Volta e meia diz-se por aí que os blogs dependem mais dos media tradicionais do que o contrário mas temos assistido nos últimos tempos a consideráveis marcações de terreno – chamemos-lhes assim. Já houve o caso do blog O Jumento, com a identidade do autor revelada por um jornalista de uma forma pouco elegante; há o caso do blog dos assessores do governo, onde estes procuram dar linhas de orientação ao povo blogosférico pró-governo; há os diversos casos de intimidação a bloggers, de onde as ameaças da CONFAP ao Paulo Guinote e ao blog Ensinar na Escola são notórias e onde o processo movido ao autor blog Do Portugal Profundo por causa da licenciatura ao domingo de Sócrates fez correr muita tinta (curiosamente, esses posts já não existem no blog em causa…)
E agora há o caso Jonas/Ensitel, onde a Maria João Nogueira (Jonas), responsável pelos serviços de comunidade Sapo e autora do blog Jonasnuts está em vias de ser processada pela Ensitel.
O caso tem a ver com o facto da Jonas ter publicado uma série de posts (Take 1, Take 2, Take 3, Take 4, Take 5, Take 6) onde relata o que lhe foi acontecendo na sua relação com a Ensitel por causa da compra de um telemóvel. De forma sintética, o telemóvel tinha um problema e a Ensitel não quis proceder à troca durante os primeiros quinze dias após a compra, como se compromete fazer publicamente. Insatisfeita com o serviço, relatou os detalhes no seu blog pessoal. A novela dura já há algum tempo, com ameaças várias por parte da Ensitel e concretizou-se no passado dia 22 com uma citação pessoal em que ela é «intimada pelo tribunal a constituir um advogado, e é um procedimento cautelar.» Acrescenta a autora que «querem que o tribunal me mande apagar os posts que escrevi sobre a Ensitel» (post completo).
A situação já disparou para as redes sociais (twitter e facebook) e já segue pela comunicação social (CS) fora (Expresso, Público, DN, Diário IOL, Destak, JN.
A Ensitel começou por remover as entradas desfavoráveis que lhe eram colocadas na sua página do Facebook mas neste momento passou a aceitar tudo. Como vai sair deste sarilho onde se meteu? Suspeito que a sua página do FB esteja para fechar mas isso não impedirá que mais clientes insatisfeitos (sim, parece que os há) relatem as suas experiências.
Muitas empresas até agora têm optado pela técnica do assobiar para o lado quando o serviço não é de qualidade. No que me toca, já me aconteceu algumas vezes e aposto que o mesmo se passará com o leitor. Este caso vem mostrar que as coisas mudaram e que mais vale manter uma atitude séria com o cliente do que sujeitar-se à publicidade negativa. O que obviamente inclui não satisfazer o cliente caso este não tenha razão.
Finalmente, este caso mostra também quanto Pinto Monteiro estava errado quando afirmou «os blogs é (sic) uma vergonha». Os blogs são uma realidade no panorama comunicacional e não há volta a dar. É um sector importante que está completamente fora do controlo económico e político a que estão sujeitos os jornalistas e os meios de comunicação social tradicionais (vejam-se os casos da publicidade na CS e dos jornalistas que são “remodelados”). Incomoda o status quo e várias têm sido as movimentações para meter a net sob controlo. Ainda lá não chegámos e, por enquanto, têm aqui os cidadão uma importante forma de se fazerem ouvir.
Entretanto, a Ensitel fez sair um comunicado no Facebook a dizer que “está a ser confrontada com um conjunto de declarações divulgadas através das redes sociais Facebook e Twiter”.
Isto depois de declarar ao Destak que “não está disponível nesta altura para prestar esclarecimentos e remete para mais tarde ou outro dia um comunicado ou resposta.”
Perfeito e resumido. Subscrevo inteiramente. Abraço.
Obrigado, Joaquim.
Já agora, se alguém da Ensitel por aqui passar, dêem uma olhada no blog da LPM, estes têm lá uma saída airosa:
http://lpm.blogs.sapo.pt/656323.html
excelente.
Obrigado, Daniel 🙂
Grato pela referência. O video que apresenta neste poste foi obtido e cortado por mim, da audição do procurador-geral no Parlamento e neste excerto, o Dr. Pinto Monteiro responde à deputada Ana Catarina Mendes, fora do tema da reunião, sobre a sua opinião sobre certos blogues – uma semana antes do despacho de pronúncia de um processo que era público e me envolvia, despacho que me levou a julgamento e do qual o marido viria a desistir.
Não conservo arquivos antigos. Mas está lá o livro «O Dossiê Sócrates», de download gratuito que tem todos esses postes – integralmente – e informação inédita que não publiquei no meu blogue Do Portugal Profundo, tal como é apresentado na barra lateral do blogue, desde que o publiquei: http://www.lulu.com/content/7672029
E, já agora, não foi apenas um processo (o processo Sócrates, que foi arquivado pelo MP, tendo o «primeiro-ministro enquanto tal e cidadão» optado por não recorrer do despacho de arquivamento e optado por não deduzir acusação particular, quando foi notificado pelo MP para, querendo, o fazer – e lá saberá ele porquê), mas quatro, dos quais, três por causa dos escritos sobre o caso de abuso sexual de crianças da Casa Pia (uma absolvição, um arquivamento e uma desistência do queixoso). Ossos do ofício de cidadão activo no Portugal putínico.
O caso que relata, de conflito de consumo, também não é inédito – antes já Luís Ferreira foi processado por ter denunciado no blogue Sem Palavras um produto que entendeu defeituoso de uma empresa de ar condicionado e objecto dos tais pedidos de indemnização pedagógicos, que excedem o que receberá a família de um simples pela sua morte violenta ou de acidente.
Obrigado pelos esclarecimentos, António.
Fiquei surpreso por esses posts já não estarem no blog (nada contra por não estarem, cada qual faz o que bem entender no seu espaço) mas agora percebi a razão.