Esta quinzena acabou de forma triste: com a morte do escritor José Saramago,grande figura da nossa cultura, único prémio Nobel da literatura na nossa língua.O seu corpo por sua decisão própria , voltou para Portugal,depois de ter vivido muitos anos em Espanha, designadamente, nas Canárias.
Do seu enterro que mereceu honras de Estado alguns factos foram significativos.
Por um lado, o reconhecimento nacional que mereceu do Governo com a presença de Sócrates no dia do enterro,e o internacional marcado pela presença da vice Presidente do Governo Espanhol, e igualmente, a da futura candidata à Presidência do Brasil, como sucessora de Lula. Estas presenças são simbólicas do valor do da escrita de Saramago para a cultura lusófona, Ibérica, e do mesmo modo Ocidental.
Porém ,como disse Oscar Wilde,”Os Portugueses perdoam tudo, menos ser um génio”,não admira por isso, que o Presidente Cavaco e Silva em férias nos Açores se tivesse esquivado a vir ao enterro. Mas igualmente grave foi a postura da Igreja Católica que nem na hora da morte lhe perdoou o seu livre pensamento.
O “Observatório Romano”, orgão oficial da Igreja,pela mão de Claudio Toscani, não deixou de o zurzir, na sua ideologia anti religiosa ,definindo-o como “um intelectual sem nenhuma capacidade metafísica e que viveu agarrado até ao fim da sua vida à sua fé do materalismo histórico”.
Outro facto importante desta quinzena foi a realização do Conselho Europeu ,em Bruxelas no passado dia 19 de Junho, onde os 27 países, finalmente, lançaram uma operação transparência sobre o estado dos bancos europeus.
São os chamados “testes de resistência”,”stress tests”, que vao ser praticados sobre todos os grandes bancos europeus para dar garantias aos mercados ,e cujos resultados serão publicados até ao fim de Julho. Assim “acabam-se os psicodramas” disse Sarkozy, Presidente francês.
Os EUA fizeram-nos já ha um ano e o FMI também os vinha pedindo,contrariando a vontade da Alemanha.
Segundo Zapatero , o 1º Ministro Espanhol ,socialista,que já os vinha exigindo há muito, “a transparência é essencial e nós queremos ganhar a confiança dos investidores, dos cidadãos e das empresas.”
Tecnicamente os “stress tests” são simulações de resistência dos bancos aos grandes choques-recessão, falência de grandes empresas, bancarrotas num Estado,afundamento da bolsa.
Enfim,cada vez mais assitimos a nível europeu a uma regulação económica central,a partir de Bruxelas,que sendo em alguns casos algo dolorosa, é necessária para evitar derrapagens nacionais muito piores.
Temos portanto, de nos começar a habituar a um Governança Europeia que vai enfrentar decerto dificuldades nos nacionalismos dos Estados,mas nós temos de deixar de pensar Portugal na sua dimensão geográfica , e passar a pensa-lo na sua nova dimensão ,Ibérica, Europeia, e global.
O 3º facto importante deste período foi o esperado resultado da Comissão de Inquérito parlamentar ao negócio da eventual compra “PT-TVI”
No fim, depois de tanto tempo gasto,e tanto dinheiro acabou por se concluir,que não se podia concluir nada,ou seja se Sócrates tinha,ou não, mentido ao Parlamento quando disse nada saber do negócio. Foi algo desprestigiante para o nosso Parlamento este inquérito.
E agora vou referir o programa de rádio Vidas Alternativas 218, emwww.vidasalternativas.eu .
Tem três entrevistas.
Uma com Luís Mateus que nos fala da importância da assumpção da Cidadania no contexto actual da crise que passamos,e da necessidade de alargamos os nossos pontos de vista.
Depois voltamos à segunda parte da entrevista à escritora luso-caboverdeana Rose Nery de Sttau Monteiro. Desta vez fala- nos mais de si do que da sua obra.
Fechamos com chave de outro. É a vez do crítico musical Raul Mesquita nos introduzir na vida e na ópera “Testoride argonauta ” do compositor português do sec XVIII,João de Sousa Carvalho.
Com este programa enviamos de novo a newsletter habitual.
António Serzedelo -Editor
A regulação e controlo dos bancos é uma boa notícia.Quanto ao Vaticano sobre Saramago, tudo como se esperava, idem para Cavaco.
Bom texto e pedagógico, António Serzedelo.
Obrigado Luís Moreira,e Adão Cruz.
Na verdade tentei, e vou tentar fazer abordagens destas questões,porque creio que nós aqui, andamos muito virados para o nosso umbigo,e fulanizados.
Acho que devemos começar a acostumar-nos a estes temas europeus ,porque nos tempos próximos vão ser, não só recorrentes,mas decisivos para o nosso futuro,e temos de aprender as discuti-los.É uma questão de Cidadania .
Acho muito bem e venha quem entende do assunto, que eu sou pouco mais do que ignorante nestas matérias e preciso de quem me elucide.