Costa Vicentina em pé de guerra

A Costa Vicentina, a única jóia digna desse nome que resta na costa portuguesa, está em pé de guerra por causa do Plano de Ordenamento promovido pelo Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV). Confesso que não li o actual plano, pelo que não me pronuncio nem a favor, nem contra o mesmo. Conheço, no entanto, muito bem a região e tenho ouvido várias opiniões de moradores. A guerra aumentou de tom, com todos os municípios abrangidos contra o Plano de Ordenamento, mas o clima de guerrilha é antigo. Algumas injustiças e exageros têm sido cometidos contra a população local, existem limitações, por vezes incompreensíveis, que não promovem a fixação das gerações mais jovens na região e têm levado ao abandono quer das populações, quer das actividades tradicionais que o Parque deveria proteger. Por outro lado, e disso estou seguro, se não fosse a existência do PNSACV estariamos hoje confrontados com um mero prolongamento do pior dos Algarves, aquele que apostou acriticamente no turismo massificado, na betonização indiscriminada e na falta de ordenamento.

A jóia que a Costa Vicentina ainda é tem um elevadíssimo potencial de atracção de riqueza por se ter mantido como é, bela, preservada, quase virgem, com uma linha litoral praticamente impoluta, mas é necessário que os habitantes usufruam também dessa possibilidade de geração de riqueza sem, no entanto, alterarem significativamente a paisagem e a pressão demográfica actuais, não esquecendo que a região é mais do que apenas a beira-mar. Planos gigantescos, com milhares de camas, grandes “resorts” e complexos turísticos são muito atraentes no curto prazo, mas devastadores no futuro, e os autarcas raramente são os melhores guardiães da sustentabilidade a longo prazo.

A linha entre conservar e desenvolver é muito ténue e os equilíbrios difíceis. Sustentabilidade, deveria ser a palavra de ordem, o garante de uma política que inclua as populações e preserve o que milhares de anos de vida humana no local não estragou. Oxalá impere o bom senso.

Comments

  1. Dario Silva says:

    “A Costa Vicentina, a única jóia digna desse nome que resta na costa portuguesa”

    Não sei se tens alguma coisa contra o litoral minhoto entre Viana do Castelo e Caminha… ainda não está muito vandalizado. E não tem (quase) nenhuma Construção Na Areia.

  2. Luís Moreira says:

    É para lá que aponta o megaprojecto do BES, Herdade da Comporta e outros que já contabilizam cerca de 30 000 camas e os campos de golfe respectivos…nenhuma esperança.

  3. Pedro says:

    Dario, começo por dizer que não sou regionalista e que o regionalismo bacoco me irrita, logo não tenho nada contra nenhuma zona ou região portuguesa. Não estamos é a falar da mesma coisa, estou a referir-me a uma área que não tem comparação nem semelhança possível:
    “O Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina localiza-se no litoral sudoeste de Portugal continental, entre a ribeira da Junqueira em São Torpes (Sines, Baixo Alentejo) e a praia de Burgau (Vila do Bispo, Algarve), com uma extensão de 110 km, numa área total de 74 414,89 hectares, correspondendo a área terrestre a 56 952,79 ha e a área marinha adjacente a 17 461,21 ha.”

    Se há lugares bonitos e ainda preservados na costa portuguesa? São cada vez mais raros mas ainda existem alguns. Mas o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina é uma realidade completamente diferente, desde logo por ser Parque Natural.

  4. Luís Moreira says:

    Ainda bem que os dois têm, cada um, uma dama e a defendem. Estaríamos todos melhores se mais alguem defende-se o que é raro!

  5. Dario Silva says:

    Bom, isse de ser Reserva ou Parque Natural faz-me lembrar aquela fábrica de cimenta ali ao pé de Setúbal…

  6. Pedro says:

    Luís, a Herdade da Comporta fica já fora da área protegida do PNSACV e é uma zona de vocação eminentemente agrícola _ agora também turística e de “lazer”-, com especial destaque para a cultura do arroz. Simultâneamente é um imenso latifúndio, propriedade da família Espírito Santo. Ultimamente tem estado no centro de várias polémicas, sempre com a sombra do ex-ministro “Corninhos” Pinho, sendo que a última é a Ryder Cup, que bem podia merecer uns postes ao teu estilo. Informação disponível em muitos artigos de jornal aqui: http://www.google.pt/search?q=herdade+da+comporta&hl=pt-PT&gbv=2&source=univ&tbs=nws:1&tbo=u&ei=sVrPS_GoA5uemwPiqpkR&sa=X&oi=news_group&ct=title&resnum=4&ved=0CBwQsQQwAw

    • Luís Moreira says:

      Pedro, já está aí um ” A contribuição do BES para o PIB” de há dois dias, mas deixa estar que com estas informações não perdem pela demora.

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