Programas de Português nos Cursos Profissionais: o que é um ano lectivo?

Para se ser Ministro da Educação, em Portugal, é fundamental não se saber o que é exactamente um ano lectivo. Não faz sentido, mas é normal.

O final do desastroso mandato de Nuno Crato ficou marcado por uma boa notícia: a reposição da Literatura e da História da Literatura nos programas de Português do Ensino Secundário. Talvez estranhamente, alguns não rejubilaram, em nome de um estranho conceito do interesse dos alunos.

Esta alteração curricular deveria ter tido efeitos imediatos nos programas do Ensino Profissional, cujos alunos poderão vir a ser sujeitos ao mesmo exame de Português no 12º ano. Nada disso foi acautelado, o que, mais uma vez, não faz sentido, embora seja normal.

Os novos programas entraram em vigor no ano lectivo de 2015-2016, no Ensino Secundário. No que respeita aos cursos profissionais, os professores continuaram a leccionar o programa que continuava em vigor, devidamente desfasado do do ensino regular.

Este ano, depois de os professores terem começado a planear o ano lectivo, chegaram instruções, no dia 9 de Setembro (exactamente: 9 de Setembro), para que os alunos do primeiro ano dos cursos profissionais (10º ano, portanto) passassem a aprender, finalmente, os mesmos conteúdos do programa de Secundário.

Entretanto, os jovens que estão no segundo ano dos cursos profissionais continuarão a ser sujeitos ao programa antigo, não se sabendo, ainda, que exame irão fazer no final do próximo ano lectivo, o primeiro ano em que o exame de Português incidirá sobre os conteúdos do novo programa.

Este é mais um dos episódios que revelam, para além do desconhecimento da natureza de um ano lectivo, a inexistência da vontade de dignificar verdadeiramente o Ensino Profissional e uma visão da actividade do professor como alguém que não precisa de pensar naquilo que faz e que, portanto, nem precisa de tempo para preparar aulas.

Atabalhoamento e ausência de reflexão definem as políticas educativas em Portugal. Pais, alunos e professores cumprem o papel de mexilhão que se agarra à rocha e agarra a rocha.

Comments

  1. Ainda bem que eu tive, entre vários professores de português,o Dr.José Pedro Machado no 3º ano do curso industrial do Decº 20420 na “Universidade de Xabregas” e me incutiu o gosto pela leitura !!!

  2. ZE LOPES says:

    O problema é que a tendência dos sucessivos governos desde a era Sócrates, sucedida e aprofundada por um analfabeto educativo chamado Nuno Crato, se têm preocupado em desviar os alunos dos cursos profissionais da Universidade, ao contrário do que acontecia nas antigas formações de caráter profissional/tecnológico.O que tem contribuído para que o Ensino Profissional seja, cada vez mais, uma via de segunda ao contrário precisamente do que acontecia aquando da sua fundação, em que chegou a atraír os melhores alunos.

    E, concordo, alguns professores vão na(s) fita(s)…Há muitas saudades das “velhas escolas industriais” que formavam os canalizadores que hoje “não se conseguem arranjar”…

  3. ZE LOPES says:

    Só mais uma coisa, de que não me lembrei no post anterior: por que razão os exames dos alunos do ensino profissional (EP), a existirem, não são feitos sobre os seus prórios programas?

    Mas atenção: seria preciso acabar com a anarquia. Os currículos do EP mudam de escola para escola, e mesmo dentro das escolas. É frequente combinarem-se “ajustamentos curriculares” de um dia para o outro. Mesmo a carga horária dos módulos é apenas “indicatória”…Já vi um módulo de Português de textos de teatro ter sido dado em…5 horas…

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