Egipto, amanhã começa o amanhã

Cheguei a declarar-me egípcio e a celebrar antecipadamente, ontem. Agora, enquanto todos festejam, felizmente, chegou a hora de fazer de advogado do diabo e dar  aos egípcios uma pequena notícia: este foi o último dia em que o processo no Egipto foi deles.

Amanhã, muito cedo, começam a aterrar os representantes das internacionais ideológicas e partidárias. Vão organizar o processo. Vão criar partidos, encontrar líderes, instruir filiados, implantar-se no país. Virão representantes dos EUA e da Europa domesticar a transição, garantir os fluxos, proteger Israel e os reinos sauditas, manter posições, garantir permanências.

Virão também outros, representantes de interesses económicos diretos e indiretos, ONGs, farsantes, bem-intencionados, extremistas de todos os extremismos, turistas das revoluções, negociantes de armas, oportunistas espertalhões, voluntários de causas politicamente corretas, etc., etc., etc.

Os peões (os egípcios, regime incluído) avançaram. Alguns comeram, outros foram comidos. Agora começam a sair os cavalos, os bispos, as torres, mas este é um xadrez com muitas casas e cores, há muito que acabou o xadrez das pretas contra as brancas.

Hoje festeja-se na Praça Tahrir. Ainda bem. Amanhã os egípcios começam a lutar por uma democracia que lhes convenha. É melhor que o saibam cedo, do que tarde.

Congratulations, Mr. Obama, you're a follower of Mr. "peanuts" Carter


Estamos no momento das cantorias e quermesses para todos os gostos. Seja. Os dias que aí virão, serão esclarecedores acerca do que sairá de tudo isto. Como não acredito em “internacionalismos fraternais”, parece-me bem provável a “alá-u-akbarização” da coisa. Pessimismo? Talvez. Esperemos e veremos se 1979 se repetirá.

Entretanto, os portugueses bem podem ir tomando consciência de estarem amarrados a um cadáver. Este!

O Faraó Mubarak deixa os militares encalhados

Sem resignar explicitamente o cargo, o presidente egípcio e familiares deixaram o Cairo  para se refugiarem no palácio do clã, na estância balnear de Sharm el-Sheikh. Mubarak reinterpretou, na história contemporânea, o papel do Faraó do Antigo Egipto: um rei absolutista a que o povo da antiguidade obedecia com veneração. De facto, como chefe político supremo, o Faraó, reza a História, estava impregnado de poderes divinos; de tamanha transcendência que lhe era reconhecido o poder milagroso de fazer repetir as cíclicas cheias do Nilo e da consequente renovação anual da fertilidade nas margens que orlam o extenso rio. [Read more…]

Adoro o cheiro do povo na rua pela noite, pela manhã

apoesiaestanarua

O suor, o fedor a povo, a comunhão humana que só as revoluções fabricam, a solidariedade, a fraternidade.

Adoro revoluções naturais, sem partidos da classe operária e outros aditivos tóxicos.

A terra dos escravos que ergueram as pirâmides, dos camponeses que lavraram o vale do Nilo, pela primeira vez é sua, deposto o último faraó.

Que seja mesmo o último. Façam o favor de não gritar o povo unido jamais será vencido, conselho de amigo, dá azar.

Uma bem conhecida lição


Com a crise do Egipto aprendemos uma coisa: nos americanos não se pode confiar.

Mubarak Abandona o Poleiro

Mubarak resignou-se e desceu da cadeira; nasce hoje uma nova esperança para vários outros regimes democráticos do Norte de África…

O milagre da multiplicação dos disparates no deserto de ideias da nossa direita

Na verdade, o Egipto foi a pátria ideológica da Al-Qaida, e a organização que individualmente mais moldou o fundamentalismo islâmico, é a Irmandade Muçulmana que, sabe-se, não teve até agora papel fundamental nos protestos. Mas o grupo existe, tem força e uma longa história de perseguições por parte de Nasser, Sadat e Mubarak, e representa uma presença activa contra o secularismo e a modernização da sociedade egípcia. A queda de Mubarak significa o fim de uma ditadura, mas também tira do poder um militar que sempre foi um travão à influência fundamentalista. Para haver democracia no Egipto não basta derrubar Mubarak, é preciso impedir que, no vazio do poder, não ascenda a Irmandade Muçulmana.

Os negritos são meus, a saber: sujeito, vírgula e predicado.

As regras para virgular são complicadas, e por vezes subjectivas, a da vírgula entre sujeito e predicado é das poucas muito claras, sendo gramaticalmente um erro grave.

Estou a desviar a atenção para a gramática, em vez de me referir ao conteúdo? Pois estou. Sabendo que Pacheco Pereira até já soube o que é uma ditadura e que uma ditadura nunca será um mal menor, prefiro corrigir-lhe a gramática. O resto já não vale a pena

Aguardam a Sua Chegada na Brumosa Manhã Portuguesa

É um Portugal nebuloso o que temos hoje em dia, cheio de secretas esperanças e de cada vez menos valores. Com a revolução, já lá vão uma quantidade de anos, chegou a democracia nas palavras que depressa desapareceu nos actos (se alguma vez chegou a existir neles), chegou alguma modernidade e um moderado desenvolvimento, subiu temporariamente o nível de vida de uns quantos, com todos a passarem a considerar-se aristocratas e, fruto de inúmeros erros, os critérios das escolhas das chefias baseados na competência foram desaparecendo como que por encanto, substituídos pelo laxismo, facilitismo, pelo grupo político predominante e pelo favorecimento económico.

Desde o tempo do poeta Pessoa que os fantasmas povoam o nosso imaginário, se bem que mesmo antes do primeiro quarto do século passado, seja certo que também eles por cá tenham andado. [Read more…]

A moção do BE serve para quê?

José Manuel Pureza declarou hoje à Antena 1 que a direita cairá no ridículo se votar a moção de censura ontem anunciada por Francisco Louçã. Acrescentou ainda que a moção se destina a separar águas e distinguir esquerda e direita. É assim a modos que uma moção-electrólise, digo eu.

O raciocínio é mais ou menos este: nós vamos apresentar uma moção mas vocês não sejam ridículos, não votem nela. Não votem, porque se votarem, a moção faz efeito e não é para isso que a apresentamos, é só para dizer que nós somos nós e vocês são vocês. Nós chamamo-nos B. de Esquerda e vocês assumem-se de centro direita e de direita. Toda a gente sabe isso, mas  nada como uma moçãozinha para deixar claro o que todos sabem.

Dito de outra forma: se vocês votarem a nossa moção são ridículos. Caso contrário, a moção não serve para nada (antecipadamente assumido por JMB) e torna-se ridícula.

Sócrates esfrega as mãos e ri-se. Pudera.

Eleições presidenciais: as situações deveram-se a ocorrências

 

Bronca eleitoral deveu-se a várias “fragilidades”

De acordo com as conclusões divulgadas, os problemas verificados nas eleições de 23 de Janeiro, e citando o relatório, tiveram origem numa “convergência de razões de natureza operacional e de natureza técnica“. Para além disso, ficamos a saber que “uma outra gestão da mesma infra-estrutura tecnológica poderia ter sido suficiente para evitar os comportamentos anómalos ocorridos no dia 23 de Janeiro“. Daí pode concluir-se que essa mesma infra-estrutura se mostrou “inadequada à resposta de grande concentração de solicitações”, o que não significa que “exista obrigatoriamente uma necessidade específica de reforço da componente computacional”.

Dito de outro modo, e tendo em conta a informação disponível sobre as conclusões do relatório acerca dos problemas ocorridos durante as eleições presidenciais, é possível deduzir que esses mesmos problemas foram consequência das respectivas causas, ou seja, que algumas situações se deveram a certas ocorrências, ou melhor, que, no fundo, as coisas correram mal pela simples razão de que não correram bem. Um estudo mais aprofundado sobre o tema poderia, mas só se fosse realizado, conduzir a um aprofundamento do assunto, do mesmo modo que uma análise mais incisiva dos eventos poderia levar a que se pudesse perceber cabalmente o que era perceptível.

Sindicalismo, tecnologia e idas à escola

Com toda a consideração que tenho pelo Luís Lobo, dirigente do meu sindicato e rapaz da minha criação, esta sua afirmação ao Público:

“Não trabalhamos por email ou por blogue, vamos, pessoalmente, escola a escola, alertar os professores, é um trabalho que dá frutos, mas não de um momento para o outro”

obriga-me a perguntar se entende por ir à  escola afirmar numa reunião sindical que o actual processo de liberalização selvagem resulta da queda da União Soviética, acrescentado com requintes de crueldade que as social-democracias nórdicas apenas existiam porque o sol na terra estava ali ao lado. Aconteceu na minha escola, no 1º período.

Pesem as nossas divergências ideológicas sei que o Luís não confunde uma sessão de esclarecimento do PCP com uma reunião sindical. Além disso repito o que já escreveu o Paulo Guinote: nós estamos nas escolas, vocês vêm cá reunir, e descobrir realidades que desconhecem. Tivesse o SPRC aceite a proposta feita há muitos anos de limite de mandatos dos dirigentes sindicais, ou seguissem estes a prática exemplar de alguns colegas, que se recusam a ficar no sindicato a tempo inteiro, e as coisas seriam mais fáceis.

Quanto ao mail, deixa cá ver quantos anos demorou o SPRC a descobrir que podia mandar mails aos sindicalizados, mais barato e eficaz que o jornal em papel, e já agora aproveito para contar que no dia 13/04/08 enviei um mail ao webmaster da Fenprof solicitando a implementação de um feed na página, o google reader facilita, que me respondeu “Feed RSS é coisa que está planeada, e que será implementada logo que possível.”

Azar, até hoje ainda não foi possível. Isso e deixar de usar software da Micro$oft.

Cuidado: não recomendado a pessoas sensíveis

Notícia pornográfica, daí a bola vermelha, não recomendada a pessoas sensíveis. Se se impressionar com facilidade não leia. Não digam que não avisei.

Será o CM feito por um bando de garotos excitados?

A capitã Patrícia Almeida poderá, muito em breve, sair do Comando do Destacamento Territorial da GNR de Santarém. A oficial que protagonizará, em conjunto com a cabo Teresa Carvalho, o primeiro casamento gay da história daquela força de segurança, pediu para ser transferida para o Comando Administrativo e de Recursos Internos (CARI), em Lisboa.

In Correio da Manhã

O Correio da Manhã faz destaque hoje desta informação. Com chamada à primeira página. Parece que por lá dizem ser uma ‘notícia’. Não consigo é perceber porquê.

É a primeira oficial da GNR a fazer um pedido de transferência? É a primeira oficial de nome Patrícia a pedir a transferência? É a primeira vez que o Correio da Manhã publica uma notícia sobre a GNR? É a primeira vez que o Correio da Manhã (CM) publica uma notícia? Ou não há notícia e o CM tinha falta de assunto? O CM faz notícias de todos os pedidos de transferência? Ou só dos pedidos de transferência de elementos das forças de segurança? O CM faz notícias ou é o boletim interno da GNR?

Só não quero é acreditar que o CM faz esta ‘notícia’ – e com chamada à primeira página – porque quem pede a transferência é uma senhora homossexual que vai casar. Porque não quero acreditar que o CM seja um feito por um bando de miúdos que se excitam com informações deste teor.

De Âncora a Moledo do Minho

Linha do Minho, anos 60-70.

as minhas memórias-6-a aplicação da lei

a memória existe e é escrita e para obedece à lei

Pareciam-me uma ignomínia as formas de tratamento dos patrões aos inquilinos, especialmente se eram da Nação Mapuche. Porque denomino Nação ao que se designa normalmente uma etnia na nossa ciência da Antropologia? Primeiro, porque eram os proprietários da terra tomada pelos invasores estrangeiros, pelos huinca. Porém, para os Mapuche, eu não era chileno, era estrangeiro ou huinca. Este conceito não está definido no Dicionário Da Real Academia da Língua Espanhola, por não ser palavra da mal chamada Língua Espanhola. Como também não aparecem as palavras usadas pelo luso – galaico da Galiza, ou o Bable das Astúrias, denominado pelo arrogante Dicionário citado de dialecto de los asturianos, ou o euzkaro das Províncias Bascas que a real academia da língua não reconhece como idioma do Reino de Espanha, tal como a língua Catalã, que define como Lengua romance vernácula que se habla en Cataluña y en otros dominios de la antigua Corona de Aragón, apesar disto, o meu avô paterno, aragonês, falava um Castelhano quase imperceptível. [Read more…]

A teimosia de Mubarak e a obstinação do Povo Egípcio

Praça Tahrir - CairoOntem, em diversas cidades egípcias,  havia imensa esperança na retirada de Mubarak. No santuário da revolta, a Praça Tahrir no Cairo, a expectativa do povo estava ao rubro. Quem pôde e quis, à volta do globo, testemunhou. A complementar as imagens,  notícias de diversas fontes, da BBC à Reuters, indiciavam que Mubarak estava prestes a demitir-se.

Cerca de 22:00 horas no Cairo, finalmente, via TV, o ditador surgiu a discursar às massas. Ao ruir das expectativas, eclodiu a imensa frustração dos cidadãos na Praça Tahrir; e certamente em muitas outras praças, ruas e ruelas do Cairo, de Alexandria, do Suez e de, sabe-se lá, quantas mais localidades e povoações do país. Mubarak confirmou-se disposto ao sacrifício de prolongar os 30 longos anos de presidente, até Setembro próximo. Prometeu  alterações da lei constitucional e respeitar, agora sim, um povo,  que ele próprio desprezou ao longo de três décadas. A Omar Souleiman, o vice-presidente e homem de confiança dos EUA, delegará poderes no sentido da democratização do Egipto. [Read more…]