Consta que Churchill terá dito na Câmara dos Comuns, a 11 de Novembro de 1947, que “A democracia é a pior forma de governo, à excepção de todos os outros já experimentados ao longo da história.”
A tónica a reter é forma de governo, já que fora da política muitas outras formas de organização existem na sociedade.
Quando eu era músico, o meu maestro dizia que ele era o ditador da batuta. E era. Imaginem o que seria, por exemplo, uma valsa ter a cadência decidida por maioria. Ou pensemos numa empresa gerida democraticamente, sendo as decisões estratégicas tomadas por votação. Ou, ainda, o que seria da coesão de um grupo se os seus elementos não fossem unanimemente aceites por todos.
Poderá haver quem ache que todos os grupos se devam reger como se fossem organizações políticas ou projectos de poder, mas há que ter a inteligência suficiente para perceber que a realidade é outra. E isto é um facto, seja em que século for.
Para além de não perceberes nada de democracia, ainda tens o descaramento de permitir comentários aos teus textos e não apagas os polegares para baixo. Como é que é possível?
Mais logo apago o post e publico-o de novo para vir limpinho, sem comentários nem contrariedades.
Nem de musica possivelmente…
Aqui está bem plasmada a diferença (oposição?) entre democracia formal e sociedade democrática. Ter uma empresa gerida democraticamente, o que será isso? As cooperativas talvez sejam apenas uma ilusão de óptica?
A escola democrática, o que poderá ser isso? Delegados de turma eleitos pelos pares, conselho geral onde têm assento inúmeras forças vivas da região, que escrutina o trabalho da direcção escolar, meras boas intenções de iludidos?
Em relação a uma orquestra, não me parece muito difícil imaginar uma situação em que seriam escolhidas, democraticamente, quais as peças a tocar, os locais de espectáculo, os vencimentos de cada executante, etc. Seria uma orquestra cooperativa, ou uma cooperativa cultural que assume a forma de orquestra. Qual é a dificuldade?
O que esta posta do sr. J. Manuel Cordeiro mostra é a incapacidade de as pessoas pensarem uma sociedade democrática. A meu ver, daí surge a crise da própria democracia formal, cada vez mais apeada das suas bases e apoio populares.
Cumprimentos
Marcos Pais
Vejo que nunca fez parte de uma orquestra. Porque de contrário, saberia que a ditadura da batuta tem a ver com a condução musical da orquestra. Sobre quem dá o arranque, a velocidade e o fim. Quem decide se numa parte há um crescendo ou se um trecho é um piano ou uma pianíssimo. É isso que lá está subentendido, sabendo ler.
E quanto à escola, vai um professor perguntar à turma o que é que ela quer aprender? E certamente conseguirá distinguir a diferença entre uma cooperativa, um grupo de pessoas que se associa para promover interesses comuns, e uma empresa. Não vale a pena comparar o incomparável.
A crise da democracia existe, sim, mas tem uma origem muito diferente. Vem de actos como, por exemplo, pedir que as pessoas decidam pelo voto, mas depois ignorar essa decisão. Exemplos? Veja-se a prepotência da Comissão Europeia, entidade não eleita, sobre os governos eleitos em cada país. Ou então prometer uma coisa em campanha eleitoral, como fez Passos Coelho em 2011, e fazer outra completamente oposta, tal como foi o seu governo.
Parece-me um erro clássico, achar que um processo de tomada de decisão democrático significa que toda a gente decide sobre todos os assuntos em todos os momentos.
Numa orquestra, é perfeitamente possível que os músicos votem em quem tem a batuta, isto procurando assemelhar o funcionamento da dita a uma democracia representativa presidencialista.
Na escola, são os cidadãos quem decide o currículo escolar indirectamente, ao eleger uma assembleia da república com uma maioria que defende um certo tipo de ensino e conteúdos. Depois, no funcionamento diário, é possível e até desejável que quem está mais directamente envolvido no processo tenha formas de participação no mesmo, o que já acontece (e já aconteceu mais do que agora). Em certas escolas públicas as crianças participam, por exemplo, na definição do regulamento interno do estabelecimento. Mais do que estudarem sobre cidadania e democracia, estas crianças praticam-na. Dizer que, apenas porque não podem decidir o programa, já não é uma escola democrática, acho muito redutor.
Em relação à acusação de comparar o incomparável, quando se fala de cooperativas ou empresas, não percebo. Se ambas são formas de organização que visam a satisfação de necessidades, como por exemplo o fornecimento de energia eléctrica, por que razão hão-de ser incomparáveis? Eu posso criar uma empresa capitalista ou posso criar uma cooperativa para atingir o mesmo fim, o fornecimento de energia eléctrica a uma região ou povoação. Em ambos os casos se trata de reunir um grupo de pessoas para um certo fim.
Em relação à união europeia e ao Passos Coelho, considero que remartelar nesses exemplos só serve para desmotivar as pessoas. A ênfase que a comunicação social (social?!) dá a assunto extra-nacionais sobre os quais pouco ou nada se pode decidir (UE, FMI, agências de rating, os mercados) é criadora de alienação e desempoderante em si e como tal promove o contrário do que se pretende com a democracia.
Cumprimentos
Marcos Pais
Falo em condução musical e o Marco fala na escolha do maestro. Falo em os alunos votarem no que querem aprender e o Marco fala em escolhas curriculares. Pode ter uma cooperativa, mas ela, independentemente se será melhor ou pior, não será uma empresa – será uma cooperativa.
Não estamos a falar das mesmas coisas.
Puxando um pouco a fita atrás, o texto que o Manuel Cordeiro publicou fazia, parece-me, a defesa da impossibilidade da democracia no dia-a-dia, através dos exemplos que deu de uma orquestra, uma empresa e um grupo.
Eu respondi que discordo dessa visão e dei exemplos de processos democráticos existentes no nosso dia-a-dia.
Agora, não há dúvidas que uma empresa é diferente de uma cooperativa. Esta rege-se pelos 7 princípios cooperativos e aquela pela subordinação, hierarquia e trabalho alienado. Ora, o que eu afirmo é que através do cooperativismo, ou se preferirem, através de processos democráticos, é possível gerir toda a sociedade, sem recurso a empresas. Não temos neste caso apenas uma democracia formal mas uma verdadeira sociedade democrática, em toda a sua extensão.
Outra questão em cima da mesa é saber quais os elementos de um processo que devem ser decididos democraticamente. No caso da orquestra, o Manuel Cordeiro afirma que apenas porque não se pode decidir democraticamente a cadência de uma valsa, já não é democrática essa orquestra. Ora isto seria algo como, desculpem o absurdo, dizer que apenas porque não se pode decidir a velocidade e a dicção da fala de cada deputado já não se vive em democracia. Ou que, porque não se pode decidir a quantidade de projectos lei que cada bancada parlamentar apresenta, já a democracia estava inquinada. A meu ver, uma cooperativa cultural que assume a forma de orquestra, sendo democrática e respeitando os 7 princípios cooperativos pode tocar, sem risco de incumprimento de nenhum desses 7 princípios, qualquer modinha que lhe apeteça.
Um abraço
Parece-lhe mal. O que ilustrei é que há casos onde a organização não tem que ser democrática. Nada tem a ver o com dia a dia. Veja lá, novamente, um exemplo que dei:
“Imaginem o que seria, por exemplo, uma valsa ter a cadência decidida por maioria.”
Sabe o que é que ali está escrito? Que não faz sentido fazer-se uma votação para decidir a que velocidade se toca a valsa. Mas o Marco não leu o que lá está escrito e resolveu fazer extrapolações.
“o Manuel Cordeiro afirma que apenas porque não se pode decidir democraticamente a cadência de uma valsa, já não é democrática essa orquestra”
Isto não está lá escrito, nem mesmo nas entrelinhas.
Mas olhe, isto já vai longo, eu já expliquei o que achei que devia explicar e não me apetece comentar o resto que escreveu (a democracia é capaz de me dar esse direito). Por isso, olhe, tem toda a razão. É como diz.
Os exemplos da União Europeia e do Passos Coelho são notáveis e não vejo porque razão devam deixar de ser referidos. Que o digam os gregos no próximo referendo que tiverem e pense-se como os portugueses olham para os programas eleitorais.