Técnica revolucionária em Medicina: a caçadeira pode substituir o bisturi

É evidente que não se podem tomar decisões executivas sem se ter em conta os gastos, as despesas, sem se fazer contas, enfim, como acontece com qualquer um de nós, todos os dias. Este governo, no entanto, aproveitando, aparentemente contrariado, o desastre socrático, transformou a despesa no único critério das decisões. O resto é Carnaval, com máscaras de má qualidade.

No que se refere à Educação, por exemplo, por muito que Nuno Crato, desavergonhadamente, afirme o contrário, todas as medidas servem, apenas, para diminuir os gastos, sem atender, minimamente, ao interesse dos alunos. O aumento do limite máximo do número de alunos por turma, a criação de mega-agrupamentos ou a ideia de obrigar os alunos com dificuldades a mudar para um percurso profissionalizante têm como único objectivo diminuir a despesa, mesmo que isso vá – repito – contra o interesse dos alunos. Para o caso de ainda não ter sido entendido: as decisões de Nuno Crato são lesivas dos interesses dos alunos. Dos alunos.

Na recente polémica sobre a RTP, os argumentos a favor da privatização, extinção ou concessão limitam-se a duas coisas evidentes: os gastos desnecessários de uma empresa mal gerida e a fraca qualidade da RTP1. Ambos os dados devem ser equacionados, evidentemente, mas, numa sociedade evoluída, há mais mundos e há, sobretudo, debates que ninguém quer fazer, como o da importância de um serviço público de qualidade num país com muito mais iliteracia ou incultura do que, por vezes, se julga.

Assim, do ponto de vista de um governo que reduz tudo a dados econométricos, tudo se reduz a uma pergunta: é estatal e custa dinheiro? A resposta é simples: corta-se, extingue-se, vende-se ou concessiona-se. Não se perde tempo a pensar se será necessário, estruturante ou outras mariquices do género.

O mesmo princípio aplicado à Medicina tornaria, aliás, a vida dos médicos muito mais simples e a morte dos doentes muito mais rápida. Tendo em conta que os tratamentos e as consultas constituem despesas e que, no fundo, o doente, mais tarde ou mais cedo, acabará por morrer, bastaria entregar a concessão da Medicina a empresas de assassinos. Para os cofres do Estado seria um alívio e daria um impulso vital ao mercado das armas.

Ainda sem coragem para recorrer a este expediente, o governo lá vai procedendo ao abate do Estado, dos professores, dos doentes e de outras excrescências equivalentes. Não chego a perceber se se trata de gente mole ou sádica.

Comments

  1. Tratar-se-á de gente?

    mário

  2. Gente? Que exagero! Não é gente quem trata a GENTE assim! gentinha, sim. Isso podem ser – gentinha.

  3. patriotaeliberal says:

    Ainda não leram AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE do Saramago.
    Qualquer dia ainda criam uma máfia da morte.

  4. nightwishpt says:

    O António é um bocado ingénuo.
    Corta-se, põe-se a dar lucro, privatiza-se e ainda se paga se os lucros não se mantiverem.
    E também já não é deste governo.

  5. Caçadeira, não, que a limpeza a seguir ia custar um balúrdio. Câmaras de gás é que era. Os melhores exemplos de eficiência vêm sempre da Alemanha.

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