A discussão em volta das Scut trás, como seria previsível, ao de cima as limitações patológicas dos nossos putativos políticos.
Uns, como Rui Rio, porque querem emergir como líderes regionais e quaisquer outros horizontes lhes toldam a vista e dão vertigens. Outros, como Passos Coelho, porque abdicam da consciência da realidade em favor de princípios incipientes que, aparentando justiça e igualdade, são injustos e desiguais e que, no final, evidenciam apenas as suas limitações políticas, bem como a sua falta de coragem, de capacidade decisória e de discernimento. Quando um político, num caso de complexidades várias como este, se limita a dizer “ou tudo ou nada“, está a demitir-se da própria política e a assumir que apenas lhe interessa o mero taticismo de circunstância e que não sabe do que fala, nem mede as consequências do que diz.
Sendo o conceito de Scut um erro do antigo ministro Cravinho, que fez o que hoje todos fazem (construir sem ter dinheiro para pagar e chutar a bola para os que vierem depois), a verdade é que resolvê-lo com justiça e sentido de realidade se afigura mais difícil do que engendrá-lo. Porquê? Porque as realidades mudaram, porque as pessoas adquiriram hábitos, porque em alguns casos as alternativas se desmantelaram, porque segmentos das antigas estradas nacionais se munipalizaram, porque com a existência das Scut cessaram os investimentos em transportes e vias alternativas, porque se alteraram prioridades, etc., etc.
Que a generalidade das Scut deveria ter sido taxada desde o início (donde nem Scut se chamariam) é um facto. Mas, como se diz, cada caso é um caso e deveria ser resolvido em função das realidades envolventes e não com declarações bacocas de princípios, ou com o manto dos egoísmos regionais a pretenderem confundir as questões. Há actuais Scut que devem passar a ser pagas e outras que, pura e simplesmente, não devem, nem podem. Sem estradas nacionais alternativas, sem autocarros regulares, sem comboios eficientes não se pode abdicar delas.
Estes iluminados da não-política deveriam fazer algumas experiências para aprenderem com a sua própria ignorância e para que o povo se divertisse a perguntar “então, não se via logo?” ou, mais apropriadamente, “achavas que somos todos parvos?”. Eu proponho uma:
Os srs. Passos Coelho, Miguel Relvas e o comentador Carlos Alberto Amorim pernoitam cómoda e tranquilamente em Lagos com reunião marcada no dia seguinte em Faro às 9h00 e almoço de trabalho Vila Real de Santo António.
O sr. Passos Coelho vai no seu automóvel com o respectivo motorista, mas está proibido de infringir os limites de velocidade, as regras de trânsito e de colocar os pneus da viatura na Via do Infante. O sr. Miguel Relvas vai de comboio, pode ir em primeira à vontade, não é isso que aqui se discute. O sr. Carlos Alberto Amorim vai de autocarro de carreira. À noite jantam comigo em Lagos. Se ainda vierem com a teoria do “ou tudo ou nada”, é porque não pretendem resolver os problemas e não é isso que, na verdade, os motiva e preocupa.
Apareceu uma proposta de hoje do Sócrates. Pagam todos menos quem reside na área.
Pedro, Scuts e mais um ror de casos são fruto da falta de qualidade dos políticos que temos tido nos últimos 30 anos.
O que é curioso é ver que ainda há quem defenda mais do mesmo, mas com outros protagonistas. Curioso, certamente, é eufemismo. Mas sejamos brandos como os costumes da nossa gente.