Inteligência cognitiva e emocional

(adão cruz)

Apesar do termo “inteligência emocional”, isto é, segundo Goleman, a capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros e de gerirmos bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos, e embora as definições tradicionais enfatizem os aspectos cognitivos como a memória e resolução de problemas, para mim a inteligência é só uma, dentro da sua complexa neuronalidade. Para mim, o auto-conhecimento emocional, o controle emocional, a auto-motivação, o reconhecimento de emoções em outras pessoas, a habilidade nos relacionamentos inter-pessoais, considerados como atributos da inteligência emocional, não são características que permitam separar a inteligência em peças. Sempre fui contra esta académica e artificial dicotomia, dado que a emoção é um fenómeno permanente e indispensável ao mais pequeno gesto vital, seja a emoção exógena seja a emoção endógena.
Tenho muita dificuldade em dissecar os sentimentos (diferentes de pessoa para pessoa) isto é, em definir as incomensuráveis formas e manifestações dos sentimentos, até porque antes dos sentimentos há as emoções (diferentes de pessoa para pessoa), que lhes dão origem, e antes das emoções (diferentes de pessoa para pessoa) há as imagens (diferentes de pessoa para pessoa) resultantes dos estímulos que as provocam e aos quais cada pessoa reage de forma muito diferente, conforme o seu padrão neural.
Assim sendo, os sentimentos constituem um mundo tão vasto de diferenças que me parece podermos incorrer em algum grau de estultícia, ao pretendermos dissecá-los, dimensioná-los, fraccioná-los, escaloná-los, hierarquizá-los, atribuir-lhes uma cronologia e uma metodologia intrínsecas, fora do campo neuro-científico. E muito menos separá-los, por exemplo dentro do cesto da inteligência, em cognitivos e emocionais, como se de fruta se tratasse.
Há um único contexto em que me parece legítimo atrevermo-nos a abordar parcialmente e de forma particular os sentimentos e com eles lidar como matéria, contexto esse que se situa apenas no campo da arte. No seio do contexto poético, literário e musical, por exemplo. Mesmo assim, com a prudência de nos contentarmos apenas com a plumagem, as cores, a luz e o som.

A cultura de Marcelo

 

(adão cruz)

Em minha opinião, a cultura faz parte integrante da estrutura do ser humano. Mas entre os diferentes graus de cultura, da sua solidez e profundidade, da sua autenticidade e verdade, da sua sábia natureza intrínseca, pode haver diferenças abismais. A cultura constitui-se através da vida como qualquer um dos mecanismos de adaptação, enriquecendo o conhecimento e o saber nos emaranhados mecanismos fisiológicos e neurobiológicos da criatividade.

A verdadeira cultura, a cultura do saber autêntico, a cultura do percurso, a cultura do ser, transparece, muitas vezes, no homem verdadeiramente culto, de forma natural, no olhar, no fácies, na postura, no ser, na primeira amostra de comunicação. Nada em Marcelo Rebelo de Sousa me faz sentir que ele não é vulgar e que a cultura é o cerne da sua estrutura.

Tudo isto é um pouco como a nossa língua, que, como todos sabemos, não deve ser considerada um mero instrumento de comunicação, mas uma parte inseparável do todo que somos e da riqueza anímica que construímos através da vida. Um bom perfume deve ser sentido como parte integrante da personalidade de uma mulher e não como um cheiro. Uma boa decoração deve ser sentida pelo bom ambiente, pelo conforto e bem-estar que cria e não dar nas vistas apenas pelo estilo, pela forma e configuração dos objectos. Ao contrário do que hoje se vê em todos os lados, a cultura não é um enfeite, uma cosmética, uma roupagem mais ou menos vistosa.

Esta cultura do saber, a verdadeira e profunda cultura, nada tem a ver com a cultura-espectáculo, com a cultura-folclore, com a mais que ridícula cultura política, com a cultura do enciclopedismo superficial dos tagarelas, onde, e esta é a minha opinião, incluo, parcialmente, Marcelo Rebelo de Sousa.

Pena de morte por enforcamento e injecção letal pode ser – por lapidação é que não!


Há neste momento 19 americanos com execução marcada para o que falta de 2010, fora todos os outros que se mantêm há anos no corredor da morte. Nos Estados Unidos, a injecção letal é o método mais comum, mas a electrocussão, a câmaras de gás, o enforcamento e o fuzilamento também são permitidos.
A morte por lapidação é abjecta… como são todas as outras formas de matar. Um Estado não tem o direito de tirar a vida, seja a quem for. A manifestação de hoje é muito, mas muito redutora.

as crianças, essa pequenada que nos faz rir e manda em nós

as crianças gostam reir e mandam em nós

Excerto da Introdução do meu livro O imaginário das crianças. Os silêncios da cultura oral, 1ª edição, Escher, Lisboa 1997, 2ª edição, Fim de Século, Lisboa. Para alegrar a vida após tanto debate sobre política educativa…

“Olá padrinho!”, diz a pequena quando lhe telefono para saber dela. Uma voz entusiasta que me cumprimenta com um carinho que, certamente, aprendeu dos seus pais e avós. Pais e avós que, por seu lado, aprenderam o entusiasmo pela vida e pelas pessoas dos seus próprios pais, bem como de toda a sua ancestralidade. [Read more…]