Como chegamos até aqui

A Abecásia e a Ossétia do Sul foram ocupadas pela Federação Russa em 2008. A península da Crimeia em 2014. Desde então, nunca foi segredo para ninguém que os separatistas do Donbass eram apoiados financeira e militarmente pelo Kremlin, que garantiu a subsistência dessa agressão à soberania ucraniana, no plano militar e financeiro, ao longo de oito anos.

Paralelamente, a oligarquia russa continuava a expansão dos tentáculos de Moscovo pelo continente europeu, de Bruxelas às sedes das principais organizações internacionais, sob tutela directa de Vladimir Putin, movimentando milhões de rublos e negociando diariamente nas principais praças financeiras do Ocidente, de Frankfurt a Wall Street, com escala em Amsterdão, Zurique e na City de Londres, ou Londongrado, alcunha que nos diz tudo o que precisamos de saber sobre a colonização levada a cabo pelo Kremlin.

Quando não estavam a transformar o produto do saque ao povo russo em dividendos e propriedades de impensável luxo, a corte de oligarcas russos ocupava os tempos livres em actividades como a compra e gestão de alguns dos principais clubes de futebol da Europa, fazia férias em Puerto Banús, no Mónaco e na Costa Esmeralda, licitava obras de arte na Christie’s, comprava diamantes em Antuérpia e fazia shopping em Paris e Milão, o que ajuda a explicar o lobby que grandes estadistas como Mario Draghi tentaram inicialmente fazer, para que as insígnias italianas e francesas de luxo, bem como a indústria belga de pedras preciosas, fossem poupadas à lista de sanções. Acabar com a guerra sim senhor, mas deixem o lifestyle dos senhores oligarcas em paz.

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Os cúmplices europeus de Vladimir Putin

Noticiou ontem o Público que França, Alemanha, Itália, República Checa, Eslováquia, Espanha, Croácia, Finlândia, Áustria e Bulgária venderam armamento e equipamento militar à Federação Russa nos últimos oito anos, após a invasão e anexação da Crimeia. Fun fact: a UE decretou um embargo de venda de armas e similares ao regime de Putin, em Junho de 2014. Não faz mal. Acena e sorri. Se questionares estás a fazer propaganda pró-Putin.

No texto do implacável embargo da intransigente União podemos ler o seguinte: é proibida a venda, fornecimento, transferência ou exportação directa ou indirecta de armas e material conexo de todos os tipos, incluindo armas e munições, veículos e equipamento militar, equipamento paramilitar e respectivas peças sobressalentes, para a Rússia por nacionais dos Estados-membros ou a partir dos territórios dos Estados-membros ou utilizando navios ou aviões que usem a sua bandeira, quer sejam ou não originários dos seus territórios”. E então, que fazer? Simples: arranja-se uma lacuna na lei – tantos advogados em part-time nos Parlamentos europeus têm que servir para alguma coisa – e decreta-se um regime excepcional de coiso. Sim, de coiso. Mas podemos chamar-lhe filhadaputice, se preferirem.

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Pelo embargo total à Federação Russa – O Equilíbrio do Terror #11

Putin invadiu a Ucrânia, ameaçou todos os membros da NATO, ameaçou a Finlândia e a Suécia, a quem violou o espaço aéreo, ameaçou dar início a uma guerra nuclear e, ontem, atacou a maior central nuclear da Europa, na cidade ucraniana de Enerhodar. A par disto, a agressão continua, imparável, e a determinação do exército e da guerrilha urbana ucraniana pouco pode contra a poderosa máquina de guerra russa. Continuam a morrer civis, a ser destruídas infra-estruturas essenciais, a ser arrasadas zonas habitacionais, e existem até relatos da entrada, em território ucraniano, de bombas termobáricas, proibidas pela convenção de Genebra. E sim, eu sei que os EUA também usaram a MOAB no Afeganistão. Mas este texto não é sobre o Afeganistão, da mesma maneira que os muitos textos que escrevi sobre o Afeganistão não eram sobre a invasão da Ossétia, da Abecásia ou da Crimeia.

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O Equilíbrio do Terror #2 – Ucrânia: correr atrás do prejuízo, depois de duas décadas de normalização ocidental de Vladimir Putin

Um dia triste para a humanidade. Putin fez aquilo que eu e muitos outros não acreditavam ser possivel e lançou um ataque em larga escala contra o território ucraniano, em toda a sua extensão. A guerra está às portas da União Europeia e, parece-me, uma nova cortina de ferro voltará a dividir a Europa. A Ucrânia está entregue à sua sorte e Putin já deixou implícito que qualquer interferência externa elevará o conflito para o patamar nuclear.

As democracias têm agora a obrigação moral de se unir em torno de um embargo total à Federação Russa, sem excepções, como pretendem alguns sectores económicos, insensíveis ao drama ucraniano. Fecho imediato de fronteiras, congelamento de todos os activos russos no nosso território, suspensão de qualquer troca comercial, corte de vias de comunicação ao mínimo indispensável para manter aberta a via diplomática de serviço mínimo. Não podemos contribuir com um cêntimo que seja para o esforço de guerra russo.

Foram muitos anos, anos demais, a normalizar Putin e o seu regime. O resultado está à vista. Que nos sirva de lição para que percebamos a ameaça que a extrema-direita contemporânea representa. É por isso que não, não podem mesmo passar.

Boicotar e embargar o regime chinês, já!

Entretanto, na China, a jornalista independente que mostrou ao mundo a verdade sobre o surto inicial de Coronavirus, em Wuhan, foi condenada a 4 anos de prisão efectiva por “causar distúrbios” e “procurar problemas”, dois dos muitos eufemismos que este regime totalitário utiliza para legitimar a censura, perante o silêncio cúmplice, ou autocensura, mais ou menos generalizada, entre as democracias ocidentais, parcialmente detidas pelo império chinês, que continuam a assobiar para o lado e a recorrer ao trabalho semi-escravo que mantém as engrenagens de um certo capitalismo a funcionar.

Zhang Zhan, 37 anos, já foi advogada mas converteu-se ao jornalismo independente, profissão de risco no Império do Meio. Tal como muitas outras jornalistas e activistas que vieram antes de si, que ousaram desafiar o regime chinês, Zhan foi detida, julgada arbitrariamente, derrotada, humilhada e viu a sua liberdade suprimida, liberdade essa que, em bom rigor, nunca teve, tal como não tem cidadão algum de uma ditadura. Esteve em greve de fome, foi alimentada à força pelas autoridades chinesas, e promete iniciar novo protesto, mesmo que isso lhe custe a vida.

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A ideologia do dinheiro

Quando chegava a casa do trabalho, ouvi Trump na rádio a dizer que se preparava para colocar um ponto final no acordo assinado entre Obama e Raúl Castro. Mais uma grande jogada do player do momento. Segundo Trump, não há acordos com países que não respeitam a democracia. Excepto se for com um país com muito dinheiro e petróleo. Nesses casos, esquece-se a democracia e não se fala mais nisso. [Read more…]

Aquele estranho momento

em que Donald Trump decide brincar à diplomacia. O cofveve segue dentro de momentos.

No camarote com Putin: a história de um embargo que não existe

Putin

De um momento para o outro, talvez por obra e graça do divino Espírito Santo, deixou de se falar nesse ícone da violação dos direitos humanos que é a Rússia de Vladimir Putin. É possível que o futebol, que como sabemos tem a particularidade de ofuscar e adiar as mais variadas preocupações do ser humano, esteja por trás deste fenómeno. Até porque, como a foto em cima nos mostra, a Europa civilizada conseguiu partilhar o camarote da Dilma com o perigoso ditador soviético. Apesar da Rússia se ter ficado pela fase de grupos do Mundial, Putin foi convidado de honra na tribuna VIP para a final do Maracanã. Não se viu por lá Cavaco Silva.

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