(Permitam que transcreva este texto do Carlos Esperança)
Porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa diz que o processo acarreta morosidade
Enquanto o 5 de Outubro e o 1.º de Dezembro desaparecem do calendário dos feriados, o fim dos feriados religiosos pode ser adiado para 2013 por este Governo, que está de joelhos perante as sotainas, desprezando a laicidade a que é obrigado e traindo o regime – a República –, cuja data emblemática é o 5 de Outubro.
A laicidade é uma conquista republicana que defende a liberdade religiosa e a paz.
Enquanto os judeus ortodoxos se agarram à Tora e à faixa de Gaza, os muçulmanos debitam o Corão e se viram para Meca e os cristãos evangélicos dos EUA ameaçam a laicidade e a teoria evolucionista, os conflitos religiosos e o terrorismo assustam a Europa.
A emancipação do Estado face à religião iniciou-se em 1648, após a guerra dos 30 anos, com a Paz da Vestfália e ampliou-se com as leis de separação dos séc. XIX e XX, sendo paradigmática a lei de 1905, em França, que instituiu a laicidade do Estado.
A libertação social e cultural do controle das instituições e símbolos religiosos foi um processo lento e traumático que se afirmou no séc. XIX e conferiu à modernidade ocidental a sua identidade.
A secularização libertou a sociedade do clericalismo e fez emergir direitos, liberdades e garantias individuais que são apanágio da democracia. A autonomia do Estado garantiu a liberdade religiosa, a tolerância e a paz civil.
Não há religiões eternas nem sociedades seculares perpétuas. As três religiões do livro, ou abraâmicas, facilmente se radicalizam. O proselitismo nasce na cabeça do clero e medra no coração dos crentes.
Os devotos creem na origem divina dos livros sagrados e na verdade literal das páginas vertidas da tradição oral, com a crueza das épocas em que foram impressas.
Os fanáticos recusam a separação da Igreja e do Estado, impõem dogmas à sociedade e perseguem os hereges. Odeiam os crentes das outras religiões, os menos fervorosos da sua e os sectores laicos da sociedade.
Em 1979, a vitória do ayatollah Khomeni, no Irão, deu início a um movimento radical de reislamização que contagiou Estados árabes, largas camadas sociais do Médio Oriente e sectores árabes e não árabes de países democráticos.
Por sua vez o judaísmo, numa atitude simétrica, viu os movimentos ultraortodoxos ganharem dinamismo, influência e armas, empenhando-se numa luta que tanto visa os palestinianos como os sectores laicos.
O termo «fundamentalismo» teve origem no protestantismo evangélico norte-americano do início do séc. XX. Exprimiu o proselitismo, recusa da distinção entre o sagrado e o profano, a difusão do deus apocalíptico, cruel, intolerante e avesso à modernidade, saído da exegese bíblica mais reacionária. Esse radicalismo não parou de expandir-se e já contamina o aparelho de Estado dos EUA.
O catolicismo, desacreditado pela cumplicidade com regimes obsoletos (monarquias absolutas, fascismo, ditaduras várias), debilitou-se na Europa e facilitou a secularização. O autoritarismo e a ortodoxia regressaram com João Paulo II (JP2) e Bento XVI (B16), que enterraram o concílio Vaticano II e recuperaram o Vaticano I e o de Trento.
Os dois últimos pontífices transformaram a Igreja católica num instrumento de luta contra a modernidade, o espírito liberal e a tolerância das modernas democracias. Tem sido particularmente feroz na América latina e autoritária e agressiva nos Estados onde o poder do Vaticano ainda conta, através de movimentos sectários de que Bento XVI foi herdeiro e protetor, ou esteve na sua génese.
A passagem pelo poder de líderes políticos que explicitaram publicamente a sua fé, em países com fortes tradições democráticas (EUA e Reino Unido), foi um estímulo para os clérigos e um perigo para a laicidade do Estado. Por outro lado deram um mau exemplo aos países saídos de velhas ditaduras (Portugal, Espanha, Polónia, Grécia, Croácia), facilmente disponíveis para novas sujeições.
A interferência da religião no Estado deve ser vista, tal como a intromissão militar, a influência tribal ou as oligarquias – uma forma de despotismo que urge erradicar.
A competição religiosa voltou à Europa. As sotainas regressam. Os pregadores do ódio sobem aos púlpitos. A guerra religiosa é uma possibilidade a que os Estados laicos têm de negar a oportunidade. Só o aprofundamento da laicidade nos pode valer.
E Portugal vai por mau caminho.
Carlos Esperança – Coimbra, 29 de Fevereiro de 2012
Óptimo texto. Obrigada por partilhá-lo!
Sim, um óptimo texto e, nos tempos de intolerância que correm é necessária alguma coragem para o escrever e transcrever. Os escolhidos que já viram a luz vão ficar muito indignados. Seguem-se as represálias…
A vírgula que devia vir a seguir a “correm” não compareceu, já em sinal de protesto…
🙂
acho que há uma pequena confusão no texto entre um estado laico e um estado ateu. mas no geral, não está mau de todo.
Portugal é uma república laica, o Estado não financia nem reconhece qualquer culto.
Não vejo onde está o Estado ateu nisto.
Apenas a recusa de pôr uma crença acima das opiniões individuais de cada um.
Em Portugal, onde a Opus Dei domina a Igreja nacional, devemos ser particularmente atentos.
E os católicos democratas, talvez mais atentos que os outros.
Tito Livio
As religiões tem sido um grande atraso para os povos de todo o Mundo.São milhões que nada fazem em proveito dos povos.Vivem á custa de quem trabalha ao longo dos séculos.Não acredito nas religiões,foram inventadas por opurtunistas.Acabar com todos os feriados religiosos.Se existe algum acôrdo com alguma religião,foi á muitos anos,caducou.