Vale a pena ler com atenção a crónica de Pedro Adão e Silva, publicada hoje no Expresso, acessível a todos nós, graças aos bons ofícios do Paulo Guinote. Só vos digo isto: adivinha-se a substituição dos Magalhães pela Playstation. Para além disso, será possível acabar com o Ministério da Educação, despedir os professores e, até, dispensar os pais. Não riam, que o rapaz escreveu aquilo a sério. Vá lá, a sério!
Quero uma escola só para os meus filhos, com um emblema do meu clube e que sirva bacalhau à Braz duas vezes por semana
Penso que será consensual afirmar que, numa determinada área geográfica, é justo que o Estado assegure a existência de espaço e tempo escolares suficientes para a população aí residente. A partir do momento em que isso esteja assegurado, com ou sem contratos de associação, por que razão deverá o dinheiro dos contribuintes servir para pagar mais espaços e tempos do que os necessários? Faria algum sentido abrir mais estações de correios ou mais centros de saúde do que os necessários? Do mesmo modo, não faz sentido o fecho indiscriminado de escolas ou o encerramento cego de centros de saúde, mas gastar mal dinheiro (a mais ou a menos) é um dos principais passatempos do Estado português.
Colide essa questão com a da tão apregoada liberdade de escolha? Por um lado, sim, sobretudo se estivermos a falar de uma faixa da população com limitações económicas e/ou que não valorize devidamente a escola. Este mesmo grupo deveria ser alvo de uma atenção especial por parte dos responsáveis pelas políticas educativas e sociais, sabendo-se, no entanto, que o verdadeiro problema está no facto de que as políticas educativas e sociais são, na realidade, manobras de relações públicas realizadas às ordens do Ministério das Finanças.
No meio desta luta a favor da manutenção indiscriminada dos contratos de associação, estão pais que desejam que o Estado lhes pague o privilégio de escolher a escola preferida para os filhos, independentemente de a zona onde vivem já ter tempo e espaço escolares suficientes. No meio desta luta, estão empresários que buscam o lucro fácil proporcionado pelas parcerias público-privadas que continuam a sugar dinheiro do Orçamento de Estado. No meio desta luta, estão muitas personalidades ligadas à Igreja, em busca de uma evangelização mais fácil, graças ao usufruto do dinheiro até daqueles que não são crentes. No meio desta luta, estão escolas que cometem abusos repetidos e silenciados sobre os seus funcionários. No meio desta luta, está muita gentinha que não sabe usar o direito a discordar. No meio desta luta, estão escolas que devem ter contrato de associação e escolas que não devem ter.
A santa cruzada passou-se
Desde que em Novembro comecei a aventar sobre o ensino privado que se instalou nos comentários uma espécie de santa cruzada, formada por professores dos colégios, mães e pais que usufruem de serviços religiosos pagos pelo estado, e que não se confundem com quem muito simplesmente não concorda comigo.
Escrever sobre os colégios da minha aldeia levou a que depressa surgissem insinuações sobre a minha vida privada e profissional, ameaças veladas aqui e ali, na demonstração dessa velha estratégia das hordas católicas: quando se esgotam os argumentos passa-se para o ataque ad hominem, quem não é por eles só pode ser uma má pessoa, o velho ódio ao herege tão típico dos fundamentalistas.
Ontem chegaram ao ataque tu quoque, acusando-me de ter estado destacado pelo Ministério da Educação na Companhia de Teatro Viv’arte.
A Companhia de Teatro Viv’arte pertence a uma associação cultural sem fins lucrativos, isenta de impostos por despacho assinado pela sra. Manuela Ferreira Leite, foi fundada pelo professor Mário da Costa, meu mui caro amigo e um dos melhores professores que Portugal tem, a partir duns miúdos complicados do 2º ciclo Oliveira do Bairro e depois de outros encontrados nas valetas do mundo por onde passa, insistindo em nelas recolher pessoal da pesada que algumas vezes conseguiu transformar em gente com profissão e vida estável, tendo de resto o estatuto de empresa de inserção. Ser acusado disto por um professor de um colégio onde menino com necessidades educativas especiais não entra tem a sua graça, como ironia, mas encheu o copo. Quem continuar a comentar os meus textos com acusações ao autor, ou ameaças e insinuações, verá todos os comentários aos meus postes apagados, como agora fiz.
Discutam e divirjam de mim à vontade; mas quando, à falta de argumentos, o argumento passa a ser o outro argumentador, temos o caldo entornado.
Dicionário do futebolês – roubar
Já se sabe que o “nosso” clube só pode perder por razões desonestas ou estranhas ou as duas juntas. De qualquer modo, vai tudo dar ao mesmo, porque aquilo que o adepto considerar estranho é desonesto. Já se sabe, “somos sempre roubados” ou “roubadinhos”. Também já aprendemos, em sessões anteriores, que os autores dos maiores roubos são (ou estão ligados a) os clubes que estiverem em primeiro lugar, o que quer dizer que há gente que, muitas vezes, só consegue roubar durante uma semana, como acontece com algumas agremiações que alcançam o topo da tabela, enquanto os candidatos ao título, os futuros ladrões, se distraem com alguns empates iniciais, vítimas de assaltos por parte de senhores que deviam usar o apito ou a bandeirinha noutras partes do corpo.
Como reage o adepto ganhador ao conviver com tais agressões ao bom nome do seu clube? Num plano ideal, deveria ficar ofendido, bater no peito, urrando honestidades e, no limite, afastar-se de convivas tão indesejáveis ou convidar os invejosos a virem até à rua se forem homens. Talvez em países civilizados isso aconteça, mas, em Portugal, a testosterona é doutro calibre. Aqui, o adepto do clube acusado de latrocínio, cercado por uma matilha de derrotados, recosta-se na cadeira, compõe um sorriso cínico e orgulhoso e sentencia superior: “Ó pá, vocês nem roubar sabem!” [Read more…]
230, 180 deputados, para quê tantos?
A discussão à volta do número de deputados na Assembleia da República é inútil, se não colocarmos também em cima da mesa a questão dos círculos uninominais. Infelizmente a questão, séria e urgente, foi colocada em cima da mesa pelas piores razões, o ministro Jorge Lacão que defende há vários anos uma reforma do sistema político, prestou agora um péssimo serviço à causa, ao pretender utilizá-la como manobra de diversão, no exacto momento em que parte significativa da população portuguesa, viu diminuído o salário ou pensão, acompanhado por um brutal aumento da carga fiscal. O PSD aproveitou para cavalgar a oportunidade, sem que esteja tal como o PS, muito interessado em reformar o que quer que seja. Desde logo porque reduzir o número de deputados, seria interessante reduzir também o número de assessores, autarcas eleitos e demais pessoal político, iria significar desemprego para muitos boys que não sabem fazer rigorosamente mais nada na vida, a não ser lamber umas botas ou espetar umas facas nas costas uns dos outros. [Read more…]
Eu às voltas
Estou às voltas com a infantil e deliciosa inocência dos filhos, a prepará-los para uma noite reparadora que amanhã há trabalho. Silencioso, enquanto faço isto e aquilo, penso que eles têm a sorte de ter um pai que lhes vai poder contar na primeira pessoa o que eram aquelas gargantas, aquele serpenteado que vêem na foto antiga de um comboio que mete medo.
Talvez até se interessem por saber mais sobre aquela água vermelha pútrida que estaciona no colo de uma amarra de betão, enquanto nada por lá acontece. Vou poder contar-lhes, fingindo-me culto, que em Portugal há muitos casos singulares de projectos nunca acabados. Vou-lhes referir a ponte (rodoviária) da Régua, aquela que levaria o comboio a Lamego. Vou-lhes mostrar a foto da ponte seguinte sobre o rio Varosa, uma ponte integralmente construída para ficar de testemunho. Vou-lhes referir que Coimbra teve eléctricos e que também acabou com um comboio que trazia, na época, um milhão de pessoas no vai-vem pendular das gentes de Lousã e que também sucumbiu quando se quis travestir de metro de superfície, e os meus filhos decerto nem entenderão que estou a falar de quase cem anos de diferença, como não quererão enquadrar, na inércia de uma noite de tertúlia, que as linhas estreitas nem nunca chegaram ao seu destino, e, quando já amputadas lhes quiseram dar mais segurança, afinal desligaram as máquinas, deixando-as morrer, não cumprindo uma promessa solene. [Read more…]
Essa coisa chata da coerência
O grande estadista diz que…
… e no entanto…
Lisboa: Governo Civil proíbe manifestação da Amnistia Internacional
«O Governo Civil de Lisboa proibiu a concentração promovida pela secção portuguesa da Amnistia Internacional (AI) em frente ao Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, neste sábado, o primeiro dia da visita do presidente chinês, Hu Jintao, a Portugal. (…) A concentração da AI tinha como objectivos pedir a libertação do prémio Nobel chinês, Liu Xiaobo, o fim da detenção domiciliária da sua esposa, Liu Xia, e a comutação da pena de morte em prisão para o cidadão português de etnia chinesa, Lau Fat Wei, residente em Macau.»
Bem prega frei Tomás, faz o que ele diz e não o que ele faz.
A vi e morri por ela – texto romântico

A minha Dama das Camélias
Era uma Violeta, era uma Camila, era a namorada de Alexandre Dumas filho, era a segunda mulher de Giuseppe Verdi, essa soprano da qual ele, casado e com filhos, o libertador da Itália dos Borbon Orleáns, o Deputado por aclamação, foi seduzido.
Uma Violeta de La Traviata, escrita pelo nosso jovem galã, apenas pode ser um ser divinos, de riso alegre, de alegria pela vida, sem medo da confrontar, com as suas duas mãos esticadas, as penas e as alegrias do amor, ou o endividamento, a poupança, saber usar os artefactos informáticos com uma habilidade nunca antes conhecida para um amador. Os técnicos têm os seus estudos, a sua preparação, estão obrigados a resolver a nossa ignorância informática, a saber endireitar o que nós nada sabemos para poder escrever. Como acontece comigo cada dia que escrevo e não sei esticar o uso do artefacto sob os meus dedos. Ela foi formada por mim na minha ciência, era a minha companheira de caminhadas, sabe gritar quando fica impaciente e gritar alto, com zangam mas com feitio. Uma dama, uma senhora.
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