Rosa Coutinho: "Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos para desanimar os mais corajosos"

Morreu o homem que escreveu uma das mais vergonhosas cartas -em papel timbrado da República Portuguesa- da história de Portugal. Nós, seus contemporâneos, não o julgámos devidamente e, neste paísinho, não sei se o futuro o fará.

Todos temos uma responsabilidade moral perante a História, até (ou sobretudo) nos momentos mais radicais e conturbados. Louvá-lo hoje, e branquear a mancha, mais não fará do que envergonhar-nos colectivamente, além de insultarmos as centenas de milhares de mortos brancos e negros, portugueses e angolanos, que resultaram do processo da guerra civil em Angola.

Adenda: O leitor António Duarte (ver comentários) alerta-me para a possibilidade de falsificação da carta e contrapõe este texto de Pacheco Pereira. Dado o clima que então se vivia, com as inerentes manobras de contra-informação, não me custa admitir que seja falsa. Rosa Coutinho interferiu decisivamente no processo independentista angolano e, ao ter escolhido e priveligiado o MPLA como interlocutor, tem, também, a sua quota parte de responsabilidade na guerra civil que se seguiu, concitando os ódios de brancos e negros afectos a outras tendências. Até por isso, admito a possibilidade de falsificação.

Já era tempo, aliás, de se saber mais sobre o processo de descolonização. Muitos dos seus autores foram dizendo, ao longo dos anos, ser ainda cedo para revelarem tudo o que sabiam, prometendo que um dia o fariam. A verdade é que tais revelações não chegam à luz do dia, pese a avançada idade de muitos deles. Penso que Portugal teria a ganhar com algumas revelações sobre um processo que foi, claramente, mal conduzido e fez demasiadas vítimas, durante décadas. A mim cumpre-me, nesta adenda, publicar o verso e o reverso desta questão, assumindo que não possuo provas num sentido ou noutro e que não pretendo de forma gratuita enxovalhar a memória de ninguém. Caso seja falsa a carta, penitencio-me por a ter publicado, não escamoteando que a mesma é pública e corre na net -e noutros meios- há muitos anos.

Comments

  1. António Duarte says:

    Fica mal ao autor deste post prestar-se à divulgação de aldrabices. Podemos questionar ou condenar a acção política de Rosa Coutinho, mas não devemos fazê-lo com base num texto forjado, uma falsificação grosseira. Sobretudo quando se invoca, no mesmo texto, a história com agá grande!
    Quem fala em responsabilidades perante a História devia saber que a primeira responsabilidade de quem a escreve, ou seja, de quem é historiador ou aspira a sê-lo, é averiguar da autenticidade dos documentos em que se baseia.

  2. Pedro says:

    Caro António Duarte:
    Começo por lhe dizer que não sou historiador. Quanto à carta em questão, sempre ouvi falar dela como sendo verdadeira, conheço o seu conteúdo há muitos anos e nunca a vi desmentida de forma cabal.
    Pode provar-me que é falsa?

    E não, não posso provar-lhe que é verdadeira (para me adiantar já a uma possível pergunta) mas, se uma carta falsa com semelhantes afirmações circulasse com o meu nome, faria tudo para provar o contrário. Não me consta que Rosa Coutinho o tenha feito.

    Quanto ao favorecimento ao MPLA, o mesmo é público.

  3. António Duarte says:

    Que a carta é falsa percebe-se desde logo pelo tipo linguagem usado, pelas perguntas retóricas à laia de justificação para as “ordens” dadas, pela referência a reuniões “secretas”. A falsificação está mal feita, é um autêntico gato escondido com o rabo de fora…

    Mas enfim, não tenho “provas”, nem tão pouco pretensões a convencê-lo de algo que me parece evidente. Em vez disso, sugiro que leia o que diz a respeito desta “carta” um homem insuspeito de simpatias com o comunismo ou os comunistas que é também um dos melhores investigadores da história do comunismo: Pacheco Pereira.

    http://abrupto.blogspot.com/2008/05/coisas-da-sbado-carta-de-rosa-coutinho.html

  4. Ricardo Santos Pinto says:

    Felizmente, meu caro Pedro, a carta é falsa. Está cheia de erros ortográficos e foi claramente forjada. Até no Blasfémias se disse que parecia ser falsa. http://5dias.net/2008/04/16/sobre-rosa-coutinho-e-o-mpla/


  5. Bom, como se costuma dizer Extraordinary Claims Demand Extraordinary Evidence e parece claramente que quem tem de fornecer as provas é quem faz as afirmações.

  6. Pedro says:

    Os comentários acima expressos levaram-me a colocar uma adenda ao texto, admitindo que posso estar errado.

    Pelos vistos também António Barreto http://sorumbatico.blogspot.com/2008/04/angola-nossa.html caíu no mesmo erro e também admitiu poder ter-se precipitado. Provávelmente nunca saberemos, de fonte segura, se a carta existiu, ou não.


  7. Pedro, essa carta é totalmente falsa. googla por aí e encontrarás a estória toda, de resto contada por gente que nem sequer era simpatizante do homem.

  8. José Pinto says:

    A única coisa que é absolutamente provada é que este post é uma burrada. Torna-se até numa homenagem à memória de Rosa Coutinho, pela demonstradas injustiças de que foi alvo. Tristeza…

  9. Pedro says:

    José Pinto
    o respeito que eu tenho pelos mortos, pelos estropiados, pelos deslocados, pelos “retornados”, pela diáspora, pelos que ficaram sem pátria, causados pelas burradas dos “Rosas Coutinhos”, impede-me de lhe responder à letra.

  10. Daniela Major says:

    O facto da carta ser falsa não quer dizer que isso apague o resto. Porque não apaga. A morte não torna os mortos melhores.

  11. Pedro says:

    Exactamente, Daniela, sem tirar, nem pôr.


  12. O Rosa Coutinho transformou-se num ódio de estimação para a maioria dos que vieram de Angola. Um ódio cego, de quem não compreende que não houve descolonização nenhuma (e a culpa disso é dos anteriores governantes).
    Ora leiam lá uma visão diferente do assunto:

    http://correiopreto.blogspot.com/2010/06/o-almirante-que-mudou-historia-de.html

  13. Pedro says:

    Li o correio preto e apenas confirma o que penso: Rosa Coutinho é um dos responsáveis – nunca disse que era o único – pela guerra civil que Angola viveu, pela que houve, não pela que poderia ter havido se…, essa não podemos aquilatar nem, com toda a certeza, afirmar que haveria se o processo tivesse sido tratado de forma mais inteligente e menos facciosa.
    Não compro a imagem de figura à altura da história, bem pelo contrário. Mas o homem morreu hoje e merece algum pudor. Um destes dias podemos voltar ao assunto.


  14. Se Angola não tivesse sido entregue ao MPLA muito simplesmente não existiria. Não é um problema de guerra civil, que houve na mesma: era a divisão do país em 3, e a possível anexação de parte dele por vizinhos.
    Eu que até sou contra a manutenção das fronteiras artificiais do colonialismo, vejo neste caso a possibilidade de construção de uma potência internacional.
    Precisam é de se livrarem do MPLA…

  15. Pedro says:

    É um argumento interessante, apesar de não passar de pura especulação nem disfarçar a falta de inteligência e de grandeza histórica no processo. Mas terá sido mais consequência do que, propriamente, visão estratégica.