Depois da Lusa, temos o Expresso a dar notícias sobre Portugal com fotos espanholas: Alejandro Talavante, em Saragoça. «Com bandarilhas de esperança afugentamos a fera».
Muito @ctual
Peut-être sais-je jusqu’où je peux aller trop loin. Mais c’est un sens de la mesure. Je le possède peu fort.
— Jean Cocteau, “La difficulté d’être“
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O Diário @tual. Exactamente: @tual. Se fizermos uma analogia com ‘actual‘ → ‘atual‘, então, segundo a base IV do AO90, a grafia ‘@ctual‘ será efectivamente substituída por ‘@tual‘. Sem cê, obviamente. O cê, esse obstáculo, esse empecilho. Uma chatice, diria o Ary. “That no good. Ugh”, na versão do Ginsberg. Pois. E ‘contactar’? E ‘contacto’? [Read more…]
Ary morreu há 30 anos
As canções: Um Homem na Cidade, os Retalhos, o Cavalo à Solta. Os poemas: a Arte Peripoética, o João Ratão. Sim, foi há 30 anos.
Banda sonora
Não há dúvidas que a canção é uma arma. Acho, assim, muito bem, que se cante em protesto. Apenas sugiro que se diversifique mais um pouco as escolhas. Com todo o respeito pela “Grândola, Vila Morena” e pelo Zeca Afonso, com todo o respeito pela máxima “O povo é quem mais ordena” e pela herança revolucionária, acho que seria, também, de cantar bem alto outras canções que fazem, outra vez, todo o sentido, como por exemplo:
“Entram empresários moralistas. Entram frustrações. Entram antiquários e fadistas. E contradições. E entra muito dólar, muita gente. Que dá lucro aos milhões.”
Isso mesmo, cante-se também a “Tourada” de Ary dos Santos e Fernando Tordo:
Aceitam-se mais sugestões.
25 Poemas de Abril (XXV)
AS PORTAS QUE ABRIL ABRIU
Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado. [Read more…]
Estrela da tarde – lembrando Ary dos Santos
Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!
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