Tenho um amigo que responde frequentemente aos interlocutores com um desconcertante “Em que aspecto?” Resulta sempre. Imagine-se uma ameaça de agressão física:
– Vê lá se queres levar na tromba!
– Sim, mas em que aspecto?
Também serve para responder a comunicações inócuas:
– Vou à casa de banho.
– Em que aspecto?
Como vêem, o absurdo pode ser simples e está ao alcance de todos. Fiquem à vontade para usar, porque, no mínimo, será fonte de descontracção.
O absurdo, no entanto, tem um problema: por vezes, faz sentido. Ontem, quando Cavaco Silva, espumando, acusou certos e determinados partidos de serem anti-europeístas, saiu-me um “Mas anti-europeístas em que aspecto?” E a pergunta fez sentido.
Já se sabe que a expressão faz parte de um conjunto de chavões utilizados por pessoas perigosamente destituídas, mas não é má ideia pensar um pouco mais sobre o assunto.
Na realidade, para sabermos o que é um anti-europeísta, não será má ideia pensar no que é ser europeísta e, afinal, explicar o que é a Europa ou de que Europa estamos a falar. A questão é pouco mais complexa do que ser adepto de um clube e odiar o adversário. Talvez por ser complexa, a sua compreensão está vedada a todas as pessoas que, tendo nascido em Boliqueime, chegaram a presidentes da República ou a outros que chegaram a ser directores de jornais.
Comecemos pelo princípio: Júpiter, quando raptou Europa, seria um europeísta? Se sim, em que aspecto?
Uma pergunta muito difícil, pois teríamos que enumerar, o que queriam que fosse a Europa, os seus fundadores; o que ela é agora; e, o que a maioria dos Europeus desejam que ela seja!