A ARTE (11)

A ARTE (11)

Não quero terminar sem dizer que há necessidade de distinguir entre Arte, obra de Arte e mercantilização ou mercadotecnia da Arte. A Arte, a mais nobre vertente da vida humana, sentimento artístico como qualquer outro sentimento, como o sentimento da alegria, da tristeza ou da liberdade, é parte integrante da nossa esfera neural e mental, e desta forma pode ser considerada eterna, dentro da relativa eternidade humana. Sendo a obra de Arte a expressão visível e palpável do sentimento artístico, e, como relação de vida que é, exige, para ser vivida integralmente, uma contemporaneidade de sentimentos. Sou dos que pensam que a obra de Arte, como vivência integral, é efémera, ainda que esta efemeridade possa durar séculos. Há momentos a que chamamos eternos na Arte da antiguidade ou correntes artísticas ditas imortais. Mas estes momentos, estas correntes, ainda que nunca perdendo a transversalidade universal da Arte, têm o valor que lhe damos em função das necessidades e dos interesses actuais. Não sou, contudo, radical ao ponto de referir o vazio dos recalcitrantes defensores do classicismo ou, em sentido oposto, o cheiro cadavérico dos museus.
O mercado da Arte engendra formas, não de purificar a Arte, mas de divinizar a obra-objecto, endeusar e entronizar os autores através de cadeias de relações, validação de marcas e autorias, legitimações culturais e históricas, leilões e jogos de galerias, tantas vezes snobs, e subterrâneos, juízos de valor produzidos e caucionados por elites, de acordo com os interesses e mais-valias que possam render. Senhores ditos muito cultos, servindo-se de exaustivos materiais bibliográficos, criadores de textos labirínticos com grande projecção pública, encerram o fenómeno artístico nas densas malhas das suas análises, fabricam convicções e preconceitos, maquetizam a liberdade dos sentimentos, e quando nos damos conta já a Arte e a vida desandaram para outros caminhos. Mentalidades dirigistas, cheias de regras, liturgias e falsos mitos, que nos afastam da arte de viver a Arte. Vivemos num mundo dominado pela técnica, sufocados pelo egoísmo. Tudo ou quase tudo o que nos envolve é artificial e muitas vezes falso. Vivemos alienados e escravizados. Pena é que esta escravização tenha invadido e contaminado a expressão artística. (Continua).

                             (adão cruz)

(adão cruz)

Convite – Aperitivo para o Red Bull Air Race:

aviões

POEMAS DO LUSCO-FUSCO

Na luz do tardio amanhecer
no claro-escuro do fim da tarde
no descer da rua
no virar da esquina
no entrar da porta…
já não importa
se o tempo vai se o tempo vem.
Tudo hoje é rua
tudo hoje é esquina
tudo hoje é porta
de um tempo que se não tem.

QUADRA DO DIA

E que diga ao vaticano
Que olhe bem para trás
É um exemplo muito mau
Fazer aquilo que faz.

Um país à beira da ruína…

Medina Carreira diz o que muitos pensam, “essa gente” não faz ideia onde está a meter o país. Uma dívida que cresceu nos últimos 8 anos 54% e que corresponde a um pagamento de juros acrescidos de duzentos e tal por cento. Se lhe juntarmos os empréstimos necessários para fazer as obras públicas socráticas, entre 2015 e 2020 damos baixa. Se alguem a aceitar, obviamente, porque a alternativa é o empobrecimento do país.

Corremos o risco de termos as melhores autoestradas da Europa, e não termos dinheiro para nos deslocarmos de automóvel; o TGV só para espanhóis; um aeroporto para recebermos os velhos do centro e do norte da Europa que vêm para cá apanhar sol; outra ponte, como a da Lezíria, sem tráfego automóvel.

Se não criarmos riqueza vamos para o empobrecimento, mas criar riqueza dá muito trabalho, é preciso competência, capacidade de liderança, ser capaz de captar investimento privado, desenvolver uma política competitiva fiscal, reformar a Justiça, tornar a administração pública amigável, competir num mundo competitivo global.

É mais fácil entreter-se com a família, com as uniões de facto, atirar dinheiro para cima dos problemas, usar as golden shares em empresas públicas a bem não se sabe de quem, fazer “take over” ao BCP , ao BNP e ao BPP, os ajustes directos das obras públicas…

Essa gente não serve para coisa nenhuma, diz Medina Carreira, que é um homem que não precisa dos favores do Estado nem dos partidos!

Quatro ou cinco ministros de grande qualidade, com experiência profissional, sem suspeitas de corrupção, independentes de favores, apoiados pelo Presidente da República e por uma maioria na Assembleia da República, resolviam os problemas do país.

Com “essa gente” não vamos a lado nenhum…

Arranjadinho…

Quem diria que o nosso Primeiro se desse como arranjadinho, o homem que anda de braço dado com os grandes deste país convencido que é um deles.

Como fez bem ao nosso primeiro Ministro a “banhada” das Europeias, muitos erros teriam sido evitados, teria ouvido quem lhe chamou a atenção para o país real, as empresas que asseguram 70% do emprego e 90% da riqueza, teria tido cuidado com os contratos ruinosos que assinou com as empresas onde estão colocados os amigos políticos, reflectido sobre os megainvestimentos que são mais do mesmo e que o país não pode pagar.

Tantos erros por julgar que ter a maioria absoluta é decidir absolutamente, sem cuidar de ouvir o país, encontrar decisões ajustadas mesmo que as que tivesse de negociar, não ter medo de aplicar o que de bom lhe foi aconselhado.

Pois é senhor Primeiro Ministro, Vossa Excelência é muito melhor assim, sem arrogância, percebendo que em Democracia não se é Primeiro ministro, “está-se” Primeiro Ministro, que quem o lá pôs já o desmontou, e ùnicamente porque Vossa excelência governou mal.

O estado do país não deixa dúvidas a ninguem!

Henri Fantin – Latour na Gulbenkian

Uma exposição magnífica sobre o mais discreto dos eminentes escritores Flamengos (e seus amigos ) da sua época (1836-1904),que infelizmente tem sido pouco estudado. No entanto, a mais importante exibição da sua obra foi efectuada no Grand Palais em Paris, na National Gallery do Canada, em Ottawa e na California Palace de Legião de Honra de S. Francisco, no ano de 1982.

Vinte e cinco anos depois dois especialistas estudaram a obra do pintor, comemorando os artistas impressionistas, que colocaram Fantin-Latour no mesmo nível de Claude Monet, ou de Edouard Manet .

Fatin-Latour nasceu em Grenoble no ano de 1836 e nos primeiros anos da sua vida retratou-se a ele próprio, num execício introspectivo que nos leva a Rembrandt e Titian, numa procura incessante da expressão das emoções, através da sua própria imagem.

Trabalhou no Louvre como “copyst” e como meio de subsistência, tal como Manet ou Degas fazendo cópias de grandes “mestres” entre os quais Titian, Veronese, Rubens e Delacroix, o seu “mestre espiritual”.

Fantin- Latour era um melómano e esta sua paixão pela música foi uma das suas maiores inspirações para os seus trabalhos de pintura.

A não perder, definitivamente!

A Ministra da Educação, essa indelicada

Quando mudei para a RTP e vi a bela Judite, o nosso Primeiro-Fax estava a falar dos professores. Elencando uma série de medidas extraordinárias que tomou no ensino, esqueceu-se, no entanto, da maravilhosa avaliação dos professores e da inenarrável divisão promovida pelo Estatuto da Carreira Docente.
Quando disse que tinha faltado apenas delicadeza da parte do Governo para explicar aos professores as medidas tomadas, achei que era demais e mudei para o CSI Nova Iorque. Ficção por ficção, os actores americanos sempre são de melhor qualidade.

Santarém, Capital do Gótico (XI)

(primeira parte e explicação do «bodo aos pobres» aqui)

SANTARÉM E O 25 DE ABRIL: DAQUI PARTIU A REVOLUÇÃO

Santarém foi palco de dois acontecimentos importantíssimos na história do Portugal da segunda metade do século XX. Em 1958, a candidatura de Humberto Delgado à presidência da República, que abalou os alicerces do regime ditatorial de Salazar, teve um momento alto na cidade, aquando da presença do General Sem Medo, em plena campanha eleitoral, e durante os comícios que se seguiram.
Em 1974, o 25 de Abril culmina um processo marcado por longos anos de esperanças sem efeito. Tudo aquilo que se esboçara em 1958, mas sem sucesso, tinha agora efectiva concretização. De Santarém partiu a revolução, no dia em que o capitão Salgueiro Maia liderou os seus homens em direcção a Lisboa. O dia de todos os sonhos foi com toda a certeza o mais belo de quantos se viveram em Portugal na centúria ora terminada. Não terá oportunidade de exercer a cidadania plena quem não viveu aquele dia. E Santarém pode estar agradecido, ao seu herói, por ter colocado a cidade na história dos anos de Vinte.
Logo nos inícios do século, o prenúncio do que viria a acontecer. Por ter sido sede do movimento revolucionário contra Sidónio Pais, a partir de Janeiro de 1919, Santarém foi contemplada com o título de Oficial da Ordem de Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito. No mesmo dia, a par de Santarém, Porto, Coimbra, Évora e Bragança receberam o mesmo título, enquanto que Alcobaça e Caldas da Rainha, por serem apenas vila, foram condecoradas com o grau de cavaleiros da Torre e Espada.

«Obviamente, demito-o!»

A notícia da passagem de Humberto Delgado por Santarém, em 1958, na campanha para a presidência da República, rapidamente se espalhou por toda a região – folhetos clandestinos, autocolantes e mensagens boca a boca comunicavam a todos a presença do General Sem Medo.
O dia histórico aconteceu em 30 de Maio. Pelas onze horas da manhã, já uma multidão convergia para o largo do Seminário. Nem uma palavra, porque as paredes tinham ouvidos; alguns olhares furtivos, que a PIDE estava em todo o lado; sorrisos cúmplices, porque o fim do regime estava aí, à distância de um voto.
Uma fantochada, essas eleições. Sabia-se que não seria de outra forma, mas havia a tal oportunidade. A «luz ao fundo do túnel», frase feita mas RETOMAda em todas as ocasiões. As palavras do General, ditas sem medo, a ressoar em esperançosos ouvidos: «Obviamente, demito-o!»
Obviamente, não iria demiti-lo, porque não lhe iria ser dada a oportunidade para tal. Ganhou as eleições, mas ganhando-as, perdeu-as. Como sempre, o candidato do regime venceu, a «paz podre» do Estado Novo continuou e as sombras, ao virar de uma esquina, por trás de uma parede, dentro da própria empresa, ali se mantiveram. Silenciosas como sempre, traidoras, traiçoeiras, inquietantes.
Pouco depois do meio-dia, chega Humberto Delgado junto à igreja da Piedade. Quando alcança a estátua de Sá da Bandeira, diz: «Saúdo este Homem, também ele amante da liberdade, que sempre lutou pela liberdade, e merece toda a nossa admiração». Esfusiante, o povo aplaudiu. Sempre, todos os dias e até ao fim da campanha. Em Santarém, no Porto (se calhar o maior ajuntamento de pessoas antes do 25 de Abril) e em todos os lugares por onde o General passou.
«Uma estrondosa salva de palmas ecoou então subitamente. A esperança renascera em todos os corações. Havia lágrimas em alguns olhos. Era já difícil calar o entusiasmo de uma população galvanizada pela presença do General, que com a sua coragem fez abalar os alicerces já um tanto apodrecidos do velho regime. Martinho do Rosário que, como eu, presenciou este grandioso evento, dirá: «Para Santarém, o dia 30 de Maio de 1958 e o dia 25 de Abril de 1974 são dois marcos imperecíveis no arranque para a consolidação da democracia». Este terá sido um dos momentos mais inesquecíveis de entre os vários que ocupam lugar de destaque na minha memória. Passaram quarenta anos sobre este acontecimento… e não saberei mesmo como relacionar a presença furtiva de Rosa Casaco, alguns anos depois, numa das ruas de Santarém, com os acontecimentos que levaram ao homicídio covarde e monstruoso do General, em 1965.» (Luís Eugénio Ferreira)
Quatro dias depois da presença do General em Santarém, a 4 de Junho, no teatro Rosa Damasceno, uma espécie de comício eleitoral propagandeava as virtudes da candidatura de Humberto Delgado. Fachada «para inglês ver», que é como quem diz, para a opinião pública internacional. À porta, dois agentes da PIDE tomavam nota de quem entrava.
Chegadas as eleições, Américo Tomás vence com mais de 75% dos votos. Oficialmente, Humberto Delgado tem apenas 23%, o que nos faz pensar que, sem fraudes nem as «manigâncias» de que tanto se falou na época, as posições dos candidatos teriam sido exactamente inversas.
Em Santarém, por exemplo, Delgado venceu em todas as vilas significativas, em certos casos por percentagens esmagadoras. O mesmo aconteceu em grande parte do distrito. Alpiarça é o caso extremo, onde Delgado obteve 83 por cento dos votos contra 17 por cento para Tomás. Em Almeirim as percentagens foram, respectivamente, 77,9 contra 22,1 a favor de Delgado e em Alcanena não estiveram longe: 72,4 por cento contra 27,6. Mesmo em Rio Maior, onde o equilíbrio foi maior, Delgado venceu por 51,2 contra 48,8 por cento.
Depois dos dias quentes de 58, pouco coisa mudou em Portugal. Veio a Guerra Colonial, chegou finalmente a morte de Salazar, faltava agora acabar com o bacoco regime. Só com a força das armas é que tal seria possível. E foi aí, a 25 de Abril de 1974, que Santarém entrou de novo em acção.

Sementes de revolta

O velho teatro Taborda, que abrira ao público nos anos 40, foi um dos espaços que funcionou, em Santarém, como local de movimentações políticas e de revoltas contra o regime do Estado Novo.
Assim aconteceu desde a década de 60, mas há muito que se tinha tornado num importante centro cultural da cidade. Aí estivera sedeado o Clube Literário Guilherme de Azevedo, que promovia conferências e exposições e albergava no seu seio o Coral Infantil Scalabitano e o Grupo Coral Infantil. Aí esteve também, mais tarde, o Círculo Cultural Scalabitano, que tinha como figura de proa Ginestal Machado.
Nos anos 60, como já se disse, passou a funcionar como centro dos opositores ao regime. Adriano Correia de Oliveira e Carlos Paredes, ambos já desaparecidos, eram dois dos nomes que actuavam na sala com a sua música de intervenção, que lentamente ia abalando as estruturas do Estado Novo e as convicções de quem ainda acreditava naquele estado de coisas.
Os cafés também eram espaços onde as sementes de revolta germinavam. O «Quinzena», o «Portugal», o «Brasileira» ou o inevitável «Central». Neste, a reunião dos democratas era mais ou menos declarada, embora sempre com mil cuidados, pois o mínimo pretexto poderia servir os intentos da PIDE. Ali se passaram episódios mais ou menos importantes, que invariavelmente tinham como protagonistas advogados ou funcionários conotados com a oposição. Mas como o café também era poiso de autarcas e abastados membros da sociedade, uns acabam por vigiar os outros e, por isso mesmo, o recinto acabava por servir apenas como ponto de encontro para outras aventuras.
«Nessa tarde, ao entrar no «Central», deparei com dois indivíduos com aspecto de jornalistas, ponto de vista apoiado pela presença de algumas câmaras fotográficas colocadas a seu lado. Pensei: «Aí estão os jornalistas que se encontrarão com Eurico Ferreira. Naturalmente dirigi-me a eles e perguntei: Os senhores são os enviado
s
do «Le Monde» que vêm encontrar-se com o Dr. Eurico Ferreira?
Não me deixaram terminar a pergunta, nem começar outra. Um deles respondeu-nos com um certo enfado.
– Como sabe o senhor que somos jornalistas, ou com quem vamos encontrar-nos?
Achei inútil prosseguirmos o diálogo, que nem sequer se chegou a estabelecer. Concluindo que nada mais tiraria deles, despedi-me, desejando-lhes uma boa viagem. Ao fim da tarde, pelas 19.30 horas, compareci em casa do Dr. Eurico Ferreira que na circunstância me apresentou os aguardados dois jornalistas franceses, que não exactamente por mera coincidência, eram mesmo os dois referidos senhores que eu encontrara horas antes no café Central. Rimo-nos do facto, não sem me explicarem que acabavam de chegar de visita a algumas ditaduras da América do Sul, estando por isso familiarizados com os procedimentos policiais seguidos nesses regimes, em que todo o cuidado era exigido da sua parte. Portugal era então reconhecidamente uma república das bananas. Em Santarém, entrevistariam o bispo residente, o governador civil e por fim, o comandante da Escola Prática, só não lhes tendo sido possível antever que seria daquele quartel que alguns anos mais tarde iria nascer o 25 de Abril e renascer Portugal para o futuro.» (Luís Eugénio Ferreira)

Luiz Pacheco – Um Libertino passeia pela vida. 1 – Apresentação


Luiz Pacheco nunca quis ser uma «pessoa respeitável». Fez tudo para não merecer essa classificação pela qual tantos se batem durante as suas vidas – foi repetidamente preso, não por política, mas por crimes de delito comum. A cadeia do Limoeiro foi para ele uma segunda casa. Passando em revista as suas «proezas», encontramos «abuso» de menores – embora tanto quanto se saiba não fosse um pedófilo; foi preso por crime de rapto e de estupro, alcoólico, abusando do vinho tinto e da cerveja, pediu dinheiro a toda a gente, chegou a andar a pedir esmola pelas ruas, ia aos quartéis pedir os restos do rancho para alimentar a família, falsificou selos, publicou textos teoricamente impublicáveis (mas de autores que depois se vieram a tornar famosos como Vergílio Ferreira, Mário Cesariny de Vasconcelos, Natália Correia, Herberto Hélder, ganhando o rótulo de «editor maldito», fez repetidas incursões na homossexualidade. Disse ter feito sexo com uma cadela… – «proeza» que depois desmentiu – Tudo isto nos chegou em depoimentos do próprio (pois foi ele o seu melhor biógrafo).
Nunca escondeu estas coisas e nem há como saber se tudo foi verdade – com ele, a profissão de chantagista deixaria de fazer sentido, pois enquanto muita gente inventa heroísmos e esconde o que não é bonito nas suas vidas, Pacheco fez gala (e inventou-os?) em ter cometido actos sórdidos. Embora os que comprovadamente praticou fossem suficientes para lhe ornamentar o currículo. Nunca experimentou drogas, fez questão de salientar – o bagaço, o vinho tinto e a cerveja foram suficientes para lhe causar problemas.
Esta luta incessante pela irrespeitabilidade, numa permanente e dir-se-ia que voluntária, descida aos Infernos, valeu-lhe, surpreendentemente, o respeito generalizado da comunidade literária. Não teria nada a aprender com François Villon ou com Bocage. Em todo o caso, é bom que se diga, citando Pacheco em entrevistas, falando dos seus amores por adolescentes – «as miúdas eram mais adultas do que eu, não havia pedofilia» e, outra coisa muito importante, «o libertino tem regras, por exemplo, não se mete com a mulher do amigo». Apesar deste «código deontológico do libertino», não é possível ignorar que algumas das proezas de Pacheco, nomeadamente o seu envolvimento com raparigas menores são hoje, ainda mais do que na época, crimes reprováveis. Porém, sem querer encontrar desculpas, há que contextualizar as coisas – o conceito de pedofilia não estava, por aquela primeira metade do século XX, implantado (os dicionários, os que registavam o termo, ainda diziam: «Pedófilo, s. m. – Amigo das crianças…»). Quando cometeu o primeiro crime de «rapto e estupro» tinha 18 anos, apenas mais quatro do que a «vítima». Casou com a sua a primeira mulher no Limoeiro. Reincidiu. Várias prisões, vários filhos – oito – três da primeira mulher, dois da segunda, mais três da terceira. Filhos, delitos e prisões confundem-se. Estão intimamente relacionados. Não gostava que lhe chamassem «escritor maldito» – «Maldito é o gajo que escreve mal», exclamava. Pacheco nunca quis quer ser respeitável e, sobretudo, não quis respeitar as convenções. É um mundo que não merece ser respeitado – «todos somos culpados até prova em contrário», afirmou.
Porém, de delinquentes estão as prisões cheias. Não é pelas suas incursões no submundo e na face oculta da moralidade instituída que o recordamos. Porque esta faceta da sua reincidente transgressão das normas sociais, esconde outra realidade mais profunda e duradoura – a grande qualidade da sua escrita. Luiz Pacheco é um grande escritor. A sua libertinagem tem muito de quixotesco, transmutando acontecimentos sordidamente banais em episódios épicos. Quando a bruma dos tempos desvanecer as suas aventuras de modesto libertino, transformando-as em lenda (como aconteceu com Bocage), dele ficar-nos-á, além da memória de um ser estranho, irreverente e associal, belas páginas, das melhores que se escreveram no seu século – O Teodolito, por exemplo, é obra literária de elevada qualidade. E foi um grande editor – além dos nomes acima citados, António Maria Lisboa, Manuel de Lima, António José Forte, Virgílio Martinho, foram publicados por Pacheco – tal como os anteriores.

Cartazes das Autárquicas (Baião)

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José Luís Carneiro (actual Presidente), PS, Baião.
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José Carlos Póvoas, PSD, Baião.

O meu regresso às aulas (eu e os meus 200 alunos)

Apresentei-me hoje ao serviço na escola onde fui colocado. Pela primeira vez nos 16 anos em que lecciono, estive na Reunião Geral de Professores, estive na primeira Reunião de Departamento, estive em todos aqueles reencontros de colegas que já se conhecem há anos (oh pá, estás bom? porreiro, pá, porreiro!). E eu ali, num canto, como outros, tímido e sem conhecer ninguém.
Pela primeira vez desde que lecciono, sei quais são as turmas e os alunos que vou ter, sei onde ficam as salas de aula e os materiais pedagógicos, sei como funciona a escola. Pela primeira vez, não entro com o ano lectivo a decorrer. Pela primeira vez, sei que os meninos que terei no 7.º ano serão provavelmente meus alunos no 8.º e no 9.º ano. Vou vê-los crescer. Pela primeira vez, sinto que aquela é a minha escola. Porque é por quatro anos. E porque sei que não me vão mandar embora no momento exacto em que já me adaptei completamente e em que já me apaixonei pelos meus alunos.
Depois disto tudo, o facto de ter um horário com 7 turmas de três níveis diferentes e mais de 200 alunos, para além de uma Área de Projecto, uma Formação Cívica, um cargo de Director de Turma e um outro de Coordenador de Grupo, até parece pouco. Ao longo do ano, irei certamente ver que não é. O que me vale é que os professores não fazem nada!

Amor

cavalo
Se eu pudesse definir o amor, definia-o como esta canção. Os meus ouvidos viram flores e os meus lábios tremem. O som embala-me e deixo-me ir. Sinto felicidade no olhar e o céu parece convidar-me para uma ceia de reis. O som embala-me e eu vejo-me só e nu em cima de um belo cavalo lusitano correndo com ele nas praias matinais desertas e com as crinas a rasgar a espuma das águas do MAR ainda adormecidas na madrugada…O cavalo é castanho escuro, forte e obedece-me, e eu vou saltando e correndo com o meu corpo e sexo nus sobre o seu dorso protector…Não tenho medo e a autora rasga o dia com laivos e alvos de prazer…O vento doce e quente bate-me nas sobrancelhas e abro a boca para comer o ar e o seu doce oxigénio vital…O cavalo corre e eu protejo-me da água fria que rivaliza com o ar quente que nos desperta para o dia glorioso e imbatível…Eu, nu, e o cavalo indiferente corre , corre cavalga… sempre em frente, comigo sobre ele, eu nu e com o meu sexo encostado ao seu pelo e dorso protector…agacho-me, agarro-me e seguro-me a ele, e corremos ainda mais veloz como barcos contra a corrente…a manhã pura da praia, infernalmente pura e intocável começou…! O cabo do TORRÃO DO LAMEIRO abre-se em todo o seu esplendor ao céu, ao homem, à natureza…A frescura e o ar húmido da manhã embalam o cavalo e a mim..de repente mudámos de rumo e subimos, subimos, oh voámos….mudámos de direcção e subimos para o céu..perdendo-nos no horizonte sem fim…ouvindo por todo o Cosmo «NO ORDINARY LOVE»..O Outono chegou!

O Ministro não governa mas escreve livros

Maldosamente, insinua-se que a Justiça não funciona e que havendo tanto a fazer o ministro anda escondido nas trincheiras em vez de vir à luta. O esquecimento da Justiça, como prioridade deste governo é, òbviamente, um objectivo político. Não se pode afrontar quem anda a investigar o Primeiro Ministro, e esta evidência remete-nos para a discussão se bastará a um Primeiro Ministro não estar acusado, mas poder ser suspeito. Não pode como se torna evidente. A paz podre na Justiça é disso prova mais que suficiente.

A ideia com que se fica neste recuo do governo perante as corporações organizadas dentro da Justiça, é que havendo suspeitos no governo ou afins, isso fragiliza quem é investigado e fortalece quem investiga. O governo não tem capacidade de iniciativa nem os actores da Justiça lha reconhecem. A ética é um valor supremo na governação do país, e se não há ética nos governantes, ou parecendo que não há, alguem tira partido disso. Todos tiram partido disso.

Ficamos agora a saber que o Ministro da Justiça, incapaz de tomar as medidas que há muito se tornaram inevitáveis, pois o país não pode continuar a ter este luxo de a Justiça não responder, minimamente, aos interesses da sociedade e da economia, escreveu um livro sobre as medidas que não é capaz de tomar!!!!!!

Estamos a entrar no reino do burlesco, do faz de conta, é como o Ministro e Sócrates, perante o clamor crescente dos que vêm o país ir esgoto abaixo, se ponham a gritar ” estão a ver eu até tenho ideias, eles é que me não deixam pô-las em prática”.

Este país é realmente um caso sério para estudo, do que tem de joguinhos de poder, dos poderes arrogantes de quem devia estar ao serviço do interesse geral e não está, de quem devia estar em casa a escrever as memórias e faz de conta que governa.

Mas ser Ministro desaparecido, não governar e escrever livros sobre o que não lhe deixam fazer, é único no Mundo! Não leiam!

A Ginjinha do Rossio

Tenho a certeza que há aqui muita gente que percebeu que o meu texto ” Ó Carolina arredonda a saia…” tem a ver com a ginjinha nada com patrocínios…

Até porque está ali há quase um século e faz parte do Rossio, não precisa que se fale dela, impõe-se pelo seu carisma, até lá tem uma história (escrito como o Loures ensinou) da sua criação com mosteiros e monges à mistura como não podia deixar de ser estando como está em lugar tão especial.

Eu tenho que voltar sempre ao Rossio, à Igreja de S. Domingos onde se diziam as missas e se preparavam os desgraçados para a fogueira, o Palácio da Independencia com o traidor ainda dependurado na varanda, o Teatro D. Maria II onde estavam os calaboiços da Santa Inquisição e, antes disso, as cavalariças reais, o que não deixa de ser bem demonstrativo das hierarquias da época.

As portas de Santo Antão onde terminava a cidade ainda hoje fervilham “de muitas e desvairadas gentes” como no tempo de Luis de Camões e, ali perto, o Paço do Tronco onde o “mais português dos portugueses” esteve acorrentado por andar à espadeirada (decerto por alguma dama).

Logo ali a Praça da Figueira assente no leito seco de duas ribeiras que descem a Av Almirante Reis e a Av. da Liberdade, e nos escombros de um dos primeiros edificios do mundo a ser construído para acolher doentes,o Hospital de Todos- os- Santos, hoje o S. José e que vai voltar a ser de Todos -os-Santos agora na ribeira de Chelas . Tudo a desaguar no Largo do Rossio onde a multidão crente e religiosa se juntava para ver assar os seus semelhantes.

E, quando a mesma emoção de sempre, começa a subir-me pela garganta ( não sei porquê mas é o único lugar onde sinto que faço parte de uma caminhada com sentido)a ginja (pequeno, o copo) apazigua-me a ansiedade, a angústia que comecei a identificar quando li Cesário verde, ” uma incompreensível vontade de morrer ” ver o fim da tarde de Lisboa, a pressa das pessoas para voltarem para suas casa sem nada verem, o voltar as costa a um sítio que nunca mais verei da mesma forma, mesmo que lá volte todos os dias.

…e os ranchos de jovens raparigas, que voltam ao sol- pôr a cantar, levai-me para o meu doce lar…” chorava o Cesário Verde, o poeta de Lisboa, a despedir-se da gente e da cidade que amava, adivinhando que íria partir tão cedo. Quando voltar costas, já com a ginja para o caminho, percebo que é só o que posso levar comigo, manter por mais tempo aquela mágoa que se apodera de mim, a nostalgia do que há-de vir sem refúgios.

O ritual da ginja e do caroço faz parte de um lugar cheio de história, de alma, não é coisa que não se queira ou que se deite fora, assim com as graínhas da fruta.

Sérgio Conceição, Scolari, a Nike e o azeite

Numa entrevista telefónica ao jornal i, Sérgio Conceição agita o frasco e o azeite começa a vir ao de cima:

Estive nove meses, mas a primeira reunião dos capitães – eu, Couto, Figo e Rui Costa – foi suficiente para o entender. Chamou-nos à parte e disse-nos que estava ali para treinar a selecção e dar o salto para um grande europeu.

Mas estamos a brincar ou quê? Mas que é isto? Um homem na selecção, que deve ser um privilégio, o maior privilégio, e ele só pensava em sair para um grande da Europa.

Mas brincamos ou quê? Falava em seriedade e disciplina. Aliás, afastou carismáticos, como Baía e João Pinto, com base na disciplina.

Isso é tudo muito bonito, mas ele não aplicava a regra. Nos almoços da selecção, a mesa dos jogadores é sempre maior que a dos treinadores, porque há mais jogadores que treinadores. Com o Scolari, não! A nossa tinha 18/20 pessoas.

A dele era maior. Mas estamos a brincar? Mas estamos onde? Ele levava os amigos brasileiros, os amiguinhos da Nike. Sim, porque ele é patrocinado pela Nike e entre um jogador da Nike e um da Adidas, escolhia sempre o da Nike.

Mas depois, lá vinha com a lengalenga da disciplina.

Então mas eu, que nasci em Coimbra, em Portugal, deixo-me ficar? Numa situação destas, deixo de agir? Mas estamos onde, pá? Que é isto? Ele ganhou o quê? Foi a uma final em casa e perdeu-a [Euro-04]. Mas há mais.

Há mais há,  a ler na íntegra.

O best-seller instantâneo

A história de um dos livros de maior sucesso em Portugal, já aqui várias vezes abordado no Aventar, é hoje recordada pelo i. A ler aqui.

CARTAZES PARA QUE VOS QUERO

(reposição, sempre actual)

PROLIFERAM POR AÍ!

Proliferam por todo o lado, em especial em época de eleições, mas para que servem?

As nossas ruas, as nossas avenidas, os cruzamentos, os entroncamentos, as rotundas e as praças e jardins, estão infestados de cartazes. Todos os partidos os colocam, uns maiores que os outros, uns com caras outros sem elas. Há-os para todos os gostos. Há-os para todos os tamanhos e cores. Encavalitam-se uns nos outros, e depois, quando esta semana acabar, e já não servirem para nada, para além de para nada terem servido, lá ficam a continuar a conspurcar a paisagem. Vão-se degradando, rasgados e velhos, e quem os pôs lá, demonstra o seu mais completo desrespeito por todos nós, não os retirando.
Mas no fundo, para que servem estes cartazes, para além de, num ou noutro caso, dar a conhecer partidos novos, ou caras novas. Bem, e para além de, obviamente, dar lucro e trabalho a umas quantas empresas, com dinheiro que todos nós pagamos. Quantos votos dá um cartaz? Quantas pessoas, por verem um cartaz bonitinho, se sentem dessa forma motivadas para votar no partido ou na pessoa à qual fazem propaganda?

Penso que nunca ninguém se sentiu impelido a votar neste ou naquele por via do cartaz. Sendo assim, para que servem? Porque somos obrigados a “levar” com este tipo de propaganda, que só prejudica a paisagem? E porque temos de continuar a aguentar com eles, semanas a fio depois de terem cumprido o objectivo que na quase totalidade das vezes não foi atingido?

Não se deveria limitar ainda mais a sua colocação e o tempo da sua exposição, de modo a que fosse minorada esta pecha?

Estou cada vez mais cansado desta maneira de fazer política e desta maneira de propagandear coisas que cada vez mais, a menos pessoas interessa.

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(In O Primeiro de Janeiro, 09-06-2009)

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Mafalda já tem uma estátua

Inaugurada ontem, no popular bairro de San Telmo, em Buenos Aires. Quino e Mafalda

Concurso Aventar: Onde fica esta estrada?*

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Durante estas férias, tive o prazer de percorrer, pela primeira vez, uma «estrada com portagem». Não uma auto-estrada, mas uma vulgar estrada. É uma estrada lindíssima, mas para percorrê-la tem de se pagar 85 cêntimos.
O concurso está aberto durante o dia de hoje a todos os leitores do Aventar (aventadores excluídos) e consiste em descobrir onde fica esta estrada: lugar, freguesia e concelho. Basta indicar a resposta nesta caixa de comentários. O prémio é um livro, relacionado com o local onde fica a estrada, e será entregue ao primeiro leitor que responder correctamente e na íntegra à pergunta.
Este concurso foi autorizado pelo Governo Civil do Porto.
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* actualizado.