A ARTE (11)
Não quero terminar sem dizer que há necessidade de distinguir entre Arte, obra de Arte e mercantilização ou mercadotecnia da Arte. A Arte, a mais nobre vertente da vida humana, sentimento artístico como qualquer outro sentimento, como o sentimento da alegria, da tristeza ou da liberdade, é parte integrante da nossa esfera neural e mental, e desta forma pode ser considerada eterna, dentro da relativa eternidade humana. Sendo a obra de Arte a expressão visível e palpável do sentimento artístico, e, como relação de vida que é, exige, para ser vivida integralmente, uma contemporaneidade de sentimentos. Sou dos que pensam que a obra de Arte, como vivência integral, é efémera, ainda que esta efemeridade possa durar séculos. Há momentos a que chamamos eternos na Arte da antiguidade ou correntes artísticas ditas imortais. Mas estes momentos, estas correntes, ainda que nunca perdendo a transversalidade universal da Arte, têm o valor que lhe damos em função das necessidades e dos interesses actuais. Não sou, contudo, radical ao ponto de referir o vazio dos recalcitrantes defensores do classicismo ou, em sentido oposto, o cheiro cadavérico dos museus.
O mercado da Arte engendra formas, não de purificar a Arte, mas de divinizar a obra-objecto, endeusar e entronizar os autores através de cadeias de relações, validação de marcas e autorias, legitimações culturais e históricas, leilões e jogos de galerias, tantas vezes snobs, e subterrâneos, juízos de valor produzidos e caucionados por elites, de acordo com os interesses e mais-valias que possam render. Senhores ditos muito cultos, servindo-se de exaustivos materiais bibliográficos, criadores de textos labirínticos com grande projecção pública, encerram o fenómeno artístico nas densas malhas das suas análises, fabricam convicções e preconceitos, maquetizam a liberdade dos sentimentos, e quando nos damos conta já a Arte e a vida desandaram para outros caminhos. Mentalidades dirigistas, cheias de regras, liturgias e falsos mitos, que nos afastam da arte de viver a Arte. Vivemos num mundo dominado pela técnica, sufocados pelo egoísmo. Tudo ou quase tudo o que nos envolve é artificial e muitas vezes falso. Vivemos alienados e escravizados. Pena é que esta escravização tenha invadido e contaminado a expressão artística. (Continua).

(adão cruz)
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