Ganhar, perder e aprender

vadot-europe

Há eleições que todos ganham, nestas europeias todos perderam.

Perdeu a troika, que viu os seus partidos descerem e muito, perdeu o BE, que recua uma década, perderam os dois novos partidos, ao Livre não valeu o colo da comunicação social, o MAS ficou atrás do PNR.

Todos, todos, no que toca a Portugal, não será o caso: a CDU cresceu (mas não evitou que o seu grupo parlamentar tenha perdido um ou dois deputados) e o Marinho Pinto fez-se eleger por quem desta vez escolheu (em 2004 ofereceu-se para cabeça de lista do BE).

Como não temos extrema-direita da pura e dura, a nossa tem o PP e o PSD para se governar, nada como inventá-la, e o Marinho, sem dúvida que um populista, mas de esquerda que também os há, é procurar América Latina fora, já passou a inimigo principal. Era previsível. Digo eu: abençoado Marinho que tapa o caminho à extrema-direita organizada e que tem todo um terreno fértil para crescer.

Mas a grande derrota tem passado despercebida: pela primeira vez o arco da governação fica pelos 60%. O governo reduz-se a um mínimo histórico e o PS não descola, tendo nas presentes circunstâncias uma votação à altura da sua inépcia, e de Francisco Clio Assis.

Há um país que caminha entre a abstenção realmente violenta e a procura de alternativas fora dos partidos tradicionais. Há uma Europa farta da União Europeia, que a esquerda não consegue capitalizar (e reparar que a CDU fez uma campanha contra o Euro explica muito do seu resultado).

Há uma Europa à beira do abismo, que nem assim consegue mobilizar a esquerda para a unidade que se impõe quando estão em causa os mínimos civilizacionais, e o vírus de Vichy  tem 25% dos votos em França. Mas também há uma Europa que rompe o bloqueio dos eternos partidos do poder, como sucedeu no estado espanhol. Haja discernimento, haja a capacidade de procurar novas fórmulas e soluções (em primeiro lugar dentro do BE em processo de auto-liquidação ainda reversível). E sobretudo, que não haja sectarismos.

Comments


  1. “a CDU cresceu (mas não evitou que o seu grupo parlamentar tenha perdido um ou dois deputados” O quê??? A CDU tinha 2 e passa para 3, estás a falar do quê?


    • O GUE tinha 5 deputados portugueses, passa a 3 ou 4 (há 4 deputados por atribuir). Cresce, mas não segura os votos que o BE perdeu, e que foram para outros lados.
      Eu sei que muito boa gente esquece que há grupos parlamentares no PE, mas eles existem, e é nos partidos que estão no GUE que voto.

      • pisca says:

        Que grande descoberta, daqui a bocado ainda vai demonstrar que o 10º da lista da CDU perdeu a chave de casa, para justificar a tal, “cresceu mas não evitou….”


        • Não, vou inventar que 12% é uma estrondosa vitória nas presentes circunstâncias e uma felicidade Portugal ter perdido um ou dois deputados no GUE.


      • Ok, não era claro para mim que se estava a referir ao GUE. Da forma como está escrito pensei que fosse o PCP (acho que não devo ter sido o único). A verdade é que estes resultados foram espetaculares para a Esquerda em Portugal. Não sei se já fez o exercício de contar os votos da CDU+BE+Livre e ver a distância a que ficam da “Aliança Portugal”. Para além disso há que lembrar que Portugal perdeu um deputado Europeu e que o último eleito em 2009 tinha sido o do BE…


  2. “ao Livre não valeu o colo da comunicação social” ??

    colo só se for na tua cabeça..

    dados da CISION para o Expresso (de 12 a 19 de Maio): http://vaievem.wordpress.com/2014/05/23/quando-a-oposicao-caia-em-cima-do-governo-ps-por-este-aparecer-demais/

  3. João Soares says:

    O adágio popular que o Costa mais detesta : ” O Seguro morreu de velho”. Porra !!!!


  4. “estão em causa os mínimos civilizacionais” – resta saber se estes são atualmente defendidos pela esquerda… Por exemplo, veja-se como esta reage à ameaça do fundamentalismo islâmico, essa coisa que muitos preferem olhar com o “respeito” e deferência acrítica devida às “religiões”, quando na verdade é outra coisa muito mais sinistra, profundamente política, violenta, e contraria à civilização europeia.
    O francês, o inglês, o dinamarquês está muito mais incomodado com a “muslim patrol”, e a ameaça da “sharia”, nas suas cidades do que com a “imigração”… Enquanto isso, os media tradicionais continuam a ignorar o óbvio em nome dum politicamente correto cada vez mais obsceno e surrealista…


    • isso é completamente mentira. A esquerda não alinha é com a guerra santa contra uma religião que tem uma minoria fundamentalista, como todas as outras, e não glorifica a suposta superioridade da dita “civilização cristã ocidental”. O resto é a clássica xenofobia e falta de respeito pelas outras culturas, que existe de parte a parte.


      • Sim, sim… É precisamente por causa desse raciocínio simples e confortável que a “direita xenófoba” tem cada vez mais votos… Recomendo mais investigação acerca da “minoria fundamentalista”, e já agora sobre a própria “doutrina”… Tem muita matéria “interessante” acerca dos direitos humanos, do papel da mulher, etc. etc. etc. Confesso a minha perplexidade face à complacência da esquerda perante esta temática quando sempre teve uma atitude crítica em relação ao cristianismo e á “igreja”…


        • Lá está, guerra santa. Eu até sou ateu, trato é as religiões em pé de igualdade, são todas farinha do mesmo saco. A católica já não é o que era por pressão dos não crentes, e depois dos crentes, ou ainda andava aí tudo de véu e longos vestidos negros.
          Ou vamos falar dos direitos da mulher sob as igrejas ortodoxas, por exemplo? aliás um rico exemplo, considerando que temos estados confessionais da UE.


          • Vá lá, não compliquemos… Por uma questão de respeito nem vou argumentar em questões óbvias…