As escutas que incriminaram Paulo Pedroso: Onde está o erro do juiz?

http://rd3.videos.sapo.pt/play?file=http://rd3.videos.sapo.pt/aWCBzS2SIhahWzoftzgZ/mov/1
Ainda a propósito da suspensão da progressão na carreira do juiz Rui Teixeira

Músicas para o Equinócio de Outono: Cannonball Adderley com Miles Davis

Cannonball Adderley com Miles Davis  – Autumn Leaves

Pensamento informático

Li na Wired Magazine que uma máquina chamada de Adão fez umas experiências e chegou a uma conclusão. Tudo sozinho. Como as máquinas pensam hoje em dia! Vendo bem, pensam muito melhor que eu, que faço montes de experiências e não chego a conclusão nenhuma. Um pouco à luz do “pensamento” das máquinas eu penso desta maneira:  abrir um documento do Word com um texto, por exemplo: “Este é o Aventar do Isaac a pensar sozinho.“, seleccionar este texto, fazer um cut, fechar o documento sem o gravar e apagar o ficheiro. Depois criar e abrir uma folha de Excel, fazer o paste do documento, gravar e fechar. Eu penso exactamente assim. O meu pensamento é precisamente “aquele bocado de nada” que fica na “memória”, mesmo já não havendo ficheiro nenhum, logo depois do copy e antes do paste. E aqui reside o problema principal. É que tenho um problema grave que acho que partilho com o resto das pessoas : às vezes esqueço-me de fazer paste. Às vezes, esqueço-me até de fazer copy. Às vezes, esqueço-me da célula de Excel onde fiz o paste. Muitas vezes, depois de fazer paste no documento Excel, esqueço-me de o consultar. Uma multiplicidade de falhas que se transformam em singularidade e que me tornam muito provavelmente único. Se a singularidade humana já é grave o suficiente, então a “tal” singularidade tecnológica é que me parece muito, muito preocupante. A máquina pensa sem falhas e é perfeita neste aspecto. É-lhe ordenado que pense perfeitamente e ela cumpre. Os cientistas querem ir mais longe e introduzir uma espécie de inteligência humana no pensamento das máquinas para elas serem mais como nós… e cometerem erros. Isto não me parece nada lógico. Se calhar o futuro não precisa mesmo de nós.

Músicas para o Equinócio de Outono: Léo Ferré

Léo Ferré – Chanson d’automne

a noite igual ao dia

Equinócio: instante em que o Sol, no seu movimento anual aparente, corta o equador celeste. A palavra de origem latina significa “noite igual ao dia”, pois nestas datas dia e noite têm igual duração.

No hemisfério norte começa agora o Outono. Também acaba o verão. Ambas as coisas me são agradáveis.

Termina a excitação que dilata os humanos, estendidos entre grãos de areia e metendo o corpo no mar como quem vai ao chuveiro.

Começa o espalhar das folhas pelo chão, o melhor tapete para os pés, sobretudo em dias de vento.

E a música abandona os tiques de engate veraneantes.

Os velhos deuses acordam no Outono. A celebração do fim de um ciclo é a festa do seu recomeço.

As melhores paixões vivem do Outono, e podem crer, a melancolia é o seu sublime condimento.

publicado em simultâneo

Nova sondagem: E se o Aventar tiver razão?

Há uma sondagem que está a decorrer há mais de uma semana e que já conta com mais de 900 votos. É a sondagem dos leitores do Aventar – basta olhar para a barra lateral direita do blogue, aqui mesmo ao lado.
Neste momento, o PS lidera com 31%, seguido do PSD com 26%. Se o Aventar tiver razão, nunca um Partido vencedor das Legislativas terá tido uma votação tão baixa. É a negação do voto útil, o fim da bipolarização, a vitória dos pequenos Partidos da Oposição.
Bloco de Esquerda e CDU aparecem na sondagem com 13%. Seria sensacional, os dois únicos Partidos de Esquerda conseguirem juntos 26%. Condicionariam inevitavelmente, mesmo sem irem para o Governo, a política nacional nos próximos anos. Quanto ao CDS, está com 9%, também um excelente resultado.
Se o Aventar tiver razão, o PS só consegue uma maioria absoluta no Parlamento com os votos dos dois Partidos de Esquerda. Porque só com um deles fica-se pelos 44% e o mais certo é não chegar à maioria. Tudo dependerá dos círculos pelos quais os deputados serão eleitos.
E se o Aventar tiver razão?

Joana Amaral Dias no «Gato Fedorento»

Joana Amaral Dias chegou e cumprimentou Ricardo Araújo Pereira formalmente. Mas depois, tratou-o por tu ao longo da entrevista e, no final, tudo terminou com um beijinho. Uma evolução que foi a da própria Joana Amaral Dias: nervosa de início, terminou muito mais à vontade.
Quanto ao que foi dito, há uma frase que marca toda a entrevista. Acerca do convite recusado para fazer parte das listas do PS, a jovem professora universitária disse sem rodeios que José Sócrates não está habituado a ouvir um «não» e que tem dificuldades em lidar com o contraditório. Com todas as letras, assume o voto no Bloco da mesma forma que assumiu, há dois anos, o voto em Mário Soares.
A propósito das relações entre Sócrates e Cavaco, terminou com uma curiosa comparação: estão bem um para o outro. Se um é a fechadura, o outro é a chave. Pelo que pareceu, Sócrates é a chave que quer penetrar Cavaco, a fechadura.
Engraçado! Pelo que se tem visto no caso das escutas, pensei que era Cavaco que queria penetrar Sócrates!

Músicas para o Equinócio de Outono: Yves Montand

Les feuilles mortes, Yves Montand

Basicamente

O PS foge do BE.
O BE diz que foge do PS.
O PC não quer nem falar do PS.
O PSD atira o BE para o colo do PS.
O CDS saltita “estou aqui” gritando “cuidado com o BE”.
E no meio disto tudo a malta olha e pergunta: “O desemprego?”

Cartazes para as Autárquicas (Rio Tinto)

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Marco Martins (actual Presidente), PS, Junta de Freguesia de Rio Tinto, Concelho de Gondomar

O Outono que nos bate à porta

Outono, Outono… Outubro, mês de festa.

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E para todas as idades

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Honduras: o desespero dos golpistas

Acabo de receber este email de Fabricio Estrada, poeta hondurenho, testemunho vivo e directo do que também sabemos via agências internacionais:

Me encuentro en un edificio cercano a la Embajada de Brasil junto a 30 compañeras y compañeros, la mayoría integrantes de Artistas del Frente Nacional Contra el Golpe de Estado.

Nos avocamos a este lugar para descansar, manteniendo la conciencia de que de un momento a otro el ejército y la policía entrarían al perímetro donde alrededor de 5,000 personas nos encontrábamos para darle protección al Presidente Manuel Zelaya.

Atacaron a las 5:45 am con fusilería y lacrimógenas. Mataron a un número indeterminado de compañeros de la primera barricada al final del Puente Guancaste. Rodearon y atacaron la barricada del puente de La Reforma.

Haciendo cálculos aproximados, el operativo contó con alrededor de 1,000 efectivos policiales y militares.

Arrinconaron y golpearon. 18 heridos graves en el Hospital Escuela. Siguen persiguiendo en el Barrio Morazán y en le Barrio Guadalupe a los bravos estudiantes que anoche organizaron las precarias barricadas.

En este momento son las 8:00 am. Frente a la Embajada de Brasil han colocado un altoparlante con el himno nacional a todo volumen mientras catean las casas aledañas a la Embajada. Lanzaron bombas lacrimógenas dentro de la Embajada. El Presidente continúa en su interior amenazado por los golpistas que ya argumentaron a través de los medios sus razones “legales” para proceder al allanamientos.

Miles de personas que se dirigían hacia Tegucigalpa han sido retenidas en los alrededores de la ciudad. La ciudad está completamente vacía, fantasmal. El toque de queda fue extendido para todo el día.

La represión contra los manifestantes indefensos fue brutal. En varias ocasiones Radio Globo y Canal 36 han sido sacados del aire.

Cientos de presos.

Estamos aislados.

Aquí estamos el núcleo principal de los organizadores de los grandes eventos culturales en resistencia: poetas, cantautores, músicos, fotógrafos, cineastas, pintores y pintoras… humanos.

Músicas para o Equinócio de Outono: Edith Piaf

Edith Piaf – Autumn Leaves (Les Feuilles Mortes)

Louçã não é mentiroso!

O PSD fala de um acordo secreto entre José Sócrates e Francisco Louçã com vista ao pós-Legislativas.
José Sócrates diz que é mentira e eu fico na mesma, inclinado até a pensar que se calhar é verdade (a relação patológica do primeiro-ministro com a verdade até arrepia). Mas Francisco Louçã também desmente. E se Louçã diz que é mentira, então é mesmo mentira.
Por uma vez, parece-me que José Sócrates está a falar verdade… Até porque continuo a pensar que o primeiro-ministro faria mais depressa uma aliança com Paulo Portas.

Músicas para o Equinócio de Outono: Antonio Vivaldi

Antonio Vivaldi – Le quattro stagioni, L’Autunno

Cavaco no seu melhor estilo

Assistimos a mais um episódio igual a tantos outros que se passaram quando Aníbal Cavaco Silva era Primeiro-ministro: “Quem me incomoda, Rua!”.
Este afastamento não é mais do que um episódio revivalista de outras alturas. Os peões dão a cara e se correr mal a culpa é deles. Esta falta de solidariedade entre pares é do pior que existe na política.
A juntar a este facto que por si só é grave, se juntarmos o momento de campanha eleitoral que vivemos torna tudo muito mais suspeito. Não tendo da vida uma visão conspirativa, não posso deixar de referir que a demissão anunciada de Fernando Lima a 5 dias das eleições só tem uma leitura possível – Cavaco Silva não quer que o PSD ganhe as eleições.
O que justifica esta lógica?
1. Cavaco quer ser reeleito Presidente da República e para o seu final de primeiro mandato dá muito mais jeito ter como Primeiro-ministro José Sócrates;
2. O Presidente da República só existe politicamente se conseguir fazer oposição ao Governo. Foi assim com Mário Soares e Jorge Sampaio;
3. Aníbal Cavaco Silva apenas teme a frente de esquerda, ou seja, o Candidato do consenso Manuel Alegre. Se Cavaco não se demarca politicamente do governo não capitaliza votos no chamado “centrão”. Só o conseguirá se for eleito um governo frágil do PS.
Fernando Lima serviu, como outros na década de 90, os objectivos calculistas de Cavaco Silva.
Tudo isto pode não fazer sentido, mas se assim for, Cavaco terá que dar explicações públicas esta semana, ainda antes das eleições legislativas. Para já o árbitro (Cavaco Silva) assinalou uma grande penalidade a favor de José Sócrates (na minha opinião a falta foi fora da área). O Jogo estava empatado.
Fernando Lima um como tantos outros

Piquenas e médias empresas asfixiadas


As piquenas e médias empresas andam asfixiadas pela crise – quem o diz é Manuela Ferreira Leite numa visita a Guimarães. E diz também que os portugueses andam asfixiados pela falta de liberdade.
Os exemplos são elucidativos: quando se perseguem empresários por não irem a determinadas reuniões, quando se apoiam empresários em função das suas posições favoráveis ao Governo, quando há 12 mil funcionários com queixas na Provedoria de Justiça “por se sentirem com retaliações”, ou quando as pessoas não têm a sua liberdade assegurada. Estas são as denúncias que o PSD promete repetir “até à exaustão”.
Todos sabemos que isto é verdade. Quem não se lembra do caso do professor Charrua, da directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho, do envio de polícias às escolas e delegações sindicais de professores, de Dalila Rodrigues, da Associação de Professores de Matemática, dos discursos de Sócrates nas candidaturas do IEFP, da TVI!
A surpresa, neste caso, é a construção de uma tão grande teia em tão pouco tempo!
Claro que, se tivesse na mão uma maioria absoluta, o PSD faria exactamente a mesma coisa ou pior. Como fez no tempo de Cavaco Silva. São os perigos das maiorias absolutas. A asfixia.

O Outono socrático

O desemprego vai aumentar, apesar do abrandamento da crise global. Aliás, é improvável uma forte recuperação económica a curto prazo. Muito menos em Portugal por causa da nossa falta de competitividade e de gastarmos acima dos recursos, recorrendo ao endividamento externo. Já antes da crise nos estávamos a afastar da média europeia de riqueza. (Publico -Sarsfield Cabral)

Isto após 11 anos de governação socialista nos últimos 14 ! Eu dou o meu voto não a quem ande a distribuir o que não temos ( de forma profundamente injusta como se vê pelo alargamento da injustiça ente ricos e pobres) mas aos que se entregarem a criar riqueza, aos que se interessarem por quem trabalha, por quem inova, por quem investe, por quem cria bens e produtos transaccionáveis para substitur importações e exportar.

O PS já mostrou que não está na sua matriz de governação dedicar-se aos problemas reais do país.

Músicas para o Equinócio de Outono: Lee Hazelwood

Lee Hazelwood – My Autumn’s Done Come (vídeo de Philip Bloom)

Músicas para o Equinócio de Outono: Zeca Afonso

Zeca Afonso – Balada de Outono

Vitorino: A voz do dono

Para António Vitorino, o Presidente da República tem de se explicar rapidamente, antes ainda das eleições. Para Pacheco Pereira, também.
É impossível não pensar que, tanto para o protagonista do caso Eurominas como para o intelectual de Marmelais, são as vozes do dono a falar. José Sócrates e Manuela Ferreira Leite não podem dizer o que lhes apetece: um verberar o comportamento do Presidente, a outra apelar para que ele diga que houve mesmo escutas.
É assim a política à portuguesa. Há os donos e há sempre aqueles que fazem a sua voz.

A máquina do tempo: a minha rua

douradores

A Rua dos Douradores é, sem dúvida, uma das mais feias da quadrícula pombalina da Baixa, mas tem para mim o encanto de os meus avós paternos, terem ido para ali viver em 1913, ali nasceu o meu pai, nasci eu e um dos meus filhos. Por isso a nossa máquina do tempo vai percorrê-la e tentar fazer um levantamento dos motivos que a tornam numa das ruas de Lisboa mais ligadas à história da literatura. Na verdade, para além das circunstâncias familiares que me ligam à rua, há ali muita história acumulada, sobretudo no século XIX e no início do século XX. Antes do terramoto também, pois segundo o olisipógrafo Gustavo de Matos Sequeira, num capítulo sobre os «pátios das comédias» existentes em Lisboa antes do sismo, publicado na «História da Literatura Portuguesa» Ilustrada (dirigida por Albino Forjaz de Sampaio), situa no local onde seria implantado o prédio em que nasci, entre as ruas dos Douradores, da Assunção e da Prata, um desses pátios onde se representava Gil Vicente, Camões, António Ferreira, Lope de Vega…

Como se sabe, douradores eram os artífices que douravam, ou seja, que revestiam a folhas de ouro, livros quadros e outros objectos, embelezando-os ou restaurando-os. Era um trabalho delicado que exigia uma longa aprendizagem, uma função que, pela sua minúcia e nível de especialização, ficava a meio caminho entre o ofício e a arte. Cristóvão Rodrigues de Oliveira, no seu «sumário» sobre «Lisboa em 1551» regista 39 destes profissionais, enquanto João Brandão em «Grandeza e Abastança de Lisboa em 1552» nos dá conta de «15 tendas de douradores». Calculando de dois a três «criados» em cada uma delas, estima num máximo de 45 os «douradores» a trabalhar na cidade por aqueles anos, pelo que o número de Oliveira, cabendo no intervalo da estimativa de Brandão, me parece mais rigoroso. A maioria destas tendas situavam-se na Rua Nova dos Douradores, na freguesia de São Nicolau. Como se sabe, o grande terramoto de 1755 destruiu toda esta zona da cidade e na toponímia da cidade que Eugénio dos Santos concebeu, renasceram alguns dos velhos topónimos, ainda que as novas vias não coincidissem espacialmente com as suas homónimas anteriores à catástrofe. Mas não podiam ficar muito longe. Contudo, seria a literatura e não a arte de douração ou restauro a dar notoriedade à rua.
Em tempos mais recentes, menciono apenas alguns nomes da longa lista dos moradores ou frequentadores ilustres e das personagens de ficção que por ali circularam: João de Deus (julgo que em 1868) viveu ali num pequeno quarto alugado, cuja localização não consegui encontrar. Antero de Quental que, no ano de 1872, ali residiu no nº.135, 4º andar, Aquilino Ribeiro, e Fernando Pessoa, que trabalhou por ali perto (no 1º andar do nº 44 da Rua dos Fanqueiros) e frequentava vários estabelecimentos da rua, nomeadamente o restaurante «Antiga Casa Pessoa» (que nada tem, além do nome, a ver com o poeta). Em 1913 almoçava nesse restaurante com grande frequência. Num largo constituído pelo cruzamento da Rua dos Fanqueiros com a de São Nicolau, a poucos metros da esquina com a Rua dos Douradores, ficava o posto do Vale do Rio, do Abel Pereira da Fonseca, onde o fotografaram em «flagrante delitro». Ali situou o seu Livro do Desassossego, uma das mais belas obras da literatura portuguesa do século XX: «Se eu tivesse o mundo na mão, trocava-o, estou certo, por um bilhete para a Rua dos Douradores».

flagrante delitro

Para não falar de Alfredo Costa, um dos regicidas, que morou no nº. 20, 4º, e aí teve o seu negócio de representações comerciais. Falando do Regicídio e da Carbonária, num escritório comercial da Rua dos Douradores, junto à esquina com a Rua de Santa Justa, António Maria da Silva, que viria a chefiar o Governo em diversos executivos da I República, na qualidade de elemento da Alta Venda, órgão máximo da Carbonária Portuguesa, ia sendo surpreendido pela polícia quando presidia à cerimónia de catorze iniciações. Não esqueçamos também que, nesta rua, situou Eça de Queirós a novela Alves & Cª. Gervásio Lobato, no seu romance burlesco «Lisboa em Camisa» põe as suas personagens por ali perto, moram na Rua dos Fanqueiros, mas o baptizado em torno do qual gira a intriga, realiza-se na Igreja de São Nicolau que, embora com o escadório e a fachada na Rua da Vitória, tem um dos alçados na Rua dos Douradores. O meu pai frequentou a escola da Igreja, escola cuja entrada se fazia precisamente por uma das portas desse alçado. Muito recentemente, outro autor escolheu a Rua como cenário de um romance. Refiro-me a «Boa Noite, Senhor Soares» (2008), de Mário Cláudio, uma ficção em torno de Bernardo Soares e do seu «Livro do Desassossego».

Os galegos que, fugindo à terrível crise que a Galiza atravessou na segunda metade do século XIX, emigraram em massa para Portugal (e não só), fixaram-se em grande parte em Lisboa. As ruas menos «chiques» da Baixa eram o seu território preferido – moços de fretes e aguadeiros, os menos afortunados, comerciantes ou empregados nos comércios de patrícios, outros. Conforme diz Aquilino Ribeiro em «Lápides Partidas», um aguadeiro de Porriño dizia numa carta para a mulher e referindo-se a Lisboa e aos lisboetas «A terra é boa, a xente é tola; a auga é deles e nós vendemoslla». Contudo, o negócio preferido dos galegos eram os restaurantes e as casas de pasto – O João do Grão, na Rua dos Correeiros, o Bessa e o Pessoa na Rua dos Douradores são apenas alguns desses negócios que ainda hoje estão nas mãos de galegos ou de portugueses deles descendentes. Na minha escola primária, a nº. 44 da Rua da Madalena, tive alguns colegas de ascendência galega.
Num agradável serão, numa consoada, de há mais de quarenta anos, na acolhedora casa de Luís Roseira em Covas do Douro, Manuel Mendes, um grande escritor, injustamente esquecido, e um inesquecível conversador, quase me garantiu que Camilo Castelo Branco residira episodicamente no prédio onde nasci. Não pude confirmar esta convicção do autor de Pedro. Relacionando Camilo com a Rua dos Douradores, apenas sei que ali, no nº 29, morreu, em 1835, seu pai Manuel Joaquim Botelho Castelo Branco. Mas a minha lista de personalidades e eventos de algum modo ligados «à minha rua» é mais extensa. Ficará talvez para outra ocasião e para outro local desfiá-la por completo.

Escutas: O português médio já se esqueceu

Manuela Ferreira Leite diz hoje que a campanha do PSD não fica prejudicada pelo caso das escutas. Claro que não fica, da mesma forma que a campanha do PS não parece ter ficado prejudicada com o caso, muitíssimo mais grave, do Jornal de Sexta da TVI.
O português médio tem pouca memória. Aliás, o típico português, que não lê blogues nem jornais e que se limita a ver o Telejornal, como aperitivo para as suas novelas, nem sequer chegou a perceber muito bem o que aconteceu.
Portanto, arquive-se e venha daí outro caso, se possível atingindo agora o PS. Para que Francisco Louçã, aquele que não vai às peixeiras, goste ainda mais da campanha.

Músicas para o Equinócio de Outono: Astor Piazzolla

Astor Piazzolla – Otoño Porteño

Músicas para o Equinócio de Outono: Manu Chao

Manu Chao – L’Automne est làs

O horrível Outono começa hoje

Começa hoje aquela que, para mim, é a mais horrível estação do ano, o Outono. É o regresso ao trabalho, o regresso à confusão e ao trânsito. E os dias sempre a ficarem mais pequenos. Vêm as primeiras chuvas (depois a gente habitua-se), cada vez menos luz, a mudança de hora e às 17 horas já é de noite.
Prefiro o Inverno. É frio, mas a roupa resolve o problema. Os dias são cada vez maiores. Finalmente a luz! Aquele sol de Inverno, que se mistura com o frio gélido a cortar-nos a face (e o resto do corpo quentinho), é delicioso. E com a Primavera, os dias atingem o seu máximo. Muda a hora e às 20 horas ainda é de dia.
Também não gosto do Verão. Demasiada gente em férias, demasiada gente em todo o lado, muita confusão e, sobretudo, muito calor. Calor a mais.
Dá bonitas imagens, o Outono, as folhitas a cair e tal? Dá sim senhor. Mas para quem tem o azar de viver rodeado de betão, as imagens são o que menos interessa.

Ofereço: Sugestão para reportagem

Estamos em eleições. É completamente impossível que haja uma pessoa neste país que não saiba que estamos em eleições. Alguém que regressasse agora, ao fim de dois anos numa viagem à volta ao mundo, a primeira palavra que ouviria seria “política” e saberia logo que estamos em eleições. Liga-se a televisão e é só política, política, política. No ar, debates políticos, declarações políticas, políticos a andarem de carro e até políticos a tentarem fazer piadas. Nota-se que começa a ser cada vez mais difícil preencher tanto espaço de antena dedicado à politica. O que irão fazer a seguir? Arranjar uma forma de fazer um jogo de futebol com políticos em coligação? Vê-se de tudo, mas acho que não se vê nada. Numa altura de reportagens, sondagens e estudos exautivos a tudo e mais alguma coisa, eu gostava de ver, por exemplo, um estudo sobre o número de pessoas que sabe o significado de palavras como demagogia, democracia, marketing ou retórica. Só para deixar de parte, por momentos, o “fogo de artifício”, as peixeiras e o Salazar. É que o homem ainda ganha como aconteceu no Concurso dos Grandes Portugueses.

Para não ser só “dizer mal”, vou “oferecer” uma sugestão: Que tal uma boa reportagem sobre o marketing político? Aposto que existe muita gente que gostaria de ver. Daria um bom share, ou lá como é que se chama à medida das televisões. Acho que era até, bastante importante, já que t-a-n-t-o se fala de política e eleições.

Para responder a questões como: Qual a importância e valor das sondagens? Como funciona uma empresa de sondagens? Como se organiza um comício? Quem trata da imagem dos políticos? Quem trata da imagem dos partidos? Quem trata da imagem das campanhas? Qual a sua importância? Pode influenciar na escolha do voto?

Música para o equinócio de Outono: Manic Street Preachers

Manic Street Preachers – Autumn Song

Músicas para o Equinócio de Outono: Ellegarden

Ellegarden – The  Autumn  Song

Músicas para o Equinócio de Outono: Joan Manel Serrat

Joan Manel Serrat – Balada de Otoño