Ponto prévio: nunca despi um(a) polícia nem o(a) pus de cócoras. Desconheço, por isso, que pena teria de cumprir se o fizesse.
Outro ponto prévio: já andei pendurado em eléctricos. Felizmente, não nas Mercês, por isso, nunca nenhum(a) polícia me despiu ou pôs de cócoras. Desafio, aliás, qualquer dos meus pares a jurar que nunca andou pendurado em eléctricos, ou, pelo menos, não teve essa tentação, que não concretizou por medo, apenas…
Adrien Gruner, um estudante alemão que esteve em Portugal integrado no Programa Erasmus, decidiu pendurar-se num eléctrico na zona das Mercês, teve azar. Terá sido despido e obrigado a pôr-se de cócoras na esquadra, não sei se pelo facto de a fotografia da imprensa mostrar que a Esquadra das Mercês funciona num edifício cor-de-rosa. Real ou efeito “Photoshop”, com mensagem cifrada? Simples coincidência, segreda-me o bom-senso.
O jovem cidadão alemão de 23 anos, pelos vistos, não se calou e participou dos dois polícias que trataram dele.
Como consequência, “Os dois polícias foram condenados pelos crimes de ofensa à integridade física qualificada, coação grave e abuso de poder, cometidos contra um estudante alemão, Adrian Gruner, de 23 anos, em 2008, que sofreu uma verdadeira tortura na Esquadra das Mercês”, segundo rezam as crónicas. Quatro anos cada um, mais mês menos mês.
Um responsável pelo sindicato da polícia, ou associação sindical, valha o eufemismo, vem dizer agora que a pena foi excessiva. (“Paulo Rodrigues salientou não se “lembrar que os tribunais tenham condenado seja quem for a uma pena similar, quando se trata de agressões a polícias”. Daí que o presidente da ASPP diga ser a “pena excessivamente pesada”, face aos crimes praticados.”) Não sei se tem razão. Não me recordo, de facto, de alguma vez, nas seis décadas de vida que levo, algum cidadão – ou grupo de cidadãos – ter sido condenado por crime qualificado de ofensa à integridade física – ou tortura – de um polícia por andar pendurado num eléctrico da capital, num Expresso inter-regional, numa carreira de província, no metro do Porto ou de Lisboa. Adoro estes exageros de linguagem… estas situações impossíveis, corroídas de excesso. Como adoro a caricatura de uma farda pendurada na porta do metro, deve ser de não ter tomado os comprimidos (“Maria, já te pedi para não me deixares escrever antes de tomar as pastilhas!”)!
Por falar em eufemismo, os condenados ainda tentaram dizer que não foi tortura, apenas “terão cometido falhas no seu procedimento“, recurso estilístico e suavizador que, pelos vistos, não convenceu os juízes.
Vamos lá ser sérios, por favor: os polícias em Portugal não andam pendurados nos transportes públicos. Andam à pendura…
Levei uns abanões,mas nunca me deixei a jeito !
Talvez lembrar ao Paulo Rodrigues que a notícia do cão a morder não é notícia. Isto é: Bandidos a agredir é normal além de que não são pagos por nós, bandidos ou não; Polícias, não é (ou não deveria ser) normal, até porque são pagos por nós, mesmo bandidos desde que não seja por fuga aos impostos. Não há como comparar as agressões.
NESTE PAÍS SÓ HÁ ABUSO DAS AUTORIDADES POLICIAIS E JUDICIAIS , A QUE ELES TRISTMENTE CHAMAM DE DEMOCRACIA
E DE ESTADO DE DIREITO . DEUS NOS LIVRE DESTES DEMOCRATAS .