Eu, refugiada

max_ernst_1940_les_apatrides
Max Ernst, Les apatrides (1940)

A senhora da secretaria da escola anunciou cruel:
Sem um documento de identificação válido não poderá fazer o exame.
Tínhamos tido uma trabalheira para arranjar aquele documento, que a senhora da secretaria, que jamais tinha visto algo assim na vida, se recusava agora a aceitar.
Este documento não serve, disse ela firme.
Não tenho outro, ripostei segura dos meus direitos.
Diga à mãezinha que venha à escola, disse a senhora da secretaria.
Este documento não serve, repetiu ela. O que a menina precisa de trazer é um bilhete de identidade de cidadão nacional. A menina é uma cidadã nacional, não é?
Eu não sabia se era uma cidadã nacional. Se ser um cidadão nacional era ter um documento onde isso estava escrito, então eu não era um desses cidadãos. E no entanto, no meu coração, ainda tão jovem, eu era alguém que trazia já o país todo dentro de si, [Read more…]

5ª estação [A loja de santos]

5a_estação_01

Arrancou no passado dia 1 de Abril a nova Rádio Solar – um novo projecto radiofónico de Fernando Guimarães, com emissor que cobre o Algarve e uma primeira presença na web em webradios.pt. Uma rádio no Mundo, com muita música, informação editada por Rui Anacleto e alguns primeiros cronistas. Às quintas vai para o ar a crónica que assino: 5ª. Estação. A de quinta-feira passada não está famosa em matéria sonora (gravo em condições um pouco precárias – o que há-de ser melhorado logo que possível), mas aqui fica.

Aventar Podcast
Aventar Podcast
5ª estação [A loja de santos]
/

Canções de uma mesma chama de secreta gravidade [Textos sobre música portuguesa V]

misia_02

«Um dia vou abrir o frigorífico e vai estar vazio», pensou certo dia Mísia quando, sozinha e angustiada em casa, pensava na crise e no seu futuro. «O que é que eu vou fazer? O que é que eu vou comer?», interrogou-se a cantora melodramaticamente à boa maneira portuguesa: sempre com a fome no pensamento. Assim nasceu o menu de canções que constitui o seu último trabalho, Delikatessen Café Concerto (2013), um jantar musical cozinhado com as suas melhores canções, e um punhado jeitoso de convidados à altura de tão finas iguarias: Iggy Pop, Adriana Calcanhotto, The Legendary Tigerman, Dead Combo, Ramón Vargas e Melech Mechaya. Para eles, e com eles, Mísia serviu canções portuguesas, francesas, boleros e tangos, afastando-se um pouco do seu caminho de fadista, embora não completamente, pois tudo o que canta se transforma de certa maneira em fados.

No final de 2011, Mísia editou Senhora da Noite, uma senhora que esconde treze outras senhoras: trata-se de um conjunto de treze temas, escritos por outras tantas autoras, de Amália a Aldina Duarte, passando por Florbela Espanca, Natália Correia, Lídia Jorge, Hélia Correia, Rosa Lobato de Faria, Amélia Muge, Adriana Calcanhotto ou a própria Mísia, num disco que celebrou o génio criativo feminino e constituiu um regresso ao Fado mais tradicional – tanto quanto a tradição pode casar-se com a modernidade do estilo de Mísia. [Read more…]

Penas transfiguradas [Textos sobre música portuguesa IV]

LulaPena_Guitarra_CláudiaVarejão
© Cláudia Varejão

Lula Pena (n. 1974) não anda cá para fazer discos a metro, nem concertos, nem canções, e nem sequer covers – e os seus são sempre já outra coisa, suficientemente ancorados nas versões originais para podermos reconhecê-las, mas constituindo objectos originais: outras coisas criadas por alguém que refaz fazendo novo, recriando com a memória e o coração.

O seu primeiro disco, Phados (1998), é uma viagem que interroga o Fado, abrindo-lhe horizontes nem sempre reconhecidos pelos mais puristas da canção nacional, e embora a sua forma de cantar faça justiça ao seu nome, que transporta como um destino marcado uma dor nacionalmente reconhecível. Nele, a cantora revisita alguns grandes temas populares de Língua portuguesa (Portugal, Brasil, África), cantados com a liberdade dos reinventores da melhor tradição, com a infinita tristeza do bardo exilado (Lula, viajante poliglota, cantou-os pelas ruas do Mundo), e com a voz profunda e inquietante da sereia de voz grave a quem Rodrigo Leão pediu emprestada a voz para o paradigmático tema-tango Pasión. Uma voz que alguém definiu já como o sendo o resultado de uma combinação de mel e lava, penhascos e mar – o que pode haver de mais português? [Read more…]

Outro Fado [Textos sobre música portuguesa III]

A_Naifa_02
© Clément Darrasse

Quando A Naifa surgiu, ninguém sabia muito bem como classificá-la, onde arrumá-la, se no faqueiro da avó, se no do Ikea, ou se noutro ainda. Quais seriam ao certo as virtualidades com significado para a música pátria d’A Naifa? E digo (escrevo) isto mapesar do Fado, que claramente habitava (e habita) a sua música, que era (e é) o seu chão, e das sonoridades tradicionais da terra portuguesa. Talvez por isso, e porque «trip-fado» definisse insuficientemente o género singular a que se dedicavam os músicos d’A Naifa, alguns preferiram cortar a eito e chamar-lhes «pós-modernos» – designação contudo também ela um bocado opaca, que apenas informava estarem eles «um bocado à frente», representando correntes ainda por deslindar em toda a sua extensão e significados. [Read more…]

Partir bibelots [Textos sobre música portuguesa II]

B_Fachada_01

Quando B Fachada apareceu, alguns tomaram-no por um rapper – falando dos que ainda não o tinham ouvido, mas apenas aos aplausos de quem já o conhecia e se limitava a dizer que as suas letras eram “bestiais”. Lá vem mais um rapper, pensaram, um rapper intelectual, deduziram esses que tomaram “as letras bestiais” do talento então emergente por coisas do hip-hop, como se apenas nessa poesia as palavras da música pudessem ter grandeza contemporânea. B Fachada, cantautor (autor, portanto, do que canta), interpreta os poemas que escreve, acompanhando-se, com desarmante singeleza e economia de meios, à guitarra ou ao piano. Canções que são sobre tudo – mas que narram sobretudo as nossas vidas humanas portuguesas: os seus vários dilemas morais, as suas mariquices e pirosadas (as suas pieguices, diria Passos Coelho), os problemas conjugais e familiares, gente que se apaixona e engravida e se separa e depois disputa entre si aqueles discos históricos do Sérgio Godinho que se podem ouvir pelos finais de tarde, as manhãs horrorosas de quem dormiu mal: a vida, em suma. Cronista do nosso mal-estar nacional, B Fachada cintila no crespúsculo do nosso passado inteiro, no limiar de uma modernidade que tarda em Portugal, na perplexidade de tudo isso.

Habilidoso investigador, não renega os seus pais espirituais (Sérgio Godinho é um deles, sem dúvida), de quem diz roubar as canções para melhor compreendê-las – e também a honestidade com que o faz e diz que faz desarma, mesmo se há quem teime em acusá-lo de ser um “assassino das canções dos outros” (!), naquela que é também uma característica nacional: encontrar sempre uma razão ilegal e/ou imoral para a recriação, como se toda ela não nascesse de pré-existências. Talvez por isso B Fachada faça questão de afirmar que não é um intérprete – e assim sabemos ao que vamos, apesar de Fachada tirar as suas canções (e as de outros) dos lugares sagrados onde costumam estar, partindo esses bibelots (mesmo se muito belos) dos nossos pais e avós, como vidro feito em fanicos destinados à transformação. Sem medo, como antigamente os portugueses de tudo e mais alguma coisa, pois B Fachada nasceu em 1984, e assim sendo as suas canções são já de uma outra “intervenção”, de uma outra História, por sinal (e ainda bem) diferente daquela da canção autoral portuguesa que só o 25 de Abril tornou livre. Diferença que não impediu a «mesmidade» do seu satírico Deus, pátria e família – para falar da trindade eterna que o cantautor disseca na sua imobilidade, empenhado em  «descastrar-nos» a todos, e malgrado os inimigos que tem feito: os que não se dispõem a ver-se no espelho de ver diminuídos (i.e., castrados) de Fachada.

Sem panos quentes [Textos sobre música portuguesa I]

UHF_01

Os UHF ficarão para sempre indelevelmente ligados ao movimento do chamado «novo rock português», que inaugurou um novo tempo para essa música feita por portugueses, libertando-os tanto das heranças do rock bem-comportadinho nascido ainda durante o antigo regime dos nacionais cançonetismos, como da então prevalecente «música de intervenção» – género ancorado noutras sonoridades e que dominou esses anos pós-25 de Abril. Cantando em Língua portuguesa, os UHF anteciparam-se na verdade ao chamado “pai do rock português”, o cantor Rui Veloso, cujo famigerado álbum Ar de Rock seria lançado apenas em 1980 (e tendo para muitos demasiado ar e pouco rock). Então considerado rock da pesada, o que os UHF fizeram inaugurou em Portugal um outro som para palavras rockadas em Português, apropriando-se dos códigos do universo do rock dos anos 70, esse grito de revolta que desde há muito fazia mexer outras sociedades noutras partes do Mundo.  Com o novo rock de Portugal surgiram, para além dos primeiríssimos UHF, também os Xutos&Pontapés, os GNR, os Heróis do Mar, os Trabalhadores do Comércio, os Táxi, ou os Salada de Frutas.

Recordo-me ainda novinha a ouvir os UHF também ainda novinhos a cantar Jorge morreu (1979) e Rua do Carmo (1980) – o primeiro tema denunciando a morte de contornos sórdidos de um amigo desaparecido na turba das drogas duras (que na época ceifou muitos mais de pelo menos duas gerações de jovens portugueses), e o segundo evocando poeticamente aquela que é uma das mais importantes ruas comerciantes da Baixa lisboeta – uma rua feita para o consumo, lugar de passagem obrigatória para as incontáveis «mulheres bonitas presas às montras» e indiferentes aos «aleijados em hora de ponta». Era novo, fazer um tema de rock sobre uma rua de uma cidade. Fazê-lo simultaneamente com poesia e denúncia social tornava essa novidade ainda mais valiosa – uma pedrada no charco, outra coisa. Lembro-me também de Cavalos de Corrida (1980), [Read more…]

PARTIR, de Sarah Adamopoulos

image

8, 9 e 10 de Maio | 21:30 | Teatro Extremo | Almada | Apareçam!!

Série Maridos (VII)

ASCENSÃO DE UM MARIDO

Conheces um homem amável e dispões-te a amá-lo – e por isso ama-lo, e até mesmo quando quase esqueceste o sorriso dele, ama-lo, e dedicas-te a essa ideia de amá-lo com paixão (e até na fuga metes paixão, e ele gosta, claro), e de repente é como se todos os outros homens te parecessem de alguma forma impossíveis no seu mistério masculino, porque é no coração do homem que agora amas o teu lugar natural. E um dia aceitas que o homem diga com grande naturalidade
– o teu homem.
Atenção: é nesse momento que ele te rapina. É quando deixas que a mão dele possa ficar indefinidamente pousada no teu dorso que ele te captura. Se tiveres medo, foges. Tens medo, claro. Tens medo que a carícia dele se transforme noutra coisa, a mão transformada numa pata, tu lá debaixo à toa, o homem resplandescente, quase a transformar-se… num marido!

Série Maridos (VI)

MEU BEM

Chegaram à hora de almoço a casa do comandante, e lá estava o comandante, e lá estavam também outras pessoas, e os criados, e também alguém que lhe pareceu logo que era alguém importante. Começaram a beber vinho português e assim foi a tarde toda – lagostas, ostras, vinhos e outras iguarias portuguesas, enquanto os criados iam pondo discos de música africana para que todos pudessem dançar. Às tantas, o homem importante disse-lhe ordenando
– Vamos dançar! [Read more…]

Série Maridos (V)

MADAME VIAN

Julgo que soube que ele era meu marido quando li A Espuma dos dias pela segunda de muitas mais vezes. Entretanto, especializei-me na observação das formigas e na audição das suas canções, cantadas por ele e por outros: Je Bois, J’suis Snob, La Java des Temps Modernes, La Complainte du Progrès (esse hino à vida conjugal), e também aquelas canções celebradoras da vida, dos dias de sol, da magia das ruas da grande cidade, como a belíssima La Rue Watt, e por aí fora. Mas foi quando o traduzi (uma compilação de citações e aforismos seus) que confirmei esse casamento espiritual extraordinário. Comunhão que de resto me levara já a criar para um romance uma personagem chamada Boris Viana, ser incerto e múltiplo que quisera ser poema e surge fantástico num cenário português realista e salazarento a andar de eléctrico 28.

Bem sei que nasci cinco anos depois de Boris ter morrido. Que importa isso? Conheço uma mulher que é espiritualmente casada com o fotógrafo Nadar, que é ainda mais antigo. Mme. Nadar.

N’oublie pas ton tricot quand tu partiras ta trompinette sous le bras, il fait froid mon amour. (Não me lembro de ser assim tão carinhosa e maternal com nenhum marido real. Conclusão: um bom marido faz uma boa mulher.)

Série Maridos (IV)

UM PASTOR

Para que serve um marido? perguntou ela repetindo a minha pergunta como forma de ganhar tempo para alinhavar argumentos.

Um marido é uma espécie de almofada fofinha. As pessoas hoje em dia, as que são como eu, preconceituosas, não querem essa carga do casamento. Para mim o marido só fez sentido a partir dos 40 anos – mas mesmo assim custa-me a engolir… Porquê? Porque fazemos parte de uma cultura muito adolescente, que nunca quer assumir esses papéis. Até aí, com os homens, eu só tinha partilhado casas, tido filhos, partilhado também riscos na vida, problemas… Com este marido é uma espécie de cruzeiro: cá vamos nós bem-dispostos no meio da vida.

Um marido é um pastor. É um descanso, ter assim um bom pastor. Podemo-nos distrair com outras coisas, é óptimo. Mas são as mulheres que suportam as crianças, naturalmente as mulheres estão mais atentas, é uma coisa que acontece naturalmente. Às vezes é preciso fazer um esforço para deixar espaço ao marido, há muitas mulheres que dizem que deixam esse espaço mas vai-se a ver e é só na teoria, porque depois criticam constantemente o marido, e controlam tudo o que faz, e por isso é como se não dessem o espaço… e isso intimida os homens e estraga os casamentos. É preciso deixar o pastor fazer.

Série Maridos (III)

UM MARIDO CLANDESTINO

F. era uma mulher trabalhadora, que saía de casa infinitamente cedo, para fazer um trabalho matinalíssimo que nunca percebi em que consistia. À tarde, logo a seguir ao almoço, regressava a casa, tomava um banho de imersão e estendia-se ao comprido no sofá da sala. Pelas cinco da tarde começava a receber amigos. Bebiam vinho branco e comiam marisco. Conversavam até apetecer.

F. tinha dois cães e vários gatos belíssimos, de pelagens e cores diferentes, espalhados pela casa e estacionados em toda a parte – nos sofás, em cima dos móveis, no topo das estantes. Os gatos de F. pareciam criados indianos dedicados à esteta tarefa de enquadrar a mulher num ambiente atapetado e requintado.

Naquele dia descobri o marido de F. a fumar cigarros franceses Gauloises Maȉz na varanda da cozinha da casa de F.. Vivia no quarto contíguo à cozinha, onde passava a totalidade do tempo que estava em casa. Explicou-me que estavam separados há anos mas que haviam decidido permanecer no mesmo espaço por falta de liquidez para adquirirem outra casa. Faziam vidas aparte, cada um entregue à sua solidão, e o marido de F. retribuía o alojamento passeando os cães da mulher.

Série Maridos (II)

FRUTOS SECOS

Era um homem pequenino, nervoso, revoltado com as circunstâncias da vida que haviam feito com que, ainda tão novo, andasse pelos dias sem ser marido de ninguém. Naquele jantar, foi ele que tratou de tudo.

– Ai as mulheres de hoje em dia não prestam mesmo para nada!

dizia nostálgico de tempos que não podia ter conhecido, mas cheio de ensinamentos antigos. Foi ele que cozinhou o jantar, ele que o preparou e se manteve de olho no forno, ele que afastou as mulheres da cozinha.

– Ai dá Deus nozes a quem não tem dentes!

Ele, uma maravilha de uma noz, ainda rijinha e estaladiça, bebia cervejas pelos dias por não ter uma mulher para comandar,

– Anda, sai lá daí que tu não percebes nada disto!

para castigar,

– Ai havias de ser minha mulher e ias ver o que te acontecia!

para censurar,

– E ainda dizem que os homens não são bons cozinheiros!

Enfim, um desperdício.

Série Maridos (I)

SPYROS

O meu marido era o magnata de uma aldeia em Creta. O restaurante onde eu comia todos os dias era dele, e também a agência de viagens, e o hotel, e a loja de aluguer de bicicletas, e o rent-a-car, e o supermercado, e a loja de souvenirs, e os táxis, e a transportadora. A ilha era longínqua, a aldeia distante, plantada na costa sul. Era bom ter maneiras de sair dali. Quando eu olhava o mar, parecia-me ver o fim, juraria que depois do horizonte havia uma montanha (ou talvez um Deus-muro, enorme como um King-Kong) que separava dois mundos – e por isso aquele mar era de certa forma o último. A história daquela ilha, cheia de mitologia, tornava tudo impreciso, fazendo esbater as fronteiras entre a realidade e a ficção. Um véu de incerteza pairava no ar da praia, nas conversas dos naturais sobre o labirinto de Knossos ou os restantes lugares arqueológicos da ilha, transportando todos para uma dimensão simbólica cheia de fatalidade. Sentia-me circunscrita – sobretudo pela acção do meu marido.

O meu marido chamava-se Spyros. Tinha um bigode e uma barba, e umas bochechas proeminentes. Deslocava-se de Mercedes pela aldeia e aparecia por todo o lado, a todo o instante, sem se fazer anunciar. Cortejava-me sem constrangimentos, sentava-se à mesa sem ser convidado, impunha-se com a naturalidade de um príncipe, determinado a fazer de mim a sua princesa. Expliquei-lhe que não podia ser sua mulher, porque já tinha um marido, que aliás viajava comigo, e a quem embora divertissem os arremessos arrebatados de Spyros, começou a dar mostras de alguma irritação. Mas o meu marido agia como se nada fosse, sorrindo sempre muito. Vi-me cheia de filhos com bochechas iguais às do pai, demasiado bem nutridos, a andar de Mercedes pela rua principal da aldeia – e os meus filhos bochechudos não falavam português.

Parafascismo e Paralelismos Abusivos

Em face das contingências a que estamos ancorados, não me parece justo nem mentalmente são apodar de fascista Pedro Passos Coelho, fascista a Troyka, fascista a Comissão Europeia, fascista o BCE, fascista o FMI. Não podemos nem devemos laborar na leviandade de esvaziar com paralelismos chocantes e abusivos a brutalidade e o datado de quaisquer fenómenos sócio-políticos mortos e enterrados. Palavras de indignação há muitas. Mesmo aquelas que os palermas empunham, na sua cegueira parcial, clubite partidária. As minhas Palavrossavras de angústia e revolta curiosamente vertem-se contra [e privilegiam] quantos, no passado recente, não zelaram por nós, não respeitaram o nosso direito a mais santa paz de espírito nem acautelaram o realismo das nossas vidas, comprometendo-as através de muitíssimas formas de sofreguidão e negligência, dolo e logro, impossíveis de caracterizar com eufemismos porque foram criminosas. [Read more…]