Nuno Cardoso: Sei o que fizeste na década passada

sem nome
Porto, 31 de Dezembro de 1999. Milhares de pessoas, reunidas na avenida dos Aliados para o habitual espectáculo pirotécnico que marca a passagem de ano, começam a contagem decrescente. 10 – 9 – 8 – 7 – 6 – 5 – 4 – 3 – 2 – 1- Zero!
Nada. As pessoas olham para os relógios, olham umas para as outras e questionam-se. 1, 2, 3 minutos e nada. Silêncio total, a avenida completamente apagada. Minutos depois, começa a debandada. Naquele ano, não houve fogo no Porto.
A explicação oficial veio mais tarde. Uma avaria no sistema, mais concretamente no botão que accionaria o início do espectáculo, impedira a explosão do fogo-de-artifício. Num «golpe de asa», o Presidente da Câmara, Nuno Cardoso, vem a terreiro anunciar uma grande festarola para o Dia dos Reis, tradição que caira em desuso e que ele agora prometia ressuscitar.
Este episódio caricato é uma espécie de símbolo da passagem de Nuno Cardoso pela Presidência da Câmara Municipal do Porto. Numa frase, a incompetência e a falta de tacto – político e de qualquer tipo, aliadas a um populismo que teve o seu expoente máximo numa descarada colagem aos clubes da cidade e em particular ao FC Porto. Uma colagem que Pinto da Costa agradeceu, guardando Nuno Cardoso ciosamente no seu bolso e retirando-o de lá sempre que foi necessário.
Contextualizando: em 25 de Outubro de 1999, Fernando Gomes, o Presidente da Câmara do Porto, é convidado para integrar o XIV Governo Constitucional como Ministro da Administração Interna. Aproximavam-se tempos interessantes mas exigentes para a cidade. A preparação da Capital Europeia da Cultura já estava em andamento e alguns dias antes a UEFA entregara a organização do Euro 2004 a Portugal, facto que teria repercussões sobre dois eixos fundamentais da cidade, as Antas e a Boavista.
O número 2 de Fernando Gomes, Nuno Cardoso, é então o nome escolhido para assumir a Presidência da edilidade. Sem qualquer experiência política, desde cedo se viu enredado numa série de polémicas e de ilegalidades, para as quais foi, sem dúvida, o maior contribuidor. Fiquemo-nos pelas mais importantes, visto que seria exaustivo enumerar todos os factos dessa caótica experiência governativa que só terminou a 8 de Janeiro de 2002, dia da tomada de posse de Rui Rio, o vencedor das autárquicas de 2001.
Quatro dias antes, a 96 horas de abandonar a Câmara, Nuno Cardoso viabiliza a frente urbana do Parque da Cidade, dando à Imoloc capacidade construtiva para os terrenos situados junto ao Parque. Quase 50 milhões de euros, em dinheiro, foi quanto pagou a Câmara desde 2009 até 2013 ao consórcio proprietário dos terrenos para evitar uma decisão judicial ainda mais gravosa para os cofres do Município.
Tudo por causa de uma decisão inconcebível tomada a quatro dias do fim do mandato. É que preparava-se para ser empossada uma maioria cuja grande bandeira eleitoral fora precisamente a proibição de construção naquela zona. O próprio PS, Partido de Nuno Cardoso, defendia um referendo sobre o assunto.
Recorde-se que a construção nas franjas do Parque da Cidade era impossível segundo o PDM de 1993. Mas eis que as Normas Provisórias de 1999 tornaram possível essa construção. Curiosamente, essas Normas Provisórias foram aprovadas em Novembro, um mês depois de Nuno Cardoso substituir Fernando Gomes na Presidência do Município. «Com uma urgência extraordinária», como se disse na altura.
A questão da construção no Parque da Cidade foi a decisão mais polémica e inexplicável de Nuno Cardoso, mas, apesar de ter sido tomada a 4 dias do fim do mandato, não foi a última. Obcecado por um conceito de cidade marcado por uma extraordinária densidade urbanística, mesmo sabendo que a urgência era a reabilitação de centenas de imóveis do Centro Histórico em estado de ruína, Nuno Cardoso ajudou à tentativa de construção de 5 torres de 12 andares na rua do Ouro, praticamente «em cima» da ponte da Arrábida. E de novo à Imoloc.
Apesar de pouco lembrada, foi uma decisão ainda mais escandalosa do que a anterior. A 4 de Janeiro, a Comissão Municipal de Defesa do Património dá um parecer negativo ao projecto da Imoloc. Numa reviravolta surprendente, no dia 7 o Gabinete de Avaliação de Projectos Estratégicos emite um parecer favorável à construção e no mesmo dia Nuno Cardoso assina um despacho, discordando da posição da Comissão Municipal de Defesa do Património. No dia seguinte, Rui Rio tomava posse para o seu primeiro mandato e nesse mesmo dia a Imoloc solicitava a deferição tácita do projecto com base no parecer de Cardoso.
Recuando no tempo, vamos ao futebol. Primeiro, o Plano de Pormenor das Antas. Uma permuta de terrenos no mínimo duvidosa com o FC Porto valeu-lhe a acusação do Ministério Público e uma ida a Tribunal, onde acabou por ser absolvido.
Neste processo, ficou de novo evidenciada a forma como Nuno Cardoso entendia a cidade, que para ele podia e devia ser enxameada de torres de grandes dimensões. Se outros exemplos não fossem suficientes, bastaria olhar para a capacidade construtiva que permitiu em redor do futuro Estádio do Dragão, sobretudo para mais uma unidade comercial de grandes dimensões e que representou mais uma machadada no comércio tradicional da cidade.
Ainda relativamente a casos relacionados com o futebol, Nuno Cardoso viria a ser condenado a 3 anos de prisão por prevaricação. Em causa estavam obras iniciadas sem licenciamento pelo Boavista, junto ao Estádio do Bessa e que poderiam levar a uma multa de 450 mil euros. Uma coima que devia ter sido aplicada pela vereadora mas que, ao contrário do normal, o presidente decidiu avocar para proceder de imediato ao seu arquivamento.
Para além das trapalhadas jurídicas, ficaram famosas as trapalhadas dentro do próprio Executivo que liderava. Numa das últimas reuniões camarárias, não houve quórum para a sua realização e até os vereadores do PS faltaram, de tal forma tinham sido extremadas as posições entre o presidente e todos os outros.
A verdade é que Nuno Cardoso deixou o Porto num estado verdadeiramente caótico, de que foi exemplo mais evidente o Túnel de Ceuta – uma cratera aberta no centro da cidade que assim ficou durante 5 anos e que prometia eternizar-se.
Onze anos depois das suas últimas peripécias, Nuno Cardoso aparece agora, vindo do nada, como candidato independente à Presidência da Câmara Municipal do Porto. Não se percebem as motivações, mas a «Visão» dá uma ajuda. A verdade é que aquele a quem já chamaram um «Vale e Azevedo mais humilde», não contente com o mal que fez à cidade da primeira vez, está de volta.

Comments

  1. celesteramos.36@gmail.com, says:

    Num jornal diário de 8 junho pode ler-se algumas coisas interessantes – Luis filipe Meneses fez contrato por ajuste em nome individual de mais de 29 mil euros com Nuno Cardoso. A 29 de maio uma semana antes da candidatura independente de Cardoso ´`a CM Porto, o ainda presidente do município de Gaia, LFMeneses estabeleceu com ele o acordo de “prestação de serviços de gestor de projectos de transportes no âmbito do Programa Vila Nova de Gaia Energia Sustentável desenvolvido ao abrigo do pojecto Elena. etc – CM página 24 ESPECIAL com fotografia da pessoa comentada – de 6ªfeira 07 de junho 2013, cito, antes que me ameacem de difamação – artigo pag 24 + 25 – a pág dos DVD eróticos – (leve o erotismo para sua casa) – acescenta na pág 25 os valores dos projectos de Gaia de Nuno Cardoso + limites de mandatos dos pres CM que querem ainda mais (polémica recente mas de que se fez de repente silêncio)

  2. celesteramos.36@gmail.com, says:

    Dados retirados do CM de 7 de junho de 2013


  3. Tenho para mim que se fossem proibidos de exercer funções públicas ou politicas todos os cadastrados deste país. Ou que tivessem tido actividades ilícitas durante a actividade publica, estaríamos livres da troika e num nível social igual aos países do Norte. O montante da riqueza esbanjada com estes parasitas políticos daria um subsídio vitalício para cada português superior ao limiar de pobreza em Portugal.