Luiz Pacheco – Um libertino passeia pela vida: Os amores e os desamores de Pacheco


Com 18 anos, Luiz Pacheco arranja o primeiro problema da longa série de problemas em que a sua vida se vai transformar. Tem uma ligação sexual com uma jovem criada de seus pais, Maria Helena Alves, com catorze anos. Um tio da menor processa Pacheco. As coisas parecem arranjar-se – Maria Helena é emancipada e Luiz compromete-se a casar com a moça. Tudo solucionado? Não – Pacheco apaixona-se por Maria de Fátima, estudante de piano em casa de uma vizinha, com a qual não pode ter um namoro convencional dado o compromisso de casamento com Maria Helena. Mas é uma paixão escaldante, com encontros secretos em quartos alugados e casas de passe. Tudo isto ocorre por volta de 1945. A relação clandestina com Maria de Fátima durará até 1948.
Em 1947, ainda relacionado com o caso de Maria Helena, é emitido um mandado de captura em seu nome. Refugia-se numa casa que alugara no Mucifal, em Colares, fugindo depois para casa de uma tia, no Campo de Santana. Acaba por ser preso na Estefânia, em casa de seus pais. Na cadeia do Limoeiro recebe o nº 420-47, ficando ali mês e meio. Em Abril, na sexta-feira Santa, desposa Maria Helena no Limoeiro – é provisoriamente liberto. No sábado de Aleluia, o jovem casal, parte em viagem de núpcias para a casa do Mucifal, donde vem depois para Lisboa onde se instala numa casa da Rua Andrade. Porém, o caso não está resolvido. É julgado, acusado pelo crime de estupro e condenado a dois anos e meia, com pena suspensa, visto ter casado com a «vítima». No ano seguinte nasce Maria Luísa, a primeira de uma «comunidade» de oito filhos.
Em Maio de 1950, nasce João Miguel, o segundo. Morre sua mãe, Adelina Maria Machado Gomes. Zanga-se com Maria Helena (que terá sabido do affaire Maria de Fátima?). Mantém uma relação homossexual com um rapaz do Sindicato dos Artistas.
A relação com Maria Helena, que entretanto se formará como enfermeira, piora; no entanto, engravida, enquanto Pacheco arranja outro namoro – agora é Maria do Carmo, a quem a família se apressa a desterrar para a Sertã. Luiz já está de olho noutro sarilho, sob a forma de Maria Eugénia, filha da dona da casa onde mora, na Almirante Barroso. A menina tem 13 anos. Em Maio de1958 nasce Fernando António, terceiro filho de Luiz e de Maria Helena. A evidência de um iminente envolvimento com Eugénia está à vista, e, antes que seja tarde, uma criada denuncia o caso a Maria Helena e à mãe da rapariga. Expulso de casa, instala-se com Maria do Carmo na Rua Jorge Colaço.
pacheco - foto
Em 1959, a mãe de Maria Eugénia move-lhe um processo. É condenado por atentado ao pudor de uma menor. Em Agosto nasce o seu quarto filho Luís José, o primeiro da união com Maria do Carmo. Ameaçado por novo mandado de captura (caso Maria Eugénia) anda fugido pelo Porto, Ermesinde, Setúbal, acabando por ser capturado e recolher de novo ao Limoeiro. Ali passa o Natal. Natália. É absolvido do caso Maria Eugénia (à qual, afinal, apenas terá beijado e talvez acariciado), mas condenado por faltar à audiência. Estamos em 1960. Maria do Carmo está grávida.
Em Fevereiro de 1961 nasce Adelina Maria, a quinta. Este 1962 é ano de novo sarilho: engravida Maria Irene, irmã de Maria do Carmo. Novo processo. No ano seguinte, será julgado e condenado à revelia pelo Tribunal da Comarca da Sertã. Pacheco nem sequer tomara conhecimento da existência do processo. Em Maio nasce Paulo Eduardo, o filho de Pacheco e Irene. Em 1964, vive agora nas Caldas da Rainha. Em Maio nasce Maria Eugénia, sétima, segunda da ligação com Irene. Pacheco é preso nas Caldas devido ao processo de Maria Irene, saindo sob caução.
Desentende-se com Irene e fica a viver sozinho nas Caldas da Rainha. O abuso do álcool provoca-lhe o agravamento da asma. Em Novembro de 1967, o casamento com Maria do Carmo é dissolvido «por abandono do lar». Em 1968 é de novo preso nas Caldas da Rainha, sendo depois transferido para o velho Limoeiro, uma segunda casa para Luiz. No ano seguinte, já em liberdade, apaixona-se por Elsa Isabel com quem tem uma ligação. Num breve passeio às Caldas tem um envolvimento de alguns dias com Isabel Valadares. Na véspera de Natal apanha uma monumental bebedeira e passa a consoada no banco do Hospital de S. José. Em Janeiro de 1970 é internado no Hospital de Santa Marta Pacheco continua e intensifica o tratamento ambulatório de desintoxicação alcoólica. Tratamento que, com acidentes de percurso e muitas recaídas, prosseguirá até 1980. Até 1975, Luiz continua a publicar, a fazer traduções e… a beber. Mantém uma política de porta aberta, entrando «toda a bicharada» (expressão sua) – «malucos, marginais, bêbedos, paneleiros, lésbicas» a fama da casa onde vive, em Massamá, é terrível. Luiz Pacheco, sempre segundo regista no diário, tem ligações episódicas com algumas mulheres, engata uns rapazes – «a fome, a solidão, a tristeza, a velhice e a decadência». Sai de Massamá. Até 1980, não tem paradeiro certo. Deambula pelo Montijo, Campo de Ourique, Algarve. Afectado pela subnutrição é internado no Hospital Curry Cabral. Em 1977 é internado na Clínica Psiquiátrica de Celas, com a visão e o raciocínio afectados pelo álcool. Em 1980 faz uma tentativa de suicídio, atravessando de olhos fechados a Avenida de Berna na hora de ponta. Travões guincham, pneus chiam, automobilistas furiosos insultam-no, mas a morte não quer nada com ele.

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