AFINAL HAVIA OUTRO

FAMÍLIA COMPROMETEDORA

Afinal havia e há outro primo. Este, não teFreeport2rá ainda “fugido” para o oriente. E, coincidências das coincidências, também se chama José Pinto de Sousa. O “gordo” ou o “bernardo”, como era conhecido, recebia os pagamentos “azuis”, e era o principal negociador no caso Freeport.
Esta é a notícia de abertura do “Novo Jornal Nacional” da TVI, ainda assinado por MMG.
Com uma família assim, quem quer ter uma família?
Seja como for, este caso Freeport não vai apoquentar muito o ainda nosso Primeiro, pelo menos até às eleições, pois que teve uma enorme “ajuda” com a suspensão do processo por suspeição, e ainda com a saída de MMG do Jornal Nacional de sexta – feira, da TVI.

NOVA CHACINA DA OTAN NO AFEGANISTÃO

Mais um golo no campeonato de sangue. A OTAN promete investigar. OK meu filho, estás perdoado. Vai e o Senhor te acompanhe…até outra.

Não estará em causa o regular funcionamento das instituições?


CONSTITUIÇÃO DA RÉPUBLICA PORTUGUESA
Artigo 120.º
Definição
O Presidente da República representa a República Portuguesa, garante a independência nacional, a unidade do Estado e o regular funcionamento das instituições democráticas e é, por inerência, Comandante Supremo das Forças Armadas.

Artigo 195.º
Demissão do Governo
2. O Presidente da República só pode demitir o Governo quando tal se torne necessário para assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas, ouvido o Conselho de Estado.

RECEBI ESTE TEXTO. VALE A PENA LER

Se ainda tinha dúvidas em quem votar nas legislativas. Leia e veja tudo isto.

Brilhante!!!! Tem tudo o que é preciso para fazer o Socras ganhar.

Ela detesta perder, nem que tenha que fazer BATOTA.

Até o Paulo Rangel irá votar nela, porque ela, como ele, não liga peva à ética!!!!

Viva a Carolina Salgado (perdão, Patrocínio)!!!!

E assim é o PS. E assim é Portugal!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

(Aquela menina que está sempre a mexer nas mãos…no programa da SIC, com o Pedro Miguel Ramos, o ‘TÁ A GRAVAR!)

Uma perfeita tonta imatura e arrogante!

Se isto não bateu no fundo, onde é o fundo???

Leiam estas pérolas…

Mas afinal quem é Carolina Patrocínio???
Mandatária para a Juventude pelo Partido Socialista de José Sócrates

Carolina Patrocínio é uma jovem com uns olhos espertos que gostam de andar sempre muito juntos, uma cara patusca, um sorriso simpático e fácil. É rica, famosa e aparece em tudo o que é programa de televisão e revista cor de rosa. Ninguém sabe se aparece por ser famosa, ou se é famosa porque aparece.

Os portugueses devem gostar muito de a ver em fato de banho, atendendo a que é quase impossível arranjar na net uma fotografia da moça, vestida com outra indumentária. Muitos desses portugueses devem ter, para além disso, um especial prazer em vê-la a “ausentar-se”, tal é a quantidade dessas fotografias em que aparece de costas.

Até há pouco tempo, não se lhe conhecia uma ideia sobre coisa nenhuma. Uma entrevista recente, e onde fala exaustivamente do que gosta e não gosta, embora mantendo o suspense quanto às suas ideias sobre a situação sócio/política nacional e internacional, as eleições que temos aí à porta e a sua importância para a juventude portuguesa, as saídas profissionais (ou a falta delas) para essa mesma juventude, etc, etc, etc… mesmo assim, deu-nos a conhecer outras características da jovem “apresentatriz”. Ficamos a saber que trabalha apenas para se divertir, pois “felizmente não precisa de trabalhar”, que “detesta frutas que tenham que ser descascadas” e a frase que anda toda a gente a discutir, “só como cerejas se a minha empregada lhes tirar os caroços”, aplicando-se o mesmo princípio às grainhas das uvas, que, segundo ela, “são uma grande trabalheira”.

Foi escolhida para Mandatária para a Juventude pelo Partido Socialista de José Sócrates.

Para além de, como quase toda a gente, também não vislumbrar o que é que Sócrates acha que a juventude portuguesa com idade para votar deve ver na jovem e mediática Carolina Patrocínio, que lhe sirva como modelo ou exemplo a seguir, gostaria de chamar a atenção para uma pequena frase da Mandatária, logo a seguir à tal das cerejas e que parece ter escapado aos espectadores, que terão, muito compreensivelmente, ficado apardalados com a problemática dos caroços e grainhas. Diz a Mandatária da Juventude:

“Sou muito competitiva. Detesto perder! Prefiro fazer batota, a ter que perder!”

Ora aí está! Quase que aposto ter sido esta a “qualidade” (para Sócrates um verdadeiro programa eleitoral…) que cativou o Primeiro Ministro e fez de Carolina uma incontornável Mandatária.

Atchim, feriado

gripe-mascara

Hoje encontrei um “plano de contingência” para a nova gripe, a aplicar nas escolas, e que corresponde a um modelo nacional, se bem entendi.

A coisa funciona assim: numa aula um miúdo espirra, aparenta ter febre, o professor pergunta-lhe se tem um de vários sintomas (diarreia, dores de garganta, e outra terminologia clínica que não decorei), e confirmado verbalmente um deles chama um funcionário para o levar para a sala de isolamento, já com máscara, limpa os vestígios do espirro com um toalhete, e a aula continua.

Suponho que isto nasceu no Ministério da Saúde, e foi digerido por um burocrata do da Educação, embora também possa ser uma ideia de qualquer outro ET.

No primeiro dia em que tal plano for descoberto em qualquer escola, portuguesa ou do mundo em geral, a malta vai espirrar, em magote, os termómetros não chegarão para as encomendas, no intervalo seguinte os pais saberão, e no máximo em meia hora uma multidão de pais estará em pânico à porta da escola.

Desde que inventaram as jaulas, perdão, aulas de substituição, que os alunos portugueses aguardavam por um brinde assim.

Ou chega um pouco de bom senso a estas almas diletantes, ou desconfio que este ano lectivo vai ter um começo bem original, e que seria mais sensato adiar o seu início, adiando a expansão da pandemia, tanto mais que o efeito prático  em termos de aulas será o mesmo, mas com esta ingenuidade acrescido de uma confusão que se podia evitar.

Outra mentira : primo de Sócrates e a mala com pés…

Entre vídeos e escutas telefónicas, o primo Bernardo de José Sócrates, torna-se elemento chave nesta fase do processo Freeport.

Telefonema escutado pelas autoridades, entre um dirigente do Freeport e um Presidente de Câmara, indica Bernardo como o “homem de mão” a quem deveriam ser pagos 90 000 euros. Existe uma foto com Bernardo a sair de uma agência do BES, depois da escuta indicar que o pagamento seria feito através desse banco.

Bernardo está em Angola e não presta declarações. Faz bem, não vá dizer inconveniências como seu pai, tio de Sócrates, ou como seu irmão que está, muito convenientemente, na China, e dizer-nos que está a tirar um curso de mergulho em profundidade.

A campanha negra, continua…

Outra mentira: Relvas condicionado pelo Gabinete de Sócrates

O advogado Jorge Bleck , acusa o gabinete do Primeiro Ministro de condicionar o dirigente do PSD e sócio da Logoplaste, Alexandre Relvas. “Cuida do que dizes, se queres negociar” terá sido a mensagem que o gabinete de Sócrates fez chegar ao Presidente do Instituto Sá Carneiro.

O Primeiro Ministro negou a notícia, Relvas “não comento polémicas políticas que envolvam a minha vida profissional” e Jorge Bleck rematou o assunto com um ” não tenho nada a acrescentar, nem a retirar”.

Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa, afirma que “já senti. E foi recentemente.” isto é, já com o executivo de Sócrates.

Outros há, empresários e gestores que dizem nunca terem sentido pressões, entre os quais, evidentemente, os que estão em empresas públicas e os que não negoceiam com o Estado.

Enfim, a campanha negra continua…

Eduardo Cintra Torres – O PS de Sócrates é contra a liberdade

Não gosto de reproduzir textos alheios do princípio ao fim, mas neste caso não resisto a publicar aquilo que Eduardo Cintra Torres escreveu hoje no «Público» a propósito da TVI. Com a devida vénia e com muita pena de não ter sido eu a escrevê-lo.

«A decisão de censurar o Jornal Nacional de 6ª (JN6ª) foi tudo menos estúpida. O núcleo político do PS-governo mediu friamente as vantagens e os custos de tomar esta medida protofascista. E terá concluído que era pior para o PS-governo a manutenção do JN6ª do que o ónus de o ter mandado censurar. Trata-se de mais um gravíssimo atentado do PS de Sócrates contra a liberdade de informar e opinar. Talvez o mais grave. O PS já ultrapassou de longe a acção de Santana Lopes, Luís Delgado e Gomes da Silva quando afastaram a direcção do DN e Marcelo da TVI.

A linguagem de Santos Silva e do próprio Sócrates na quinta-feira sobre o assunto não engana: pelo meio da lágrimas de crocodilo, nem um nem outro fizeram qualquer menção à liberdade de imprensa. Falaram apenas dos interesses do PS e do governo. Sócrates, por uma vez, até disse uma verdade: o PS não intervinha no JN6ª. Pois não, foi por isso que varreu o noticiário do espaço público.

O PS-Governo de Sócrates não consegue coexistir com a liberdade dos outros. Criou uma central de propaganda brutal que coage os jornalistas. Intervém nas empresas de comunicação social. Legisla contra a liberdade. Fez da ERC um braço armado contra a liberdade (a condenação oficial do JN6ª pela ERC em Maio serviu de respaldo ao que aconteceu agora). Manda calar os críticos. Segundo notícias publicadas, pressiona e chantageia empresários, procura o controle político da justiça e é envolvido em escutas telefónicas. Cria blogues de assessores com acesso a arquivos suspeitos que existem apenas para destruir os críticos e os adversários políticos. Pressiona órgãos de informação. Coloca directa ou indirectamente “opiniões” e “notícias” nos órgãos de informação. Etc.

O relato da suspensão do JN6ª, no Jornal de Notícias e no Diário de Notícias e outros jornais de ontem é impressionante, sinistro e muito perigoso. Provir de supostos “socialistas”, portugueses e espanhóis, em nada diminui a gravidade desta censura. Esta suposta “esquerda” dos interesses, negócios e não resolvidos casos de justiça é brutal.

Intervindo na TVI, o PS-Governo atingiu objectivos fundamentais. Como disse Mário Crespo (SICN, 03.09), o essencial resume-se a isto: J.E. Moniz e M. Moura Guedes foram eliminados —e com eles as direcções de Informação e Redacção e um comentador independente como V. Pulido Valente.

Este PS-Governo é muito perigoso para a liberdade. Até o seu fundador está preso nesta teia, por razões que têm sido referidas. Ao reduzir a censura anticonstitucional, ilegal e protofascista do JN6ª a um caso de gestão, Soares desceu ao seu mais baixo nível político. É vergonhoso que seja ele, o da luta pela liberdade, a dizer uma coisa destas. Será que em 1975 o República também foi calado só por “razões de empresa”?

O PS-governo segue o mesmo caminho de Chàvez, ao perseguir paulatinamente, um a um, os seus críticos: e segue o mesmo caminho de Putin, ao construir uma democracia meramente formal, em que se pode dizer que a decisão foi da Prisa não dele, em que se pode dizer que os empresários são livres, que os juízes são livres, que os funcionários públicos são livres, que os professores são livres, que os jornalistas são livres, que a ERC é livre, etc — mas o contrário está mais próximo da verdade. Para todos os efeitos, Portugal é uma democracia formal, mas estas medidas protofascistas vão fazendo o seu caminho. Não dizia Salazar que Portugal era mais livre que a livre Inglaterra? Sócrates e Santos Silva dizem o mesmo.» (Eduardo Cintra Torres)

Recordando o passado no largo do Rato

“Houve uma queixa do Governo que levou ao silêncio de um comentador, uma acção do Governo para reprimir uma livre crítica. Não me lembro de um episódio tão triste e que envergonhe tanto a democracia”.

José Sócrates, referindo-se ao episódio TVI, versão Marcelo R.S.

Mas há muito mais

Santarém, Capital do Gótico (XIII)

(primeira parte e explicação do «bodo aos pobres» aqui)

NOTA: As minhas desculpas aos nossos leitores, e em especial ao nosso leitor Balby, grande apreciador desta coluna, pela não publicação deste «post» ontem, mas a actualidade política «falou» mais alto.


Santarém, Capital do Gótico

Resultando da evolução da arte românica, a arte gótica foi essencialmente uma arte de cidade, que permitiu uma posterior evolução para a arte Renascentista. Iniciada na Europa do século XIII, contribuiu para uma nova forma de ver o mundo, para uma nova relação entre o divino e o humano.
Partindo de uma arquitectura renovadora que fora iniciada pela ordem de Cister como contraponto à de Cluny, a arte gótica elegeu como figura de proa o arquitecto. Um sábio, um estudioso da geometria, muito mais do que o simples artesão de formas simples dos tempos do românico.
Toda a arquitectura gótica acabou por representar uma oposição total em relação à arquitectura românica. Se esta se caracterizava pela espessura das paredes, pela quase ausência de janelas ou aberturas para o exterior, pela escuridão e sobriedade, a arte gótica destacou-se pela claridade e abundância de grandes vãos.
Para conseguir aliviar o peso das estruturas, bastou ao arquitecto gótico rasgar um grande número de janelas para o exterior e utilizar a abóbada de cruzaria de ogivas como forma de aliviar o peso que dantes tinham de suportar. Ao mesmo tempo que os edifícios se tornavam mais altos, a fachada era enriquecida com grandes janelas e rosáceas de pedras decoradas, que exponenciavam a iluminação do interior.
Ou seja, apesar de ter partido da tradição românica, o arquitecto gótico soube transformar completamente os principais elementos construtivos e a relação entre esses mesmos elementos. «O reconhecimento social do arquitecto, do «magister operis», talvez por causa dos conhecimentos que se lhes exigiam para realizar essas construções, aumentou de tal maneira que alguns deles eram conhecidos por «doctor lathomorum», título reservado aos mestres universitários, e outros foram chamados «architector et mirificus aedificator»». (História da Arte)
Na arquitectura religiosa, o gótico veio valorizar determinadas zonas do edifício, como os portais. O alargamento das portas permitiu a profusão de arquivoltas e de pequenas figuras esculpidas. Em relação às diferenças regionais, a arte gótica tinha um carácter um pouco arbitrário, pois estava condicionada por particularismos diversos, ou seja, em cada zona da Europa acabou por absorver as influências locais. Alguns autores dizem mesmo que, na Península Ibérica, não há dois monumentos góticos iguais.
No caso de Santarém, foi um gótico primário e funcional aquele que foi aplicado às construções religiosas, sobretudo no século XIII. Era ainda um gótico de expressão mendicante, dado que os seus principais promotores eram precisamente essas ordens. Nos séculos XIV e XV, a renovação dos ideais religiosos e o patrocínio régio foram responsáveis pela evolução do gótico, embora as influências dos arquitectos e dos mestres do mosteiro da Batalha tenham sido decisivas.

Património medieval: O românico e o gótico

A igreja de Santo Agostinho da Graça, do antigo convento dos Agostinhos de Santarém, no largo Pedro Álvares Cabral, é monumento nacional desde 16 de Junho de 1910. É o último grande monumento gótico de Santarém, mas ao mesmo tempo o mais representativo. Uma «obra-prima da corrente gótica nacional», no dizer de Mário Tavares Chicó. Foi construída a partir de 1380 por iniciativa dos Agostinhos de Lisboa, que se tinham fixado na cidade quatro anos antes, e sob o patrocínio de João Afonso Telo, conde de Ourém. Devido à morte do fundador, a dificuldades económicas e a outras causas, as obras foram concluídas apenas no segundo quartel do século XV, facto que provocou uma conjugação de estilos diferentes e soluções arquitectónicas diversas.
É por esse facto que, apesar de a sua construção ter começado antes do mosteiro da Batalha, muitos dos seus elementos são influenciados pelo monumento da vila «em que mais pátria há», nomeadamente os elementos de tradição inglesa.
Do gótico mendicante, é a cabeceira tripartida, o transepto e as naves. Do gótico flamejante, o mesmo que foi aplicado na Batalha, é a fachada principal, com o seu portal cenográfico, e a grande rosácea que o sobrepuja, de fino lavor. O próprio túmulo do fundador da igreja e da sua esposa é muito semelhante ao de D. João I e D. Filipa de Lencastre em Santa Maria da Vitória. Aliás, terão sido os próprios mestres da Batalha a trabalhar nesta igreja de Santarém.
Em 1531, D. Mécia Mendes de Aguiar, mulher do navegador Gonçalo Gil Barbosa, mandou edificar a capela do Senhor Jesus dos Passos. Em finais do mesmo século, foi construído um novo claustro, sob a direcção do arquitecto António Dias.
Depois da extinção das ordens religiosas, o espaço funcionou como o lar de Santo António, sofrendo profundas obras de restauro a partir da década de 40 do século XX.
A sua planta obedece às regras de simplicidade das construções mendicantes. A fachada principal é em três panos definidos por contrafortes. Pórtico de cinco arquivoltas em arco quebrado, com as suas colunas e capitéis de motivos vegetalistas. Em cima, a rosácea, que segundo Jorge Custódio talvez seja uma das mais originais do gótico europeu. Ainda na frontaria, dois brasões da família de Ourém.
Interior constituído por três naves de cinco tramos cada, sendo que a nave central é mais alta do que as outras. Separam as naves seis colunas de pilares cruciformes, ornadas até aos capitéis. O transepto é de dimensões próximas às da nave central. A cobertura é em madeira nas naves e transepto e em abóbada de cruzaria de ogivas na cabeceira, onde se encontram três capelas poligonais. A capela-mor é de maior dimensão e volumetria.
Panteão dos Meneses, esta igreja conserva importantes mausoléus, que enriquecem a tumulária artística de Santarém. É o caso do fundador e sua mulher, Guiomar de Vilalobos, é também o caso de D. Pedro de Meneses e D. Beatriz Coutinho. Salientam-se ainda os de D. Leonor de Meneses; D. Afonso de Vasconcelos e Meneses, conde de Penela; D. João, filho de D. Pedro I; D. Luís de Meneses; Pero Rodrigues Portocarrero; os Sás; e muitos outros nobres de igual importância.
Na antiga capela de S. João Evangelista, no absidíolo direito, encontra-se o túmulo em campa rasa de Pedro Álvares Cabral, o descobridor do Brasil, e sua mulher, D. Isabel de Castro. É uma laje rectangular simples, gravada com uma inscrição em caracteres góticos: «Aqui jaz Pedralvarez Cabral e dona Isabel de Castro dua mulher cuja é esta capela é de todos seus herdeiros a qual depois da morte de seu marido foi camareira mor da infanta Dona Maria filha del-rei Dõ Juan Nosso Sñor o Terceiro deste nome».
Anexo à igreja, o claustro e os vestígios do antigo convento da Graça. Depois da extinção das ordens religiosas, o espaço foi abandonado e acabou por ser comprado em 1847 por Silvério Alves Cunha, que ali fundou o Lar Distrital de Santarém, instituição de assistência a idosos. A partir de 1992, ali funciona também um instituto politécnico, numa adaptação feita com o maior cuidado e que mereceu, inclusivamente, o prémio «Santarém – Cidade a Defender».
O claustro e os vestígios existentes datam dos finais do século XVI e das duas centúrias que se seguiram. Composto por cinco arcadas em cantaria de cada lado, de abóbadas artesoadas, trata-se de um conjunto quadrangular, que ter-se-á iniciado em finais de Quinhentos, embora as obras se tenham prolongado pelo tempo fora. As po
rt
as que davam acesso ao claustro, por exemplo, são maneiristas.
A igreja de Santo Estevão, ou do Santíssimo Milagre, é monumento nacional desde 1917. Encontra-se no largo do Milagre, na freguesia de Marvila, e deve o seu nome «alternativo» ao milagre da hóstia que, roubada do templo no ano de 1266, começou a sangrar no bolso da mulher que a roubara e, depois de escondida, iluminou toda a casa.
É o mais primoroso templo gótico de Santarém. Da primitiva igreja, provavelmente sagrada em 1241, restam apenas dois arcos do transepto. O actual edifício foi construído em meados do século XVI, por causa do terramoto de 1531 e ainda porque as suas dimensões não comportavam todas as pessoas que acorriam a visitar o Santíssimo Milagre. Artistas e mestres formados em Tomar terão participado nestas obras. Da primeira metade do século XVIII, por sua vez, datam praticamente todos os trabalhos de talha, nitidamente barrocos, alguns dos quais desvirtuaram as características iniciais. Os retábulos desse período vieram substituir os anteriores, que deveriam ser em madeira.
A fachada da igreja é formada por três corpos delimitados por pilastras. As exteriores são rematadas por pequenas mísulas encimadas por pináculos. Porta principal encimada por frontão triangular, um friso separa-o da janela. Torre sineira, em pedra, adossada ao lado da Epístola e coroada também por pináculos.
O interior é extremamente equilibrado e harmonioso. A distribuição entre os diferentes espaços – corpo da igreja/transepto, nave central/naves laterais – assim o comprovam. Esta característica, bem como a leveza de todo o traço arquitectónico, é claramente renascentista.
De planta longitudinal, é composto por três naves de igual altura mas de comprimento diferente – a nave central é mais comprida. Separam as naves três colunas toscanas, ligadas por arcos simples de volta inteira. A capela-mor é quadrangular e antecedida por um pouco comum tramo perpendicular às naves, constando de três arcos redondos. Esta estrutura é decorada com pilares lavrados de grotescos e imagens representando S. Pedro e S. Paulo, assentes em mísulas e coroados por baldaquinos. Adossadas às pilastras centrais, pequenas cabeças de anjos e de demónios. Na base, representações em relevo dos quatro Evangelistas. As paredes apresentam silhares de azulejos de padrão azul e amarelo e de axadrezado azul e branco. Do espólio existente, destaquem-se várias tábuas quinhentistas tardias, as imagens estofadas e policromadas de Santo Estevão e de Santo Agostinho e a pia baptismal.
Também em Marvila, no largo Zeferino Sarmento, é a igreja de S. João de Alporão, monumento nacional desde 16 de Junho de 1910 e hoje transformada em museu. Nela coexistem soluções românicas e góticas, numa tão curiosa quão invulgar ligação e experimentalismo dos dois estilos. A elegância austera que a caracteriza é bem o resultado da conjugação daqueles estilos.
O românico está presente na estrutura maciça da nave, no portal principal com arquivoltas em arco de volta perfeita ou no carácter fortificado de todo o conjunto. Quanto ao gótico, com claras influências da ilha de França, revela-se na cabeceira, de planta poligonal e com amplas janelas ogivais, na cobertura original dos três tramos da nave, de abóbada nervurada de cruzaria de ogivas e sobretudo na galeria que se desenvolve para lá da capela-mor. A própria nave é um exemplo da conjugação dos dois estilos, seguindo um modelo de transição definido como a goticização de modelos românicos tardios.
Ao longo dos anos, fantasiou-se muito sobre a sua origem. Chegou a dizer-se que, da sua varanda principal, foi lido à população o édito de Octávio César Augusto «Ut Describertur Universus Orbis».
Foi fundada pela ordem de S. João do Hospital, que se instalou em Santarém entre 1159 e 1185. Datará desse período, que prolongaremos até ao primeiro quartel do século XIII, a sua construção. Em 1207, pelo menos o presbitério já estava concluído, pois serviu de sepultura a D. Afonso de Portugal, filho ilegítimo de D. Afonso Henriques e grão-mestre dos Hospitalários.
Nos séculos XIII e XIV, fazia parte do complexo monacal de S. João do Hospital. A sua localização, junto à porta do Alporão, tinha como principal finalidade proteger o acesso militar à cidade e controlar a entrada de judeus.
Depois de 1834, a igreja passou para a posse do Estado. Foi utilizada como teatro entre 1849 e 1876 e, a partir de 1877, recebeu obras de adaptação para a instalação de um museu, o que viria a acontecer em 1889.
É um templo de planta longitudinal, composta pela nave e cabeceira poligonal mais baixa, de volume paralelepipédico. A fachada principal é em empena triangular de pano único. O pórtico é formado por cinco arquivoltas de volta perfeita. Mais acima, uma grande rosácea de colunelos radiantes. A cabeceira da igreja é de forma poligonal e contrafortada. Interior de nave única de três tramos. A cobertura é em abóbada de cruzaria com arcos de volta perfeita.
Destaque-se, na parede lateral esquerda, o cenotáfio de D. Duarte de Meneses, fronteiro de Alcácer-Seguer falecido em 1464 na serra de Benacofur. Um túmulo onde se realça a estátua do guerreiro, em posição horizontal, segurando na mão direita a espada de combate. Os coruchéus, os baldaquinos e os fogaréus são notáveis trabalhos de pedra. Para Gustavo Matos Sequeira, foram os mestres canteiros da Batalha os seus autores, dadas as semelhanças com alguns dos túmulos do mosteiro de Nossa Senhora da Vitória.
Outros dos túmulos que merecem referência são os de Martim e João de Ocem, que estiveram anteriormente no convento de S. Domingos. Martim Ocem foi embaixador de Portugal em Castela na altura em que, em 1411, se assinou o tratado de paz entre os dois países. João de Ocem, sobrinho daquele, pertenceu ao conselho de D. Duarte e de D. Afonso V. São dois túmulos muito semelhantes, até porque entre a morte do primeiro (1431) e a morte do segundo (1442), mediaram apenas onze anos. A figuração dos sepultados, os peitáfios e as divisas seguem todos na mesma direcção artística.
Da época romana, ali se guardam uma ânfora, três sepulturas, uma estatueta de criança, um marco dedicado ao imperador Marco Aurélio e duas aras funerárias. Do período árabe, apenas dois capitéis.
Anexo à igreja, encontram-se os vestígios da crasta do antigo mosteiro hospitalário, no qual o templo se integrava. Nas traseiras da igreja, pode ver-se ainda a casa dos comendadores da ordem do Hospital, que conserva ainda restos de estruturas antigas, como portas chanfradas em tijoleira e velhas lojas ao nível do piso térreo.
A fonte das Figueiras, ou fonte Mourisca, é um exemplo da arquitectura civil gótica. Está classificada como monumento nacional desde 16 de Junho de 1910. Localiza-se na freguesia de Marvila, junto a uma calçada que liga a cidade ao vale da Atamarma. Terá sido construída nos últimos anos do reinado de D. Dinis, embora Jorge Custódio levante a hipótese de ter sido edificada ainda no reinado anterior, o de D. Afonso IV. Com um ou com outro, simboliza de qualquer das formas a protecção régia às obras municipais, daí a grande qualidade dos materiais utilizados e do mestre canteiro que executou a obra, provavelmente um tal de Ioannis. Deve ter pertencido ao convento de Santa Clara.
Inicialmente, foi construída só com os alpendres góticos, mas no século XIII foi-lhe acrescentada a coroa de merlões pontiagudos. De planta quadrangular, consta de uma estrutura em alpendre, ameada de merlões, com abóbada de cruzaria, que protege uma bica. Os capitéis são profusamente decorados com elementos vegetalistas, sendo um dos mais que mais chama a atenção o «capitel dos três florões». Note-se neste chafariz a grande variedade decorativa em apenas quatro metros quadrados.
«O turista que desce o vale de Mont’Irás ou que toma a estrada que conduz à ponte D. Luis encontra, escondida na vege

tação, a fonte das Figueiras que é uma das mais preciosas jóias que o estilo gótico deixou em Santarém. Fazendo parte das terras que pertenciam ao convento das Clarrissas, em local que a natureza fadou, quantos cantares de amor não se teriam entoado à sombra dessas musgosas pedras, quando os troveiros medievais dirigiam galanteios às donas dos seus encantos! Certo é que, durante séculos, esse curioso monumento esteve desprezado, não se lhe referindo mesmo qualquer dos cronistas do burgo.» (Joaquim Veríssimo Serrão)
A igreja do antigo convento de Santa Clara, na freguesia de Salvador, está classificada como monumento nacional por decreto de 14 de Março de 1917. É o maior templo gótico da cidade. A sua dimensão justifica-se pelos apoios que sempre aquela instituição monacal recebeu da parte da família real.
Uma construção que se integrou, no dizer de Jorge Custódio, «num movimento ascético de feição franciscana e clarissa em Portugal, o qual se organizou tendo como referência a Regra seráfica.» As freiras clarissas começaram por se fixar em Lamego em 1258, passando para Santarém em 1265, por autorização do papa Alexandre IV.
As obras decorreram entre 1259, ainda antes, como se vê, do estabelecimento das clarissas, e ter-se-ão prolongado, sempre com donativos régios, pelo menos até 1327. D. Afonso III, D. Dinis e a sua esposa, a Rainha Santa Isabel, apadrinharam sempre a edificação. Especialmente importante nesta situação foi D. Leonor Afonso, filha de D. Afonso III que foi freira neste convento. O seu túmulo, de influência coimbrã, segundo Reynaldo dos Santos, é muito semelhante ao de D. Dinis no mosteiro de Odivelas. Anterior na sua execução aos túmulos de Alcobaça, a sua autoria deve ser endereçada, muito provavelmente, a pedreiros santarenos.
Era um complexo monacal de grandes dimensões, um dos maiores do país, com capacidade para oitenta freiras. No período de maior esplendor, tinha dois claustros e inúmeras dependências. Ao longo dos anos, foi sofrendo profundas remodelações, em parte pelos acidentes que o atingiram, dos quais se destacam o terramoto de 1531 e os incêndios de 1668 e 1669. As obras então realizadas transformaram a fisionomia do edifício, que passou a assemelhar-se a um imóvel setecentista.
Encerrado em 1902, depois da morte da última freira, o convento e a igreja entraram em ruína até 1934, ano em que a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais iniciou a sua recuperação e o retorno à sua pureza original. Nessas obras de restauro, perdeu-se o retábulo quinhentista de Diogo de Contreiras (1554), o cadeiral do coro (1600), os azulejos, os elementos barrocos e o claustro quinhentista.
É um dos templos do ciclo mendicante da cidade. Muito semelhante à igreja do convento de S. Francisco, também em Santarém. A cabeceira composta por cinco capelas escalonadas, a feição geral das arcadas e dos suportes e a contemporaneidade das duas construções comprovam as similitudes entre os dois templos.
Templo de planta longitudinal, composta por nave, torre e cabeceira. Na fachada principal, ressalta de imediato a grande rosácea, sobrepujada pelas armas reais. Uma rosácea octogonal sobrepujada pelas armas reais que, coadjuvada pelas janelas maineladas rasgadas nas paredes, inunda o interior de uma luz homogénea. De colunelos radiantes, que seguram um centro de arcaria trilobada, é um elemento de grandes dimensões.
Outros elementos a registar no exterior são a torre sineira, semelhante a algumas igrejas italianas de finais do século XIV; e a fachada principal, sem pórtico, típica dos edifícios de clausura.
O interior é de três naves, iluminadas por janelas geminadas e pela já referida rosácea. As naves são extremamente compridas, de oito tramos cada, marcados por colunas muito altas revestidas de colunelos e capitéis lavrados. O comprimento é de cerca de oitenta metros, quase tantos como os da igreja do mosteiro da Batalha. As naves laterais são mais baixas, permitindo dessa forma clerestório. Naves e transepto de grande volumetria apresentam cobertura em madeira, a abside abóbada de nervuras, os absidíolos abóbada de nervura. A cabeceira tem cinco capelas. A capela-mor, encimada por abóbada gótica de nervuras cruzadas, é poligonal e as restantes, ladeadas por absidíolos, são rectangulares. Em nichos renascentistas, algumas pinturas a fresco de personalidades franciscanas.
A igreja e o claustro do extinto convento de S. Francisco, freguesia de Salvador, encontra-se na rua 31 de Janeiro. É monumento nacional desde 17 de Março de 1917. A construção do edifício monacal iniciou-se em 1242, no mesmo ano em que os franciscanos se instalaram em Santarém (Frei Manuel da Esperança). Quanto à igreja, de grandes dimensões, terá sido concluída em 1260 ou 1282, consoante as teorias chegadas até nós. É o mais antigo exemplar da arquitectura franciscana em Portugal, a par da igreja de Estremoz, e o mais antigo testemunho do gótico em Santarém.
Tipologia construtiva muito semelhante ao ciclo mendicante do resto da Europa no mesmo período, nomeadamente no que diz respeito à severidade dos volumes, à preponderância das dominantes horizontais e rectas em detrimento da verticalidade, aos elementos vegetalistas dos capitéis e à ausência de qualquer tipo de decoração. Aliás, terão sido os próprios franciscanos a trazer a planta do edifício e as regras de medição do centro do «velho continente», pois a unidade de medida aplicada foi a de «pied de roi».
Ao longo dos séculos, igreja e convento foram sendo engrandecidos, caso do claustro, construído em duas ou três fases. O complexo chegou a dispor, para além dos dois claustros, de três dormitórios, um refeitório e uma biblioteca. À primitiva fase do gótico mendicante do século XIII, sucedeu-se uma fase de acrescentos da primeira metade do século XIV, uma outra gótica nos reinados de D. Fernando e D. João I, uma fase manuelina, uma renascentista e, por último, uma campanha setecentista. Assim, o gótico do templo foi mesclado com a arte renascentista e barroca.
Nos primeiros séculos da sua existência, muitos foram aqueles que quiseram ser aqui enterrados. Algo de normal, afinal, se tivermos em conta o quadro de costumes e de mentalidades da sociedade europeia da Baixa Idade Média. O exemplo mais paradigmático foi o do rei D. Fernando, que decidiu ser aqui sepultado e para tal patrocinou a construção de um coro-alto, nos três tramos médios da nave central. Em 1447, D. João II foi aqui aclamado. No século XVI, aqui discursou Gil Vicente, fazendo um apelo para que os cristãos-novos não fossem perseguidos. Em 1579-1580, reuniu-se aqui o povo para impedir que o poder fosse entregue a D. Filipe II, que acabaria por ser coroado nas cortes de Tomar.
No século XVIII, a quantidade e qualidade dos túmulos e das inscrições existentes ainda era notável. No entanto, o terramoto de 1755, as Invasões Francesas, as guerras civis, a extinção das ordens religiosas e um grande incêndio, em 1940, levaram à destruição de quase toda a parte conventual. O estado de ruína do claustro mantém-se ainda hoje. A recuperação de todo o complexo, para a instalação de um espaço museológico, é um projecto a ser desenvolvido a curto prazo.
Templo de planta longitudinal. A fachada principal é de dois registos, definidos pelo pórtico de arquivoltas decoradas com motivos geométricos, ladeado por quatro colunelos, e pelo grande vão quadrangular destinado a receber a rosácea. É muito semelhante ao pórtico do mosteiro da Batalha. À fachada nascente, está adossada a casa do Capítulo; à parte norte, está adossado o claustro e os corpos do antigo convento. O claustro, gótico, é composto por colunas duplas, com capitéis foliáceos e abóbada de nervuras com fecho heráldico. Foi mandado construir por D. Duarte de Meneses e pelos condes de Vila Real.
O interior é composto por três naves de cinco tramos, com cobertura de madeira, um cruzeiro alto e cabeceir

a com cinco capelas. Vários escudos, entre os quais o do rei D. Fernando, fecham as nervuras das abóbadas. As naves laterais são mais baixas do que a central. Colunas poligonais sustentam os arcos góticos, que terminam em capitéis de ornatos vegetalistas, embora alguns desses capitéis tenham perdido a decoração por causa das obras do coro-alto. Na cabeceira, as cinco capelas estão escalonadas em relação à capela-mor.
Ainda em relação ao coro-alto, Mário Tavares Chicó considera-o «a mais bela manifestação de arte gótica do país, antes da construção do mosteiro da Batalha». O construtor seguiu todas as regras do estilo então vigente, como se percebe pela decoração, pelos curtos pilares cruciformes, pelas nervuras que sobre eles assentam, pelos capitéis lavrados ou pelos fechos heráldicos das abóbadas e das frontarias. Para além de albergar o túmulo de D. Constança, mãe de D. Fernando, este tinha ainda a intenção de se tumular a si, como se viu antes, e à sua mulher, D. Leonor Telles.
A igreja de Almoster, juntamente com as ruínas do claustro do antigo mosteiro de freiras bernardas, é monumento nacional por decreto de 1920. Situada no largo do Convento, foi fundado por D. Berengária Aires, aia da Rainha Santa Isabel e mulher de D. Rodrigo Garcia.
É um templo de planta longitudinal, constituído por três naves de cinco tramos cada. A capela-mor é de dois tramos, com coberturas em ábobada de ogivas com pinturas de grotescos. As capelas absidais são de tramo único, com cobertura em abóbada de berço quebrado, abrindo para as naves colaterais por arcos quebrados em ressalto de moldura facetada.
Quanto ao claustro do antigo convento, dele restam dois lanços e a fonte da castra. As alas maiores possuíam quatro tramos, tendo os dois primeiros quatro vãos e os restantes cinco, de arcos quebrados geminados sobre colunas emparelhadas. A Sala do Capítulo é revestida de azulejos azuis e brancos e várias lajes sepulcrais.
A torre das Cabaças, no largo Zeferino Sarmento, é monumento nacional desde 3 de Fevereiro de 1928. Foi construída no local onde antes existia uma torre de recinto muralhado do antigo complexo defensivo de Alporão, que tinha o seu centro na porta do mesmo nome. Servia como torre do relógio do senado da Câmara, numa época em que a «medição» do tempo começava a ser objecto de interesse por parte da sociedade.
Assim, em meados do século XV Santarém foi uma das primeiras localidades a receber uma importante inovação: o relógio mecânico. Accionado por pesos e com mostrador das horas, surgiu em Itália entre 1277 e 1300 e começou a ser instalado nas torres das principais cidades. Era um invento fundamental, porque media o tempo e servia de instrumento para diversas profissões, como os mercadores. No dizer de J. Gimpel, foi o primeiro invento «decididamente moderno». E moderno foi Santarém, que recebeu o relógio pouco tempo depois do Porto e Lisboa.
Terá sido construída em meados do século XV – o primeiro documento conhecido que lhe diz respeito data de 1462. Foi alterado sucessivamente ao longo dos séculos, como no reinado de D. Manuel I, D. João III ou D. Filipe II. Este facto acabou por desequilibrar esteticamente todo o monumento. As obras realizadas no século XVII colocaram-lhe uma cimalha maneirista. A partir dos anos 30 do século XX, a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais levou a cabo obras de reabilitação do monumento, como foi o caso da demolição do edifício anexo, conhecido como a casa do Relojoeiro. Essas obras prolongaram-se no tempo até à actualidade, embora nos últimos anos tenha sido a Câmara Municipal de Santarém a responsável pelas mesmas.
A tradição popular refere que o nome de Cabaças foi dado em «homenagem» às «cabeças ocas» dos vereadores que decidiram a sua construção, de tão feio que o edifício era considerado. Na verdade, o nome deve-se a oito cabaças de barro colocadas na estrutura de ferro que suporta o sino e que têm como função ampliar o som emitido.
«Quando de uma visita de D. Manuel a Santarém, os edis solicitaram do monarca um subsídio para se erguer a torre do relógio e do sino de correr, necessidade quotidiana da população, sobretudo dos trabalhadores rurais que desejavam conhecer a hora de começo e fim dos seus trabalhos. Concedida a desejada quantia, os membros camarários, em número de oito, teriam mandado colocar no alto da torre um sino assente em quatro varões de ferro. Voltou o Venturoso a Santarém, poucos anos mais tarde, e ao contemplar a fealdade do conjunto arquitectónico da torre do Relógio, esbajada que fora a dádiva régia em obra tão desprovida de elegância, ordenou que, a rodear o sino, fossem colocados oito púcaros de barro – a que chamam cabaças – que passariam a representar as oito cabeças ocas dos senadores locais. Umas e outras, desprovidas de inteligência. E ao senado santareno caberia o epíteto de senado cabaceiro.» (Joaquim Veríssimo Serrão)
Segundo Vítor Serrão, o edifício apresenta características tardo-góticas. É uma estrutura com a forma de um paralelepípedo de vinte e dois metros, coroada por uma armação de barras de ferro, para apoio das vasilhas de barro, ou cabaças, que lhe dão o nome. Torre de secção quadrangular, em cujo topo se rasgam, nos quatro lados, oito janelões em arco de volta perfeita. Acima, os oito púcaros de barro que já referimos e que servem como caixa de ressonância do sino do relógio. No interior, entre o primeiro e o segundo piso, todo o seu volume, exceptuando o volume da escada em caracol, encontra-se atulhado.
Um dos projectos existentes para o aproveitamento desta estrutura, que lembra, «mais do que nenhuma inventada pelos arquitectos, a origem árabe, a vida nómada, a tradição pastoril da região onde surgiu» (Ramalho Ortigão), é a sua transformação no Núcleo Museológico do Tempo – um verdadeiro museu vivo da relojoaria.
Aliás, são muito elogiosas as palavras que Ramalho Ortigão lhe dedicou em «A Arte em Portugal»: «A torre das Cabaças não será talvez o mais monumental, o mais nobre, o mais rico, mas é decerto o mais sugestivo, o mais anedótico, o mais interessante, o mais carinhoso, o mais familiar, o mais lindo campanário de toda essa formosa campina ribatejana, o mais aberto sorriso agrário da terra portuguesa. Tudo envolve de penetrante poesia local essa velha torre. O seu mesmo nome de relógio das cabaças ou de cabaceiro se alia harmonicamente no ouvido à lembrança das lezírias, das hortas, dos pauis, das courelas e dos olivedos, que o circundam, e fazem dele como que uma parte integrante da paisagem, um natural rebento da terra… A torre das Cabaças fez-se para ser olhada do vasto campo da Golegã ou do campo de Almeirim, vindo do Vale, vindo de Coruche, de Benavente ou da Barquinha, através dos olivais, das terras de semeadura e das eiras do termo de Santarém, de jaqueta e sapatos de prateleira, mostrando uma égua de maioral, de cabeçada de esparto, almatrixa de peles e estribos chapeados.»
As muralhas do antigo castelo, em Marvila, estão classificadas como imóvel de interesse público desde 14 de Março de 1917. Foi edificado em 1147 no local onde anteriormente se situou um castro proto-histórico, sucessivamente ocupado por fenícios, gregos, romanos, visigodos e árabes. Originalmente, era constituído pelo recinto da Alcáçova, com quatro hectares, e pelo perímetro muralhado da vila, de trinta e três hectares. Era parcialmente defendido por uma barbaça e pela cerca dos bairros da Ribeira e de Alfange.
Das diversas intervenções que sofreram ao longo dos anos, destaque-se a ampliação fernandina, a adaptação da Torre de Alpram no século XV e o reforço de toda a estrutura muralhada no século XVII. O século XIX, por sua vez, assistiu à destruição de grande parte das muralhas e das portas de acesso. Várias razões estiveram na base desta sanha demolidora, desde razões urbanísticas à construção do caminho-de-ferro. Entre 1936 e 1954, a Di

recção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais procedeu a obras de consolidação de vários troços de muralhas, como tem vindo a acontecer, de resto, até hoje.
«Em qualquer das dominantes alturas de Santarém captam-se imagens visuais de rica tonalidade. Do alto panorama das Portas do Sol pode-se admirar um magnífico espectáculo no quadro que se nos apresenta. Disse-o Afrânio Peixoto: «um dos mais belos panoramas do mundo». Em baixo, o rio no seu curso pela terra portuguesa dá a nota de frescura com os seus areais e ilhotas, os verdes mouchões que o limitam, beijando na sua margem direita a povoação da Ribeira (antiga Seserigo) e o bairro piscatório do Alfange. Quase a pique, dominando uma encosta cavada, o roqueiro castelo é como acrópole que senhoreia os horizontes, e dele pode o forasteiro admirar o curso sinuoso do rio, o acidentado das colinas do norte e as férteis planícies da Borda d’Água. Encanto profundo que leva o visitante a recolher-se, admirando a obra da natureza em belas imagens que a retina passa a guardar.» (Joaquim Veríssimo Serrão)
Ainda sobre as Portas do Sol, mais das paisagens que dali se alcançam do que do banal jardim existente, referia João Barreira, na primeira metade do século, no «Guia de Portugal»: «É o mais belo varandim de Santarém (ajardinado em 1895), com um miradouro feito na porta que olhava o sol levante e dá sobre os vastíssimos e planturosos campos ribatejanos com o rio derivando em preguiçosos meandros laivados de ilhotas de areia fulva, as quadrículas da cultura ubérrima em que o verde esmeraldino é pintalgado de preto pela silhueta nervosa dos touros e a linha esbelta dos campinos, vendo-se no limite das pastagens branquejarem as vilas da Chamusca, Almeirim e Alpiarça. Ao norte Alcanhões e no extremo do horizonte Monte de Trigo. À direita, para o sul, o Outeiro da Forca, plantado de oliveiras. É indubitavelmente, diz F. F. Palgrave, que acompanhou o grande poeta inglês Tennyson na sua viagem a Portugal, «one of the great panoramic landscapes of Europe.»
Castelo de montanha, de planta irregular, era rasgado por várias portas e postigos. As antigas muralhas cobriam o perímetro da povoação. Na época muçulmana, as muralhas iam das Portas do Sol à Porta de Atamarma e daí ao «colar muralhado» que vinha do vale de Alfange. Nessa altura, existiam as portas de Atamarma, de Alcáçovas e do Alporão. Depois da conquista aos mouros, D. Afonso Henriques mandou alargar o perímetro da zona ameada. Fê-lo porque o burgo estava a crescer mas também porque era necessário prevenir futuros ataques. Com as guerras fernandinas, grande parte das muralhas ficou destruída. Cerca de 1380, D. Fernando restaurou-as e ampliou a periferia defensiva de Santarém.
Assim, havia três zonas dentro das muralhas: a zona da Alcáçova, fechada pelas portas da Atamarma, do Alporão e da Alcáçova; o perímetro muralhado da época de D. Afonso Henriques, que ocupava o planalto de Marvila; e a zona muralhada de D. Fernando, com a sua dupla linha defensiva. As muralhas originais, as da Alcáçova, ainda existiam em parte no século XVI, segundo relato de Erich Lassota de Steblovo. Actualmente, restam apenas alguns trechos.
Das antigas portas e postigos da cidade, também resta pouco hoje em dia. As portas de Santiago e do Sol estavam no perímetro da cidadela principal. A porta de Santiago estava ligada à calçada de Santiago, que a punha em contacto com a Ribeira de Santarém. Na porta, pode ver-se um brasão real do reinado de D. Fernando e a data de 1375. A porta de Alcáçova ficava junto da estrada que vai para Alfange. A porta do Alporão, demolida no século XVI, estava ligada à igreja de S. João de Alporão. A porta de Atamarma localizava-se no alto da calçada do mesmo nome. Foi por aí que D. Afonso Henriques entrou em Santarém. Destruída em 1865. A porta de Leiria encontrava-se no local da actual capela de Nossa Senhora da Piedade. A porta de Manços, que devia o seu nome a S. Manços, primeiro bispo de Évora, encontrava-se perto da antiga casa da Relação. A porta de Palhais, localizada à entrada da Ribeira de Santarém, desapareceu entre 1838 e 1840. A porta de Valada, por fim, encontrava-se no extremo do lugar de Pereiro. Desapareceu em 1838.
Quanto aos postigos, o de D. Margarida, como era conhecido no século XVIII, na rua Pedro Canavarro. Era também conhecido como postigo de S. Domingos, por dar acesso ao convento desse nome. O postigo das Figueiras ficava do lado da porta de Leiria e devia o seu nome ao chafariz do mesmo nome. O postigo de S. Gens ficava encravado na muralha, em frente da igreja do Milagre. Segundo a tradição, S. Gens andou por ali a pregar o Evangelho. Um outro postigo encontrava-se no bairro de Alfange, entre duas torres fronteiras à igreja de S. João. O postigo do Pão existiu até ao século XVIII, na Ribeira, perto do penedo de Santa Iria. O postigo da Carreira foi destruído algures entre o século XIX e o século XX.
Actualmente, subsistem panos de muralhas da época românica e gótica e, sobretudo, do momento do restauro da Alcáçova levado a cabo durante o reinado de D. Dinis. As portas de acesso de vão em arco quebrado são típicas desse período, enquanto que da época maneirista é o revelim triangular constituído por panos em talude e a guarita cupulada localizada no seu vértice. Em 1896, chegou a pensar-se na demolição do monumento, mas a forte oposição por parte da população evitou que a medida se consumasse.
As ruínas do castelo de Alcanede são imóvel de interesse público desde 1943. Terá sido fundado, muito provavelmente, pelos romanos, sobre um antigo castro, e reconstruído já durante a Idade Média, devido às guerras da Reconquista Cristã. Depois de estar definitivamente na posse dos portugueses, foi completamente reedificado e actualizado.
Durante o reinado de D. Dinis, altura em que passou a ser propriedade da ordem de Avis, fizeram-se as obras mais importantes, das quais avulta a construção da torre de menagem. O terramoto de 1531 provocou a sua destruição e só uma campanha de obras liderada pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, entre 1941 e 1950, permitiu dar novo alento à estrutura, com o levantamento de alguns panos de muralhas derruídos e a reconstrução de torres e alguns espaços interiores.
Em alguns pontos, ainda se podem ver os muros exteriores que antecediam as muralhas. Cubelo de planta elíptica adossado à fachada exterior da torre de menagem, de planta quadrangular, pela qual se tem acesso ao monumento através de porta em arco de volta perfeita. Acima deste, uma cartela heráldica. Na torre de menagem, cubelo e em alguns dos panos de muralhas que ainda restam, podem ver-se merlões rectangulares. Possui ainda adarve e uma cisterna.
Localizadas na encosta de S. Mateus, freguesia de Marvila, atrás do Cine-Teatro Rosa Damasceno, as ruínas da Albergaria de S. Martinho são imóvel de interesse público, por despacho de 6 de Novembro de 1978. Poderão ser ainda, segundo alguns autores, as ruínas de uma capela, provavelmente do século XII. Não se sabe quando foi fundada inicialmente, mas Maria Ângela Beirante vai até ao século II d. C. e ao culto esotérico dedicado a Mitra, ou ao culto de Cibele, que de resto estava associado àquele, para localizar a origem das ruínas.
A sua existência está documentada desde a primeira metade do século XV. Era então um dos hospitais de Santarém que, desde 1426, passaram a estar sob a alçada do Hospital de Jesus Cristo. Um terramoto, em 1531, veio destruir grande parte do edifício original. A reconstrução, por sua vez, alterou completamente a feição quatrocentista que possuía.
As mudanças verificadas nos últimos séculos alteraram completamente a geomorfologia do local. Assim, só é possível ter uma visão mínima de conjunto a partir da Ribeira de Santarém – uma parede, que parece muralha, uns contrafortes, uma porta e uma janela.
Hoje, apresenta no interior um carácter maneirista. A sua planta compre

ende um compartimento circular arruinado, bem como um outro compartimento ao qual se tem acesso a partir da porta de entrada, um corredor e uma sala coberta por uma cúpula. O interior é todo abobadado em tijoleira. Na primeira sala, a abóbada é de caixotões e faz a ligação à sala seguinte. O local onde está a cúpula parece ter sido o centro do edifício. Na frontaria, um portal de ombreiras rusticadas e frontão triangular.
A igreja de Santa Maria de Alcáçova, imóvel de interesse público desde 25 de Junho de 1984, encontra-se no largo fronteiro ao jardim das Portas do Sol, no local em que, segundo alguns autores, terá existido um templo romano. A invocação de Santa Maria, que recebeu desde o início, significou a santificação imediata de um lugar que era pagão.
Foi fundada nos primeiros anos da segunda metade do século XII, provavelmente 1154, depois da conquista da cidade aos mouros. A sua construção deveu-se à iniciativa de D. Anjo Martins, mestre da ordem dos Templários, a crer na inscrição sob a porta principal, e decorreu sob a orientação de D. Frei Pedro Arnaldo, membro daquela ordem e comendador de Santarém. Entre 1157 e 1159, aqui esteve Gualdim Pais, mestre dos Templários, antes de se fixar definitivamente em Tomar. Após a extinção dos Templários, tanto na Europa como em Portugal, foi entregue aos cónegos regrantes de Santo Agostinho.
Em 1192 a igreja da Alcáçova já era uma colegiada composta por vinte cónegos, pelos quais o rei D. Sancho I distribuiu as suas rendas. Entre meados do século XIII e 1834, funcionou como capela real. Foi ainda sede de uma escola que se prolongou até Setecentos e de uma comunidade de clérigos pobres. Os seus priores e cónegos atingiram grande notoriedade nas áreas da teologia, direito, música e letras. Foi, no fim de contas, uma ubérrima colegiada, porque os bens de que foi proprietária atingiram valores altíssimos e chegaram a incluir, entre outras, as igrejas de Santa Cruz, Santa Iria e S. João de Alfange. Os seus privilégios equivaliam aos de uma sé catedral e os do prior ao de um bispo.
Sofreu muitas alterações ao longo dos anos, sobretudo nos séculos XVI, XVII e XVIII, facto que descaracterizou completamente a traça primitiva. A reconstrução do século XVIII foi devida a D. Rodrigo Teles de Menezes, conde de Unhão. A reforma de 1724 foi a mais devastadora. Depois dessa data, da primitiva feição gótica ficaram apenas vestígios nas lápides e nalguns túmulos. Os retábulos laterais de cunho maneirista são os elementos arquitectónicos mais antigos. Tudo o resto insere-se já na reforma setecentista realizada dentro do espírito neoclássico.
Assim, se é verdade que o actual edifício tem uma aparência romântico-oitocentista, também é verdade que os elementos de outras eras que chegaram até nós dão ao conjunto uma unidade espacial de grande valor estético e artístico.
O seu plano de construção obedeceu a uma orientação nascente-poente, embora o tempo e o Homem, mais este do que aquele, se tenha encarregado de colocar a frontaria a sudoeste. Na fachada principal, a já referida lápide em mármore, em caracteres carolinos, recorda a edificação da igreja.
Templo de planta longitudinal, em cruz latina, com três naves separadas por dez colunas revestidas a estuque e com transepto. A nave central é mais alta do que as laterais. Todas elas têm cobertura em madeira apainelada. Arcos de volta perfeita sob colunas toscanas dividem os tramos. Junto ao arco triunfal, as paredes são revestidas por azulejos do século XVIII. Para além do lambril de azulejos setecentistas, com temas marianos alusivos às ladainhas da Virgem, o revestimento interior é em estuque. De resto, a cabeceira tem três capelas, sendo que a do meio é mais profunda e corresponde à capela-mor. Rectangular, é coberta por abóbada de caixotões de cantaria e está ladeada pelos absidíolos. No altar-mor, uma tela de excelente qualidade, da autoria do pintor e escritor Cyrillo Volkmar Machado. Representa o rei D. Afonso Henriques a entregar o eclesiástico de Santarém à ordem dos Templários.
Segundo a tradição, o túmulo adossado à entrada da igreja alberga o corpo de um cristão e de uma moura que se apaixonou por ele. A este propósito, dir-se-á que o património epigráfico do templo é muito valioso. É composto por quarenta lápides, essenciais para reconstituir a história da colegiada, da capela real e da escola. Da sua tumularia, salienta-se o cofre que guarda os restos mortais de Rodrigo Afonso, filho bastardo do rei D. Afonso III.
A igreja de Santa Cruz, em Santa Iria da Ribeira de Santarém, é imóvel de interesse público desde 2 de Maio de1950. Implantada numa plataforma rasgada na encosta, em posição de destaque sobre a Ribeira, estaria concluída em 1280, data em que D. Dinis concedeu o padroado da igreja à colegiada de Santa Maria de Alcáçova. No entanto, a sua fundação deve datar do reinado anterior, o de D. Afonso III, ou até do de D. Sancho II. De acordo com a documentação, já existia em 1261, pois nesse ano já fazia parte do plano anual da pregação dos dominicanos e franciscanos de Santarém.
Foi construída por iniciativa de Lourenço Domingues Minatos, conde estrangeiro radicado em Portugal, e sua nulher, Eiria Afonso Caeira. Terá substituído um outro templo, mais modesto, construído após a Reconquista da cidade, em meados do século XII. Funcionou como sede paroquial até 1851, data em que a paróquia de Santa Cruz foi extinta. Ao longo dos anos, foi objecto de várias remodelações, a maior das quais ocorreu em 1681, com a construção de um novo portal barroco na frontaria, o acrescento de uma torre sineira quadrangular e o alargamento do corpo do edifício para o lado da sacristia.
É a única igreja gótica trecentista da cidade que não está ligada ao patrocínio das ordens religiosas. Segue o modelo das igrejas paroquiais da época, ao mesmo tempo que conserva algumas características do gótico mendicante de Santarém.
O portal gótico, anterior ao da época barroca, é composto por quatro arquivoltas e capitéis florais, de reentrância em gablete e com arcos de ponto subido. A elegância deste elemento é pouco habitual em monumentos do gótico inicial, de carácter tão utilitário como é este.
O interior, plenamente barroco devido às reconstruções de vários séculos, é dividido em três naves relativamente altas, divididas por arcos ogivias, sendo que a nave central é maior do que as laterais. Os tramos dividem-se por arcos quebrados em cantaria. A cobertura é em madeira. Os capitéis das colunas que as dividem têm uma feição arcaizante e aproximam-se daquela que terá sido uma evolução natural das oficinas românticas santarenas.
A capela-mor, com dois tramos, é poligonal, com altas janelas abertas em panos delimitados por contrafortes. É iluminada por cinco janelas góticas. Virada a nascente e com um volume que se salienta do corpo da igreja, é abobadada. O presbitério é amplo e marcado por sinais de modernidade. Junto a uma coluna do lado do Evangelho, um púlpito renascentista em pedra.
A ponte de Alcourse, imóvel de interesse público desde 29 de Setembro de 1977, cruza a vala de Alcourse, no sentido norte/sul, à saída da povoação da Ribeira, no alinhamento com a fonte de Palhais, servindo a estrada para Vale de Figueira. Construída no século XIV, segundo o escudo da vila nela localizado, fez parte da estrada real que ligava Santarém a Coimbra, pela Golegã, Tomar e Pombal. Provavelmente, terá substituído a velha ponte romana que ligava Scallabis a Sellium (Tomar). Ainda hoje faz parte do percurso entre Santarém e Vale de Figueira.
É uma ponte de feição gótica, constituída por um tabuleiro rampeado de um dos seus lados e ladeado por guardas em pedra. Está assente em quatro arcos redondos de volta inteira. No centro da ponte, entre o segundo e o terceiro vão, encontra-se o brasão de D. Afonso III, que contém as armas do concelho e de Portugal, facto que parece
indiciar a divisão das despesas da construção.

Sócrates : o que parece é!

Não é possível alguem ser Primeiro Ministro e ter uma imagem pouco transparente com a verdade. Ou que a população e a sociedade tenha essa percepção, em relação ao caracter de quem exerce funções que têm uma influência decisiva nas nossas vidas.

A actual notícia e factos relacionados com o processo Freeport, Moniz e Moura Guedes não teria a importância que está a ter se outro fosse o Primeiro Ministro. Sócrates tem passado e tem história neste tipo de coisas, suspeitas, casos mal explicados, militantes ou simpatizantes do PS colocados em funções que podem seguir de perto ou mesmo influenciar os processos que têm a ver com o próprio.

Por mais que se negue, a maior força de um governante é estar acima de suspeitas, ser-lhe reconhecida ética pessoal e política, não basta ser sério, é preciso parecê-lo. E em política o que parece é!

Neste caso uma voz incómoda foi calada, e parece que numa altura em que uns documentos sobre o Freeport iam ser publicados. Metem medo a quem para haver esta precipitação? Porque nesta altura calar uma voz incómoda, a vinte e três dias das eleições, parece que é uma decisão motivada por razões políticas.

Quem se apressou a apontar o dedo a Sócrates fê-lo com a legitimidade de quem pensa que o Primeiro Ministro é capaz de fazer isto e mais alguma coisa, que tambem aqui está a ter dificuldade em ter uma relação sádia com a verdade.

Esta questão vem provar que para o cidadão comum prevalece o plano do Estado de Direito, uma pessoa só é culpada depois de um tribunal a considerar como tal, mas para um político tal não é suficiente, há outro plano, o plano político que é essencial à sua eficácia nas funções que exerce.

Uma coisa é certa. Não parece possível termos um Primeiro Ministro que esteja permanentemente sob suspeita!

Luiz Pacheco – Um libertino passeia pela vida – Alguns casos

O caso da quadrilha dos selos

Em Fevereiro de 1959 dera-se o caso do sobretudo – usara, sem autorização do proprietário, um opulento sobretudo do Chefe da Secretaria da Inspecção-Geral de Espectáculos – processo disciplinar e condenação a cinco dias de multa. No final de 1959, Pacheco pede a demissão do seu cargo de fiscal da Inspecção-Geral de Espectáculos. Antes disso houve uma nova bronca – a da falsificação dos selos. Luiz explica: «Um gajo está numa repartição a lidar com requerimentos e selos fiscais de duzentos, trezentos paus, um conto de réis – na altura era muito dinheiro. Ora não se põe um gajo a ganhar seiscentos paus por mês quando lhe passam diariamente pela mão dezenas de contos de réis pela mão sem a mínima fiscalização. Aliás, não era um gajo, eram dez.»
E conta como um filho de família numa atmosfera de corrécios adere a uma quadrilha – um inspector dos mercados, um colega, foi quem teve a luminosa ideia – não havia controlo dos selos que entravam Então eram limpos com lixívia e novamente vendidos. Alguns tinham de ser reformados porque começavam a ficar amarelados. A matéria-prima era abundantíssima. Um deles especializara-se a imitar a assinatura do director. Havia um outro especialista em falsificar passaportes – um novo ramo do negócio, que ia de vento em popa: «Arranja aí um passaporte dos nossos!». «Passa-me aí uns selos dos nossos!» «Aquilo tinha-se tornado uma instituição paralela ao Estado português!», diz Pacheco resumindo a situação. Funcionários com ordenados miseráveis compravam automóveis, tinham amantes, faziam uma vida de ostentação. Pacheco apenas fez duas extravagâncias – comprou uma mota e foi jogar ao Casino Estoril – saiu a ganhar na roleta e nunca mais lá voltou com medo de apanhar o vício (mais um). Mas os membros da quadrilha estavam a desleixar-se. Não havia cuidado. Pacheco apercebeu-se de que, mais tarde ou mais cedo, tudo iria desabar. Foi então que entrou um novo inspector… Damos de novo a palavra ao Luiz: «Até era um gajo giro, e perguntou-me: -“Então como vai isso?” – E eu mandei uns bitaites. Ele ficou fodido: – “Eu não preciso dos seus conselhos para nada, era o que faltava!” – Ora este cabrão! Apanhei o gajo sozinho e disse-lhe: “- O senhor inspector não precisa dos meus conselhos, mas vou dar-lhe alguns». E descreveu por alto o que se passava. «Você também pertence à quadrilha? – Pertenço, mas isto não pode continuar, senão vai tudo parar à cadeia.». O homem começou a ficar roxo, com as veias a inchar. «Ai que este gajo vai-me ter aqui uma congestão e eu fico com a morte dele na consciência», pensa Pacheco. Mas não. O inspector começa de imediato a pôr em prática os conselhos de Pacheco. A mama acaba-se, mas ninguém é preso. O chamado crime perfeito.

Os casos da gravata escocesa e do sobretudo do director

Como já disse, Pacheco trabalhava na Inspecção-Geral de Espectáculos, organismo estatal que fazia parte do dispositivo de repressão, a par do Secretariado Nacional da Informação e da Comissão de Censura, entre outros apêndices institucionais orquestrados pela polícia política e dirigidos pelo parido único. Era, pois, um departamento do Estado com funções repressivas embora actuasse a níveis modestos, inspeccionando salas de espectáculos, teatros e cinemas, zelando porque as directivas superiores, de carácter político e de carácter burocrático, fossem cumpridas. Funcionava no Palácio Foz, onde funcionava também o Secretariado Nacional da Informação. Quando em Abril de 1951morreu o marechal Carmona, presidente da República, foram decretado os regulamentares dias de luto nacional. Aos funcionários públicos era exigido que usassem gravata preta e roupas de tons escuros. Era algo que talvez não estivesse escrito em nenhuma ordem de serviço, mas que toda gente sabia.
Pois Luiz Pacheco apresentou-se ao serviço no dia seguinte ao da morte do marechal com uma gravata colorida, de padrão escocês em cores vermelha e castanha. Tal enormidade foi objecto de movimentações e de indignação a nível das chefias. O caso foi mesmo enviado ao ministro da Presidência! Veja-se o ofício abaixo:
gravata
O Caso do sonâmbulo chupista logo seguido pelo dos «Clandestinos»

Sobre o meio literário, Pacheco disse: «O meio literário é de cortar à faca, mas muito fácil de penetrar. Eu, que nasci em Lisboa, via-os chegar da província, os Namoras, os Amândios César, os Paço d’Arcos, etc. andavam por aí a borbulhar, a deslizar, a ver quem chega primeiro. É como os espermatozóides.» Houvera uma controvérsia lançada por Pacheco que acusou Fernando Namora de ter plagiado no seu romance «Domingo à Tarde», o livro de Vergílio Ferreira «Aparição». «Eu apenas fiz a divulgação da vigarice do Namora… O Namora era um vigarista, o gajo que mais plágios fez em toda a história da literatura», diz numa entrevista a Guilherme Pereira. Em 1972, Namora lança um romance, «Os Clandestinos», editado pelas Publicações Europa-América. Uma tarde, na livraria da editora na Avenida Marquês de Tomar, o editor Francisco Lyon de Castro repara num sujeito, alto, magro, semi-calvo e de óculos que folheia livros com ar interessado. Lyon de Castro aproxima-se e vê que o homem está a ler passagens do recém lançado romance de Namora.
– Gosta dos livros de Namora? – o sujeito faz um gesto passível de ser interpretado como um sim (ou como um não). Tagarela e gabarola Lyon de Castro continua: «- Sabe? Esse livro foi praticamente escrito por mim… » – por detrás das grossas lentes os olhos do cliente abrem-se de espanto «– Ah sim?» Castro não se faz rogado e explica com grande cópia de pormenores como descreveu a Namora as suas aventuras quando, nos anos trinta, fugindo à polícia política, se escapou para França. Namora tomou apontamentos, gravou cassetes, em suma, colheu a história de Lyon de Castro e transformou-a num romance. Foi uma coisa normalíssima, muito comum – os escritores não podem viver as vidas de todas as suas personagens. Porém o exagero de Lyon de Castro sobrevalorizando a história (que nunca foi capaz de escrever) e subestimando o trabalho do escritor que efabulou algo que, de outro modo, ficaria para sempre sepultado na cabeça do editor, e a aversão de Pacheco (pois era ele o cliente) a Namora, transformaram uma coisa normal num escândalo. No dia seguinte o Diário Popular, no seu suplemento cultural, trazia a toda a largura das páginas centrais a afirmação de que Namora roubara a trama do seu novo romance a Lyon de Castro. Resultado – Namora zangou-se com o editor e passou para a Bertrand.

QUADRA DO DIA

Foi um covil de ladrões

Marcinkus e muitos mais

Porventura ainda o é

A avaliar p’los jornais.

Não há festa como esta!


No dia em que arranca mais uma edição da Festa do Avante, apenas um breve «post» evocativo. Eu estive lá, uma vez, em 1995. Vim directamente da Madeira e, por ter chegado a meio da noite, tive de dormir com a minha namorada, hoje minha mulher, no chão do Aeroporto.
Foram três dias cheios. Lindos. Cheguei mesmo a ver, a dois metros de mim, o Álvaro Cunhal. Era então um jovem sem consciência política e a única coisa que me interessava era a música, os comes-e-bebes, a festa. O que me divertia quando as pessoas me chamavam camarada!
Catorze anos volvidos, posso dizer: «Eu estive lá». É que, digam o que disserem, seja qual for a cor partidária, não há mesmo festa como esta.

Freeport : e, no entanto, mexe-se…

Apesar das fugas de informação cirurgicas dando como arquivado o processo Freeport, e com Sócrates fora dele, a verdade é que o processo ainda mexe.

Agora um dos arguidos, Carlos Guerra, ex-presidente do Instituo da Natureza não está a gostar do andamento da coisa e põe em causa a conduta dos magistrados titulares do processo. Acusa-os de suspeita de violação de segredo da Justiça e prepara-se para os accionar criminalmente.

Para além das declarações de Moura Guedes ou talvez por isso mesmo, o “SOL” vem dizer que a atenção dos magistrados se vira agora para outro primo de José Sócrates, este a viver, convenientemente, em Angola. Angola fica mais próximo da China aonde está a tirar um curso de artes marciais, convenientemente, o outro primo. Ai, se isto acaba à chapada…

Entretanto a saga TVI continua, com Moura Guedes a dizer que há novas em relação ao Freeport, documentadas, o que poderá em qualquer altura ser tornado público, se é que a administração da empresa deixa. E se não deixa, é certo e sabido que vão ser publicados num outro qualquer canal de televisão.

Isto está preto!

POEMAS ESTORICÔNTICOS

A mulher que amanha o peixe

Sempre que que a vejo

no supermercado onde vou

reconheço que não é por acaso.

Muito bonita a mulher que amanha o peixe

(não sei se amanha se amanhece!).

Rosto combatido

dorido

olhar sofrido e manso

não sei o que faz desta mulher um poema

se os olhos negros e fundos

se o desenho rasgado da face

se um gesto brusco da natureza

revoltada de cansaço.

Um vale profundo entre o cá e o lá

banca de peixe

mar imenso

mar morto

do outro lado um peixe vivo no céu

tocando o mar

estripando com mãos invisíveis

entre lágrimas e sangues

as entranhas da vida

nas elegâncias difíceis dos plásticos

cobertos de escamas.

Passos molhados

encharcados

pesados

cheirando a algas

ondas de tempestade

no lindo rosto marcadas

pela ânsia de voar.

Com tantos apetrechos de borracha

botas altas

luvas e avental

não sou capaz de adivinhar

o corpo que tem por baixo

nem quero que aconteça o tal.

A mulher é segredo

a mulher é sonho

sonho de si mesma

no olhar dos outros

sonho de ventre liso

crescente de imensidão

fonte de pão e de leite

eternidade e sorriso

dança de movimento

para além das formas

e da imaginação.

Trepadeira de vida e de morte

olhos que se abrem no céu

e repousam no mar

mãos de todas as direcções

ainda que vestidas de plástico

amanhando o peixe.

Não sei se é casada ou mãe

se é tudo ou nada

no reduto escasso do dia-a-dia

nem me interessa.

Bastam-me os olhos infinitos

a boca seca de beijos

a dor-desenho dos lábios

a doçura-criança que não cresceu

por falta de uso

tempo e espaço.

O corpo desta mulher está na face

oculta e sedenta

na ânsia fervente do impulso

na mais íntima agitação do mundo

e da dimensão

que pode caber numa banca de peixe.

Difícil acertar ideias e olhares

quando só olhares fazem ideias…

enfeita-se a beleza desta forma estranha

criando beleza no amanhar do peixe.

Cruel seria descobri-la a dançar

pesadamente etérea e volátil

nos salões de púrpura da mulher vulgar

entre rendas e espumas

que não são espuma do mar.

Como sempre

tenho de dizer até amanhã

sou forçado a serenar as ondas

a desnavegar meu barco.

Muito obrigado.

Não tem de quê.

Você é das mulheres mais lindas que já vi.

Muito amável

um exagero…

faça o senhor o resto das compras

e depois passe por cá.

Buscar o peixe…ou voltar a vê-la?

Sei lá!

Mário "alucinado" não é consensual

Longe disso! Todos temos amigos e familiares que são professores, conhecemos as suas opiniões, assim como as suas concordâncias e discordâncias com as posições dominantes. E, sabemos mesmo, como as minorias são vistas e tratadas em certas escolas e meios.

Não vale a pena fazer o que neste país, habitualmente, se faz, que é transformar planetas, ou cometas em estrelas com luz própria. Rapidamente chegamos à conclusão que e esmagadora maioria desta gente não tem luz própria. E tambem não estou (nunca estive, na verdade) para tirar as mãos dos bolsos quando se fala em santos e milagres, só porque alguns juram que os viram.

Outra coisa, bem diferente, é os professores estarem de acordo com as causas. É fácil cavalgar um movimento destes e utilizá-lo para efeitos menos legítimos. Defender que todos os professores vão chegar ao cimo da carreira é uma falácia, seria aceitar que os militares vão chegar todos a General, quando sabemos que a maioria não passa de Coronel. É fácil vender isto. Ou que os funcionários públicos vão chegar todos a Directores- gerais.

Ou que a Gestão da Escola vai ser feita só por professores, há muito que esta questão foi discutida, por exemplo nos hospitais, que já passou por profissionais da saúde convertidos em administradores, pelos “autointitulados administradores hospitalares, depois por gestores profissionais e hoje já temos Hospitais -Empresas, isto é, com gestão empresarial. A escola pública não será diferente, custe o tempo que custar. É fácil andar a vender coisa diferente.

.Há mais de trinta anos que eu próprio aplico a Gestão por Objectivos na minha vida profissional, o que implica modelos de avaliação. É fácil reunir a classe contra um modelo estúpido, burocrático, subjectivo e com esse pecado original, que são os professores “especiais”. Sabe-se como se faz e a avaliação será implementada custe o tempo que custar.

Os concursos para quatro anos, só exigem bom senso. Dá estabilidade aos alunos e aos professores com evidentes vantagens para o êxito da escola. Dizer o contrário, querer voltar ao circo dos concursos anuais, revela uma visão vesga da escola, porque o que está em primeiro lugar são os alunos e a sua aprendizagem e não ter os professores ao pé da porta ( o que será sempre impossível).

Não tomemos pois a nuvem por Juno e não se perca a capacidade de crítica legitima, em relação a alguem que tem um enorme déficite de capacidade de diálogo e que aposta na hostilidade e no afrontamento como regra.

POEMAS DO LUSCO-FUSCO

Este amor

preso à proa de um barco

guardado por muralhas de fogo

onde encerro a tua virgindade

é vento que me leva para o mar azul

onde livremente se espraia

a tua nudez intacta.

Contos Proibidos: Memórias de um PS Desconhecido

(continuação daqui)

«Durante mais de uma década, até à entrada de Portugal como membro de pleno direito na Comunidade Europeia, em 1986, o nosso pequeno e subdesenvolvido país, até então quase «esquecido» do seu contexto europeu, mobilizaria de forma inédita todas as atenções mundiais com a sua «Revolução dos Cravos» e teria reflexos profundos na Europa e no Mundo. A «nossa» revolução seria quase instantaneamente «adoptada» por praticamente todas as forças democráticas internacionais, tendo-se democratas cristãos, liberais, socialistas e até comunistas em todas as suas imagináveis versões, em determinados momentos e por diferentes motivos, considerado próximos do nosso 25 de Abril. Para o Partido Socialista, que protagonizaria de certo modo os aspectos positivos da Revolução e que imprimiria a sua marca ao sistema político constitucional vigente, esta seria também a sua década dourada.

Em Abril de 1974, a social-democracia europeia entra na sua fase de apogeu. Partidos filiados na Internacional Socialista, a que o PS português também pertence, estão então no governo na Alemanha Federal, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Grã-Bretanha, Holanda, Israel, Luxemburgo, Noruega e Suécia. Na Escandinávia, os movimentos sociais-democratas de inspiração sindical começam a desprender-se do «conservadorismo» em que a sua dependência «operária» os lançara e a ansiar por um maior protagonismo internacional. Na Grã-Bretanha, a onda de revolução social da segunda metade dos anos 60 contra o chamado establishment reabre as portas ao Partido Trabalhista liderado por Harold Wilson, que se mostra impotente para travar a vaga que transformaria aquele partido, tradicionalmente moderado, num dos mais radicais da Internacional Socialista. Na Alemanha, a democracia «controlada» do pós-guerra deu lugar a um «novo» Partido Social-Democrata com forte liderança de Willy Brandt e Helmut Schrnidt os quais, apesar das nuances entre si, tinham o objectivo comum de transformar novamente a Alemanha num país unificado e no motor da Europa. Na Áustria, com Bruno Kreisky, na Holanda, com Joop den Uyl, na Bélgica e até na Itália, graças à ameaça do P.C. de Enrico Berlinguer, emergem igualmente partidos sociais-democratas dispostos a dar nova cara ao socialismo.

Socialismo até então caracterizado essencialmente pelo seu eurocentrismo. Nos Estados Unidos também sopram ventos de mudança e, quando o 25 de Abril acontece em Portugal, já a administração republicana de Richard Nixon está ferida de morte com o caso «Watergate». Quando James Carter e Walter Mondale lançam a sua plataforma eleitoral de cooperação internacional e de defesa dos Direitos Humanos, em 1976, Willy Brandt prepara-se para ser eleito presidente da Internacional Socialista, com base num programa de actividades não muito diferente dos valores proclamados pelos democratas americanos e com a firme intenção de pôr fim ao eurocentrismo, dando início a uma nova fase de cooperação internacional entre socialistas democráticos, que alcançasse todos os continentes.

A Revolução Portuguesa tomara-se um marco essencial para a compreensão dos grandes acontecimentos políticos mundiais da segunda metade do século XX, se bem que os políticos portugueses, que pouco tinham feito para que o 25 de Abril acontecesse, também não a soubessem promover, nem conseguissem dela tirar os «louros» que, por direito próprio, Portugal merecia. A transformação pacífica de Portugal num país livre e democrático foi um acontecimento não só inédito como exemplar, que viria a contribuir de forma absolutamente decisiva para a falência de inúmeros regimes totalitários em África, na América Latina e no próprio Leste Europeu e para um desanuviamento da tensão nas relações internacionais.

A descolonização total do Continente Africano e os processos de democratização na Península Ibérica e na América Latina seriam o primeiro resultado da Revolução de Abril. O fim do apartheid e das ditaduras comunistas no Leste Europeu, pela via do diálogo e do pluripartidarismo, seriam também consequência da vitória das forças democráticas, primeiro em Portugal, depois, como reflexo dessa vitória, encontrariam força suficiente no seio da Internacional Socialista e no seio da NATO para rejeitar soluções de submissão unilateral nos chamados diálogos Leste Oeste e Norte Sul. Na base da força moral das forças democráticas, perante os graves conflitos entre o Leste e o Oeste e na escolha da via para a libertação dos Povos, nos anos 80, estaria sempre presente o exemplo português a que André Malraux chamaria a primeira vitória dos mencheviques sobre os bolcheviques. Bastaria referir, a este propósito, a situação de ruptura a que quase se chegou no seio da NATO por causa do regime sandinista na Nicarágua, sobre as propostas conducentes a um processo de desarmamento unilateral na Europa Ocidental e sobre um eventual apoio europeu a formas de luta armada a conduzir por países da Linha da Frente na África Austral, como forma de pôr fim ao regime do apartheid na África do Sul. Seria o exemplo da moderação da vitória dos mencheviques em Portugal que, na maior parte dos casos, mesmo quarido a revolução portuguesa já parecia esquecida, cimentaria as decisões de bom senso que acabariam por prevalecer e moderaria os ímpetos revanchistas dos republicanos norte-americanos e os ataques de pacifismo serôdio de alguns socialistas europeus. Portugal esteve no epicentro de uma grande ameaça à paz tendo a solidariedade internacional, que nos faltou durante tantos anos, finalmente funcionado. Entre as várias opções que se colocariam aos «capitães de Abril» e as várias receitas preconizadas para Portugal prevaleceria o bom senso. Mas os partidos políticos e seus principais dirigentes rapidamente desperdiçariam este enorme património, em lutas intestinas e com vaidades provincianas. Hoje, visto de fora para dentro, Portugal regressou ao seu estatuto de país insignificante e receptor. Não foram conseguidos os grandes objectivos da Revolução de Abril e o País encontra-se entre a Europa e a mediocridade. Parece que o povo português não consegue libertar-se do fatalismo da I República. Este meu livro de memórias, assim o espero, é também uma contribuição contra esse fatalismo.

O chamado caso do «fax de Macau» ou caso «Emaudio» dar-me-ia o último argumento de peso para escrever este livro. A propósito de um conflito, em nada diferente dos conflitos que devassam o interior dos partidos políticos portugueses e que se prendem com situações de poder; a propósito de um financiamento político relativamente «insignificante» e em nada, a não ser no montante, diferente dos que têm sido feitos ao longo dos últimos vinte anos a partidos políticos e organizações afins, confundiu-se a árvore com a floresta e iniciou-se a investigação à corrupção em Portugal de tal forma que, ao contrário do que tem acontecido noutros países europeus, se inviabilizaria o conhecimento da verdade e, como tal, o combate à corrupção. Em vez de se optar por um esclarecimento idóneo e completo, a que os Portugueses têm direito, sobre o estado da Nação em matéria de tráfico de influências e de corrupção, cortando o mal pela raiz ou, caso se verificasse que a verdade poderia ser fatal, a Assembleia da República em acto público entendesse fazer um acto de contrição para bem da democracia, criando moratórias e regras novas, o Ministério Público parece ter assumido a responsabilidade de definir o interesse nacional. Produzindo uma acusação sem provas numa total inversão de valores e, mesmo admitindo a convicção do investigador em relação a um crime que não existiu, ignorando a máxima de Séneca: «quem, podendo, não manda que o delito se não faça, manda que se faça».

Não há Democracia sem a
pa
rticipação dos cidadãos na vida do seu país. Escolheu- se definir, em Portugal, que o enfâse dessa participação se faça através de partidos políticos. Mas faltam ainda definir regras estritas sobre a democracia interna nos partidos que os impossibilite de se transformarem, como tem vindo a acontecer em Portugal, em aparelhos burocráticos fechados que impedem essa mesma participação.

E para além da ausência de regras que permitam, pela via individual, o acesso do cidadão à actividade política, não existem regras idóneas de financiamento dos partidos, nem de transparência para os políticos.Um pouco à semelhança dos «pilares morais» do regime, a Maçonaria e a Opus Dei, tudo se decide às escondidas, como se o direito dos cidadãos à informação completa e rigorosa de como são financiadas as suas instituições e dos rendimentos dos seus govemantes e dos seus magistrados fosse algo suspeito, algo subversivo.

Liberdade, Justiça e Transparência são sinónimos de Democracia. E sem esses ingredientes essenciais o regime português não passará de uma democracia com pés de barro. Acontecerá então, para mal de todos nós, a conversão do já em si negativo «triunfo da política» no temível «estado dos juízes»!»

ETICA E EDUCAÇÃO (2)

 ÉTICA E EDUCAÇÂO (2)

PRIMEIRA PARTE

Preâmbulo eventualmente útil como ponto de partida

 Num artigo escrito por mim há pouco tempo, eu dizia que quando se deu o hipotético Big-Bang em razão do pequeno desequilíbrio entre a matéria e a antimatéria, o Universo entrou em expansão e, com ele, esta risível partícula de poeira chamada Homem. No confronto entre a resistência da condição humana como força antropocêntrica e o movimento de fuga para fora dessa condição, tendente a dilatar o Homem no infinito, reside, a meu ver, a interface onde a verdadeira vida se processa. Uma luta racional e científica projecta-o para fora da sua estreiteza humana, mas também o prende ao amadurecimento da consciência social ajudando-o a combater a sua perversão.

O Homem não é o centro de nada, quer queiramos quer não, mas detém a força do equilíbrio ou do desequilíbrio da humanidade. O homem tem um enorme potencial de conhecimento acumulado, o qual, no contexto da revolução técnico-científica pode aprofundar o desequilíbrio entre os homens e constituir uma ameaça à soberania da dignidade, elemento nuclear da vida.

O homem é um animal, e o animal é um organismo complexo. O Homem é um ser vivo com actividade própria em permanente interacção adaptativa com o meio. Possui uma força intelectiva e emocional, que o torna capaz de entender as realidades e transformá-las, transformando-se dentro da sua sensibilidade intrínseca. Assim como o seu fenótipo resulta de uma interacção e de um diálogo permanente entre o genótipo e o meio ambiente, ele, ontologicamente parte integrante do Universo, não pode fugir à relação com o infinito.

O organismo humano é uma unidade constituida por sub-unidades, também elas muito complexas e em interacção permanente. Mas o Homem não é um simples quantitativo nem uma soma, antes se constitui por um crescendo de saltos qualitativos que nos levam a reconhecer que o todo é sempre muito maior do que as partes, tanto no que às relações humanas se refere, como à dimensão da sua relação universal. No meio destes dois poderosos vectores da sua natureza, vamos tratar o Homem na dimensão mais terrena, considerando que a dimensão universal é tema para palestras com outros objectivos. É nesta dimensão que reside a problemática da nossa conversa sobre ética e educação, sustentada na convicção de que a sociedade humana, muito mais do que um conjunto de homens, é uma profunda rede de relações.

                 ( manel cruz)

( manel cruz)