O escaganifobético

(Dedicado aos nossos amigos do Estado Sentido, com quem nos solidarizamos)

Não sei por que razão, ao ler o post do Estado Sentido, lembrei-me de um rapazinho algo estranho que em tempos coheci. Chamávamos-lhe o Escaganifobético.
A turma a que ele pertencia era realmente má, uma das piores. Seriam umas 50 ou 60 turmas naquela escola e, num engraçado Turmómetro que a Associação de Estudantes organizava semanalmente, a turma do Escaganifobético nunca conseguia entrar no Top-25.
Para dizer a verdade, nem sei por que razão me lembrei do Escaganifobético – alguns colegas diziam Escanifobético. O puto era realmente uma nulidade. Não valia um chavo e só estava naquela escola porque era sempre um fiel seguidor da Delegada de Turma, uma rapariga com muito jeito para escrever e para controlar todos os que a rodeavam. Aquele charme que algumas mulheres conseguem ter, mesmo em piquenas, mas que no caso dela derivava do facto de ter tido um romance tórrido com o director da escola.
Pior do que o Escaganifobético, só mesmo um outro colega da turma, a que chamavam o Palonço e que, tal como aquele, fazia o que a chefe mandasse. Desde que lhe pingasse em cima… Parece que fraca pegada deixou nessa turma e que acabou por ser corrido de lá.
O Escaganifobético era o autêntico cão de fila. Fazia o que o mandavam. Geralmente coisas desinteressantes, mas, que Diabo, para alguma coisa havia de servir! Era uma espécie de paquete, o moço dos recados que, no final da tarefa, recebia umas festinhas na nuca. Feliz por ter agradado à Delegada de Turma, abanava o rabo furiosamente. E deitava-se feliz, sonhando com o dia seguinte, em que, mais uma vez, iria ser útil à sua dona.
Soube mais tarde que o Escaganifobético caíu em desgraça junto da Delegada de Turma e que, fruto do seu carácter fraco e traiçoeiro, não conseguiu que mais ninguém o acolhesse. Desapareceu rapidamente e nunca mais ninguém ouviu falar dele. Rastejante, aprendeu a aperfeiçoar o faro e a procurar outro dono que o fizesse sentir-se amado.
O cérebro humano é uma caixinha de supresas. Ao tempo que não me lembrava do Escaganifobético. O Estado Sentido devolveu-mo à memória.

A Sucessão de Sócrates…

… e o pragmatismo alemão.

Ermida e Picão, concelho de Castro Daire (contributo para uma reorganização administrativa do País)


Quando vêm com histórias de extinguir concelhos e freguesias como forma de resolver o problema financeiro do País, começo logo a estrebuchar. Não é por aí – o défice combate-se, sim, extinguindo os privilégios pornográficos dos políticos passados e presentes, dos gestores públicos e de todos os «boys» do PS e do PSD que pululam pelo País. Combate-se, sim, acabando com Parecerias Público-Privadas que mais não são do que presentes dados às empresas amigas do poder e que oneram as gerações futuras até à exaustão. Combate-se, sim, acabando com os inqualificáveis benefícios fiscais dados anualmente à Banca e às grandes empresas e que, por si só, eram suficientes para comprar dois submarinos por ano.
Mas a verdade é que há situações que merecem um reajustamento no mapa administrativo do País. Não porque é preciso poupar, mas porque é urgente servir melhor as populações e introduzir uma certa lógica na forma como estas questões são abordadas. É o caso do concelho de Castro Daire (distrito de Viseu), que alberga no seu seio essa famosa aldeia que dá pelo nome de Colo de Pito.
Na parte norte do município, há duas freguesias cuja configuração é no mínimo estranha: Ermida e Picão. Mais do que as palavras, é suficientemente esclarecedor olhar para o mapa que publico. A primeira parte da freguesia de Ermida fica encostada à sede do concelho. Um outro bocado fica mais para ocidente, enquanto que o terceiro bocado fica a norte. Três membros desgarrados, entrecortados por uma freguesia «intrusa» que aparece pelo meio, Picão.
Pode haver razões históricas para esta situação, mas actualmente não se justifica. Ermida (que até já foi concelho) tem 267 habitantes, Picão tem 297. Mais do que a reduzida população, a proximidade em relação à sede do concelho garante, dentro do possível, o cumprimento das necessidades mínimas. E para além de tudo isto, não tem lógica esta situação. Porque uma freguesia é uma unidade administrativa. Uma unidade. E era o que fazia sentido neste caso: uma freguesia e não duas.
É assim que deve ser feita a reorganização administrativa do país. Pegando em casos concretos e não através de critérios cegos do género «com menos de x habitantes, extingue-se». Não é assim, não pode ser assim.

A discriminação do Aero-Om, a gota cor-de-rosa


Soube, pelo post do Carlos do Carmo Carapinha, no 31 da Armada, que a Fernanda Câncio acha uma insuportável discriminação os pensos rápidos serem apenas da cor da pele dos brancos. E que anda a pensar em lançar uma campanha para obrigar os fabricantes de pensos rápidos a fazerem-nos também pretos, amarelados e de todas as outras cores que fazem a diversidade do ser humano.
Carlos do Carmo Carapinha aponta outros exemplos de discriminação, como o Betadine, as suturas e os pensos higiénicos. João Gomes de Almeida, no Estado Sentido, aponta os dildos e as personagens dos gelados Olá. No Blasfemias, José Manuel Fernandes considera (injustamente) que é a causa mais ridícula do ano.
Enquanto reflectia sobre este momentoso assunto, fundamental para os destinos do país e da Humanidade – qual Orçamento de Estado, qual eleições brasileiras… – lembrei-me de uma das maiores discriminações da actualidade: o Aero-OM, a milagrosa gota cor-de-rosa que se dá aos bebés quando eles estão a chorar.
E é discriminatório porque é cor-de-rosa. E um rapazinho, todo vestidinho de azul, é obrigado a tomar uma gota cor-de-rosa só porque chora? Acho escandaloso e penso que o laboratório que o produz, a OM Pharma, devia oferecer também a cor azul como alternativa.
Com a indecente discriminação do Aero-OM, Fernanda Câncio não se preocupa. Claro, aquilo é um blogue de causas fracturantes e para elas é perfeitamente natural que um menino use coisas cor-de-rosas. Desde o dia em que nasceu.

Opera no Café Iruña em Pamplona – vale a pena ver e ouvir

O 1 de Novembro é desde a minha infância dia de tristeza. Não por se tratar do ‘Dia de Finados’. Ou talvez sim. Já nem sei. O certo, certo é ter sido o dia de desassossego do espírito de criança, por dor que jamais consegui repelir: a morte da minha avó materna. Subsiste sempre na memória, como, anos mais tarde, a partida da outra avó, a paterna, igualmente venerada por mim.

É, pois, neste dia, para mim perpetuamente plúmbeo, mesmo que raiado de Sol, que me refugio na música. E, porque a música é um bem partilhável, permito-me publicar um vídeo, gravado a 7 de Maio deste ano, ‘Dia Europeu da Ópera’, no Café Iruña em Pamplona; um café histórico frequentado por Hemingway, quando viveu em Espanha.

Mesmo para quem já não é novidade, estou convicto de que vale a pena voltar a ver e ouvir:

Mais uma borrada autorizada pela Câmara Municipal de Lisboa


A Câmara Municipal de Lisboa, tem destas coisas. Está sempre pronta a inventar pequeno-burguesices em espaços que outros conceberam e realizaram. Losangos no Terreiro do Paço, uma “intervenção” com lataria no Rossio e outras habilidades mais.

Desta vez, o alvo parece ser o “Pirata das Caraíbas”, belíssimo edifício arruinado em plena Avenida que já teve mais Liberdade que aquela que se vê e sente. Nunca mais chega o dia da sua reconstrução para habitação e devolução desta fachada à cidade.

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