No dia 9 de Junho de 2011, depois de troca epistolar com José Carlos Abrantes (através de missivas no Facebook, datadas de 14 de Maio e 1 de Junho desse mesmo ano), escrevi o seguinte, numa “Segunda Carta Aberta ao Provedor do Telespetador [sic]”:
Vários falantes de português europeu oscilam entre a prolação e a não prolação de [k] (recordo que um levantamento da pronunciação de “telespectador” deverá ter este importante factor em conta). Esclareço: o mesmo indivíduo poderá no mesmo discurso pronunciar o C de telespectador e não pronunciá-lo. Convido V. Ex.ª a escutar com muita atenção as prolações de “telespectador” por parte dos apresentadores de programas da RTP e recomendo que a estes preste particular atenção, porque são a “referência” dos (passe a redundância e o aparente exagero) telespectadores.
Sete dias depois, José Carlos Abrantes viria a alterar a grafia controvertida*, alegando que «as duas grafias são possíveis segundo o Acordo Ortográfico em vigor». Mas, adiante, vamos àquilo que nos interessa.
Efectivamente, previa-se que o “critério fonético (ou da pronúncia)”, incorrectamente aplicado a uma ortografia de base alfabética e preceituado através da secção da Nota Explicativa dedicada à “forma e substância do novo texto”, viesse a provocar uma inédita dupla grafia, não só no mesmo território, não apenas na mesma publicação (como expliquei, há poucas semanas, em documento, entretanto corrigido e aumentado, entregue na Assembleia da República), mas aplicada pelo mesmo escrevente, quer em enunciados diferentes, quer até no mesmo enunciado, como demonstrei no documento aludido, dando o exemplo das grafias ‘caracteres’ e ‘carateres’, utilizadas por Fernando Cristóvão, um dos negociadores do AO90. Esta situação é inédita (repito) e desaconselhável (acrescento). Obviamente, a culpa da situação que a imagem ilustra não é de Adriano Nobre. A culpa de telespectadores num dia e telespetadores noutro é de quem decidiu adiantar-se ao Governo e ordenar o abrupto abandono de uma grafia estável e adequada à realidade do português europeu, adoptando essoutra que foi objecto de pareceres sobejamente conhecidos. Sim. Sobejamente.
* Imagem do comentário de José Carlos Abrantes amavelmente cedida por João Roque Dias.
Actualização (20/4/2013): Neste texto, divulgado pelo Ciberdúvidas, Cristóvão é coerente na manutenção da dupla grafia. Se, no documento acima aludido, mencionei ‘carateres’ e ‘caracteres’, agora a vez cabe também ao singular.
[…] uma, poderíamos dizer. Contudo, como verificamos, das duas, nenhuma. E assim continuaremos. Enfim, tudo como dantes. Nada de novo a […]