CHILE e PORTUGAL, MUNDIAL DE 2010!

selecção mundial 2010 e a História que permitiu a sua realidade

 Elenco: Claudio Bravo Goleiro, Real Sociedad; Miguel Pinto Goleiro, Universidad de Chile; Ismael Fuentes Zagueiro, Universidad Católica; Waldo Ponce Zagueiro Vélez Sársfield ; Arturo Vidal Zagueiro Bayern Leverkusen; Gary Medel Zagueiro, Boca Juniors; Gonzalo Jara Zagueiro, West Bromwich Albino; Osvaldo González Zagueiro, Universidad de Chile ; Mauricio Isla Zagueiro Udinese ; Roberto Cereceda, Meio Campo, Colo-Colo; Rodrigo Millar, Meio Campo, Colo-Colo; Claudio Maldonado, Meio Campo, Flamengo; Gonzalo Fierro, Meio Campo, Flamengo;Jorge Valdivia, Meio Campo,  Al Ain; Rodrigo Tello, Meio Campo, Besiktas; Manuel Iturra, Meio Campo, Universidad de Chile; Carlos Carmona, Meio Campo, Reggina; Matías Fernández, Meio Campo, Sporting; Alexis Sánchez, Atacante, Udinese; Humberto Suazo, Atacante, Monterrey; Esteban Paredes, Atacante, Colo-Colo; Héctor Mancilla, Atacante, Toluca; Jean Beausejour, Atacante, América.

…para Sérgio Aurélio da PCmedic que me ajudou com as imagens…

…e Fernando Pessoa que colaborou com ideias…

Viva a Selecção Portuguesa do Mundial de 2010, que hoje goleou sem respeito nem  piedade e se nenhum dó, a selecção da Korea do Norte, que correu imenso para salvar a sua honra, e o impiedosos, descobridores do mundo como se pensam, esquecem que há países que  não podem ser atacados de forma vil, como foi no Japão, nos anos 500 do Século I, ou os Indianos, anos mais tarde. Nem se lembraram que havia Estados livres na África, e a atacaram, como à Korea. Coitados de nós, os denominados países do Terceiro Mundo, olhados pelos Senhores da Europa, com imensa tristeza. Não é em vão que no meu texto sobre o auto exiliado Saramago, que foi maltratado no Portugal que amava e que nem a nossa Soberania louvou ao nosso poeta por estupidezes, não em vão, digo: silêncio, o poeta descansa para escrever o seu próximo texto que nos deve enviar a todo minuto desde a casa de Pessoa ou dos Bicos. Portugal tem esse terrível defeito, de gritar, festejar, beber até o alcoolismo, quando são outros os que fazem o trabalho. Antes, guardam silêncio pela sua inata insegurança que levara ao Zé a nem ter honras fúnebres no seu enterro.

É assim também que pensam dos coitados sul-americanos, que nem se importam em proferir a notícia que a seguir ao jogo de hoje às 12.30, havia um Chile a combater pela sua mais valia, lucro de honra e ser aceite como os portugueses têm a manha de se aceitarem a si próprios como os melhores. Ai! do que não será se vencer o Mundial! Ai! do que será se o não o conquistar! Se vencer, duvido, não termos  festa de meses completos; se perder, rápidas desculpas sobre de quem é a falta, porque nunca assumem as suas  próprias derrotas.

Sou hispano,anglo, chileno e luso, mas doí-me este comportamento pouco arrogante do meu povo descobridor de outros.

Será o Chile assim?

Não é comigo, hoje, falar dos jogadores da Selecção do Chile do Campeonato Mundial de Futebol de 2010. Os comentaristas, as notícias, os jornais comentam, analisam, sabem do que tratam. Apenas queria dizer que vi o desempenho da selecção e como a nossa anterior Presidenta da República, Michelle Bachelet,

Antiga Presidenta do Chile, filha do socialista General Bachelet, torturados juntos

 estava presente, prestigiando, com a sua linda presença de Senhora, o desempenho elegante, a forma de atacar e o golo marcado à República das Honduras – país da América Central, com Tegucigalpa, como capital é limitado a norte pelo Golfo das Honduras, a norte e a leste pelo Mar das Caraíbas (por onde possui fronteira marítima com o território colombiano de San Andrés e Providencia), a sul pela Nicarágua, pelo Golfo de Fonseca e por El Salvador e a oeste pela Guatemala.

O Chile, como sabemos, está no fim do mundo, ao Sul, entre o Peru, a Bolívia ao Norte, a Argentina a Leste, e a Antárctica, no Sul do Sul.

Sabemos que foi habitado pelo povo Mapuche, ensinado a trabalhar (sobretudo ao nível da agricultura e dos sistemas de rega), a ler e a contar pelos Inca, até ao Século XV. Século em que os Espanhóis chegaram à hoje América Latina. Bem trataram os novos invasores de matar os poucos que apareceram, pois os Mapuche continuaram, no país, a ser milhares de pessoas, divididos em clãs. O primeiro europeu a conhecer o território chileno foi o português Fernão de Magalhães, na sua tentativa de circum-navegação do planeta sob as ordens de Carlos I, Rei de Espanha, sem, contudo, entrar em terra. O primeiro explorador de grande parte do território chileno foi Diego de Almagro, sócio de Francisco Pizarro na conquista do Peru. As disputas que teve com Pizarro pela divisão das riquezas do destruído império Inca levaram-no a aventurar-se nas terras do sul. Almagro partiu de Cuzco em Julho de 1535. Muitos historiadores acreditam que uma das razões da viagem de Almagro está ligada a rumores da existência de um reino muito mais rico que o Inca, o qual poderia ter surgido de forma intencional como forma de debilitar as investidas conquistadoras e assim permitir uma rebelião nativa.

Depois de percorrer o caminho do Inca (cruzando territórios correspondentes às actuais Bolívia e norte da Argentina), Almagro realizou a travessia da cordilheira dos Andes com terríveis resultados: a maior parte da sua comitiva morreu durante o percurso devido à hipotermia. Ao fim de mais de nove meses, Almagro chegou ao vale de Copiapó, em 21 de Março de 1536.

Organizando o reconhecimento da sua governação sobre Nova Toledo (nome dado ao território cedido ao conquistador por parte do monarca espanhol), não encontrou as riquezas que tanto buscava. Um confronto ocorrido em Reinohuelén entre os indígenas e uma das patrulhas dos invasores é considerado a primeira batalha da Guerra de Arauco, que, até à actualidade, ainda não acabou…. Decepcionado e cansado da desastrosa viagem decide voltar ao Peru, em 1536, tomando a rota de Arequipa até Cuzco, onde se rebela contra Pizarro.

 Em 1540, Pedro de Valdivia levou a cabo uma segunda expedição, com a qual se iniciou o período da conquista. Este, ao contrário de Diego de Almagro, tomou a rota do Deserto de Atacama.

Ao chegar ao vale de Copiapó, toma posse solenemente do território em nome do rei de Espanha e nomeia-o Nova Extremadura, em homenagem à sua terra natal. Renova a marcha até ao vale do Aconcagua, onde o cacique Michimalongo tentou detê-lo sem êxito. Em poucos meses Valdívia foi proclamado pelo cabildo Governador e Capitão Geral da Nova Extremadura. Inicialmente rejeitou a ideia, vindo, porém, a aceitar o cargo em 11 de Junho de 1541.

Europeu a matar indios Chilenos para a gloria da coroa Espanhola

Pedro de Valdivia

Nesta primeira etapa lutou contra os indígenas do norte do país, tentando consolidar a dominação espanhola naqueles territórios; quando dispôs de mais tropas iniciou a ocupação dos territórios situados mais a sul e iniciou a fundação das cidades: La Serena (1544), Concepción (1550), La Imperial (1552), Valdivia (1552), Villarrica e Los Confines (1553).

Em 1553, data em que o país parecia definitivamente pacificado, os Mapuche, dirigidos por Lautaro e Caupolicán, iniciaram uma insurreição, onde Valdívia, num dos combates, perderia a vida. O novo governador, García Hurtado de Mendoza y Manríquez (1557), posterior vice-rei do Peru (15891596), reconstruiu as cidades destruídas, mas não obteve sucesso sobre a resistência dos indígenas.

Acrescento unicamente, pois já aqui abordei esta temática, que o seu captor e juiz, foi Lautaro, seu antigo pajem que entrara ao seu serviço com 15 anos de idade, para descobrir os segredos destes estrangeiros ou Huincas, na língua Mapudungún (ou língua da terra). Lautaro, depois de mais de dez anos ao serviço dos invasores, organizou a sua Nação, milhares de clãs Mapuche juntaram-se para um assalto final com o objectivo de expulsarem os Huinca, mas, aconteceu uma tormenta, levando os Mapuche a pensar que se tratava de uma vontade do seu Deus Pillán, ou Rei do mato, para que os estrangeiros continuassem no Chili – país do frio em Quechua, país distante, em Aimara, esse antigo nome da hoje República do Chile.

República que, apesar de comemorar a sua independência como colónia da coroa de Espanha a 18 de Setembro de 1810, de facto ficou livre dos conquistadores bem mais tarde, com a chegada do Exército dos Andes, a cargo do general argentino José de San Martín, incorporado por Bernardo O’Higgins, líder das milícias chilenas. Este Exército Libertador, que inicialmente contava com 4.000 homens e 1.200 membros da tropa de auxílio para condução de mantimentos e munições, cruzou a Cordilheira dos Andes e em 12 de Fevereiro de 1817 derrotou as tropas reais na Batalha de Chacabuco, dando início à Pátria Nova.

 O’Higgins foi nomeado Director Supremo e, em 12 de Fevereiro de 1818, primeiro aniversário da Batalha de Chacabuco, declara formalmente a independência do Chile, que se confirmaria com a vitória do exército chileno na Batalha de Maipú, em 5 de Abril do mesmo ano.

O seu Governo, como Director Supremo, acabou em 1833, ao entregar o seu mando ao descontento Congresso de Senadores e Deputados. Exilou-se no Peru, onde faleceu, voltou ao Chile com honras militares quarenta anos depois.

O Chile não foi um país pacífico, enquanto se ia formando essa nova República, que acabou por ficar em paz em 1990. Dois Presidentes morreram no desempenho do seu cargo: José Manuel Balmaceda, asilado na legação Argentina até à data em que terminava o seu mandato, a 19 de Setembro de 1891. E Salvador Allende, assassinado pelo levantamento das Forças Armadas, a 11 de Setembro de 1973, crime organizado, como se sabe, por Nixon e Kissinger, a burguesia chilena e a CIA. Deposto o Ditador, a República voltou às suas festas, a lucrar de um alto PIB com as minas de cobre e carvão, a tomar onces em casas de amigos ou na própria, o alimento mais importante a seguir a um forte almoço. Continuou a ser um país confessional católico, a organizar uma vida em família estreita, carinhosa e amável. Como se nunca nada tivesse acontecido. Esse lanche de tomar onces, é quase um ritual sagrado e a família espera os seus membros para comerem todos juntos. À noite, apenas uma sopa, deitar cedo, porque todos os trabalhos se iniciam pelas 7 da manhã. Férias, poucas e curtas; dias de Santos, apenas em pequenas vilas, e lentamente vão acabando. Até a famosa Sexta-Feira Santa, é comemorada numa segunda-feira adequada.

É o que esta selecção representa: um país acomodado e trabalhador. País do meu berço, apesar de ser Huinca por todos os costados da família, que, por causa de uma viagem de prazer, ficaram no Chile ao falecer no transatlântico, a mãe de duas raparigas e dois rapazes. O luto era prolongado, as crianças cresciam e foram estudando, transferindo bens de Espanha para o Chile, até se esquecerem das suas origens, como muitos no Chile.

Lautaro e O´Higgins, foram os fundadores da Pátria, que deverá levar esta selecção a ganhar…

Fonte: a minha memória, os historiadores, uma imensidão deles no Chile, e as saudades de tomar onces sempre só e quando calhava. E rememoro esses dias alegres e saborosos que dois terramotos quiseram destroçar, sem conseguirem dobrá-lo: o da ditadura e o da natureza ocorrido a 27 de Fevereiro deste ano, que ainda não pára…