Touradas e Catalunha

Apesar deste meu poste, cujo conteúdo mantenho inteiramente, não quero passar por aquilo que não sou: um paladino quixotesco da actividade taurina. No entanto, esta reflexão da Carla Romualdo e a ligação que ela faz entre o meu texto e a recente proibição das touradas na Catalunha, trazem-me de novo à vaca fria ( já que regressar ao touro quente poderia ferir susceptibilidades).

A recente proibição das touradas na Catalunha, disfarçada, como e bem diz a Carla, de “preocupação com os direitos do animal”, mas que  “não deve ser mais do que as ganas de pôr fora do território catalão o último grande símbolo do Estado espanhol” faz-me notar uma terrível, e para mim insanável, contradição: alguns dos argumentos que aplicam ao fim das touradas deveriam ser dirigidos à vontade independentista.

Entre outras razões, afirmam os proibicionistas ser anacrónico, nos tempos que correm, a manutenção das faenas. Ora, é precisamente isso que eu acho da independência da Catalunha – totalmente anacrónica nos tempos que correm. Não ponho, sequer, em causa que  existem razões históricas para que esse sonho se manifeste e tivesse toda a razão de ser até há três ou quatro décadas. Concordo com a vontade autonómica, a revitalização da língua, a valorização de usos e costumes (de que, curiosamente, a tourada faz parte). Mas a independência da Catalunha, no actual quadro europeu e no futuro desenho federalista da europa, faz tanto sentido como a independência das Berlengas ainda que se lhes acrescentasse a Madeira, Porto Santo e as Selvagens. Ou seja, não faz sentido nenhum.

Tendo a Catalunha autonomia crescente e estando os estados europeus em fase de progressiva diluição de poderes, a criação de um estado  independente na Catalunha não passaria de um ridículo espectáculo em que o touro catalão seria morto em plena arena ao fim uma vida brevíssima, que não justificaria, nem de longe, nem de perto, o bilhete que os aficionados pagariam pelo ingresso (não se cria um país para durar vinte ou trinta anos).

Outra razão aduzida, a económica, faz-me pensar que, mais uma vez, estaríamos perante um espectáculo em que o mais forte estocaria o mais fraco. Se a Catalunha se desvincular de Espanha por ser um contribuinte líquido para os cofres espanhóis, comporta-se pior que a Alemanha durante a crise grega, seria como a Alemanha ou a França (falo com muitos alemães e franceses que me garantem estar esse discurso populista a ganhar cada vez mais adeptos nos seus países) recusarem a C.E. por contribuírem para os fundos de coesão, apesar de pretenderem que os seus produtos circulem livremente num espaço com o qual não querem ser solidários.

Àparte isso, trata-se apenas de um espectáculo nacionalista, pouco consentâneo com uma verdadeira consciência europeia. Dito de outra forma, trata-se de um retrocesso disfarçado de avanço cultural e civilizacional.

É por razões como estas que sou contra a proibição das touradas e não apoio a independência da Catalunha. Digo-o claramente.

Comments


  1. O “futuro desenho federalista da europa” não é nada anacrónico.
    Deixa, que em compensação a ideia de que o estado espanhol (ou seja o domínio de castelo sobre os países ibéricos) tem algum sentido fora de Madrid, essa é bem futurista.


  2. louwis bittencourt says:

    olha eu sou brasileiro ja vivi na espanha e digo a vc com toda a vemencia que existe crueldade nas touradas, cara blza se vc gosta isso é uma mentalidade sua, mas dizer que esse ato é prestigioso e um espetaculo, realmente é para quem gosta de ver tortura, masoquismo e ver até que ponto o homem pode chegar para atender as suas vontades, e eu particularmente estive ja em protesto contra touradas, e vou continuar até que parem com essa manifestação que se tiver logica cara nao tem minima necessidade, vc que parece ser um cara culto e racional deveria ver que nao tem sentido algum, como que no brasil tem as vaquejadas para quê. ? o que se aprende com isso? o que leva para a vida com isso? nao me venh com argument que é cultura de um povo, que essa entao deve ser muito pobre e fraca. eu sou contra e vou ser até o fim seja contra a tourada e as pessoas que praticam.