Aveiro, a ria, e as minhas irmãs

Esta cidade está linda. Tem belos edificios assinados por arquitectos conhecidos em conjunto com as belíssimas casas de pescadores e de salineiros, reabilitadas as antigas salinas, agora belas árvores cobrem a urbe e as gentes.

Foi sempre bonita , lá passei as melhores férias da minha vida, em casa das minhas irmãs, todos os anos saía de Castelo Branco e ía para as praias da Costa Nova e da Barra, à boleia, quando não havia perigo nenhum.

As “jeunes filles” belgas e francesas tambem davam ali à costa, uma maravilha para os olhos, eu como era muito tímido limitava-me a ver os meus amigos a namorar. Como só eu é que arranhava o francês de praia lá me ía safando de quando em vez, o problema é que eu me apaixonava doidamente, e elas “Louis, isso foi ontem” e lá íam ao “engate”, ao namoro, ao baile nas casas de praia que ficavam vagas durante a semana.

O campus universitário é uma maravilha, cheio de sol e relva, belos edificios e muito mérito, em várias áreas do conhecimento, como o trabalho de pesquiza na ria que é de Aveiro.

Estive lá no fim de semana com as minhas irmãs, a mais velha teve que ser operada ao coração de urgência aí no Santo António, hospital que tanto trabalho me deu para o modernizar, contra tudo e contra todos, muitos inimigos arranjei eu, mas está aí, moderno, muito bem equipado.

O primeiro edificio a ser construído em Portugal para ser hospital, tem um irmão gémeo em Viseu, mais pequeno e que agora está transformado num Lar para cuidados continuados, depois deste vosso amigo ter, juntamente com o Presidente da Câmara, o Dr. Ruas, reunido as condições para lá estar aquele moderno e bem equipado hospital de S. Teotónio. A minha assinatura juntamente com mais umas quantas está na base de um pilar, diz-se a primeira pedra, mas esta foi mesmo a primeira seguida de muitas outras.

Mas voltando a Aveiro, onde se fez tambem um belo bloco operatório, fico com vontade de chorar, foi ontem, cabiam todos os sonhos, vou cheirar os cantos da ria, do jardim, espreitar as casas dos pescadores onde ficava noite fora a ouvir as preces das mulheres e os gritos dos homens trazidos pelas ondas do mar em noites de tempestade.

Como eu fui feliz em Aveiro! Agora já não tenho as minhas irmãs todas à minha volta, a Carmem este ano faltou, têm mais quinze anos que eu, o Luis que andou ao colo de todas elas e que representa uma espécie de medalha , nenhuma delas pôde estudar mas o irmão vingou-as, tirou um curso superior, é de todos, só foi assim porque quinze anos faz toda a diferença neste país padrasto, havia uma escola e sete igrejas .

Quando elas se casaram eu morri por cada uma delas, roubaram-mas, depois veio um rancho de filhos, toda gente bonita como elas, fui roubado outra vez, mas tudo gente bonita e boas pessoas, maravilhosas eu adoro a minha gente.

E sabem uma coisa, eu sou o mais feio e o mais débil e o que vale menos, não tenho ponta de comparação com a coragem e a sabedoria delas e, no entanto, ando feito medalha ao peito de todas elas.

Agora atrevam-se a dizer que eu não sou um homem abençoado!

Comments

  1. Carla Romualdo says:

    Apesar de ter nascido no Santo António, tinha, até há alguns anos, uma péssima impressão dos seus serviços. Sempre fui e vi os meus serem muito mal tratados por lá, ao contrário do que acontecia no S. João. Reconheço, no entanto, que houve uma grande melhoria nestes últimos anos e que há por lá excelentes profissionais.

  2. Belina Moura says:

    Luis… tu, tímido???? ehehehehehLuis… mas agora “vejo-te” todo vaidoso – e com razão – do trabalho realizado, da tua “assinatura juntamente com mais umas quantas”, na base de um pilar, como prova de que contribuíste justamente para melhor o dia-a-dia de outros.´Luis… agora sinto-te orgulhoso do que és aos olhos de quem mais te amou e ama: as tuas irmãs.Muito bonito, fiquei com pele de galinha!