Chipre: a russa Gazprom pode substituir a UE

Da União Europeia, demonstrado à exaustão, sobra uma instituição destroçada, se é que algumas vezes existiu em estado saudável. Segundo os ideais de entusiastas impulsionadores da agregação iniciada com a CECA – Comunidade Europeia do Carvão e do Aço,  os franceses Schuman e Monet, os princípios e objectivos começaram por ser económicos (o carvão alemão + o aço francês). Com um manancial de tratados, inconsequentes e/ou desrespeitados, e uma moeda, euro, que apenas 17/27 adoptaram, a UE foi-se dilatando, estendendo-se da fria e fleumática Suécia ao cálido e temperamental Chipre.

No fundo, o objectivo supremo da citada UE,  tal como nos primeiros tempos da CECA, jamais deixou de ser o benefício económico dos fortes, a quem, entretanto, a desregulação financeira e o ‘sistema financeiro internacional’ ergueram alguns obstáculos, resolvidos a seu contento.

A beligerante Alemanha, em 1952, beneficiou de 50% de dívida perdoada.  Graças à conivência das potências ocidentais, EUA, França e Reino Unido, aproveitada pelo hábil chanceler Konrad Adenauer, os germânicos retomaram a força do poder na sociedade internacional; em especial na UE, que é aquele que a chanceler Merkel, em conjugação com os sudetas actuais, Holanda e Finlândia, tem utilizado para humilhar os povos do Sul da Europa – a extorsão através do fornecimentos de equipamentos navais e militares, da adjudicação de grandes obras a empresas internacionais alemãs e uma variedade de negócios contribuíram decisivamente para as crises soberanas de Grécia e Portugal, onde os maiores sofrimentos atingem  cidadãos sem emprego, a viver sob condições intoleráveis de pobreza e miséria – junte-se-lhes Espanha, Itália e Irlanda, se se pretender.

Vinte figuras, mentalmente entupidas, às tantas da madrugada de Sábado, entre as quais o incapaz Gaspar, resolvem impor ao Chipre medidas próprias de esquizofrénicos. Decidiram, então, penalizar os depositantes dos bancos cipriotas, sem a mínima noção de outras consequências que, mais do que financeiras, são cruciais para o respeito das regras democráticas; ignorantes, não atenderam igualmente ao interesse geoestratégico que Chipre representa em termos de recursos energéticos – em consonância com Putin, a poderosa Gazprom já se propôs suportar o  resgate do Chipre.

Os imbecis do Euro grupo, Lagarde do FMI, Asmussen do BCE e Oli Rhen da CE, ao obedecer às ordens de Merkel e associados, não perceberam que ao não investir mais 5,8 mil milhões de euros no Chipre estavam a colocar em dúvida o citado interesse geoestratégico do gás natural disponível da pequena ilha. Que burrice!

Agora, é Anastasiades, de direita e amigo de Merkel, que não consegue consenso parlamentar e até já se propõe alterar os escalões do imposto extraordinário sobre os depósitos.

Enfim, a história já vai longa; porém, ainda existe espaço para afirmar que, se os interesses económicos estiveram na origem da CECA>CEE>UE, será precisamente o conflito desse tipo de interesses que pode acabar com tal projecto europeu.

Oxalá seja rápido e o menos doloroso possível.

Comments

  1. Observador says:

    Cada cavadela, cada minhoca.
    Esta coisa da UE, que até teve bons fundamentos para a sua criação, tem sido atraiçoada ao longo dos anos pelo que, se o desmembramento, com consequências imprevisiveis, amanhã vier a acontecer, acaba por não ser novidade nenhuma. Novidade era as pessoas que deviam ser responsáveis, serem mesmo responsabilizadas. Mas enfim. É o que temos.
    Para que é que serve o Parlamento Europeu se é a Alemanha que manda? Então para quê estar-se a pagar pricipescamente a largas centenas de deputados e a milhares de secretários e acessores?

  2. nightwishpt says:

    Só quem anda distraído é que se pode surpreender com o caminho ‘democrático’ da UE, esta é mais uma na sucessão de políticas sem qualquer tipo de controlo ou de senso.

  3. joao riqueto says:

    Em 1993, a primeira paridade atribuída do ecu, mais tarde euro, foi estabelecida com o franco francês e o câmbio foi fixado em €6,66. Nessa altura os monges dos mosteiros, (são vinte mosteiros), do monte Athos, na GRÉCIA, alertaram para aquilo que consideravam ser um mau presságio: – 666 – o número da Besta, segundo o Apocalipse de São João, XIII, 18.
    .
    Se o acaso não existe, se não se trata de uma mera coincidência, então devemos estar preparados para os próximos capítulos.

  4. Normalmente as grandes “querelas” (como guerras, por exemplo…), começam quando enormes tensões desaguam em “pequenos episódios” em locais inesperados…

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