Texto de Marcos Cruz
Imagine-se numa discoteca em que, ao soar de uma música conhecida, toda a gente converge para a pista. Você, por não estar seguro dos seus dotes rítmicos, fica a ver. Dentro de si, a vontade de participar no movimento colectivo debate-se com a falta de autoconfiança. Põe a hipótese de o melhor ser sair dali, mas, depois de antever a violência de se reconhecer como um derrotado, como um incapaz, opta por dar a ideia de que se sente bem assim, parado, apenas a olhar. Apoia-se, entretanto, na bebida e no tabaco – e, cada vez menos dono de si, questiona-se também sobre se estas ‘muletas’ não prejudicarão a imagem que está a transmitir aos outros, se não o tornarão ainda mais fraco aos olhos do todo, de que não sente fazer parte. A páginas tantas, junto a uma pessoa sua amiga que se aproxima e pergunta por que não dança, você assume não conhecer o léxico dos passos, não sentir o ritmo, não acreditar nas suas capacidades, enfim, tudo somado, confessa-lhe que é a pessoa errada no lugar errado.
Agora imagine que o lugar errado é o lugar, ponto. Ou seja, não há outro. Você tem de aprender a dançar. Rendido à inevitabilidade, já depois de aceite o facto de que prolongar a recusa só lhe vai causar mais sofrimento, percebe que, para se integrar, necessita de superar os seus medos. Aí, a sua amiga ajuda-o a relativizar o peso dos outros, da massa dançante, dizendo que cada um está entregue a si mesmo, que se alguém olhar para si e gozar consigo, com o seu processo de aprendizagem, é porque esse alguém não usa da verdade, ele próprio não está seguro de si e assume a estratégia mais fácil e mais cobarde para se legitimar ali, que é procurar sacudir para outra pessoa a chacota de que teme ser alvo. Você, contudo, nesse momento, acha mais possível a mimese do que a expressão individual – está nos antípodas da liberdade e só quer passar despercebido.
oh , ja li isto ontem , n’ outro blogue. não acha falta de imaginação?
penso que quem está com o votimo de publicar tudo, é o senhor? mesmo passando pelo repetir, repetir