Rio de Janeiro ainda com o cheiro dos portugueses
E passo a responder: oxalá que esse “cheiro dos portugueses” lá permaneça por muito tempo, pois trata-se de raízes, de um património cultural de valor inestimável que fazem parte indivisível daquela grande nação que hoje é o Brasil. E o Brasil ganha com este “cheiro”!
Ainda neste contexto, vai uma mensagem especial aos meus amigos gaúchos, sob forma da seguinte citação:
“… É de justiça que se reconheça que foi vital para o sucesso das armas portuguesas…a atuação do Marquês de Alegrete*…o Brasil ficou-lhe devendo, […] mais que a qualquer outro general, o arredondamento de domínio ao sul do seu território”.“A Saga no Prata”, pág. 335 – Juvêncio Saldanha Lemos – Letra & Vida, Porto Alegre 2009. Recomendo a leitura desta excelente obra que sendo de grande conteúdo mantém de forma exemplar o equilíbrio entre um grande livro e um livro grande.
Abraço
Rolf Dahmer
* Alegrete/ concelho de Portalegre / Portugal
Fado Tropical
Oh, musa do meu fado
Oh, minha mãe gentil
Te deixo consternado
No primeiro abril
Mas não sê tão ingrata
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
“Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo…(além da
sífilis, é claro)*
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora…”
Com avencas na caatinga
Alecrins no canavial
Licores na moringa
Um vinho tropical
E a linda mulata
Com rendas do Alentejo
De quem numa bravata
Arrebato um beijo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
“Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto
Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto
Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa
Mas o meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa…”
Guitarras e sanfonas
Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas
Que corre Trás-os-Montes
E numa pororoca
Deságua no Tejo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial
* trecho original, vetado pela censura
Viva o Brasil!
A primeira vez que ouvi essa canção, foi no início dos anos 70, em Lourenço Marques. Pelo Buarque e logo a seguir pelo G. Moustaki. Eu devia ter uns 12 anos e até me vieram as lágrimas aos olhos. Como se vê, há manias que vêm de longe.
Lembro-me muito bem desta canção. Quanto à figura da Vista Alegre e à maneira como se olha, a verdade é que eu não tinha consciência da dimensão deste antogonismo à Igreja católica. Mas também não me apercebia da dimensão dos “pecados”.
cheira a portugal; cheira a poesia. e vai disto:
ementa do século
Há Grandes putas do Estado Grandes cabras
com aneis de brilhantes nos dedos
Há Partidos Há Deputados Há Assembleias
Há Presidentes e Há Estrangeiros Grandes
Putas com sotaques estranhos e Paneleiros
das latrinas europeias Das grandes
latrinas com guarda e das outras
com merda pelas paredes Há
Há Há Há Há
Nossa Senhora Daqueles Que Comem No Cu
salvai o poema desta gente
eu quero ser como o fernando eu quero ser como o fernando
eu quero ser como o fernando eu quero ser como o fernando
eu quero ser COMO O FERNANDO acabando drasticamente
nesse momento com uma dieta vegetariana de alguns séculos
(o que não era nada importante)
Nossa Senhora Daqueles Que Comem No Cu Daqueles
que comem por gosto e dos outros apanhados desprevenidos
Sida Voga do prazer anal Sida sem Voga Soda
Bombas a rebentar por toda a parte
Empresários assassinados Crianças mutiladas Outras
a morrer de fome Muitas mais a morrer de fome Muitas outras
que querem comer porque foram habituadas a isso
e não podem Nossa Senhora Operários sem salário
Operários com imitação de salário Escravos
das vontades dos outros Degraus
para oportunistas feitos a operários Sindicatos
Comissões Saneados Presos políticos Antigos
terroristas que gostavam de ser burgueses Exilados
Espoliados Abandonados Apátridas Timorenses Gente
que já não sabe para que lado há-de cair
Nossa Senhora Daqueles Que Comem No Cu
salvai o poema desta instância
Seria tudo certo se fosse um adolescente de tronco nu
entrando na barra do tejo montado no seu cavalo branco
para nos dar à luz mas não
ESTE ANO VAMOS PÔR UM PORQUINHO NO GOVERNO
(o que não era nada importante)
uns pintam-se de vermelho outros de azul
mas por mais que se disfarcem são sempre porquinhos
a quem deitamos os nossos votos e que depois
se voltam contra nós e nos devoram
Helder Cerqueira