Da alfaiataria, meu caro Krugman: this is the West, sir…

http://bit.ly/XJ8GIo

Facts are stubborn things; and whatever may be our wishes, our inclinations, or the dictates of our passion, they cannot alter the state of facts and evidence

John Adams

Pergunta Paul Krugman: «de onde vêm os “factos”?».  As aspas são matéria muito interessante e sobre ela já se debruçaram, por exemplo, Frege, Tarski, Quine e Davidson. Neste caso, o objectivo de Krugman não é o de citar factos referidos algures por outrem, mas atribuir ao vocábulo exactamente o valor oposto, funcionando “factos” como antónimo de factos. Quanto à pergunta (de onde vêm os “factos”?), verificando os dados factuais (isto é, os factos sem aspas) e concluindo que a asserção (note-se, asserção e não acepção, muito menos *aceção, palavra insuportável, sendo evidente a função diacrítica da consoante não pronunciada, sim, claro, em português europeu) de que a despesa federal aumentou 37% durante a administração Obama não corresponde à realidade (ou seja, é “facto” e não facto), o professor de Princeton – e conhecido Nobel da Economia, a quem o actor Jon Stewart chamou “the rare gray-bearded urban laureate”, durante a recente polémica sobre a moeda de 1 bilião de dólares – infirma-a e demonstra que o aumento correspondeu, de facto (sinónimo de ‘efectivamente’, palavra extraordinária e bastante popular entre a jovem população urbana portuguesa de finais dos anos 80), a 12,7%, verificando aquilo que se passou  entre 2008 e 2012 (contas relativas aos respectivos quartos trimestres).

Assim, resta-me a dúvida: aqueles “factos” serão fatos? Claro, a dupla grafia no seu esplendor. A função das aspas no texto inglês de Krugman poderia ser assumida pela supressão da letra consonântica C numa versão portuguesa. Sim, fatos como “factos” e em vez de factos. Fatos na função de antónimo. Por exemplo, o antónimo de contactos poderia ser contatos e o de secção poderia ser seção. E assim sucessivamente. A doutrina de fatos em vez de factos, recordo, não é órfã. Sim, foi contestada. Mas vivemos no Oeste. “This is the West, sir. When the legend becomes fact, print the legend”. Quando a lenda se torna facto, publique-se o fato. E divulgue-se. E pratique-se.

Caro Paul Krugman, os “factos”, segundo alguns, como terá visto, poderão vir da alfaiataria. Muito recentemente, fiquei a saber (pela mesma fonte, imagine, tanto tempo depois) que se fazem coisas “de fato, no momento certo”. Quanto aos *contatos e às *seções, veremos. Não esqueçamos os *adetos e outras singulares ocorrências. A novidade para alguns espíritos será a de que a doutrina dos *fatos, dos *contatos e das *seções vingou. Mas sobre isso falaremos noutra ocasião.

Comments

  1. um gosto ler. escreva sempre mais

Trackbacks

  1. […] “O Homem que Matou Liberty Valance” (aqui, no Aventar, gostamos muito dele: pelo menos, eu e a Carla Romualdo) convém ter tudo isto bem presente. Quanto ao Dutton Peabody, aposto, por mera […]

  2. […] escrito por Caldeira, isolando o orgulhosamente e deixando o sós à solta, me levou às aspas do Tarski. Não, não são do Tarski do Searle: são do […]

  3. […] Grevisse e de Goosse, quer aos sintagmas nominais do Antoine de La Sale, regresso ao Krugman (que percebe imenso de factos) e ao meu espanto por ver o Searle (um velho conhecido do Aventar) mencionado por aquelas […]

  4. […] ficado muito acima daquilo que se previra no OE, et pour cause, “oficialmente” (eis as aspas, na conhecida versão gráfica do gesto das orelhinhas de […]

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading