A ponte é uma barragem

A direita mais reaccionária sempre teve um problema com a Ponte 25 de Abril. Foi assim em 1994 e é assim em 2013. Não é de estranhar, uma vez que, de cara lavada com as mãos igualmente sujas, os rostos do poder são os mesmos.

E aqui aproveito para alfinetar os abstencionistas das últimas eleições, que acham que não votar é solução para qualquer coisa. Não é. Se fosse, com os níveis da abstenção que temos em Portugal, vivíamos num paraíso. Voltemos à ponte, que o SSI – nomeado pelo Governo e não pela AR, como devia ser – considerará, talvez, frágil, não sei. Em 1994, o brilhante cavaquista Dias Loureiro era então ministro da Administração Interna e mandou a GNR avançar contra os manifestantes.

Talvez a ponte seja um marco na história do bando cavaquista, que nunca perdoou a alteração do nome escolhido no pós-fascismo. Talvez o problema seja a falta de um patrocinador sonante que possa “elevar a capacidade empreendedora de Portugal na organização de grandes eventos desportivos”. E nós somos tão bons nisso, basta olhar para os estádios de Aveiro, Algarve, Coimbra e Leiria. Não sei, sinceramente, não sei.

Sei que a CGTP marcou duas marchas de protesto, uma na Ponte 25 de Abril e outra na Ponte do Infante. Pelos vistos, o SSI não gosta que se ande a pé na 25 de Abril mas não há problema na Ponte do Infante. Está bem que a malta aqui no norte é mais rija e com certeza que a nossa ponte foi construída com granito do mais puro, tendo as pedras sido carregadas alegremente, qual Obélix e os seus menires, mas há, objectivamente, uma intenção política de restringir o direito de manifestação, num local que o cavaquismo não esquece e não perdoa.

Ora, se faltassem motivos – que não faltam – para que o povo se manifeste, aqui está mais um: a possibilidade de afrontar de novo Cavaco e lembrar o que o cadáver de Belém tem de pior.

Pelos vistos, Rui Pereira, ex-MAI do PS de Sócrates, também acha que isto de manifes na ponte é coisa para ser perigosa, desde que não seja de sapatilhas e calções. E isto é capaz de dizer alguma coisa sobre o PS. Mais não seja, em relação ao último governo do PS.

O medo do governo é que a ponte se erga como uma barragem ao que a corja quer fazer ao que resta do país. No dia 19 de Outubro, sairemos às pontes e, pé ante pé, de braço dado, avançaremos rumo a um futuro melhor para fazer cair aquela gente com estrondo, para que provem um bocadinho do abismo para onde nos empurraram. A ponte será uma barragem para travar os ataques ao que resta da Constituição. Para defender o SNS, a Escola Pública, as pensões e reformas, o direito ao emprego com direitos. Por mim, atravessaremos, a pont’a pé.

pontape-06

Comments

  1. Hugo says:

    Já se realizaram umas quantas manifs nos últimos dois anos. As consequências foram nulas. Objectivamente, porque razão será esta diferente?

    • A TSU não caiu após a manifestação de 15 de Setembro? Caiu! E o próprio Gaspar não afirmou na sua carta de despedida que um dos problemas para implementar as medidas Troikistas foi a contestação social? E o Relvas não se demitiu só depois de ser enchovalhado pelos estudantes no ISCTE? Hugo, o pior cego é o que não quer ver. E ficar em casa sentadinho é que não leva a lado nenhum.

      • nightwishpt says:

        A TSUcaiu porque os patrões disseram que não, o governo está-se a marimbar para as eleições.

      • Dezperado says:

        Franciso

        Se bem se lembra a manifestação de 15 de Setembro, foi uma manifestação geral…..não uma manif da CGTP.

    • Ricardo M Santos says:

      Hugo e quais foram as consequências para quem, pelo menos, não se manifestou? No entanto, o que está em causa aqui, neste texto, nem são as razões – mais que muitas e mais que válidas – para todas as manifestações, mas a tentativa de impedir que uma manifestação se faça.

  2. nightwishpt says:

    Bem, a ponte do Infante é secundária; já a ponte 25 de Abril é essencial para muitos habitantes da zona metropolitana.

    • Grevista says:

      E é só em dia de manifestação? Será que em dia de meias-maratonas passa a secundária?

      • nightwishpt says:

        Pelas mesmas razões, também sou contra, como sou contra as patetices do dia sem carros e das corridas no meio do Porto.

  3. Marcar manifs para a ponte é coisa de atrasados mentais! E aqui não está em questão cor política! É válido para esquerdas, direitas, centros, meios ou cheios. Além de pouco serio é estúpido, provocatório e um atentado a quem tem que trabalhar. E depois querem ser respeitados… Uma iniciativa deste género está perfeitamente ao nível da TSUmania.

  4. Afonso Costa says:

    Luís FA,

    os que quiserem trabalhar podem ficar na respectiva margem logo na noite anterior. Aproveitam, jantam fora, vão às putas, e, no dia seguinte, acordam mesmo juntinho ao local de emprego. Queres melhor sugestão?

    • O Arménio paga a conta?

      • Victor Nogueira says:

        O Luís FA deve ter tanta massa que até quer que o Arménio lhe pagie o jantar e a dormida para ele – Luis FA – poder ficar repimpado em Lisboa. Oh ! Homem, durma debaixo duma ponte ou no desvão dum banco. E cate os caixotes do lixo da Quinta da Marinha !

  5. Não acreditar no colectivo como a unica força capaz de promover a coesão social é renegar a propria essência. Fomos, somos e seremos animais que pelo seu colectivo cresceu e vingou na natureza. O resto são desvio cujo o egoismo é factor central na deriva das sociedades levando a desiquilibrios, estes sim verdadeiros despoletadores da crise. Numa sociedade baseada no mercado e portanto dependente sobretudo do poder de compra, este sim condicionante da produção, pressupõe a circulação de capitais e por conseguinte uma melhor redistribuição da riqueza produzida. Quando esta distribuição se torna desiquilibrda (factor endogeno do egoismo), ou seja quando uma pequena franja da sociedade passa a deter mais de 50% da riqueza produzida com o tempo ( e isto sim qualquer economista pode fazer as contas) a concentração da riqueza vai se tornando maior com um numero crescente de população a ficar com os restos. As sociedades que perderam o seu sentido colectivo estão mais sujeitas a que estes desiquilibrios apareçam conduzindo-as enexoravelmente ás crises que assistimos.

  6. JgMenos says:

    Espero bem que vos deixem marchar na ponte e que até possam lá ficar uns tempos a bradar ao vento a vossa inconsequência!

  7. Joao Correia says:

    Peço desculpa, não tenho cor política, e considero que em vez de estarem a gastar o vosso tempo com ideias de acções fúteis e e destrutivas, porque não gastar esse mesmo tempo em algo mais construtivo. Como são David e não Golias deveriam estar a tentar encontrar fazer algo que de facto mude a atitude dos fantoches (políticos). Quero com isto dizer que a acção deve estar dirigida para aqueles que estão a causar tanto problema. A classe política, essa é a fachada, essa só irá alterar alguma coisa se os mentores se sentirem realmente incomodados.

    Falo das grandes famílias de Portugal, dos banqueiros (agiotas) em fim, falo daqueles que fazem mudar leis para o benefício da sua riqueza, para os poderem isentar de pagar e passar a conta para o resto da malta (é isso que a troika é, uma grande factura que deveria ter o nome da banca nacional).

    A Troika não apareceu em Portugal porque lhes apeteceu, fomos nós (o povo representado pelo artista) que a chamámos, essa é que é a verdade.

    Encontrem uma solução legal, e fácil de transmitir ao resto da comunidade Portuguesa que provoque danos financeiros (mesmo que pequenos individualmente) a essas grandes famílias. Ai sim, vão ver as coisas a mudar.

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  1. […] a direita e o Governo têm problemas com a ponte já sabemos. E o Ricardo explica-o aqui mais do que […]

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