Proibição de pesticidas que matam abelhas

abelha

Os governos, no caso europeu também as instituições supra-nacionais, sofrem geralmente de legislalite aguda, uma doença que os faz criar leis para tudo e mais alguma coisa, dia sim, dia não, num afã inconsequente de parecer que trabalham muito e controlam tudo.

A legislação ridícula e absurda acumulada é sinal de que nunca perceberam uma coisa muito simples: salvo raríssimas excepções é preferível lei nenhuma a uma má lei. Nem os liberais mais couraçados escapam, quando no poder, a esta doença viciante – normalização disto, regulamentação daquilo, proibição daqueloutro e por aí fora.

No meio de tanta tralha legislativa, lá surge uma vez por outra uma lei importante. É o caso da proibição de pesticidas que matam abelhas, decidida agora pela Comissão Europeia, contra a posição de lóbis poderosos e bem infiltrados nos círculos políticos.

Pode parecer coisa pouca, mas apenas para quem não conheça a importância das abelhas para a vida humana e para a manutenção da biodiversidade. Claro que já imagino alguns iluminados trogloditas a esboçarem um sorriso e a murmurarem: olham’este preocupado com as abelhas quando há coisas tão sérias como, por exemplo, construir outra auto-estrada entre Lisboa e o Porto, o TGV, ou o calibre legal da maçã reineta para comercialização.

Pois, sobre abelhas, passem os olhos, a título de exemplo, por aqui, ou pelas palavras de Einstein a propósito do assunto, e depois falamos.

Mas, dizia eu, entre tanto lixo legislativo, a Comissão Europeia apresentou uma pequena lei de grande importância. Quinze países votaram a favor e oito contra. E Portugal, esse país onde antes do pequeno-almoço já saíram três leis novas fundamentais para a humanidade e arredores?

Votou contra, pois claro, estava-se mesmo a ver. Venha de lá uma lei sobre a temperatura máxima para caçar gambozinos ou uma outra a proibir a assadura de sardinhas com os rabos virados para norte, essas é que fazem falta.

Comments

  1. Konigvs says:

    Cria-se uma lei sobre os pesticidas que matam as abelhas – já agora se matam as abelhas, também matarão todos os outros insetos polinizadores não? como as vespas, por exemplo que parecem ser odiadas mas fazem o mesmo trabalho ou ainda mais que as abelhas, ou as joaninhas que são um dos maiores predadores de piolhos e pulgões, ou as libelinhas que são as aves de rapina do mundo dos insetos e que comem centenas de moscas e de mosquitos por dia, e são ainda um indicador de cursos de água limpa – e entanto agora plantam-se trangénicos à fartazana, que como todos sabemos é uma planta modificada geneticamente já com o pesticida incorporado no seu “adn”…. Será que vão também criar abelhas trangénicas que não morrem quando em contacto com plantas trangénicas?
    Mais uma lei para atirar areia para os olhos das pessoas, ou então para favorecer mais umas quantas empresas que já têm em stock milhões de pesticidas “amigos das abelhas”, mais ou menos como os milhões de vacinas para a gripe A, que as farmacêuticas já tinham preparadas para serem vendidas quando rebentou a pandemia, esse tremendo flagelo que matou milhões de pessoas!!
    De qualquer das formas parabéns pelo texto, é sempre interessante ler coisas que não tenham sempre a ver com o mesmo assunto cansativo debatido todos os dias aqui pela maioria dos “bloggers”.


    • Sobre a questão dos transgénicos (neste caso, mais especificamente sobre sementes) já aqui publiquei isto:
      http://aventar.eu/2011/03/30/sos-contra-a-proibicao-das-sementes-livres/#more-1106160
      ou isto
      http://aventar.eu/2010/10/12/peticao-contra-a-legalizacao-do-cultivo-de-organismos-geneticamente-modificados-na-europa/
      Também lhe dou razão quanto a esta esquizofrenia legislativa que produz leis sucessivas contraditórias entre si.
      Voltando às abelhas: além de doenças “misteriosas” e virus estranhos que atacam as colmeias, há ainda esta nova preocupação

      http://www.dn.pt/revistas/nm/interior.aspx?content_id=3113210

      • Konigvs says:

        Eu nestas questões sou muito intransigente. Apontou-se os trangénicos como o futuro para matar a fome em África, mas os africanos continuam a morrer à fome – até porque como publicou num outro “post”, por mais ridículo que pareça, as sementes têm patentes e as grandes empresas produtoras querem é encher os bolsos vendem-do-as todos os anos e não estão interessados em praticar o bem do mundo, e depois estamos a criar graves problemas apesar das consequências provavelmente só serem conhecidas quando já todos estivermos debaixo dos torrões.
        É sempre a ganância do homem que cria os graves problemas na natureza, e depois por norma ao tentar minimizá-los arranja ainda mais problemas. Quer-se produzir em massa, não se fazem rotações de culturas, aparecem as pragas, então toca a criar pesticidas violentos que matam tudo; as pragas tornam-se resistentes e entramos num círculo vicioso. Depois temos culturas transgénicas a poucos metros de culturas naturais, ocorre a polinização cruzada entre uma e outra e de repente andamos todos a comer algo que não sabemos quais as consequências tanto para nós como para os outros animais, muitos que entrarão depois na cadeia alimentar.
        Li sobre as vespas asiáticas, e é sempre muito complicado quando uma exótica entra num habitat e se desenvolve rapidamente. Na natureza tudo está em equilíbrio, existem pragas em grande número, e têm de existir para alimentar os insetos que delas se alimentam. Se criamos um pesticida que mata tudo, vai matar as pragas e vai matar também o predador das pragas, que mesmo se subsistir em determinada zona não terá do que se alimentar. Por exemplo eu quando era criança era muito comum ver joaninhas em todo o sítio, hoje em dia são cada vez mais raras, porque está tudo ao contrário. Está tudo ao contrário, em Portugal deveríamos ter castanheiros, azevinhos, carvalhos, medronheiros, pilriteiros etc etc e temos eucaliptos, austrálias e mimosas que se espalham muito rapidamente e invadem tudo e é quase impossível atravessar um monte onde elas estejam. As pessoas cortam-nas e elas rapidamente voltam a crescer. É sempre a ganância de produzir mais e mais que dá nisto tudo.
        Um dia, a puta da ganância vai extinguir o homem, aquele que é provavelmente o pior vírus que apareceu à face da terra, e nessa altura, talvez as abelhas e todos os outros insetos e animais possam voltar a prosperar de novo e viver em harmonia.


        • Completamente de acordo com tudo o que diz, com uma pequena ressalva na última frase: o homem, como qualquer outra coisa (digo coisa e não ser, porque tudo está condenado à extinção), extinguir-se-á um dia, pelo menos neste planeta. Tenho uma ténue esperança (cada vez mais ténue) de que não por consequência de actos seus. Mas, pelo caminho que as coisas tomam e por aquilo que me é dado ver da natureza humana, tudo aponta para que o homem torne a sua própria existência insustentável.


  2. Como sempre, os interesses instalados rebelar-se-ão!
    http://www.courrierinternational.com/dessin/2013/04/30/sauvons-les-abeilles

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