Portugal, um país recheado de comentadores “imparciais”

Rui Naldinho

A nossa Lusa Pátria está cheia de comentadores doutorados nas suas agendas mediáticas, mas incapazes de analisarem e interpretarem factos e fenómenos fáceis de serem explicados. São personagens que debitam sabedoria em cátedras das faculdades, e em palanques de congressos para os quais estejam habilitados pelo seu curriculum académico, mas não conseguem entender a razão de ser das coisas mais simples. Nunca percebi os motivos para tal ignorância, depois de tantas horas de estudo.

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Eduardo Cintra Torres é um conhecido sociólogo e crítico de televisão, que gosta de parecer aquilo que não é, nem nunca foi, imparcial na sua análise.

Quando confrontado com dados objectivos colocados por um jornalista, ou um por espectador mais atento, enreda-se numa argumentação que mais parece uma narrativa para idiotas. De facto, só come aquele discurso, um néscio. Caso contrário, só nos apetece mandá-lo “pastar”!

Este crítico de televisão muito querido da nossa direita vai dando azo à sua imaginação criadora nas crónicas que escreve no Correio da Manhã e na CMTV, mesmo que debitando na maioria das vezes um conjunto de asneiras e banalidades. O CM, esse órgão de informação cheio de voyeurismo e manipulação grosseira, de qualquer facto ou acontecimento que mereça destaque, a que Cintra Torres chama de “jornalismo de investigação” é o seu referencial de excelência na imprensa escrita. Só por aqui, já podemos imaginar o enviesamento das opiniões deste senhor.

Numa recente entrevista a um matutino, não conseguiu fugir do seu registo habitual, estilo caolho.

Colocada uma pergunta pelo jornalista do “i”:

Os EUA não são caso único: em Portugal, cerca de 15 a 20% da opinião política (PCP e BE) estão sub-representados em termos de opinião publicada, e não me parece que não haja algum grupo de comunicação que lhes seja afecto?”

“Sem comparar a qualidade do jornalismo, não acho que haja tanto desequilíbrio em relação à pluralidade de opiniões expressa pela comunicação social em Portugal.”

O jornalista insiste:

“Não é absolutamente visível que o PCP está sub-representado?”

O PCP está menos representado, mas também está, com deputados na SIC Notícias, na RTP3 e só não sei se na TVI24. Estou a falar em termos de comentadores. Em relação ao número de notícias, creio que há também um certo equilíbrio.”

A uma pergunta do mesmo jornalista:

“Em Portugal, quando os dados estatísticos revelaram que tinha sido o país do euro onde a economia mais tinha crescido no último trimestre, a esmagadora maioria dos jornais deste país omitiu isso na capa. Não há aqui também um enviesamento?”

“Dar propaganda desse género na primeira página pode ser fantástico do ponto de vista jornalístico…”

O jornalista insiste:

“Não é um dado objectivo?”

“É um dado, mas o destaque que se lhe dá pode ser propaganda. Não consigo ver especial enviesamento. Há enviesamento em tudo: o jornalismo é uma actividade subjectiva. Há um enviesamento saudável que resulta do jornalismo ser feito por pessoas com opiniões subjectivas.”

Mas que grande “analista” aqui temos!

Esta última resposta está ao nível de um cínico. Donald Trump não faria melhor!

E chamam a este fulano, “crítico de comunicação social”.

Esta entrevista ajuda a explicar, e bem, como a direita se dá mal com a liberdade de informação. Só quem andar muito distraído, não percebe que a opinião publicada nestes pais é dominada pela direita política. Ela está sob controlo do poder económico através dos seus representantes. Este é mais um deles!

E andou ele a estudar tanto tempo, para não conseguir constatar esse dado facilmente mensurável. Ou será que não lhe dá jeito nenhum concluir o óbvio?

Comments

  1. Paulo Só says:

    Rui Naldinho, no segundo parágrafo substituir “enredasse” por “enreda-se”! Não sei quem é esse senhor Torres. Pessoalmente praticamente não leio mais a imprensa portuguesa, nem vejo TV. Só lamento que não exista uma boa publicação semanal de cultura e espetáculos. Pena, porque há jornalistas competentes. Mas prefiro ler a imprensa internacional, Monde, Guardian, El Pais. Aqui acontece muito pouco, e não aguento mais os milhares de comentaristas portugueses ao desbarato, e J.M.Tavares, ou Diogo de Andrade, etc, fazem mal à saúde, prefiro evitar. No entanto dá muito mais trabalho procurar informação fidedigna na net.

  2. Rui Naldinho says:

    Obrigado Paulo.
    Deve ler-se enreda-se e não enredasse

  3. Já agora, Rui Naldinho: “vai dando azo à sua imaginação”. Quanto ao resto, que é o essencial, estamos de acordo.

  4. Carlos Gonçalves says:

    Uma das últimas pérolas do «analista» :
    «Em apenas um ano, o governo PS conseguiu um feito notabilíssimo que as “comemorações oficiais” do aniversário por comentadores babados deixou de fora da prosa panegírica: a progressiva avançada das suas tenazes no espaço mediático. Em vez da brutalidade e ilegalidade do governo Sócrates, tem-na feito como quem não quer a coisa. É um socratinismo “soft”. Estabilizou o controle do grupo ‘DN’-TSF-‘JN’, porta-vozes do governo e de Sócrates. Conseguiu, como que por milagre, uma direcção simpática no ‘Público’, na linha da anterior. Tem a TVI na mão. Na RTP, impôs ao director de Informação dois directores, António José Teixeira e André Macedo, profissionalmente desnecessários mas politicamente necessários. O presidente da RTP, Gonçalo Reis, deixou-se transformar num instrumento do governo, através do administrador Nuno Artur Silva, que manda nele e nos conteúdos, contra o que diz a lei. Falta ao governo manter o controle na ERC. Veremos em Janeiro.
    O dono da RTP, Nuno Artur Silva, indicou como provedor do espectador da RTP um antigo director, Jorge Wemans, que quase destruiu a RTP 2, ingeriu- -se intoleravelmente num programa da 2 em 2009, foi nomeado para cargos pelo PS, servindo os governos de Guterres, Sócrates — e agora o de Costa. Será um provedor do poder, não do espectador.»…http://www.cmjornal.pt/opiniao/colunistas/eduardo-cintra-torres/detalhe/mesquinhez-no-dia-da-independencia

    • nuno says:

      A desonestidade intelectual faz parte do arsenal desta clique da propaganda. Como dizia alguém mais abaixo, chama-lhe tu puta primeiro, antes que ela to chame a ti.

  5. Paulo Só says:

    Os telejornais portugueses são os mais longos da Europa e por falta de assunto inoculam-nos todos os dias horas dos ases corruptos do desporto, e o dize tu direi eu da política das comadres. Tanto as tvs como os jornais estão cheios de pessoas muito sábias e importantes a discutir ninharias. Porque pagam para fazer isso, e ficar conhecidas das porteiras, e os media não têm dinheiro para outra coisa. É uma fulanização insuportável da informação, a ponto que um deles foi eleito Presidente. Chega de lavagem cerebral.

  6. Pablo says:

    Não podemos cuspir na mão que nos dá de comer . É um dado objectivo segue este princípio à risca .

  7. O comentador mais independente é o Marques Mendes dá um pulo rapidíssimo entre um encontro de PSDs e a SIC a lembrar o “Speedy Gonzales”.

  8. anti pafioso diabrete says:

    O problema é que estes atrasados mentais, tiraram o curso á conta do dinheiro dos contribuintes .pelos comentários que fazem ,é caso para perguntar ? alem de darem umas valentes Passas ,o que fizeram mais ?

  9. E o Naldinho escolheu bem o blog para a sua cronica certeira; este antro emérito de isenção e sã formação e alguma informação. Todos fossem tão sérios e imparciais e teriamos uns leitores tão bem esclarecidos como os votantes da intersindical

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