Carta de amor a Dublin


Sabes bem como eu amo Dublin. Não é uma cidade de monumentos. Não é uma cidade linda. Mas é uma cidade fremente de vida. De noite. De paixão.
Em Dublin, amor, fomos felizes e havemos de voltar a ser. Em Dublin, fomos tudo aquilo que tínhamos sonhado. Desde que estivessem cheias as canecas de «Guiness» e de «whiskey in the jar». No mais antigo pub de Dublin, o Brazan Head (1198), lembras-te?, erguemos todos os copos em honra da Molly Malone. Estava na hora de preparar os corpos para a noite do Temple Bar.
E enquanto lemos um livro do Oscar Wilde ou do James Joyce, saboreámos o «Fish & Chips» do Leo Burdock num dos baquinhos do jardim da Christ Church. Lembras-te das paredes? Edith Piaf. Bruce Springsteen. BB King. Tom Cruise. Todos levaram de lá um guardanapo de papel e, se calhar, também se foram sentar no mesmo sítio.
Vamos deixar as compras de lado. As compras naquelas lojas caríssimas que já conheceram melhores dias. Eu sei que é Natal, mas temos tempo para os presentes.
Vamos para o Temple Bar. Ó vamos. Ó vamos. É dali que somos. Daqueles pubs que são exactamente iguais aos que vimos nos filmes. Está a tocar o Patsy Watchorn. O Davy Spillane – lembras-te do Davy Spillane a tocar na Ribeira em 1990?, foi aí que estivemos juntos pela primeira vez.
É Dezembro. A aragem que vem do Liffey é gélida, devem estar uns zero graus, mas os homens andam de t-shirt e as mulheres de blusas caviadas. Dizem-nos que os irlandeses dantes eram pobres e que se habituaram a usar pouca roupa.
E se eles não têm frio, nós também não. A noite é uma criança e ainda temos muitas cervejas para conhecer, muitas ruas para calcorrear. As mesmas ruas que o Bono tantas vezes calcorreou enquanto trauteava os primeiros acordes do Bloody Sunday.
Exaustos, à noitinha, procuramos o conforto das camas do Porto Belo. Sim, porque há um Hotel Porto Belo em Dublin. No dia seguinte, não quiseste o pequeno-almoço irlandês, fiquei eu com os teus ovos, o teu bacon, as tuas salsichas e o teu fejão de lata.
No próximo dia 18 de Maio, vai ser lindo. Hoje até tu vibraste com a vitória do Braguinha e do nosso Mingos. Sabes bem que ele faz parte do nosso amor. Quando o Bobby Robson não gostava dele e nós acabámos por dar o seu nome ao nosso primeiro gato. O Domingos, o nosso velhinho que agora está aqui a ronronar ao meu lado. Sei que gostas muito do Domingos e que hoje vibraste, mas vais-me desculpar. Hoje, se tivesse um gato, chamava-lhe André.
Só sei que no dia 18 a nossa Dublin vai ser a Capital de Portugal. A Europa olhará para nós e nós lá estaremos, Porto e Braga, no lugar que é nosso por direito.
Quem ganha? Quase me apetecia dizer que agora já não interessa. Mas interessa, claro que interessa. Sei que tens o coração mole, coitado do Braga, nunca ganhou uma taça europeia, o Porto já ganhou muitas, deixa lá.
Eu deixo. E sabes por quê? Porque já fomos tão felizes em Dublin, amor! Vamos ser outra vez?

Trackbacks

  1. […] muita alegria, muita música ao vivo, muita cerveja. Os mais importantes ficam no quarteirão do Temple Bar, mas o mais antigo fica algumas centenas de metros adiante, junto ao rio Liffey. É o Brazen Head. […]

  2. […] sua música num concerto que deu na Ribeira do Porto no início dos anos 90. Um concerto que marcou um dos momentos mais importantes da minha […]

  3. […] a minha Carta de Amor a Dublin, debrucei-me sobre alguns aspectos da vida em Dublin: os pubs, a cerveja, a música (nos pubs), a […]

  4. […] obviamente, é dos cegos gregos. Pedro Correia dixit! Supõe-se que, na Irlanda, a culpa seja dos bebedores de Guiness e que em Portugal a culpa seja de quem anda a votar há mais de 30 anos no Bloco Central. O Barclays […]

  5. […] obviamente, é dos cegos gregos. Pedro Correia dixit! Supõe-se que, na Irlanda, a culpa seja dos bebedores de Guiness e que em Portugal a culpa seja de quem anda a votar há mais de 30 anos no Bloco Central. O Barclays […]

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