está a chegar o verão, e com ele as moscas. as moscas ainda são piores que as pombas, essas ratazanas voadoras a que um evangelista em hora pouco inspirada atribuiu a visualização do espírito santo.
as moscas varejam, repetem-se, são a proto versão biológica do loop, com a diferença que o seu voo é menos matemático.
a mosca sacudida regressa sempre. prega que tudo se resolve na próxima geração, que o ódio é assim não se resolve já. basicamente a mosca suga, sobretudo o trabalho alheio. e os seus olhos multifacetados nem num espelho a reflectem. uma mosca analfabeta nunca entenderá que não sabe nem ler nem escrever. se a sacudirmos apanha uma aragem, vai dar uma volta, e regressa. regressa sempre para chatear o meu braço, que deve ter tocado acidentalmente num qualquer mel, ou pedaço de merda, a mosca adora o bolo e o excremento, é da sua natureza.
já quanto à mosca ciclista, a que faltam asas porque um jornal se meteu entre si e o negócio da sua vida, corre para lado nenhum mas para um sítio certo.
tenho uma mosca no meu copo de vinho, bêbada com estava não leu:
enfiou um chapéu que nem sequer era para moscas mas para mosquitos sugadores e transmissores de maleitas, e agora é assim, vai ali, volta, larga a caganita, faz as suas acrobacias, tenta aterrar-me num braço, sacudo, foge, regressa, detesto o verão, o calor não se pode despir, mas esse seu acessório garantido, a mosca, e sobretudo a que não se mede, mentirosa perante si própria sob risco de falhando entrar em depressão absoluta, vai mentindo ao mundo, como se o mundo, mesmo sem os multifacetados olhares da mosca, não a tivesse topado de gingeira.
detesto insecticidas, e não me apetece nada ir vasculhar estórias velhas, do tempo onde as moscas ainda falavam. agora só varejam. lá vou de ter de sacudir o braço mais vezes. paciência. volta outono, e leva-me as moscas daqui para o estado larvar. quando menos chateiam.
http://www.sexonaparvalheira.com/2010/04/fique-descansado.html
Eu tirava-lhe as asas 🙂