Deve estar radioso António Mexia; hoje, acolitado pelos prestimosos ministérios do Ambiente e Cultura, várias autarcas locais (em estado de euforia), e vária outra dessa gente progressista que nos governa (a nós, não a eles), foi iniciar a construção de uma barragem inútil para, dizem, produzir electricidade!…
O Vale do Tua perece assim face aos interesses da Nação que, esses mesmos interesses, tornaram os municípios do Douro os mais pobres de todo o Reino Maravilhoso de Trás-os-Montes, precisamente desde que as salvadoras barragens começaram a chegar;
Depois a salvação de Trás-os-Montes era o IP4, essa desastrosa estrada pejada de cadáveres lançada por Cavaco, o mesmo que, falando ainda recentemente de comboios, se manifestou seu adepto mas que, entre 1988 e 1992 tratou da tosse a cerca de 25% da rede ferroviária.
Tudo isto acontece num pequeno país que gasta o dobro do petróleo** per capita da Dinamarca, que tem o maior rácio de km de auto-estrada por habitante, o único em que a rede de auto-estradas é mais extensa que a rede de vias férreas, e com das piores taxas de salário e mobilidade da Europa.
Portugueses, se morrerdes todos embrenhados numa bola de petróleo em fogo, electrocutados e afogados logo a seguir, será pequeno castigo… aplaudirei de pé.
** o nosso problema – diriam iluminados tudólogos lisboetas – é mesmo esse, a falta de produção energética, não o excesso de consumo…
Caro Dario Silva:
Estamos de luto.Mas penso que o tempo nos vai aliviar…A cerimónia de hoje, “lançar a primeira pedra” para mim, é encomenda “dele”, pois tem carência, da droga do espectáculo.
Ficará por esta pedra!…Será a minha esperança, além de ter fé nos nossos padroeiros, que “usavam” a linha do TUA…
A minha 1º viagem foi no Natal de 1938.Seguiram-se muitos anos.Meus pais iam levar-nos à estação de Cortiços( aldeia das minhas raízes) e eles seguiam de carro e esperavam por nós, em S.Bento.
Caro Amigo, meu avô materno era ferroviário.Vamos apelar aos transmontanos genuínos de coração, com cheiro ” a terra com suor”, dos nossos antepassados.Noto o vosso empenho
e preocupação em transmiti-lo aos de mais. Conte comigo.Eu não me preocupo com “ele”, mas o “mexia” é capaz de mexer…
Até amanhã! Até sempre!
Júlia Príncipe
Transmontanos sérios, assim como portugueses decentes, são já muito poucos e os poucos que sobejam acreditam que venham a ser caçados dentro de reservas de caça e “parques naturais” a criar para o efeito; serão inaugurados pela EDP com a benção da elite cóltural deste país em fim de regime e de terra queimada.
Depois será tarde, foi bom enquanto durou…
Ainda há poucos meses, em São Lourenço, discutia saudavelmente com uns senhores da terra a questão da barragem e muito me supreendi com a séria convicção deles que a barragem trará tudo que é anunciado de bom: electricidade (como se não houvesse produção suficiente e desperdício a mais), emprego (a construir a barragem, com certeza, e não com recurso a mão-de-obra transmontana), turismo (porque com certeza todo o mundo virá ver uma barragem igual a outras 200 em Portugal mas algo como o vale do Tua intacto encontra-se em qualquer esquina), …
E o principal, diziam-me, o principal é a água. “porque sabe… isto sem água, nada se faz…”
A incultura, por vezes, acredito que também mata.
Caro Dário: Portugal consome o dobro do petróleo da Dinamarca por unidade de PIB e não per capita. Neste caso consome menos que os Vikings. Somos é muito menos eficientes.