Contos Proibidos: A remodelação do I Governo Constitucional

continuação daqui

«Os três grandes problemas do I Governo Constitucional seriam, em primeiro lugar, a ausência de apoio maioritário na Assembleia da República, que não foi procurado pela convicção de que Ramalho Eanes estaria sempre submetido à vontade do Partido Socialista e de que, à sua direita, ninguém se atreveria a assumir a responsabilidade pela queda do I Governo; em segundo lugar, a absoluta necessidade de encontrar meios financeiros internacionais que ajudassem Portugal a resolver os gravíssimos problemas resultantes do défice da sua balança de pagamentos e, finalmente, a preparação da candidatura à Comunidade Económica Europeia. Depois, existiam todas as questões inerentes às deficiências da equipa ministerial escolhida e a algumas das políticas que o Governo se propunha desenvolver.
É verdade que passados seis meses já todo o País estava farto do I Governo Constitucional.
Essencialmente porque o líder do PS não daria a atenção devida à questão essencial para a sobrevivência do seu governo: à garantia de apoio maioritário na Assembleia da República. Este facto, combinado com uma série de desastrosas políticas sectoriais, seriam a receita ideal para o desastre.
Mas o Governo e o primeiro-ministro eram internacionalmente populares e não teriam dificuldade em encontrar apoios quer para financiar o défice da balança de pagamentos, quer para iniciar o processo de integração europeia. Mas na cena política nacional, onde realmente se ganhavam e perdiam as batalhas eleitorais, ao fim de apenas quatro meses, Lopes Cardoso, então ministro da Agricultura, demitia-se. Seria substituído por António Barreto. De uma política para a agricultura contestada pela direita do partido e pela maioria do país, passar-se-ia para uma política de agricultura contestada pela esquerda do Partido e pela maioria dos trabalhadores agrícolas.
Em Dezembro, Aires Rodrigues votaria contra o OGE e, pouco depois, à semelhança de Lopes Cardoso, abandonaria o partido. Não sem antes lhe ter sido movido um «processo interno», conduzido em termos «macartianos» por António Reis do Secretariado Nacional. António Barreto também ficaria por pouco tempo no governo e no partido e sairia acompanhado do MNE, Medeiros Ferreira. Para substituir António Barreto na pasta do Comércio e Walter Rosa na pasta da Indústria, o primeiro-ministro escolheria dois independentes que Eanes viria depois a «repescar» como primeiros-ministros de governos dirigidos contra o PS. Eram Nobre da Costa e Mota Pinto. O ministro do Trabalho, o histórico Marcelo Curto, veria reprovada a sua política laboral e seria substituído por Maldonado Gonelha. Estes e outros sinais de evidente mal-estar e ineficácia seriam entretanto descritos como «alguns pequenos ajustamentos» na equipa governativa.
Mas «o primeiro golpe contra o primeiro governo de Soares vem, contudo, de onde Soares menos o espera.»