Ontem uma mulher matou o marido a tiro quando tentava sair de casa a caminho do paraíso depois de mais de trinta anos de inferno.
Eu andei uns anos em Direito, mas andei torto. Não gostava daquilo nem com molho de tomate. Cada vez que tentava ler um livro jurídico passava por algo como tomar óleo de fígado de bacalhau. Salvo uma ou outra honrosa excepção como História do Direito Romano. Foi no 3º ano, quando dei de caras com a cadeira de Penal, que interiorizei que estava a prazo, apenas me faltava a coragem pois o motivo já o tinha. Chegado ao 4º ano, chegou a coragem e parti. Em boa hora pois assim abracei um sonho antigo e realizei-me. Ao ouvir todas aquelas teorias do direito criminal, velhas e retintas, tão desfasadas da realidade, adaptadas a autómatos e não a seres humanos e a uma sociedade actual, fiquei apavorado. Depois, depois foi assistir a uma meia dúzia de doutos professores de direito ufanos na sua pretensa sabedoria, vomitando saberes de experiência nunca feita, de braço dado com as suas tradições coimbrãs absurdas e estranhas, transpirando um qualquer ressentimento fruto de uma qualquer frustração escondida nunca entendida.
Foi deles que me lembrei, é deles que me lembro sempre, quando leio mais uma notícia de uma mulher assassinada às mãos de mais um monstro que se julga não marido mas seu dono, como se de um cão, gato ou periquito se tratasse. Nesta merda de país onde, com a mais absoluta impunidade, milhares – sim, milhares, leram bem, milhares – de mulheres são selvaticamente abusadas, violentadas, agredidas e assassinadas por monstros que se julgam maridos ou companheiros – desculpem insultar as palavras marido e companheiro que são a antítese destes filhos da puta que por aí andam – com a total indiferença do sistema jurídico, político e da sociedade. Eles violentam as mulheres, assim como os filhos que nascem dessa união maldita.
E pasmo, caros leitores, pasmo quando olho para os números e vejo que esta realidade existe na minha geração e nas gerações anteriores à minha. É a vergonha que me invade, logo eu que julgava esta monstruosidade arredada destas novas gerações. Nós, a geração do telemóvel, da internet, dos blogues e redes sociais.
Imagino-me Juiz e a ter de receber aquela mulher que ontem, desesperada, enfiou dois tiros no cabrão. A ela só lhe podia dizer duas coisas: “Vá em Paz e que Deus nos perdoe pela indiferença, por a termos obrigado a premir o gatilho”. Sim, quem premiu aquele gatilho não foi ela, foi uma sociedade que assobia para o lado, que não prende imediatamente estes selvagens à primeira queixa e consequente prova de facto, esta sociedade que beneficia, sempre, o infractor e culpa a vítima.
Agora percebem a razão da minha partida, este Direito não é para mim, não é para a nossa sociedade. Apenas serve as luminárias que nas suas equações “jurídico-teóricas” se julgam donos do saber sem nunca despertarem da ignorância, fruto da redoma dourada em que vivem. Salvo honrosas excepções.
Cada tiro dado por uma mulher vítima de violência doméstica é um grito, o grito do desespero, de dor e raiva contra a indiferença. A todas estas mulheres, a todas estas vítimas arredadas das construções teóricas dos doutos senhores do direito pátrio, só posso deixar uma frase solidária: “Que nunca vos faltem as balas!”
PS: Nem de propósito, hoje: AQUI
Sei que isto que vou dizer é o mais politicamente incorrecto possível, para mais dito num dia em que se celebra o aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos: não sei se a pena de morte, considerando o estado em que o mundo está, não será um luxo a que não nos deveríamos permitir – casos como os que relatas, em que uma mulher se vê obrigada a fazer justiça pelas suas mãos, se não seria mais correcto haver mecanismos judiciais de limpeza que nos livrassem de monstros. Os Direitos Humanos só deviam abranger os seres humanos (embora reconheça que há situações em que se torna difícil estabelecer a diferença). Vou arrepender-me de ter dito isto, mas lá que penso que há gente que não tem o direito de respirar, lá isso penso. Refiro-me a violadores, pedófilos, torcionários… Bem, seja como for, está dito.
Carlos, é verdade que há gente que não merece o ar que respira. O problema é que não me parece que deva ser o Dr. Noronha do Nascimento ou qualquer outro a decidi-lo.
Acrescento que concordo com quase tudo o que dizes. O «quase» é por causa da particularização do País como sítio onde as coisas estão mal. Eu acho que o mundo inteiro está um lodaçal. Nós, claro, não somos excepção.
Claro que não é um exclusivo nosso – na vizinha Espanha a situação é bem mais grave. Mas é aqui que eu vivo.
Pois é, Ricardo. Tens razão. E os sistema de jurados também sabemos como é falível. Não acreditando em nenhum deus, vejo que esses biltres que espezinham os direitos das suas vítimas, geralmente se portam bem na cadeia, e ao fim de uns anos já andam por aí. E a Justiça, onde está ela?
A denúncia de violência doméstica é a maior parte das vezes feita pelas mulheres em confissão esperando um conselho… claro que não passa do irem perdoando, irem aguentando até que um dia talvez a pancada se torne menos violenta, o vinho deixe de fazer efeito, o ódio, o desprezo pode ser que com a idade vire amor… Ora conselhos desses não lembra ao diabo quanto mais a … e assim fica mesmo até que a morte os separe
Até que enfim um blog que tem a GRANDE CORAGEM de chamar a violência pelo seu nome, que é CRUELDADE e mais nada. Culpar a vítima com aqueles comentários de “ela quer é ficar com a casa” ou “ela estava a pedi-las” é apoiar os criminosos. E embora seja defensora da vida humana, os monstros que perpetram abusos e violência doméstica deviam ser envfiados para a forca directamente sem julgamento. Para quando a reintrodução da pena de morte?
…ando em pesquisas,pesquisas infinitas acerca desta situação caótica em que me encontro.Estou de abraços com uma separação litigiosa,em que no meio dela está uma linda menina de nove anos.
Entretanto surgiu-me um problema de saúde do foro oncológico,com o qual não podia ter relações sexuais assiduamente devido a tratamentos.
Sinto-me desgastada,já saí de minha casa há um ano e desde então tenho me esforçado por manter a minha vida dentro da normalidade.
Era acusada de me “negar” ao meu marido.
O saír de casa,foi o culminar de muitas situações repetidas indecorosas,a que a minha filha assistia.
Humilhou-me,bateu-me,amordaçou-me durante nove anos,e eu sem reagir pois pensava que casar era assim.
O meu ojectivo era encontrar uma razão forte para tomar coragem…eis que chegou!!!
Como era consumidor de alcool frequente,nessa noite chegou a casa como um cacho,foi ao frigorifico e bebeu o que restava,foi ao quarto onde eu dormia com a minha filha acendeu a luz e disse (transcrevo):
…”ò minha filha da puta,tens de ir trabalhar como as outras mulheres.O único emprego que vejo para ti,com essa cara e com esse corpinho,é ires dar a cona…Hei-de te ver na valeta”…
Fui alvo de ameaças de morte,agressões fisicas e psicológicas e ainda continuam…
Comissão de Menores,Segurança Social,Tribunal de Familia e menores,são algumas das entidades que visito frequentemente.
As sessões de tribunal ele não comparece.
O pai da minha filha já que não me consegue atingir,usa a saudade que a filha sente por ele para coagir a vida da menina,para também como é claro, me atingir a mim.
A menina não aprende convenenientemente na escola,e pelo relato da sua professora ela está em sofrimento constante.
Tenho-a meu cargo, a qual eu sustento na íntegra e cujo pai nunca contribuiu com nada.
Neste momento ele já tem um novo lar que constituiu em meses, e já “emprenhou” a vitima.
Queria ele filhos, muitos filhos era o seu lema de vida,pois mais parece pertencer a uma tribo lá dos confins de África.
Aliás a meu ver, tem todo o perfil daqueles anormais que fazem um filho por ano, para ter muitos abonos, e candidatar-se ao rendimento mínimo…enfim uns “animais” mal resolvidos em que a base da sua personalidade situa-se em vitimar a companheira.
Sentem-se “grandes”e “omnipotentes”.
Com a sociedade são uns fulanos de tais,usualmente bem apessoados,mas da porta para dentro,são uns autênticos “abardamerdas”.
Este é o meu testemunho real…Obrigada!!!
Ana, o tempo apaga muita coisa. Não desista! Os problemas oncológicos hoje, tratam-se, e vai ter tempo para ver a sua miúda recuperar. As crianças, quando não lhes falta o amor, têm uma grande capacidade de recuperação. Escreva sempre que quiser. Um abraço amigo.
Ana, agarre a vida, por si, pela sua filha nunca desista de ser feliz. Esqueça o passado, não se atormente com o presente e viva para um futuro bem mais tranquilo. Bem-haja pelo seu testemunho. Um abraço para mãe e filha e… escreva sempre que quiser
maria
Obrigada Luís e Maria pela vossa força!!!
Pelo menos ouviram-me …não me sinto tão sózinha,obrigada…Beijinhos!!!
Boa noite,
Ana estou a fazer uma reportagem sobre violência doméstica, no âmbito de uma licenciatura em jornalismo.
Estou à procura de depoimentos, sob anonimato, estaria disposta a dar-me o seu testemunho?
Muito Obrigado e muita força!
Cláudia
Sim, Cláudia estou plenamente de acordo em participar no seu trabalho.Aliás tudo o que estiver ao meu alcance,porque me revolta…e eu gostaria de poder ajudar mais mulheres a terem coragem para se livrarem destes verdadeiros ANIMAIS!!!
Contacte-me por mail enviando o seu para lhe poder responder…
Beijinho e também beijinhos aos queridos que escreveram neste post
Beijinhos também para si, Ana
Ana, pode contactar-me através de claudia.martins@mailjournalist.com
Muito obrigada!
Boa Tarde,
Venho pela 1º vez partilhar a minha história de violência doméstica. Namorei durante 5 anos com a pessoa mais querida e doce do Mundo, era atencioso, querido e carinhoso, conheci-o no emprego, e estava a atravessar uma época muito má da minha vida, estava carente e só, e aproveitou-se disso. Após 5 anos decidimos casar, na noite de núpcias, houve uma coisa que me disse, ‘tu és minha, para sempre’, na altura não liguei, até que ao fim de 2 anos de casamento, tudo mudou, começou com uma bofetada, porque não tinha as mesma ideias dele, pediu desculpa a durante alhuns meses não aconteceu nada, até que passou para as agressões psicológicas, começou a controlar com quem falava, se saia, fez-me despedir do meu emprego para ficar em casa, e sempre que chegava a casa bebado, bastava ver-me para as agressões psicológicas começarem, era ‘puta’, ‘cabra’, que ele me iria educar, porque estava mal educada. Quando uma vez fiz-lhe frente deu-me um murro que fiquei KO, ai ele obrigou-me a fazer sexo com ele, sempre a bater-me, fiquei grávida da minha filha nessa noite, mas, mesmo assim continuou a bater-me em toda a gravidez, por isso tive sempre em risco de aborto. Quando ela nasceu, as coisas pioraram, tirou-me o meu carro, cartões bancários, BI, tudo o que pudesse, proibiu-me de falar ou ir a algum lado, tinha que estar em casa isolada do Mundo, telefonava várias vezes por dia para me controlar. Emagreci 22 Kilos, estava esqueléctica, não dormia e não comia, partiu-me 3 costelas, e a cana do nariz, fui parar 3 vezes ao Hospital, a ultima vez estava com 15 equimoses no meu corpo, fora as vezes que eu me curava em casa. O ano passado disse para mim ‘BASTA’, sai de casa a meio da noite, sem dinheiro, com a minha filha de 15 meses atrás, e meia dúzia de tarecos. Não se importa com a filha e continua a querer ‘mandar’ em mim, mas, prometi a mim própria que nunca mais, teria medo dele, nunca mais ele teria as rédeas da minha vida, nunca mais me humilhava, nem me batia. Por isso vivo actualmente um dia de cada vez, com os meus fantasmas, e os meus medos, mas com a esperança que um dia acordo sem eles em mim.
Quem tem medo, minha cara Lara, morre várias vezes. Não tenha medo, esses cobardes que batem em mulheres são uns desgraçados cheios de humilhações.
Grande mulher…
Que nunca lhe falte a coragem para prosseguir a sua vida,e deixe para trás esses tormentos…
As feridas fisicas curaram,mas olhamos para o espelho e lá vemos tudo,tudo o que nos fizeram…
Cobardes,essas coisas ditas homens…
…”tu és minha,para sempre”…
Parece que fizemos um pacto, com o diabo!!!
Também ouvi isso,mas a minha raiva…foi bem maior…
A força existe,reside dentro de nós,e nos nossos rebentos, que são a luz dos nossos olhos…
É por eles e para eles que temos que lutar…
Força, muita força…querida Lara.
Obrigada Ana pela força que me deu, todos os dias olho-me ao espelho e penso para mim, eu sou mais forte que ele, pela minha filha tenho de ser, porque é ela que me ilumina a minha vida. Só que ás vezes a raiva e o ódio que tenho por ele me invade, e é complicado, porque não quero contaminar ninguém com ele, penso para mim que esta raiva ainda vêm dele e então tento, com uma luta interna muito grande me livrar dele, e estou a conseguir aos poucos. Culpo-me por ter permitido ele ter-me feito o que fez e isso sim é uma luta que vou ter para sempre, porque se á 1º bofetada tivesse saido pela porta fora, estaria a sair de uma relação doentia e distorcida. Mas tenho a esperança que um dia o Sol nasça na minha praia, que um dia acorde sem fantasmas nem medos, que um dia, simplesmente um dia sinta o calor do Sol na minha pele e me sinta em Paz com o Mundo, e principalmente comigo mesma. Obrigada pela opurtunidade de desabafar.
Lara…não estás sózinha…somos muitas!!!
Existem imensas mulheres, na nossa situação e também aquelas, que ainda não tiveram a coragem de fazer o que fizemos.
Eu sei que é dificil esquecer,pois foram muitos momentos…mas pensa,agora já passou estou bem.
Lembra-te, daqueles dias em que estavas naquele inferno e não tnhas como escapar.
Agora és livre,goza estes momentos pois são de vitória…
E para seguires em frente,transforma a tua raiva em força…e serás o que sempre foste…uma mulher!!!
Eu vi este video ai umas 100 vezes,aconselho-te a ver também100 vezes, pois ajudou-me imenso a ganhar ainda mais raiva,para poder ter ainda mais força…
Beijinhos
Obrigado Ana, Obrigado Lara, obrigado a todos os que deixaram aqui os seus comentários e as suas experiências.
Que o vosso exemplo possa servir para os demais.
Obrigado a todos por ouvirem o meu desabafo, e por me darem força.
Obrigado Ana pela força?!
Se precisar de desabafar, escreva para:
llinodias2010@hotnail.com
Eu responderei.
Olá,espero que estejam todos bem…
È para comunicar-vos que o meu pesadelo acabou…
Transferi-me para Italia…sou feliz…beijinhos a todos!
bem hajam..