O MEU PRIMEIRO DIA EM PORTUGAL: Em dia de reflexão pré-legislativas

Um contributo metafórico para o dia da reflexão…


Era 3 de Maio de 1981. As aulas da minha universidade britânica, em Cambridge, tinham acabado. Fui convidado pelo ISCTE, hoje IUL (Instituto Universitário de Lisboa), para dar aulas de Antropologia. O ano académico em Portugal acabava quando acabava. As horas de aula eram infinitas. O mínimo era uma hora e meia. Era uma canseira, principalmente para quem estava habituado a ler aulas de, exactamente, 45 m, por outras palavras, 15 páginas. Estava habituado ao metro de Londres – em Cambridge andávamos de bicicleta – metro no qual, devo confessar, sempre me perdia. Cambridge é pequena, Londres imensa e Lisboa um quarto dessa cidade de doze milhões de habitantes.
Estava à minha espera uma querida amiga, a hoje Professora Doutora Karin Wall, uma grande amiga até ao dia de hoje. Dava aulas em minha representação, enquanto eu chegava. A seguir ao aeroporto, fui acolhido por um casal muito amigo, anglo-lusitano. Não tinha que me esforçar a falar apenas com consonantes, as vogais eram comidas. A minha primeira aula foi numa terça-feira, 4 de Maio, às 10 da manhã. Aula escrita, mal acabei de ler convidei os discentes para um debate no meu gabinete, quatro, por vezes, quinze minutos cada. Entre a língua galega, que bem conhecia por causa do meu trabalho de campo, o francês, base do meu ensino em Paris e o obrigado inglês, a minha língua mãe, fui falando com eles. Em quatro idiomas. A minha sorte foi que os estudantes estavam bem preparados para entender este Doutor que conseguia explicar-se de um modo cansativo, mas certo.
Foi o dia em que inaugurei os debates de gabinete ou tutorias. Bem sabia eu que mais de 45 m era impossível para qualquer um fixar a atenção e lembrar. Reiterar as ideias em debate, com base nas folhas escritas com a síntese da aula, como costumava fazer em Cambridge, operou o milagre tipo Adágio de Beethoven, Für Elisa. Os discentes eram capazes de ler antes, sintetizar numa folha, debater e provar as suas hipóteses.
Desse primeiro dia, duas situações caricatas fazem-me lembrar a importância de nós, docentes estrangeiros, ensinarmos a aprender. Os discentes tinham por hábito dizer que não acreditavam na leitura feita, perguntava-lhes qual o motivo e o autor lido para comparar e provar tal hipótese. Começaram, como consequência, a ler sempre dois autores que escreviam de forma diferente sobre a hipótese da aula, matéria para o debate em tutoria. Os meus colegas do, nesse tempo, pequeno ISCTE, ficaram curiosos e falaram de imediato comigo para se inteirarem de como se operava esse milagre dos estudantes lerem.
Expliquei de forma sintética: é uma conversa com livro na mão, de 15m, que pode ser repetida em tempo e hora que o estudante necessitar, com um espaço de dois dias entre aula em sala e tutoria em Gabinete. As ideias germinaram e, até ao dia de hoje, é praticada esta forma de processo de ensino – aprendizagem, como tenho escrito em vários textos meus. O problema era que não havia Biblioteca. Fundámos uma desde esse primeiro dia. Ao terminar o dia tão cheio de curiosidades, sai à rua, como habitualmente, às 17 horas. Os meus horários britânicos eram sagrados. Karin Wall estava à minha espera para me ensinar o percurso do Metro, que devia medir 20 metafóricos centímetros, comparado os meus hábitos de Londres e Paris. Era um metro de brincar ao longo das três linhas que usava.
Foi também nesse primeiro dia que aprendi que os portugueses andavam pelas ruas da amargura. Todos os docentes cumprimentavam, perguntavam como estava e a minha resposta habitual, até hoje, era, muito bem, muito obrigado – uma tradução do meu britânico: I’m well, thank you. Um colega que mais tarde examinei para as suas provas de Agregação, disse-me que era uma péssima má educação. Em Portugal, quem estivesse bem, corria o risco de ganhar a inveja dos outros que andavam sempre doentes, ou ser-lhe solicitado empréstimos e outras explicações que não entendi pela falta de hábito. Na Grã-Bretanha, bem ou mal, é natural dizer-se que se está bem. As nossas vidas eram privadas e não uma forma pública de entregar as tristezas aos outros, que mal conhecíamos. O meu costume era para eu optar, sem a colaboração de mais ninguém: era a minha vida de adulto.
A rua pecava pelos 40º de calor do dia, imenso para quem vem de 0º graus, normalmente, excepto nos verões, onde os 15º eram sufocantes.
E foi assim que a pouco e pouco me fui adaptando à língua e hábitos lusos: muita gentileza pública, muito dizem por ai que, mas só nas costas do coitado de quem falam.
Suficiente para um dia de reflexão pré-eleitoral. Bach e Beethoven cantam para mim, enquanto espero pelo dia e hora de sufragar.
Com lembranças, como eu me enganava desde esse primeiro dia para dizer com licença, deixo o leitor pensar nos avatares de um cidadão que transporta em si mais do que cinco nacionalidades e seis línguas.

Paulo Bento e as cenas tristes do costume

Pareceu-me uma vitória justa, apesar das confusões que se geraram no final. O Porto entrou a ganhar, com um golo que não vi, e parece-me que esteve aí a chave da vitória. Nos minutos seguintes, podiam ter entrado mais golos na baliza do Sporting.
Na segunda parte, a equipa de Alvalade entrou ao ataque, chegou a dominar em alguns períodos mas nunca criou grandes oportunidades de golo. Nem o Porto, à excepção do «penalty» justíssimo que Falcao acabou por falhar. Jesualdo diz que a partir daí o jogo mudou. Não percebo por quê.
Até ao fim, o Sporting continuou sem criar oportunidades. Com a expulsão de Miguel Veloso, num momento em que já não havia grande coisa a fazer, Paulo Bentou entrou em campo e desatou a fazer as cenas do costume. O próprio palavreado, pelo que foi possível ler nos lábios, também foi o do costume.
Ou muito me engano ou o eterno segundo arrisca-se a ser este ano o terceiro ou o quarto…

Gargantas Fundas

Linda Lovelace foi a primeira e a melhor de todas ou pelo menos a mais autêntica. Nas garras da Mafia que naquela altura controlava a pornografia, e que se calhar continua a controlar, com um filme de baixo custo (20 000 dólares) facturou milhões e deu milhões a ganhar, com um enredo simples como uma anedota bem contada.

Depois tivemos gargantas fundas que trouxeram para a ribalta casos e factos, com enredos muito complexos e importantes e que ajudaram a uma sociedade mais livre e a um jornalismo mais responsável. Desde Watergate à Mónica do Gabinete Oval há de tudo, a maioria não passa de crimesinhos rasteiros de interesses, de manipulação de quem lê, mostrando pouco para esconder muito, criando factos que servem primeiras páginas.

Agora temos “trombones” dentro do “fosso da orquestra” a tocar ao arrepio da partitura, em vez da indicação de sinais, de evidências para iniciar o caminho, entregam-se pseudos factos, dossiers, que podem ter a leitura que se lhes quer dar. Para uns são crimes de deontologia para outros direito de informar.

Não levantam o rabinho da cadeira, tudo se resume a uns faxes, a uns e-mails que a verdade não merece mais, contactos prévios nem pensar que se podem perder as “notícias” tão laboriosamente conseguidas e, na véspera, tudo tentou para contactar mas não conseguiu, está aí a secretária a confirmar.

E depois a garganta canta ossanas no momento certo, tudo coincidências, tudo jornalismo.

É no que dá o dia de reflexão…

POEMAS DO SER E NÃO SER

O jardim que eu fiz para ti
tinha água sonhos e sol.
O jardim que eu fiz para ti
tinha noites de lua cheia
não tinha palavras carnívoras
nem ratos comedores da razão.

Os dedos tocavam as flores…
sem perigo.

O dia nascia de ti
e da noite vinha uma promessa de eterno deleite.
A lua deitava-se suavemente no teu regaço
como desejo contido
que sempre haveria de florir
no jardim que um dia fiz para ti.

Os dedos tocavam as flores
que se abriam de prazer.

                          (adão cruz)

(adão cruz)

ETICA E EDUCAÇÃO (14)

ETICA E EDUCAÇÃO (14)
Considerações sobre Ética e Educação para além da Escola

Educar para o desenvolvimento e para a mudança obriga à aprendizagem da comunicação, da arte de se fazer ouvir e entender. Muitas pessoas com grandes responsabilidades pedagógicas não sabem falar, não sabem escrever, não sabem sentir nem comunicar correctamente e acham que isso é de somenos importância. Creio que já disse isto no Aventar, mas aquando de uma reunião médica na Corunha, foi-me oferecido um livro intitulado “El artículo científico en Biomedicina” da autoria do Dr. Hernandez Vaquero, professor de ortopedia e traumatologia em Oviedo, grande investigador, galardoado com vários prémios. Ao iniciar a leitura do livro, deparei com um capítulo intitulado “Los errores e horrores del lenguage”. Aí ele diz que a linguagem é de fundamental importância e que o conhecimento das suas regras é dever do médico, do investigador e do professor. Reconhecendo que a clareza deve tomar o lugar da retórica e do hermetismo, denuncia o pouco valor dado pelos autores, editores, investigadores, médicos e professores à correcção na comunicação oral e escrita. E conclui dizendo que a exigência de qualidade não é uma questão parcelar. Quem não é rigoroso na forma de comunicar não pode ser rigoroso na forma de investigar, na forma de sentir e na forma de ensinar. A corrupção da língua e do pensamento, a negação da expressão e do arranjo linguístico como factor importante da nossa própria estrutura, são parte integrante da mediocridade. São de bradar aos céus, como todos sabem, as constantes calinadas de locutores, apresentadores e jornalistas, para quem a linguagem é o seu instrumento de trabalho. É muito grave esta espécie de desatenção à palavra que invadiu e domina o nosso tempo, esta total falta de desejo de elevação com que a usamos. O culto da palavra é, de facto, um indispensável caminho educativo. (Continua)

                          (manel cruz)

(manel cruz)

Um «post» típico de um Dia de Reflexão

Hoje foi Dia de Reflexão.
O Dia de Reflexão é um dia muito chato, porque não se pode escrever sobre as eleições. Por isso fui comer a um restaurante. Era um restaurante muito bonito e os senhores eram muito simpáticos. Comi muita comida. A comida era muito boa. Estavam muitas pessoas no restaurante.
O restaurante ficava perto do mar. No mar, estavam muitas pessoas. Mas não estavam a tomar banho, porque a água estava muito fria. Mas estavam na areia, porque estava sol. A areia é uma coisa muito nojenta que me faz muita impressão nos pés. Eu não gosto de areia.
Depois, fui a uma esplanada beber alguma coisa. Era uma esplanada muito bonita. Tinha muitas coisas, muitas mesas e cadeiras. Da esplanada, via-se o mar. O mar estava muito agitado e devia estar muito frio, porque não estava lá ninguém (não sei se já disse isto).
Quando acabei, vim embora. Cheguei a casa e sentei-me no sofá a ver televisão. Na televisão, estava a dar um filme. Era um filme muito bonito. Mostrava coisas muito bonitas, raparigas que gostavam de rapazes que gostavam de outros rapazes. Isso achei muito nojento.
Quando acabou o filme, fui ler o jornal «Público». O jornal «Público» é um jornal muito interessante que, durante o dia, deu notícias muito interessantes. Aproveitei e fiz um «link» para o jornal «Público». Assim, tenho mais leitores para lerem o que eu escrevi sobre o meu Dia de Reflexão. O Dia de Reflexão é um dia muito chato.

BI-QUADRA DO DIA

Não deixes ao deus dará
Toda a corja de imorais
Se os não metes na cadeia
Todos dias nascem mais.

Crescendo como os coelhos
No meio da corrupção
Qualquer dia são aos montes
Na noite de S. João.

E se perdessem os dois?

Este é o jogo que mais me agrada durante toda a época! Só é pena não poderem perder os dois!
Olho para ambos (sim, os dois) e parece-me uma espécie de Sócrates – Ferreira Leite.

scpfcp

O julgamento da “jazz lady”

A edição de hoje do Público conta a história de uma professora inglesa, de 26 anos, que acaba de ser condenada a 15 meses de prisão efectiva por ter mantido relações sexuais com uma aluna de 15 anos.  A jovem professora é uma trompetista promissora, foi uma criança prodígio com grande talento musical, é membro do Exército de Salvação, e dava aulas numa escola de raparigas onde as alunas lhe tinham dado a alcunha de “jazz lady”. A aluna estava a viver o divórcio dos pais e foi-se aproximando pouco a pouco da professora, fazendo dela sua confidente, levando-a a conhecer os seus pais. A certa altura, os pais autorizaram a adolescente a viajar para Paris com a professora, pensando que ficariam alojadas na casa da irmã mais velha desta. Soube-se agora que ficaram no mesmo quarto de hotel e que participaram na Marcha do Orgulho Gay. Soube-se igualmente que chegaram a manter relações sexuais nas casas do pai e da mãe da rapariga na sua ausência. No Reino Unido, as relações sexuais são legais a partir dos 16 anos mas, no caso de se tratar de relações entre professores e alunos, estes deverão ser maiores de 18 anos. Nesta história em particular, a aluna manifesta ter agido de livre vontade e ambas confessam-se apaixonadas. O juiz não proibiu futuros contactos entre ambas por entender que isso seria excessivamente cruel para a rapariga. O título do texto do Público é, de resto, “E quando o juiz disse que podiam voltar a ver-se, a professora sorriu”. O artigo levanta várias questões pertinentes acerca da dificuldade de estabelecimento de fronteiras numa relação entre professor e aluno que se espera que seja muito mais próxima do que era há décadas e na qual muitas vezes o professor é escolhido como confidente e amigo.

Esta professora, uma jovem loira, bonita, talentosa, parece recolher uma simpatia entre a opinião pública que alguém do sexo masculino ou despojado destes atributos provavelmente não teria. Confesso que fico sempre estarrecida quando vem a público uma destas relações amorosas ocultas entre um adulto e um adolescente. Os sentimentos, por mais verdadeiros, do adulto não o ilibam. Será sempre sua a responsabilidade de impor um limite, de afastar-se, de não alimentar expectativas, de sacrificar os seus interesses, de não manipular. O consentimento por parte do(a) menor, a correspondência de sentimentos, o estabelecimento de uma relação baseada na necessidade de afecto e compreensão, não justificam aquilo que continua a ser um abuso por parte do(a) adulto(a).  Curiosamente, estes casos continuam a ser avaliados de forma mais negativa quando o adulto é do sexo masculino (e ainda mais se o menor também o for). Talvez porque se vê ainda o interesse masculino de forma mais lasciva, ao passo que o das mulheres seria de natureza mais afectiva. Ainda que assim fosse, e é sexista pensá-lo, o dano não tem porque ser menor. A literatura, o cinema, a música já nos contaram muitas histórias semelhantes e de tantas vezes as escutarmos por vezes parecemos esquecer a profunda assimetria destas relações. Nenhum adulto deve ter este poder.

A VINDA DO PAPA A FATIMA

Comunicado sobre a vinda do Papa a Fátima

A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) respeita, e defende, a liberdade de crença de todos os religiosos, não se opondo à visita de qualquer líder religioso enquanto tal. Mas é preocupante que a visita de Bento XVI a Fátima, em Maio de 2010, seja palco de manobras políticas, com a cumplicidade do Estado, violando a laicidade a que este é obrigado e desrespeitando crentes e não crentes.

A visita de um papa católico é assunto da Igreja católica e não matéria do Estado português. Num Estado laico o Papa é apenas um líder religioso. Que o cidadão Cavaco Silva se regozije é um direito; que o chefe de Estado de um País laico exulte com a visita do seu líder espiritual é uma interferência nefasta da política na religião, e vice-versa; e que essa visita tenha sido anunciada fora de tempo, contra a vontade da própria Conferência Episcopal, é uma politização inadmissível daquilo que é apenas matéria de crença pessoal.

Fátima é um dos santuários mais importantes e rentáveis da Igreja católica. Estes aspectos de fé e gestão religiosa justificam a visita do Papa, mas é lamentável que esta deslocação seja considerada – como disse o bispo Carlos Azevedo – «uma visita de profundo significado, também por ser o centenário da implantação da República». Fátima foi um instrumento da propaganda contra a República e contra o socialismo. Os milagres tentados noutros locais do país acabaram adjudicados numa região onde a religiosidade e o analfabetismo os facilitava. E, hoje, a crença nas piruetas do Sol, passeios da Virgem pelas azinheiras e aterragem de anjos na Cova da Iria são uma opção pessoal, motivada pela fé e não por provas objectivas, e sem qualquer relação com a nossa forma actual de governo.

Associar a visita do Papa ao Centenário da República é uma afronta à nossa democracia, que historicamente foi implantada, e muitas vezes defendida, contra a vontade da Igreja Católica. Viola também a neutralidade a que o Estado é obrigado em matéria de fé, imiscuindo-se um órgão de soberania em algo que é estritamente do foro pessoal de cada cidadão. E, finalmente, atenta contra a liberdade de crença e não crença de cada um, ao envolver os nossos dirigentes, e a própria República, na ligação a uma religião em particular.

A AAP não pode deixar de repudiar a associação do Estado português à visita de um líder religioso e o seu aproveitamento político numa tentativa de manipular a nossa democracia.

Associação Ateísta Portuguesa – Odivelas, 25 de Setembro de 2009

Carlos Esperança

(Presidente da Direcção)

TM – 917322645

TotoEleições lll

Com facciosismo :

PS : 32%

PSD : 29%

BE : 14%

CDU : 10%

PP : 8%

Pode acontecer o BE fazer maioria com o PS ou com o PSD, como o BE não vai para o governo, a chave fica na AR , maioria absoluta parlamentar de dois partidos. Pode ser que não seja tão mau assim, se houver sentido de Estado, é a democracia a funcionar, à procura de consensos, de soluções para os grandes problemas nacionais.

Sete modestas propostas para correcção da lei eleitoral

Este período de campanha eleitoral (doravante designado apenas por o período) não correu mal, porque podia ter corrido pior. É altura de fazer um balanço sério, encontrar os dislates, e adequar a legislação à realidade. Desta forma as coisas podem correr melhor, mesmo que corram a passo, e ficamos todos a ganhar, mesmo perdendo. Segue-se o meu modesto contributo, de um leigo em leis mas cidadão empenhado.

1. É inadmissível que durante o período surjam casos. Tipos que decidem chibar antigos camaradas, como aconteceu tanto no PSD como no PS, ou sair do partido, caso do PCP. Estas atitudes desviam a atenção dos eleitores dos planos de campanha traçados pelas agências, obrigando ao pagamento de horas extraordinárias ao pessoal que tem de lançar campanhas de desagravo, enviar cartas de protesto aos órgãos de comunicação social e encher as caixas de comentários dos jornais online.

Assim proponho que seja interditada a divulgação de todo o tipo de denúncias durante o período. Queixinhas só antes e depois, embora neste caso se possa sempre suspender o depois por 6 meses.

2. O Presidente da República deve estar inibido do poder de demitir assessores durante o período. E de dizer que só fala depois de contados os votos. O ideal seria mesmo inibir a Presidência durante o período, mas como é sabido os ideais são o que são pelo simples facto de o serem.

3. A necessidade de calar vozes incómodas na comunicação social antes do período leva alguns eleitores à suspeição, o que é feio. Resolvia-se o problema proibindo toda a comunicação social, mas aí não havia campanha. Assim, como a culpa nem é do órgão mas de quem o aproveita para fins impróprios, e dado que ainda temos alguns compromissos internacionais, todos os jornalistas que aborreceram o governo durante o mandato deverão gozar obrigatoriamente das suas férias durante o período. Em casos mais complexos o governo deve subsidiar uma viagem aos Pólos, Sara, Amazónia, Patagónia e outras zonas a distância confortável, de preferência sem acesso à net.

4. Para garantir a igualdade plena entre os candidatos não é admissível que uns, lá porque gostam, façam comícios, e outros, que não gostam, sejam obrigados a fazê-los. De resto o comício hoje em dia só serve para 2 minutos de televisão (2 minutos se for com o primeiro-ministro, 1 minuto para a oposição principal e 30 segundos para as oposições secundárias). Perante esta realidade afastei a ideia, fácil, de proibir os comícios, mas proponho a sua substituição obrigatória por comícios virtuais no Second Life. Tem a vantagem acrescida de se poupar nos combustíveis baixando as emissões de gases poluentes. E passa na televisão com muito mais pinta.

5. Já as arruadas (um neologismo, acabo de descobrir,  apenas encontro num dicionário arruadeira, “mulher que anda muito pelas ruas; mulher andeja” ou pior ainda “rameira, ambulatriz” sendo que ambulatriz era uma puta romana e uma palavra que a partir de agora enriquece o meu vocabulário em cerca de 634 euros) são mais complicadas. Por definição uma arruada tem bombos e povo, e meter o povo no Second Life não consta do choque tecnológico, que eu saiba, além de que o bombo como registo de um sintetizador não é a mesma coisa porque se pode baixar o volume perdendo-se o efeito de ensurdecimento pretendido. Continuem pois as arruadas, a campanha nas ruas, o banho de multidão, ou a banhada, conforme os casos. Evitemos é casos como este (um espontâneo interpelador que depois aparece noutras fotos menos espontâneas) criando o cartão de espontâneo, certificador de que o cidadão não foi enviado pela concorrência. Pode ser incluído no cartão de cidadão propriamente dito, tornando-se obrigatório passar o dito por um terminal móvel antes de se insultar, interpelar ou mesmo olhar o candidato nos olhos com cara de “se te apanhasse a jeito e não estivessem aqui estes gajos todos partia-te era os cornos meu cabrão”.

6. A moderação da linguagem na campanha é um imperativo nacional. É certo que uma vez eleito o deputado pode convidar um opositor a resolver o assunto “lá fora”, mas isso é no parlamento. Em campanha proponho um dicionário de expressões civilizadas. Filho da puta passa a filho de ambulatriz, etc. etc.

7. A minha última proposta não é bem uma proposta minha. Primeiro porque desconfio que é plágio. Depois porque pelo seu radicalismo pode ser mal interpretada. Fica apenas o seu registo para o caso de se verificar que as medidas anteriores não resolvem os problemas.

Trata-se de alterar a duração dos períodos, ficando o de campanha reduzido a 24h e o de reflexão acrescido de mais uma semana ou mesmo duas. As vantagens em custos, paz tranquilidade e sossego, são evidentes. Em termos de cidadania não se perdia nada desde que durante o dia de período fossem distribuídos os programas partidários por todos os eleitores. É certo que isto podia criar desigualdades, dada a tendência nacional para a pouca leitura, beneficiando assim os que programam menos. Nada que não se resolva: os resumos do Pedro Correia no Delito de Opinião são excelentes, e a malta já está habituada a ler os Maias em versão compacta e reduzida, atitude óbvia depois de se tomar o peso ao volume original. Para evitar chatices, durante o período de reflexão os comentadores do costume andariam pelas televisões e afins e em reflexão pública, reflectindo entre si sobre as vantagens do PS perante o PSD e vice-versa, compensando-os assim de não terem campanha para comentar.

Espero que estas propostas agradem aos vencedores de amanhã (pelo menos 4) e ao derrotado (é provável que só 1). Esta legislatura até dá para mexer na Constituição, só não as aceitam se não quiserem. Terei é de cobrar qualquer coisinha, que isto de ter os lóbis das camionetas, das agências de comunicação, dos jornalistas e por aí fora a moerem-me o juízo vai-me custar uma pipa de massa em segurança privada.

TotoEleições II

Vamos lá então ao palpite directamente de Gaia:
PS- 35
PSD – 29
BE -12
CDU – 9
PP – 8

O melhor ainda é não reflectir

Estava a reflectir aí há uns trinta segundos e fui assaltado por pesadelos que me obrigaram a abrir a janela e depois sair para a rua, apanhar ar e sol que ainda são das poucas coisas que nos restam e que não pagam imposto.

Vi uma grande cabeça cheia de tentáculos, que cresciam sem parar, asfixiando as pobres criaturas que fugiam desorientadas e aos gritos e algumas já não resistiam oferecendo-se ao sacrificio final. Eu bem fugia mas as pernas não ganhavam terreno, entrei numa floresta sem luz com as enormes raízes das árvores tudo subjugando. Grossas pingas de suor escorriam-me cara abaixo enquanto ouvia uma grossa voz entre gargalhadas infernais. “Quem se mete com o PS leva!” Afastei o pesadelo enquanto mudava de posição.

Caí numa vaga dormência aqui e ali assaltada por imagens de carros de alta cilindrada a acelerar para a fronteira, um dos que passou por mim assumou à janela e vi num relance alguem conhecido que devia estar no lugar para que fora eleito mas que fugia deixando para trás as almas que prometera salvar. Todas de tanga! Estuguei o passo tentando não entrar em pânico e vi um enorme edificio com plasmas a acender e a apagar, pareceu-me um bom lugar para não ser esmagado pela turba em delírio.

Lá dentro reinava o silêncio e as figuras eram sombras que só se adivinhavam, algumas de avental e régua e esquadro, outras vergastavam-se com grossas correntes e todos se tratavam por “irmãos”, fui sendo encaminhado sem que alguem me falasse ou tocasse e quando dei por mim estava na rua sem a pouca roupa com que entrara.

Tornei a mudar de posição, o meu coração batia descompassadamente, ouvia a ladaínha de fim de tarde nas aldeias miseráveis, o povo a voltar depois de uma jorna de sol a sol, rodeado de GNR, padres e gente feia vestida de preto, botas e de chapéu. Em vez de campos de trigo e de centeio ouvia um comboio que não se via, e pontes num emaranhado de betão.

Estou na rua leio as páginas dos jornais no quiosque da esquina o Porto joga logo com o Sporting está tudo normal, respiro fundo, acalmo, ao longe um irmão burro faz-se ouvir…

A máquina do tempo: brandos costumes (os interrogatórios na PIDE)

Saiu há quase dois anos um livro de Irene Flunser Pimentel – «A História da PIDE». Sem dúvida que é o trabalho mais exaustivo que se escreveu sobre a sinistra organização e aquele que em termos históricos mais elementos nos proporciona sobre o que realmente aconteceu, para lá dos mitos e das lendas criadas em torno dela. E quando digo «sinistra organização» já estou a fugir à objectividade com que a autora aborda o tema, fugindo dos adjectivos que, como todos sabemos, são inimigos da ciência, porque se perguntarem a um zoólogo se uma zebra-.de- montanha é «grande» ou «pequena» ele responderá que, em média, o conjunto da cabeça e do tronco mede 220 cm. Face aos números encontrados, ficamos com a ideia de que a PIDE (com a sua antecessora PVDE e com a sucessora DGS) não foi tão criminosa como o foram a Gestapo e a sua congénere italiana a OVRA, por exemplo. O que, a quem por lá passou, não serve de grande consolação.

Em todo o caso, só no campo de concentração do Tarrafal morreram, até 1945, 31 presos confirmados, embora muitos outros cujos nomes não ficaram para a posteridade tenham morrido ou adoecido durante o cativeiro. Alguns eram libertados nas vésperas de morrerem e, portanto, morriam «em liberdade» em suas casas ou nos hospitais, não contando em termos estatísticos para o rol dos assassinados – digamos, para sintetizar, que as polícias políticas do Estado Novo mataram uns milhares de concidadãos nossos, cujo único crime, na maioria dos casos, era o de não estarem de acordo com a política do regime. Se são do conhecimento geral nomes como o de Humberto Delgado, Dias Coelho, Militão Ribeiro, é preciso não esquecer que houve muitos outros, como o caso do médico António Ferreira Soares, morto a tiro em 4 de Julho de 1942 em frente de uma irmã e de uma criada, do José Moreira que, em 1950, «caiu» do terceiro andar da sede da PIDE, do Raul Alves que em 1957 também «caiu», dos dois presos mortos na delegação do Porto em 1957 – Joaquim Lemos Oliveira e Manuel da Silva Júnior… centenas de nomes.

Oficialmente, as mortes deviam-se sempre a suicídios ou a quedas acidentais, a doenças cardíacas, etc. Em todo o caso, a historiadora não nos fornece um número total de vítimas. Não é possível encontrar esse número. Suponhamos que à lista dos assassinados em Portugal, queremos adicionar os que foram mortos nas ex-colónias – portugueses e, sobretudo, africanos? – Tudo se complica.

Os livros como este são muito necessários, pois constituem instrumentos realizados com todo o rigor possível. Buscar a verdade com este rigor é a função da ciência histórica. No entanto, aconselhando a leitura deste livro a quantos queiram saber o que se passou, dada a objectividade com que o tema é abordado ele não nos transmitirá a sensação de horror, de impotência, que se sentia quando se era apanhado nas malhas daquela polícia. Talvez porque tentar transmitir essa sensação, é função da literatura e não da ciência histórica. No entanto, sendo a autora uma historiadora da escola de Fernando Rosas, penso que o escrúpulo com que o trabalho foi elaborado não deve ser posto em causa. É uma obra de consulta onde só figura a verdade apurada.

*

Relativamente a um poema feito há mais de 40 anos sobre o meu encarceramento num «curro» do Aljube – na cela 10 – houve companheiros do Aventar que tiveram a amabilidade de me agradecer. Disse na altura em comentário de resposta, que não tinha sido um herói, nem (infelizmente) um caso raro ou dos mais graves. Na minha primeira prisão, em 1965, fui submetido no interrogatório a 13 dias de «tortura do sono», com alguns espancamentos pelo meio. Depois de sete dias, comecei a desmaiar com frequência, e o médico que me ia ver mais do que uma vez por dia, na noite em que completei sete dias aconselhou o inspector , do meu caso (José Américo da Silva Carvalho) a deixar-me dormir. O que ele fez. Puseram-me uma cama desmontável no «gabinete de investigação» – assim eram chamadas as salas de tortura – e dormi ininterruptamente dez ou onze horas até que me acordaram e a tortura prosseguiu por mais seis dias. Penso que a polícia julgava ter apanhado um quadro importante e daí o tratamento violento que outros, com maiores responsabilidades, não sofreram.

Ora bem, isto parecendo muito duro a quem nunca se viu nestas andanças, não foi nada de especial. Muitos milhares de outros antifascistas tiveram um tratamento muitíssimo pior do que o meu. Muitos chegaram a perder a vida e daí o cuidado que a polícia passou a ter, com médicos a vigiar, dia a dia, os efeitos da tortura. As mortes não eram convenientes, davam mau aspecto e, se possível, pioravam a reputação da polícia. Embora nunca se dissesse que as pessoas morriam devido ao que lhes faziam – como já vimos, eram geralmente «suicídios», «acidentes» e «doenças súbitas». Quando os familiares tinham acesso aos corpos, não podiam vê-los. Porque seria?

Antes da «tortura do sono», que, como o nome indica, consistia em deixar o paciente sem dormir até «confessar», houve a «estátua» que, à insónia forçada, juntava a imobilidade também forçada. Os «cientistas» policiais parecem ter descoberto que a imobilidade produzia um desgaste físico acelerado e que na nova modalidade, podendo mover-se, os presos aguentavam mais enquanto, privado do sono durante mais tempo, o cérebro se cansava e a capacidade mental de resistir também. Afinal tratava-se do velho «tormentum insoniae», o suplício da insónia, tão usado pela Inquisição. Por falar de vítimas maiores desta tortura, lembro um estudante de Agronomia que esteve 21 dias sem dormir e que sendo deficiente motor (poliomielite) foi obrigado pelos agentes a dançar a Kalinka… Mesmo assim, não terá sido um recorde.

Além das mortes, das famílias destruídas pelas prisões prolongadas, com diversos anos de pena a que se acrescentavam as tais medidas de excepção que as podiam prolongar indefinidamente, era vulgar os presos verem-se despedidos dos empregos. Quando saíam da prisão – fossem operários, professores, médicos ou escriturários, não podiam trabalhar. Nem emigrar, pois não tinham direito a passaporte. Aqui devo prestar homenagem à Fundação Gulbenkian e à memória de Branquinho da Fonseca, meu director – após as duas prisões, o meu lugar esperava-me. E não deixaram de me pagar o vencimento durante os meses de prisão. E o que devem ter sido pressionados para me pôr na rua! Branquinho da Fonseca explicou-me que resistiu a essas pressões, vindas também do interior da instituição, com um argumento muito simples: «- Ele foi condenado? Não foi. E se está inocente? Se for condenado, falamos então nessa hipótese do despedimento…»

De facto, nunca conseguiram matéria incriminatória para me enviar a tribunal. Da primeira vez presumiam (erradamente) que eu era um quadro importante. Da segunda, com muitas suposições à mistura, de concreto e ao fim de uma semana de «sono», tinham um livro com vinte e tal poemas, alguns pouco ou nada poéticos, muito panfletários. Seria, no mínimo, um julgamento incómodo. Saíram notícias em jornais franceses (algum emigrante que me conhecia). Era mais útil para o regime pôr-me na rua. Depois de uma semana de «sono», deram-me uma dose cavalar (seis meses) de isolamento contínuo e vim à minha vida. O que eu queria explicar é que isto nada tem de heróico. Se pudesse, não teria sofrido nada daquilo. Nasci no tempo e no país errado. Muitos milhares de antifascistas passaram pelo mesmo e por muito pior. Não tínhamos saída: ou aceitávamos os pressupostos da situação e não levantávamos ondas ou não os aceitávamos e aconteciam essas coisas – era-se preso, torturado, vexado, morto, perdia-se o emprego, ficava-se preso durante anos.

A propósito de vexame, as mulheres eram mais vulneráveis – embora vigiadas, torturadas e espancadas por
ag
entes femininos, houve casos de abusos sexuais praticados por inspectores, chefes de brigada ou agentes masculinos. Uma tortura adicional era, se a «estátua» ou a «tortura do sono» coincidiam com o período menstrual, não as deixavam pôr ou mudar pensos, tomar medidas higiénicas, criando uma humilhação extra com os comentários sarcásticos que os agentes, homem ou mulher, faziam sempre que entravam no «gabinete». Fala-se de uma presa, uma estudante, que, já nos anos 60, enlouqueceu. Não pude confirmar.

Nestas crónicas já falei demasiado das minhas duas prisões. Perdoar-me-ão, mas foram experiências traumáticas e que me tornaram numa pessoa diferente. A minha visão (e a de outros) e a de Irene Flunser Pimentel sobre a PIDE são diferentes – por isso mesmo, aconselho vivamente a leitura do livro dela, porque não é com testemunhos vividos que se conseguirá compreender com objectividade o que foi aquele sinistro covil. Procurarei não insistir. E se o tenho feito é porque talvez assim os mais jovens, os que já não viveram aqueles tempos, compreendam, por exemplo, a razão por que o poeta Pedro Oom, no dia 25 de Abril de 1974, quando ao lado do António José Forte no Largo de Camões, viu os agentes da secreta a fugirem saltando de telhado em telhado, como ratazanas acossadas, se sentiu mal e teve de ser transportado, creio que ao Hospital de São José, acabando por morrer de paragem cardíaca. Morreu de emoção e de alegria.

E compreenderão também a grandeza de alguns que tendo o poder nas mãos e tendo sofrido, no mínimo, o mesmo que eu, tiveram a generosidade de não proceder à execução sumária daquela escumalha. Cito o exemplo, um entre muitos, do Professor Luís de Albuquerque que, a seguir à Revolução, sendo Governador Civil de Coimbra e vice-reitor da Universidade, defendeu situacionistas perseguidos, saneados – alguns dos quais tinham contribuído para lhe tornar a vida negra durante a ditadura. E não foi por caridade cristã, pois ele era ateu e marxista. É nestas atitudes que os homens se diferenciam dos ratos.

A vingança seria condenável, mas a História acabaria por absolvê-los de uma tão compreensível desforra. Como afinal perdoou aos torcionários. Alguns já morreram. Outros andam por aí com as suas pensões da Função Pública e até recebem condecorações das mãos do presidente da República. Tudo isto, numa altura em que a casa em que Salgueiro Maia nasceu corre o risco de ser vendida e demolida.

Brandos Costumes?

Lista de juizes cuja progressão foi suspensa por causa de erros grosseiros

Ainda sobre a suspensão da progressão do juiz Rui Teixeira, parece que não foi tudo como veio a público e, pela minha parte, penitencio-me desde já.
Ao que parece, o problema da progressão do juiz foi levantado pelos três magistrados indicados pelo Partido Socialista, mas, como refere Fernanda Câncio, foi Laborinho Lúcio a redigir a resolução final.
Assim sendo, decidi pesquisar e, como forma de me penitenciar, apresento hoje uma lista de todos os juizes cuja progressão foi suspensa até que se apurassem eventuais erros grosseiros em processos por si dirigidos, incluindo os processos que motivaram essa suspensão da progressão:

. Juiz Rui Teixeira (processo Paulo Pedroso)

Totoeleições

Os meus palpites sobre os resultados das eleições europeias, feitos entre amigos, acertaram na maior parte dos resultados.

Não vou perder a oportunidade de deixar aqui o que espero do dia de amanhã e largar assim as peneiras de adivinho encartado.

Palpites são palpites e não passam de palpites. Mas durante 24 horas sempre podemos esperar que a realidade se molde à plástica dos nossos desejos.

  • PS ou PSD – 29
  • PSD ou PS – 27
  • BE – 14
  • PCP – 11
  • CDS – 9
  • Brancos, nulos e outros partidos – 10

Faço a batota de não propor um vencedor, mas uma espécie de empate técnico: uma pequena diferença de votos entre os dois primeiros nem sequer assegura maior número de deputados. Hesitei em colocar os Brancos e Nulos, mas acredito que tal como sucedeu em Junho vão ser significativos, talvez mais do que aqui opino.

Este cenário é aquele que vejo, ouço e leio: um país farto do bloco central das negociatas, tachos e interesses, uma geração de novos votantes onde o BE tem um peso desproporcionado, 700 000 desempregados, 500 000 precários e suas famílias, a crise das crises, portanto.

Como o voto é secreto, amanhã logo se vê.

Desafio os nossos leitores e os meus colegas aventadores a deixarem os seus. prognósticos antes do fim do jogo. Não há é prémios para os apostadores,  para evitar chatices com a Santa Casa.

Vota CDU! (desafiando o Dia de Reflexão)

Como diriam os nossos amigos Simplex, não há regimes, nem Partidos, nem pessoas perfeitas. É por isso que apelo, hoje, ao voto no Partido Comunista.
Gostava que fosse um Partido mais aberto às inevitáveis transformações da sociedade. Gostava que repudiasse com toda a frontalidade os abjectos regimes da Coreia do Norte e da China.
Mesmo assim, é o único Partido que dá garantia de defender os mais necessitados – os pobres, os reformados, os trabalhadores. É o único que não pactuará com os grandes grupos económicos nem com os interesses do Centrão. É o único que, da única vez que pôde governar (se se pode chamar governar aos quentes meses que se seguiram a Abril), mostrou uma efectiva preocupação com quem mais precisa.
Votar CDU é uma questão de consciência. Hoje, é o Partido que faz falta na governação de Portugal.

Ainda sobre o dia da reflexão

Por causa de uma regra, que nem sequer está explícita na lei, apenas no costume, e que considera que os cidadãos portugueses, agora compulsivamente erguidos ao estatuto de eleitores recenseados, são ou burros ou completamente influenciáveis ou de raciocínio lento e que precisam de 24 horas para reflectir em silêncio sobre em quem querem votar, este texto não pode falar sobre a campanha eleitoral nem sobre nenhum assunto que nela tenha tido reflexos e implicações. Isto, é claro, porque escrevo num jornal de papel. Se escrevesse apenas num meio de comunicação on-line ou num blogue, podia continuar a falar sobre tudo sem limitações. É que a norma, por assim dizer consuetudinária, além de ser absurda está desfasada e regula um mundo comunicacional que já não existe.

São José Almeida, hoje no Público

Azar do Carago!

Bom dia Portugal Sentado ou deitado. Assumo estas duas posições ao pensar na vossa capacidade reflexiva. Eu por mim só consigo reflectir sentado ou deitado. Pode ser da gravidade ou até do esforço que o neurónio tem que fazer para se manter em pé, mas por mim é simples, reflectir tem que ser sentado ou deitado.
E é assim que estou.
E estando assim, dou por mim a pensar no azar que temos tido com quem nos dirige. Não vou atrás, à imensa noite negra Salazarenta. Falo dos tempos mais recentes. Dos amigos de Cavaco e das suas relações financeiras, do Guterres que se foi embora, do Durão que lhe seguiu os passos, do cómico Santana e do Sócrates (infelizmente não se foi embora), do Fernando Gomes e do Jorge Coelho ou do Pina Moura e tantos outros que se multiplicam pelas autarquias deste país.
E a conclusão é simples e escrito à moda do Porto – temos tido uma azar do carago!
É que não se aproveita um pra´semente.

De que teve medo Michelle? De que desconfia Obama?

É fascinante a sequência fotográfica da chegada de Silvio Berlusconi à cimeira dos G20, em Pittsburgh, nos EUA. Depois de abraçar Angela Merkel, Gordon Brown e Dmitri Medvedev, o que fez a primeira dama anfitriã à chegada do fogoso Silvio?

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Ele, sorriso matreiro aberto, à italiano puro, pose machista e ar de aprovada avaliação, como quem diz que vale a pena dar um abraço à senhora Obama. Braços abertos. Ela sorriso aberto mas algo nervoso, braço muito e bem esticado. Quanto mais longe o cumprimento for, melhor, pensará a senhora primeira-dama. Ao meio, um muito desconfiado Barack. O homem olha, atento. Veja-se o rosto fechado, o olhar seguro e algo duro. Nota-se que não gosta do parceiro italiano que lhe saiu na rifa. Não vai com o estilo de ‘Il cavalieri’. (1)

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Michelle parece descomprimir. Obama não e Silvio mantém a mesma pose. “Bela”, pensará o italiano. (2)

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O abraço foi-se. Silvio desistiu e parece menos satisfeito. A senhora Obama aperta a mão. É um cumprimento distante. Ela baixa o olhar. O marido parece mais descontraído. O pior terá passado. (3)

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Barack vai ao abraço. Tem de corresponder a Silvio e Berlusconi não pode sair demasiado embaraçado desta fria recepção. Obama curva-se. Parace indicar que não pode mesmo ficar mais distante, sob o risco de se estatelar. O rosto continua fechado. Um sacrifício, deve suspirar Barack. (4)

E Sílvio, o que pensará Sílvio?

Vou votar…

…mesmo não acreditando nas opções. Mesmo sabendo que nenhum apresenta soluções. Mas vou votar e quando entrar na minha mesa de voto vou procurar não esquecer algumas coisas que considero fundamentais, entre elas, a Regionalização.

Na próxima legislatura este é um tema fundamental. É chegada a hora.

Dia de Reflexão. Dia de quê?

Já passa de meia-noite.
Era só para avisar que, no Aventar, não há Dia de Reflexão para ninguém.
Até ao lavar dos cestos é vindima e, por isso, continuamos em campanha eleitoral. Cada um pelos seus, à boa maneira do diversificado Aventar.