao gosto dos latino-americanos – defendeu medidas que, da nossa perspectiva, são erradas, como a da propsta aos EUA de legalizarem as drogas, pois isso seria um rude golpe para o narcotráfico, nomeadamente nas Honduras. Estava, segundo parece, muito ligado a Cuba e à Venezuela de Chávez. Pergunta-se, mesmo que, da perspectiva norte-americana e europeia Manuel Zelaya não fosse um político modelar; mesmo que o conceito de democracia por ele defendido seja diferente do que os EUA (e a UE) aceitam, pergunta-se: não será o povo das Honduras soberano para decidir o que mais lhe convém? As eleições de Novembro passado que sancionam as medidas de Micheletti e colocam no poder o seu candidato Porfírio Lobo foram, segundo observadores credíveis, fraudulentas. Que sentido faz acusar Zelaya de querer perverter a pureza constitucional e depois utilizar a fraude como arma para impor a «legalidade»? Há aqui no Aventar quem saiba mais do que eu sobre o tema. Peço a ajuda do Adão Cruz, que tem dito coisas muito interessantes sobre este problema gravíssimo.
Bem, gravíssimo, apenas por princípio de ameaça de contágio, dado o país que é. Compreendi muito bem o que o Lula quis dizer, não vá acontecer-lhe o mesmo. Esperemos para ver como a coisa acaba.
É o que estou a fazer, esperar e ver. Porém, o Tio Sam que é quem encena estas tragicomédias, não parece gostar de finais felizes. E, nas Honduras, o happy ending parece, mais do que nunca, estar longe dos propósitos do encenador.