TV à portuguesa: a política comentada por políticos

TVConcluo que, na ilustração da imagem, de mútuas acusações, a razão é  capaz de estar mais do lado da ‘televisão’, quando acusa: “Telespectador idiota…”.

Se olharmos as grelhas de programações, desde o boçal Fernando Mendes aos meninos dos ‘Morangos Sem Açúcar’, dificilmente se inferirá que a “Televisão é Burra” – errará episodicamente aqui ou ali, mas “burra” de todo não é.

No comentário político, por exemplo, as TV’s nacionais ocupam um lugar de destaque de originalidade mundial. Do Marcelo ao Mendes, do Assis ao Ramalho, do Bernardino à Odete, do Fazenda à Drago, todos os partidos com assento parlamentar têm tido lugar cativo, no dito pequeno écran, a horas de consideráveis audiências.

Nenhum dos canais – há estações com vários – poderá negar a participação no pérfido jogo de colocar os cidadãos, ao pequeno-almoço, almoço, lanche e jantar, a saborearem o comentário político feito por políticos – a minha vizinha do 3.º esquerdo confessou-me há tempos que jamais conseguiria dormir tranquila de Domingo para 2.ª Feira, se não saboreasse os comentários do Prof. Marcelo e as provocações, risos e sorrisos da Judite. Ao Domingo ficou mesmo dispensada de tomar ‘Xanax”.

Neste ambiente de cumplicidade de televisões e políticos, e longe do objectivo de defender Sócrates mas sim de criticar o modelo, não entendo os  ‘sound bites’ e o espanto desta maralha dos jornais, no regresso do ex-primeiro ministro como comentador da RTP em Abril. Qual é a diferença em relação a outros ex-primeiros ministros, ministros, secretários-gerais, deputados? Se há contas a ajustar com Sócrates – e eu penso que há, tal como com muitos outros, então que o sistema de justiça funcione, do Ministério Público ao Tribunal Constitucional.

Toda esta ‘mise en scène’ à volta de ‘Monsieur Sócrates’ – será comentador gratuito – serve às mil maravilhas para o ex-cervejeiro Ponte desfocar  a atenção dos tais “telespectadores…” e demais cidadãos da ordem de despedimento autoritária, e porventura ilegal, de Nuno Santos, cuja causa fica, deste modo, esbatida na opinião pública… a “televisão não é burra.”.

A propósito, o que é que o patrão da ERC, Carlos Magno, tem a dizer sobre o processo RTP-Nuno Santos? Os “tachos”, para se manterem, compelem a comprometedores silêncios.

Comments

  1. Amadeu says:

    É interessante ver quem se indignou com a tentativa de “calar” a cantar ao Relvas agora tentar calar a falar o Socrates.

  2. joao riqueto says:

    O problema é que Sócrates, o vencido, deve querer ditar o posfácio, da história dos vencedores. Estou curioso por saber como irá classificar o modo como foi tratado, naquela obra monumental, de; ” Roteiros VI” .

    • Carlos Fonseca says:

      Eu acho que este desfile continuado e programado de políticos a comentar política nas TV’s (coisa rara na Europa) é uma marca de subdesenvolvimento. Serve, entre muitas coisas, para que os Sócrates deste país lavem as mãos como Pilatos e ainda se vitimizem face aos erros cometidos.
      Ao mesmo tempo, e eu sei bem de que género é o actual presidente da RTP-RDP, o caso em concreto serve para distrair as atenções do que foi feito ao Nuno Santos – a imprensa nos dias de hoje funciona à velocidade do sensacionalismo do momento e a ‘notícia Sócrates’ abafa tudo o mais. Ainda por cima, ele próprio será colaborador activo neste virar rápido de página.

  3. Bem visto. Além de que vai ‘arrebentar co’a zódiências’ e dar tréguas ao governo.

  4. maria celeste ramos says:

    Estão então com saudades de marques mendes ?? liguem já para a sic-21 março de (ou da ?? estou confusa) primavera aí está ele para matarem saudaes – cuidado que está gorgo e pode não parecer ele –

  5. murphy says:

    Faria sentido o seu regresso à tv para ser entrevistado e responder a questões como a do link em baixo, os portugueses precisam é de líderes que os tirem desta situação, de “craques da comunicação” e “soundbytes” já temos de sobra…
    http://jornalismoassim.blogspot.pt/2013/03/daria-um-excelente-escandalo-se-fosse.html

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